terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot, Cap 3

- Então, o que você e o bom padre estavam cochichando hoje durante a aula de francês? - Paul queria saber.


-O funeral da senhora Gutierrez - eu respondi falando a verdade. Bem, mais ou menos. Eu descobri que não vale a pena mentir para o Paul. Ele tem uma incrível capacidade de descobrir a verdade por ele mesmo.


Mas é claro que isso não significa que o que eu contei ao Paul era toda a verdade. Eu simplesmente não acho necessário contar tudo quando o Paul esta envolvido. Parece mais seguro assim.


E definitivamente parecia mais seguro não contar ao Paul que o padre D. estaria em São Francisco sem data certa para voltar.


-Você não está ainda aborrecida por causa daquilo, está? - Paul perguntou - A mulher Gutierrez quero dizer? O dinheiro vai para um bom uso, você sabe.


-Ah, claro que eu sei. - eu disse. - Jantar no Cliffside Inn tem que acontecer, um prato lá custa uns 100 dólares, não é? E eu presumo que você vai alugar uma limusine.


Paul sorriu para mim devagar dos travesseiros em q ele estava encostado.


-A Kelly te contou? - ele perguntou - Já?
 

-Na primeira chance que ela teve. - eu disse.


-Ela não demorou muito.- ele disse.


-Quando você a convidou? Noite passada?


-Isso mesmo.


-Então umas 12 horas - eu disse -Nada mal, se você considerar que durante umas 8 horas ela provavelmente estava dormindo.


-Ah, mais eu duvido - Paul disse - Essa é a hora que eles fazem o melhor trabalho. Sucumbidas eu quero dizer. Eu aposto que a Kelly só precisa de uma ou duas horas de sono por noite.

-Romântico. - Eu virei uma página do livro velho e empoeirado que estava entre a gente na cama do Paul. - Chamando a sua companhia para o baile formas de sucumbida.


-Ela pelo menos quer ir comigo. - Paul disse, seu rosto sem nenhuma expressão – com exceção de um humor negro que ia surgindo enquanto ele dizia -Uma mudança refrescante, eu preciso dizer, do estado usual das coisas por aqui.


-Você me ouviu reclamando? - eu perguntei virando outra página. Eu me orgulhei de estar mantendo uma atitude extremamente indiferente sobre a coisa toda. Por dentro, é claro, era uma historia toda diferente. Porque por dentro, eu estava gritando, O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO? PORQUE É QUE VOCÊ CONVIDOU A KELLY E NÃO EU?

Não que eu ligasse para esse baile estúpido, mas qual é o jogo que você acha que está jogando agora Paul Slater?
Era incrível como nada disso tinha aparecido. Pelo menos era o que eu achava.


 -É só que eu teria apreciado um adiantamento nos planos, já que você saiu do planejamento da agenda - foi o que eu disse em voz alta. - Pelo pouco que você sabia, eu poderia já ter gastado uma fortuna em um vestido.
Um canto da boca de Paul subiu em um meio sorrisinho.


- Você não comprou. - Paul disse - E nem ia comprar também.


Eu olhei para longe. Era difícil encontrar o olhar de Paul às vezes, era tão penetrante tão...
Azul.


Uma mão forte e firme ficou em cima da minha, prendendo meus dedos na página que eu estava prestes a virar.

-É essa a página.- Paul não parece ter o mesmo problema em olhar nos meus olhos (provavelmente porque os meus são verdes e tão penetrantes como uma alga) como eu tenho olhando párea os dele. Seu olhar no meu rosto era totalmente inflexível -Leia isso.

Eu olhei para baixo. O livro que Paul tinha pegado para essa “lição de mediador” era tão velho que as páginas tinham uma tendência de desmanchar nos meus dedos quando eu as virava. Esse livro deveria estar em um museu, não no quarto de um garoto de 17 anos.


Mas foi exatamente onde terminou, sacado, embora eu duvido que Paul sabia que eu estava ciente disto, da coleção de seu avô. O Livro da Morte era seu título.
E o título não era o único lembrete que todas as coisas tinham uma data de fim.Cheirava como se um rato ou alguma criatura pequena tivesse batido entre as páginas em algum tempo do não-tão-distante passado, deixado para se decompor vagarosamente lá.


-Se a tradução de 1924 for para se acreditar - Eu li em voz alta, feliz que ela não estivesse tremendo como meu dedos estavam - o jeito que eles sempre tremiam quando Paul me tocava - A habilidade dos deslocadores não somente incluem comunicação com os mortos e se teletransportar entre o mundo deles e o nosso, mas a habilidade de viajar ao longo da quarta dimensão também.


Eu vou admitir, não li com muita emoção. Não era exatamente um barril de risadas, ir para a escola todo dia, e depois ir para as aulas de mediação. Eu admito, era só uma vez por semana, mas era mais do que suficiente, acredite em mim. A casa de Paul não perdeu sua esterilidade nos meses que eu passei a ir para lá. No mínimo, o lugar parecia mais assustador do que nunca...
... e também o avô de Paul, que continuava a viver como ele descreveu, em suas próprias palavras, uma “meia-vida” , em um quarto abaixo do hall de Paul. Aquela meia vida parecia feita ao redor do relógio dos enfermeiros, empregados para ver a dor do velho homem, e incessantemente vendo o Game Show Network.


Não era nenhum milagre, realmente, que Paul evitava Sr. Slater ou Dr. Slaski, como o próprio doutor tinha me confidenciado seu real nome - como uma praga. Seu avô não era exatamente uma companhia genial, mesmo quando ele não estava fingindo ser um louco devido aos seus remédios.

Apesar da minha performance mais-que-inspirada, no entanto, ele soltou minha mão e se inclinou mais uma vez, parecendo extremamente satisfeito consigo mesmo.

Bem? - outra arqueada de sua sobrancelha.


-Bem, o que? - Eu sacudi a página, e vi somente uma reprodução do hieróglifo que eles estavam falando.


O meio sorriso que Paul havia dado desapareceu. Seu rosto possuía tanta expressão quanto à parede atrás dele.


-É assim que você vai jogar, brincar, apostar talvez (não entendi essa frase direito) -ele disse.
Eu não tinha a menor idéia do que ele estava falando.


-Jogar o que? - eu perguntei.

 -Eu poderia fazer isso Suze - ele disse - Não pode ser difícil de descobrir. E quando eu fizer... Bem, você não poderá me acusar de não seguir nosso acordo.


-Qual acordo?


Ele deslocou sua mandíbula.


-De não matar seu namorado - ele disse sem tom.


Eu somente o encarei, genuinamente surpresa. Eu não fazia idéia de onde isto tinha vindo. Nós estávamos tendo uma satisfatória - ok, não satisfatória mas normal - tarde, e de repente ele estava ameaçando matar meu namorado... ou não matá-lo, na verdade.
O que estava acontecendo?


-O que você está falando? -Eu gaguejei -O que isso tem a ver com Jesse? Isso é... isso é por causa do baile? Paul... se você tivesse me convidado, eu iria com você. Eu não sei porque você a convidou sem nem menos...


O mesmo meio sorriso voltou, mas dessa vez, Paul realmente se inclinou para frente e fechou o livro. Poeira voou das antigas páginas, praticamente no meu rosto, mas eu não reclamei. Em vez disso, eu esperei, o coração na minha garganta, para ele responder.

Eu estava destinada ao desapontamento porque, tudo que ele disse foi:

-Não se preocupe - Depois rolou sua pernas pela cama e ficou em pé - esta com fome?


-Paul.- Eu o segui, meus Stuart Weitzman estalando alto no chão de madeira. –O que é que está acontecendo?


-O que te faz pensar que tem alguma coisa acontecendo? - ele perguntou em quando ia pelo longo corredor ensolarado.


-Ah meus deus...Eu não sei... - eu disse, com medo de ter parecido vespinha - Aquela ameaça que você falou na outra noite sobre o jesse. E me deixando fora da jogada para o baile de inverno. E agora isso. Você está armando alguma.


-Eu estou? - Paul olhou para mim enquanto ele descia a escada em espiral para a cozinha - Você realmente acha isso?”


-É! - eu disse. -Só que ainda não descobri o quê!


-Você faz alguma idéia com o que você pareceu estar agora mesmo? -Paul perguntou enquanto abria a geladeira subzero e olhava apara dentro.


Não - eu disse - Com o que?


-Uma namorada ciumenta!


Eu quase engasguei.

-E como vão as coisas no seu mundo da fantasia?


Ele achou uma lata de coca e abriu.


-Boa essa - ele disse se referindo ao que eu tinha acabado de falar. -verdade cara. Eu realmente gostei. Acho que eu ate mesmo vou usa-la um dia.


-Paul. -Eu fiquei parada olhando para ele, minha garganta seca, meu coração dando pulos no meu peito. –O que é que você está tramando? Sério?

-Sério? - Ele tomou um grande gole do refrigerante. Eu não pude deixar de observar o quanto sua garganta era bronzeada quando ele engolia.
- Eu só estou cumprindo minhas apostas.


-O que isso significa?


-Isso significa - ele disse, fechando a porta da geladeira e inclinando suas costas contra ela - Que eu estou começando a gostar daqui.
Estranho, mas é verdade. Eu nunca me imaginei como o tipo capitão-do-time-de-tênis. Deus sabe, na minha última escola - ele tomou outro longo gole do refrigerante - Bem, eu não vou me aprofundar nisso. A verdade é, eu estou começando a gostar desses negócios da escola. Eu quero ir ao Baile Formal de Inverno. A verdade é, eu imaginei que você não queria ficar perto de mim por um tempo, depois de....bem, depois do que eu planejo fazer.


Ele já tinha fechado a porta da geladeira, então o arrepio que eu senti por toda a minha espinha não poderia ser causado por ela. Ele deve ter me visto tremer, já que ele deu um sorriso lardo.

-Não se preocupe Suzie. Você vai me perdoar eventualmente. Você vai perceber, na hora certa, que isso é par o bem...


não conseguiu terminar. Porque eu avancei para a frente e arremessei a lata de Coca fora de sua mão. Ela pousou ruidosamente no aço inoxidável da pia. Paul olhou para seus dedos vazios com alguma surpresa, como se não conseguisse descobrir onde sua bebida tinha ido.


-Eu não sei o que você está planejando, mas vou deixar uma coisa bem clara. Se alguma coisa acontecer a ele, eu sibilei, não muito mais alto que o ruído da lata na pia, mas com um pouco mais de força. - Qualquer coisa, eu vou fazer você se arrepender de ter nascido. Entendeu?
A surpresa na sua face se tornou em um sorriso de desgosto.


-Isso não foi parte do nosso acordo.

Tudo que eu disse foi que eu não.


-Qualquer coisa - Eu disse - E não me chame de Suzie.


Meu coração estava batendo tão alto no meu peito que eu não sei como ele não conseguiu ouvir - como ele não conseguiu ver que eu estava mais aterrorizada do que com raiva...

Ou talvez ele viu, já que seus lábios relaxaram em um sorriso - o mesmo sorriso que fazia metade das garotas da escola se apaixonar perdidamente por ele.


-Não se preocupe Suze - ele disse. - Meus planos para Jesse? Vamos dizer que eles são bem mais humanos do que o que você planeja para mim.


-Eu


Paul apenas sacudiu sua cabeça.

-Não me insulte fingindo que você não sabe do que eu estou falando.


Eu não precisava fingir. Eu não tinha a menor idéia do que ele estava falando. Eu não tive chances de contar isso pra ele, porém, porque naquele momento, uma porta lateral se abriu e nós ouvimos alguém chamando:

-Oi?


Era do Dr. Slaski, junto com seu enfermeiro, de volta das inacabáveis consultas com médicos. O enfermeiro era aquele que tinha dito o cumprimento. Dr. Slaski - ou Slater, como Paul se referia a ele - nunca disse oi. Pelo menos, não quando todo mundo menos eu estava por perto.


-Ei - Paul disse, indo para a sala de estar e olhando para a cadeira de rodas do avô. - Como foi?


-Bem - o enfermeiro disse com um sorriso. - Não foi Sr. Slater?


O avô de Paul não disse nada. Sua cabeça estava curvada sobre seu peito, como se ele estivesse dormindo.
Exceto que ele não estava. Ele estava dormindo tanto quanto eu. Dentro da surrada e frágil aparência, havia uma mente crepitando de inteligência e vitalidade. O porquê de ele ter escolhido esconder este fato, eu ainda não entendi. Há muitas coisas sobre os Slaters que eu não entendo.


-Sua amiga vai ficar para jantar Paul? - O enfermeiro perguntou agradavelmente.


-Sim - Paul disse no mesmo momento em que eu falei – Não.


-Você sabe que eu não posso.


Isto, pelo menos, era verdade. O jantar é muito importante para a minha família. Perca um jantar do meu padrasto e você não saberá como terminará.


-Ta bom - Paul disse através dos seus dentes que estavam obviamente rangidos.


Eu não protestei. Estava mais do que pronta para ir.

Nossa volta pra casa deveria ter sido muito mais agradável do que foi. Quero dizer, Carmel é um dos lugares mais bonitos no mundo, e a casa do avo do Paul fica bem na beira do oceano. O sol estava se pondo, parecendo tornar o céu uma mistura de cores, eu podia ouvir a ondas batendo ritmicamente nas pedras abaixo. E Paul, que nem era nem um pouco difícil de se olhar, não dirige nenhum carro velho, mas sim, uma BMW prata e conversível, e acontece que eu sei que eu pareço extremamente bem nela, com meu cabelo escuro, pele clara, e ótimo gosto para sapatos.


Mas você poderia ter cortado a tenção no carro com uma faca, nada menos. Nos fomos em silencio mórbido até quando Paul finalmente parou em frente à nº 99 pine crest drive, a imponível casa vitoriana em Carmel que minha mãe e meu padrasto tinham comprado a mais de um ano, mas que ainda não tinham acabado de arrumar. Mas vendo que tinha sido construída no século 19, e não no século 20, ela precisava de muita arrumação...


Mas nem toda a luz do mundo poderia se livrar do passado violento da casa, em fato, somente há alguns meses atrás, eles tinham desenterrado o esqueleto do meu namorado do jardim. Eu ainda não conseguia pisar no deck sem me sentir enjoada.
Eu estava prestes a sair do carro sem uma palavra quando Paul se levantou e colocou uma mão no meu braço.


-Suze - ele disse, e quando eu virei minha cabeça para olhar para ele, eu vi que seus olhos azuis pareciam cheios de problemas. - Ouça. O que você acha de uma trégua?


Eu pisquei com isso. Ele tava brincando é? Ele tinha ameaçado apagar meu namorado, roubado de pessoas que ele tinha sido pedido para ajudar, e não tinha me convidado para o baile, me humilhado na frente da garota mais popular do colégio no processo. E agora ele queria beijar e fazer as pazes?


-Esqueça! - eu disse enquanto levantava nas minhas botas.

-Vamos lá Suze! - ele disse, me filmando com aquele olhar de fazer o coração derreter. - Você sabe que eu não ofereço nenhum mal. Bem basicamente. Alem disso, o que é que eu poderia fazer com o seu garoto Jesse? Ele tem o padre D. para protegê-lo, não?


Não realmente. Não agora pelo menos. Mas Paul não sabia daquilo. Ainda!

-Me desculpa pelo negocio com a Kelly. - Ele disse. -Mas você não queria ir comigo. Você não pode me culpar por querer ir com alguém que...Bem realmente gosta de mim?


Talvez fosse o sorriso. Talvez fosse o jeito com que ele piscou aqueles bebês azuis. Eu não sábia o que era, mas de repente, eu me encontrei amolecendo para ele.


-Mas e os Gutierrez? - eu perguntei. - Você vai devolver o dinheiro?


-Hum.- Paul disse. Bem, não. Eu não posso fazer isso.


-Paul você pode. Eu não conto pra ninguém, eu juro...


- Não é isso. Eu não posso devolver porque...Eu...Preciso dele.
 -Para o que?


Paul se encolheu. Você vai descobrir.


Eu abri a porta do carro e sai, meus saltos afundando nas folhas de pinheiro na grama.
-Adeus, Paul. -Eu disse enquanto batia a porta atrás de mim, não deixando ele falar seu:


-Não suze, espera!


Eu me virei e fui em direção da casa. Meu padrasto, Andy, tinha posto fogo em uma das várias lareiras da casa. O cheiro rico da madeira queimando encheu o cheiro frio da noite, misturado com a essência de alguma outra coisa...


Pimenta. Era a noite do frango tandoori. Como eu podia ter esquecido?
Atrás de mim eu ouvi Paul virar o carro e voltar para a via expressa. Eu não olhei para trás. Eu subi as escadas da porta da frente, pisando nos quadrados de luz que saiam pelas janelas abertas da sala. Eu abri a porta falando:


-Estou em casa!


Mas a verdade é que eu não estava, exatamente. Porque agora casa quer dizer uma coisa diferente para mim, e tinha sido uma casa por pouco tempo.


Mas ele não morava mais lá.

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