terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot - Cap 20

Eu devo ter saltado aproximadamente uma milha e meia, eu estava chocada. Eu sei que saltei da cadeira de um jeito, que ela quase caiu. Eu parei, meu coração batendo, meus olhos de repente se arregalaram e o olharam fixamente.


Porque parado ali do lado da cama, olhando pra baixo, para o corpo de Jesse, estava...
Jesse.


Eu olhei de um Jesse para o outro, não acreditando no que via.
Mas era verdade. Existiam dois Jesse, um morto e um vivo.
Ou, eu suponho que seja mais correto dizer um morto e um morrendo.


-J-Jesse? - Eu enxuguei as lágrimas que escorriam pelas bochechas com a manga da minha jaqueta.


Mas Jesse não olhava pra mim. Ele estava olhando pra baixo... Bem, pra ele, sobre a cama.


-Suzannah - ele sussurrou - O que... O que você fez?

Eu estava muito alegre por vê-lo. Eu nem pensava direito. Eu fui até ele e agarrei sua mão.


-Jesse, eu fui. Voltei no tempo, eu acho - eu disse.


Ele parou de olhar para o corpo dele que estava na cama e jogou todo aquele olhar escuro em mim. O olhar não era muito agradável.


-Você voltou - Ele olhou ainda mais pra mim - Você foi depois do Slater? Depois que eu disse a você que poderia tomar conta de mim mesmo?


Ele estava furioso. Eu estava tão feliz por vê-lo furioso, tanto que, eu deixei que saísse um pouquinho da minha risada. Eu não percebi então, vendo o que o corpo dele fazia aqui no hospital.


-Você tomou conta de você mesmo - Eu assegurei pra ele - Eu-eu disse pra você - no passado - sobre Diego e ele não matou você, Jesse. Você o matou. Mas então... Então... Havia fogo.


Eu engoli a seco, Não estava mais sentindo vontade de rir.

-No celeiro. O celeiro dos O'Neils.


Seus olhos estreitaram-se.

Eu assenti, o que eu podia fazer?


Ele balançou sua cabeça - E Paul? Eu fui até a Basílica para falar com ele, mas ele já tinha ido. Você o seguiu?


Eu assenti de novo.


-Eu queria impedi-lo - eu disse - De... De ele tentar manter você vivo. Mas no fim... Eu não pude, Jesse. Eu não estava certa. O que o Diego fez pra você. Eu Não podia deixar isso acontecer de novo. Então, eu alertei você. E você o matou. Você matou Diego. Mas daí começou o fogo... - E olhei para o corpo na cama - e agora, eu acho que é hora de dizer adeus. Desculpe-me, Jesse. Desculpe-me, me desculpe.


Eu queria começar a chorar de novo. Eu não podia acreditar em nada do que estava acontecendo. Eu sempre pensei no “Presente” como uma coisa ruim, mas nunca, nunca eu tinha odiado tanto o quanto eu o odiava agora. Eu desejei que eu nunca tivesse ouvido falar de mediadores. Eu desejei nunca ter visto um único fantasma. Eu desejei nunca ter nascido


Então eu senti a mão de Jesse no meu rosto.


-Mi Hermosa - ele disse.


Ele colocou sua outra mão na cama par equilibrar o peso, então ele se inclinou para me beijar. Um último beijo antes que ele fosse arrancado de mim pra sempre. Eu fechei meus olhos, antecipando a sensação maravilhosa daqueles lábios se encontrando com os meus. Adeus Jesse, adeus.


Sua boca mal tocou os meus lábios, entretanto, quando eu ouvi a sua respiração.


Ele afastou sua cabeça da minha e olhou pra baixo.
Sua mão tinha tocado nos tornozelos do corpo vivo.


Algo pareceu sacudir através do corpo dele, então. Ele pareceu mais brilhante por um segundo, seu olhar sobre os meus mais intenso do que nunca foi antes desde o tempo que eu o conhecia.
E então ele foi sugado pra dentro do próprio corpo, como o ar é sugado pelo ventilador.


E se foi.


Seu corpo ainda estava lá. Mas o fantasma de Jesse - O fantasma que eu amei- tinha ido. No seu lugar estava...


Nada. Eu apalpei o ar desesperada para ver se conseguia agarrar alguma parte dele. Mas minhas mãos sentiram só o ar.


Jesse tinha ido. Ido de verdade. Ele voltou pra dentro do corpo que ele tinha deixado a tanto tempo atrás, como eu prestei atenção, o corpo tremia querendo rejeitar a alma.


Foi como a morte.


Eu soube o que estava acontecendo. O corpo de Jesse tinha vindo para o presente, sim. Mas não a alma dele, porque duas da mesma alma não podia existir na mesma dimensão. O corpo de Jesse estava sem uma alma e por muitos anos a alma de Jesse estava sem um corpo.


Enfim, agora, as duas se encontraram...


Mas era tarde. E agora eu estava perdendo os dois.
Eu Não sei quanto tempo eu fiquei ali parada, segurando a mão de Jesse, olhando pra ele no desespero total. O suficiente, eu sei, que padre Dominic voltou e disse:


-Não se preocupe Susannah, está tudo sobre controle. Jesse fará os exames que ele precisa.

-Não importa - eu murmurei, ainda segurando a mão de Jesse... Aquela mão gelada.

-Não perca as esperanças, Susannah - Padre Dominic disse - Nunca perca as esperanças.


Eu soltei uma risada amarga - E por que isso?


-Porque é tudo o que nós temos, você sabe - Ele colocou a mão em meu ombro - Você fez o que fez porque o amava, Susannah. Você o amava o suficiente para deixa-lo ir. Não existe melhor presente que você poderia ter dado a ele.

Eu balancei minha cabeça, minha visão ainda estava embaçada por lágrimas.

- O que não vai acontecer, Padre Dominic.

-O que não vai acontecer, Susannah? – ele perguntou delicadamente.

-O provérbio. Se você ama algo, deixe-o ir. Se for para ser seu, ele voltará. Você não sabe? Você não leu?

 Quando eu olhei para Padre Dominic para ver o que ele pensava disto, eu vi que ele nem mesmo estava me olhando. Estava olhando fixamente para Jesse na cama. Os olhos azuis de Padre Dominic, eu notei, estavam tão cheios de lágrimas quanto os meus próprios.

-Susannah – ele disse em uma voz estrangulada - Olhe.

Eu olhei. E quando eu movi minha cabeça, senti os dedos da mão que eu estava segurando de repente apertaram os meus.

Uma cor que antes não tinha estado apareceu na face de Jesse. A face dele não estava mais da cor de folhas de papel. A pele dele estava no mesmo tom de azeitona que eu tinha visto anteriormente, no celeiro dos O'Neils.

E isso não era tudo. O tórax dele estava subindo e descendo visivelmente agora em baixo da manta que o cobria. A pulsação corria visivelmente no seu pescoço.

E, quando eu estava lá de pé, o encarando, os olhos dele se abriram...

...E eu estava caindo, tão forte quanto eu fazia toda vez que ele olhava para mim, nas piscinas escuras e fundas que eram os olhos de Jesse... Olhos que pouco estavam me vendo, mas que me reconheceram. Reconheceram minha alma.

Ele ergueu a mão que eu não estava apertando, arrancou a máscara de oxigênio que estava cobrindo o seu nariz e falou, e disse uma única palavra.

Mas uma que palavra fez meu coração cantar.

-Hermosa.

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