terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot, Cap 5

Sr. Walden pegou um punhado de Scantron (uma empresa americana que fornece testes e as máquinas que dão suas notas) e disse:

-Somente lápis número 2, por favor.


A mão de Kelly Prescott subiu imediatamente no ar.


-Sr. Walden, isso é um abuso. - Kelly leva seu papel de presidente da classe extremamente sério...especialmente quando há alguma coisa a ver com horário de dança. E, aparentemente, testes de aptidão. - Nós temos que ser avisados pelo menos 24 horas antes do teste.


- Relaxe, Prescott – Sr. Walden, nosso professor da sala de espera (ele os supervisiona nessa sala) e nosso conselheiro de classe começaram a passar os testes Scantron. -Eles são testes de aptidão, não acadêmicos. Suas notas não serão postas no seu registro permanente. Eles são para ajudá-los. - ele pegou um dos testes em sua mesa e leu em voz alta - Determine quais carreiras são mais adequadas às suas habilidades pessoais /ou áreas de interesse e/ ou sucesso. Entenderam? Somente respondam às questões.- Sr. Walden colocou uma pilha de gabaritos na minha mesa para passar para trás. - Agora vocês têm 50 minutos. E sem conversas.


-Com o que você gosta de trabalhar mais ao ar aberto? Ou em lugares fechados? - Eu ouvi meu meio-irmão Brad ler em voz alta do outro lado da sala. – Ei, ele está se sentindo muito drogado?


-Seu perdedor - Kelly Prescott gargalhou.


-Você é uma “pessoa noturna” ou uma “pessoa diurna”? - Adam Mctavish pareceu bem chocado - Este teste é completamente contra narcolépticos.


-Você trabalha melhor: a) sozinho ou b) em grupo? - Minha melhor amiga, Cee Cee, mal conseguia conter seu desgosto. - Oh meu deus, isso é tão estúpido!


-Qual a parte de não conversar - Sr Walden reclamou.- Vocês não entenderam?


Mas ninguém prestou atenção nele.


-Isto é estúpido - Adam declarou. - Como este teste vai dizer se eu sou ou não qualificado para uma carreira?


-Mede sua aptidão, idiota - Kelly pareceu enjoada.


-A única carreira que você está qualificado a trabalhar é a janela do drive-throught do In-N-Out-Burguer.


-Onde você, Kelly, vai trabalhar fritando? - Paul disse secamente, fazendo o resto da classe rir...


Até Sr. Walden, que havia sentado atrás de sua mesa e estava tentando ler o último exemplar de Surf Magazine, deu um berro.

-Vocês querem ficar depois da escola para terminar esses testes?
Porque eu ficarei feliz em manter vocês aqui, eu não tenho nada melhor para fazer. Agora fiquem quietos, todos vocês, e voltem ao trabalho.


Aquilo teve um impacto significante nas conversinhas ao longo da classe.
Miseravelmente, eu preenchi as pequenas bolhas. Minha angústia não apenas diminuiu, é claro, pelo fato de deu não ter dormindo quase nada. Enquanto aquilo não ajudava exatamente, havia a mais urgente preocupação do que testes de aptidão de carreira. Sim, eles não tinham muito para eu me inscrever. Meu destino já estava traçado...Já estava traçado desde meu nascimento. Eu estou destinada a ser uma coisa quando eu crescer, e somente uma coisa. E qualquer outra carreira que eu escolher entrará no caminho da minha verdadeira vocação, que é, claro, ajudar os mortos a encontrar seu destino final.


Eu olhei de relance para Paul. Ele havia se inclinado sobre seu teste, preenchendo as bolhas de resposta com um pequeno sorriso. Eu imaginei o que ele estava colocando como áreas de interesse. Eu não havia reparado em nenhuma opção sobre extorsão. Ou roubos.

Por que, eu imaginava, ele estava se preocupando? Isso não ia fazer nenhum bem à gente. Nós sempre seremos mediadores primeiro, apesar de qualquer carreira que escolhermos. Olhe para o Padre Dominic. Oh claro, ele resolveu deixar sua condição de mediador em segredo...Em segredo até da igreja, já que, como Padre Dominic falou, seu chefe é Deus, e Deus inventou os mediadores.


É claro, Padre D. não é apenas padre. Ele também já foi um professor anos e anos, ganhando alguns prêmios até, até que foi promovido a diretor.
Mas é diferente para o Padre Dom. Ele realmente acredita que suas habilidades de ver e falar com mortos são presentes de Deus. Ele não vê isso como realmente é: uma maldição.


Exceto...Exceto é claro, que sem isso, eu não poderia ver Jesse.
Jesse. As pequenas bolhas em branco na minha frente borraram conforme meus olhos se encheram de lágrimas.
Ótimo. Agora eu estava chorando. Na escola.


Mas como eu poderia ajudar? Aqui estava eu, meu futuro traçado na minha frente...Se formar, faculdade, carreira. Bem, você sabe, pseudocarreira, já que todos sabemos qual irá ser minha verdadeira carreira.
Mas e Jesse? Que futuro ele tinha?


-O que há de errado com você? - CeeCee sussurrou.


Eu sequei meus olhos com uma luva da minha blusa Mil Miu.

- Nada - eu sussurrei de volta. - Alergias.


CeeCee pareceu cética, mas voltou ao seu teste.
Eu perguntei uma vez o que ele queria ser. Jesse, eu digo. Você sabe, antes de ele morrer. Eu perguntei em que ele queria se formar, que carreira ele iria seguir, mas ele não entendeu, nem eu. Quando eu finalmente expliquei, ele sorriu, mas de um jeito triste.


- As coisas eram diferentes quando eu era vivo Susannah.- Ele disse. -Eu era o único filho do meu pai. Era esperado que eu herdasse nosso rancho e trabalhasse para sustentar minha mãe e minhas irmãs quando meu pai morresse.


Ele não adicionou que a parte do plano também incluía seu casamento com a garota cujo pai era dono da fazenda vizinha, então sua terra viraria um só rancho. Ele também não mencionou o fato de ter sido esta garota que o matou, porque gostava de outro homem, um homem que o seu pai não aprovava. Porque eu já sabia de tudo isso.
As coisas eram difíceis, eu acho, mesmo no ano de 1850.


-OH! - Foi isso que eu respondi. Jesse não falou com nenhum rancor notável, mas parecia como uma ferida para mim. Quer dizer, e se ele não quisesse ser um fazendeiro? - Bem, o que você gostaria de ter sido? Você sabe, se tivesse escolha?


Jesse me olhou pensativo.

-Eu não sei. Era diferente Susannah. Eu era diferente. Eu penso...Algumas vezes...Que eu teria gostado de ser médico.


Um médico. Fazia perfeito sentido, pelo menos para mim. Todas as vezes fiquei fraca em casa com várias partes do meu corpo pulsando de dor — seja por veneno ou bolhas nos meus pés — Jesse estava ali para mim, seu toque macio como cashmere. Ele teria sido um grande médico, na verdade.

-E porque não? - Eu quis saber. -Porque você não se tornou um médico? Só por causa do seu pai?



-Sim, principalmente por isso. - Ele disse. - Eu nunca ousei dizer isso para alguém. Eu mal podia sair do rancho por alguns dias, deixar sozinho os anos que a escola de medicina levaria. Mas eu gostaria disso, eu acho. Escola de medicina. Embora não quando eu estivesse vivo, - ele adicionou - As pessoas não sabiam tanto de medicina quanto elas sabem hoje. Teria sido mais excitante trabalhar nas ciências agora, eu acho.


E ele sabia. Ele havia tido 150 anos para andar por aí e ver como as invenções - eletricidade, automóveis, aviões, computadores... Para não mencionar a penicilina e as vacinas para doenças que no passado mataram milhões - mudaram o mundo em uma coisa irreconhecível em comparação ao que era quando ele cresceu.


Mas em vez de se agarrar ao passado teimosamente, como alguns teriam feito, Jesse havia continuado excitadamente, lendo qualquer coisa que chegasse às suas mãos, desde livros de romance a enciclopédias. Ele disse que havia muito para acompanhar. Seus livros favoritos pareciam ser os grandes livros não fictícios que ele pegava emprestado do Padre Dom, todos de filosofia para exploradores ou vírus emergentes - o tipo de livro que eu daria para o meu pai no Dia dos Pais, se meu pai não tivesse, você sabe, morto. Meu padrasto, por outro lado, é mais do tipo de livro de receitas.


Mas você entendeu. Para Jesse, isso é molhado e não é interessante, mas para mim é muito excitante. Talvez porque tudo isso se desenrolou na sua frente.
Com um suspiro, eu olhei para as centenas de opções de carreiras na minha frente. Jesse estava morto, mas até ele sabia o que ele queria ser...teria sido, se não tivesse morrido. Ou não teria sido, considerando o que ele tinha dito sobre as expectativas de seu pai.
E lá estava eu, com todas as vantagens do mundo, e tudo que eu conseguia pensar em ser quando crescer era...
Bem, com Jesse.


-Vinte minutos.- A voz do Sr. Walden ecoou pela sala invadindo meus pensamentos. Meu olhar estava fixo no mar, que ficava a menos de uma milha da Missão e dava direto para as janelas da sala de aula.
Eu não tinha crescido em torno do mar como meus colegas de classe. Era para mim uma fonte de maravilha e de interesse. Que eu comecei a ter com o fascínio de Jesse pela ciência moderna. E ao contrario de Jesse eu tinha algo a fazer. -Mais dez minutos - Sr. Walden disse outra vez. Interrompendo mais uma vez meus pensamentos.


Mais dez minutos. Eu olhei para minha folha de respostas, que estava parcialmente vazia. Ao mesmo tempo vi Cee Cee me lançar um olhar ansioso a mim. Apontou para a folha. Comece a trabalhar, era o que seus olhos violetas diziam a mim.
Peguei meu lápis e comecei a preenchera folha. Eu não me importei com as respostas que escolhi. Porque sinceramente, eu não me importava com meu futuro. Sem Jesse, eu não teria futuro. Naturalmente, com ele, eu não tive nenhum futuro tampouco.


O que ele ia fazer? Seguir-me na faculdade? No meu trabalho? Em meu primeiro apartamento? Sim. Isso que iria acontecer. Paul estava certo. Eu sou mesmo uma boba. Boba por ter caído de amor por um fantasma. Boba por pensar que nós teríamos qualquer tipo de futuro juntos. Boba.

-O tempo acabou.- O Sr. Walden tirou os pés do alto de sua mesa. - coloquem seus lápis para baixo, por favor. Passem então suas folhas de resposta para o colega da frente. - Não era de se surpreender quando Paul chegou até mim e disse que o Sr. Walden nos tinha liberado para o almoço.

-Aquilo foi sem uso nenhum. - Ele disse numa voz baixa, enquanto andávamos ate nossos armários. - Quero dizer, temos nossas carreiras já escolhidas, não é?


-Bem, você não pode ganhar a vida fazendo o que nós fazemos - eu disse, então me lembrei, tarde demais, que Paul parecia ter arranjado um jeito de ganhar a vida assim.


-Uma vida honesta. - Eu emendei.


Mas em vez de se sentir envergonhado do que ele tinha feito, como eu pretendi q ele se sentiria, ele apenas sorriu.


-É por isso que eu decido uma carreira na área da justiça, - ele disse.

-Seu pai era advogado, certo?

Eu acenei com a cabeça. Eu não gosto de falar sobre meu pai com Paul. Porque meu pai era tudo o que era bom. E o Paul é tudo que. . . Não é...

-Sim, que é o que eu pensei - o Paul falou. - Nada é preto e branco com a lei. É todo o tipo de cinza. Tão longo como você pode achar um precedente.- Eu não disse nada. Eu poderia ver o Paul facilmente como um advogado. Não um advogado como meu pai tinha sido, defensor público, mas o tipo de advogado que defende as celebridades ricas, pessoas que pensaram que elas estavam sobre a lei. . .

-Agora que - o Paul disse, enquanto apoiando contra o armário próximo ao meu, - Seria um pouco desperdício. Eu estava pensando mais ao longo das linhas de um assistente social. Ou terapeuta. Você é muito boa, você sabe, em assumir os problemas de outras pessoas.

Não era que a verdade? Era a razão para eu estar com olhos tão turvos e cansados hoje. Porque depois que eu tinha deixado Jesse à noite antes, eu tinha dirigido casa e tinha deitado na cama. . . Só que não dormi. Ao invés, eu tinha jazido despertada, enquanto piscando ao teto e ponderando para o que Jesse tinha me falado. Não sobre Paul, mas sobre o que o Paul tinha me feito ler em voz alta mais cedo naquele dia:

As habilidades do mediador não incluíam somente comunicação com os mortos e teletrasportação entre o mundo deles e o nosso próprio, mas a habilidade para viajar a vontade.

A quarta dimensão. Tempo. A mesma palavra que fez os pelos em meus braços se levantarem, embora fosse outro dia de outono tipicamente bonito em Carmel e não frio nem nada. Realmente poderia ser verdade? Tal coisa era até mesmo possível? Poderia os mediadores - ou deslocadores, como o Paul e o avô dele insistindo em chamar - viajar pelo tempo como também entre os reinos dos vivos e os mortos?

E se - Um grande se - Seja verdade, o que em terra significou? Mais importante, por que o Paul tinha tido essa intenção, se assegurar que eu soubesse disso?

- Seu olhar está distante - o Paul observou como eu alojei meus livros fora e alcancei para a bolsa de papel que contém o almoço meu padrasto tinha me feito: salada de galinha de tandoori. - O que é o problema? Dificuldade para dormir?

-Você deveria saber - eu disse, enquanto luzindo a ele.

-O que eu faço? - ele perguntou, enquanto soando genuinamente surpreendido.

Eu não sei se foi o meu esgotamento, ou o fato que o teste de aptidão de carreira me fez pensar em meu futuro. . . Meu futuro e Jesse. De repente, eu estava muito cansada de Paul e os jogos dele. E eu decidi o chamar no último.

-A quarta dimensão - eu o lembrei – Viajar no tempo - Ele apenas sorriu, porém.

- Ah, bom, você entendeu isto. Demorou um bocado.

- Você realmente pensa que os deslocadores são capazes de viajar no tempo? - Eu perguntei.

-Eu não penso assim - o Paul disse. - Eu sei que sim.

Novamente, eu sentia um frio quando eu não deveria ter. Nós estávamos nos levantando na sombra da passagem coberta, era verdade, mas há alguns pés fora no pátio da Missão, o sol estava brilhando abaixo. Beija-flores voaram de flor de hibisco a flor de hibisco. Turistas carregavam máquinas fotográficas digitais com eles. Assim o que foi para cima com os inchaços de ganso?

-Por que? - Eu exigi, minha garganta repentinamente seque. - Porque você fez isto?

-Não, contudo - ele disse, casualmente. - Mas eu vou. Logo.

-Sim - eu disse, medo que me faz sarcástico. - Bem, talvez você pudesse ter viajado no tempo naquela noite, você roubou o dinheiro dos Gutierres e não fez isto neste tempo.

- Deus, você poderia esquecer isto? -Ele balançou a cabeça dele. - Eram dois mil corços ruins. Você age como se gostasse dos dois milhões.

-Ei, Paul. - Kelly Prescott surgiu do grupo exclusivo dela. O Dolce e Gabbana Nazis, como CeeCee tinha começado a chamá-los. E passeou por cima, enquanto balançava os cílios de anil pesadamente. - Você vem almoçar?

-Espere um minuto - Paul disse a ela... Não muito bem, considerando que ela era o par dele para a dança do fim da semana que vem.

Kelly, entretanto afastou-se, não o suficiente, depois me enviou um olhar afiado rumo à jarda onde nós almoçamos diariamente, ao ar livre.

-Eu não consigo entender isto. - Eu o encarei. - E se nós pudéssemos viajar mesmo no tempo? Grande coisa. Não poderemos mudar nada quando chegarmos lá.

-Por quê? - Os olhos azuis de Paul ficaram curiosos.

- Porque ir em frente, quando se pode voltar no Passado, assim?

-Porque você não pode...Você não pode desordenar a ordem natural das coisas - eu disse.

-Por que não? Não é o que você faz diariamente quando você medeia? Você não está interferindo na ordem natural das coisas enviando as almas das pessoas para a próxima fase de consciência delas?

-Isso é diferente - eu disse.

-Como assim?

-Porque essas pessoas já estão mortas! Eles não podem fazer nada que poderia mudar o curso da história.

-Como a Sra. Gutierres e os dois mil dólares dela? - O relance de Paul era astuto. - Você pensa que se você tivesse dado isto ao filho dela, não teria mudado o curso de história? Até mesmo de algum modo pequeno?

-Mas isso é diferente de entrar em uma outra dimensão para mudar algo que já aconteceu. Isso é um pouco...Errado.

-É, Suze? - Um canto da boca de Paul se mexeu. - Eu não penso assim. E você sabe o que eu penso? Eu penso que neste tempo, seu menino Jesse vai concordar. Comigo. - E de repente, eu parecia ter conseguido ficar com mais frio que eu já estava debaixo daquela passagem coberta.

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