terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot - Cap 19

Eu caí com muita força, todo o vento bateu em mim. Era como ser atirada de volta com uma gravata de ferro – o que de fato já havia acontecido a mim antes, assim eu soube. Eu caí lá, completamente atordoada, incapaz de respirar, incapaz de me mover, incapaz de fazer qualquer outra coisa além de sentir dor.

Então, lentamente, a consciência voltou. Eu podia mover minhas pernas. Era um bom sinal. Eu podia mover meus braços. Também bom. Respirando novamente – com dor, mas ali, nada a menos.

Então eu ouvi algo.

Grilos.

Não os relinchos agudos dos cavalos que protestavam por estarem sendo arrastados para fora de suas celas pegando fogo. Não o barulho do fogo ao meu redor. Nem mesmo a minha respiração esforçada.

Mas grilos, gorjeando como se eles não tivessem nada melhor para fazer.

E eu vi minha casa.

Não a pensão da Sra. O’ Neil, não mesmo. Mas minha casa. Eu estava no quintal. Eu poderia ver o deck que Andy tinha construído. Alguém tinha deixado as luzes da banheira quente acesas.

Casa. Eu estava em casa.

E estava viva. Mal, mas viva.

E eu não estava sozinha. De repente, alguém estava ajoelhando-se ao meu lado, estava bloqueando minha visão da piscina iluminada, e estava dizendo meu nome.

-Suze? Suze, você está bem?

Paul estava me puxando, me apertando nos lugares que doíam. Eu tentei afastar suas mãos, mas ele não parou até que finalmente eu disse:

-Paul, me deixa!

-Você está bem - Ele se sentou na grama ao meu lado. Seu rosto pareceu pálido à luz do luar. E aliviado – Agradeça a Deus. Você não estava se mexendo antes.

-Eu estou bem – eu disse.

Lembrei-me então que eu não estava. Porque... Jesse... Eu tinha perdido Jesse. Nós tínhamos salvado ele, assim eu o perdi para sempre. A dor - uma dor muito mais terrível do que a que eu tinha sentido na aterrissagem no chão duro e frio – me prendeu como um torno.

Jesse. Ele tinha ido. Ido para um bom...

Exceto. . .

Mas se isso fosse verdade, como eu me lembraria dele?

Eu me apoiei em cima de meus cotovelos, ignorando a dor que estava sentido fazendo aquele esforço.


Foi quando eu o vi. Ele estava segurando seu estômago na grama há uma distância de um pé, totalmente imóvel, totalmente não...


Entusiasmado.


Ele não estava entusiasmado.


Eu olhei Paul. Ele piscou para mim.


-Eu não sei - ele disse como se as palavras tivessem sido espremidas nele - Tudo bem, Suze? Eu não sei como isso aconteceu. Vocês dois estavam aqui quando eu apareci. Eu não sei como isso aconteceu.


E então eu estava com as mão e os joelhos, rastejando sobre a grama até ele. Eu acho que estava chorando. Eu não tenho certeza. Tudo que eu sei, é que foi difícil ver tudo por um momento.

-Jesse! - Eu cheguei no seu lado.


Era ele. Era realmente ele! O Jesse real, o Jesse vivo.


A única coisa era que ele não pareceu muito vivo depois daquilo. Eu me aproximei e chequei sua pulsação na garganta. Tinha uma - minha respiração travou quando eu senti - mais era fraca. Ele estava respirando, mais não muito bem. Eu estava com medo de tocar nele, com medo de movê-lo.


Mais com mais medo de não fazer.


-Jesse! - eu gritei, rolando e agitando ele pelos ombros - Jesse, sou eu, Suze! Acorde, Acorde, Jesse!


-Ele não está bem - Paul disse - Eu já tentei. Ele está aqui... Mas não está. Não realmente.


Eu tinha Jesse nos meus braços.


Eu o aninhei, olhando para ele. Na luz da lua, ele parecia morto. Mais ele não estava. Não estava morto. Eu saberia se ele estivesse.


-Eu acho que nós o trouxemos para o futuro, Suze – Paul disse -Não era pra você - não era pra você traze-lo para o futuro.

-Eu não quis dizer - eu disse. Minha voz estava tão fraca, que foi abafada praticamente pelos grilos - Eu não fiz isto de propósito.

-Eu sei - Paul disse – Mas... Eu penso que talvez você precise levá-lo de volta.

-O levar pra onde? - eu me enfureci. Agora minha voz era muito mais alta que os grilos. Na realidade, tão alta que os grilos foram assustados e ficaram em silêncio – Para o meio daquele fogo?


-Não - Paul disse - Eu só — eu só não penso que ele possa ficar aqui, Suze, e... Vivo.

Eu continuei a aninhar a cabeça de Jesse, pensando furiosamente. Isto não era justo. Ninguém tinha nos advertido sobre isto.
Dr. Slaski não tinha dito uma palavra. Tudo que ele disse era que devíamos imaginar em nossa cabeça o tempo em que queríamos estar, e...

E para não tocar em nada que você não quisesse trazer no tempo com você.

Eu gemi e virei minha face para Jesse. Era minha culpa. Era tudo minha culpa.

-Suze - Paul ergueu e colocou uma mão em meu ombro - Me deixe tentar. Talvez eu possa leva-lo de volta...

-Você não pode - eu ergui minha cabeça, minha voz saiu fria como a lâmina que Diego tinha apertado na minha garganta - O matará. Ele não é como nós. Ele não é um mediador. Ele é... Ele é humano.

Paul balançou a cabeça dele.

-Talvez ele tivesse mesmo que morrer, então, Suze - ele disse - Como você disse. Talvez não seja certo nós desordenarmos a ordem natural das coisas, igual você me advertiu.

-Ótimo - eu deixei sair um pequeno riso amargo - Isso é realmente ótimo, Paul. Agora você concorda comigo?

O Paul apenas estava lá de pé, parecendo ansioso. Se eu tivesse sido capaz de sentir qualquer coisa além de desespero, naquele ponto, eu o teria odiado.
Mas eu não podia. Eu não podia odiá-lo. Eu não podia pensar em nada a não ser Jesse. Eu não tinha, eu disse para mim mesma, salvado ele só para sentar e vê-lo morrer.


-Vá ao carro - eu disse com uma voz baixa - E dentro da casa abra a porta. Eles sempre esquecem de tranca-la. Pendurado em um gancho na porta está a chave do carro da minha mãe. Pegue-as e volte e me ajude a levar ele para o carro.
Paul me olhou como se eu fosse uma mulher louca.


-O carro? - ele disse - Você irá... Leva-lo para algum lugar?


-Sim, seu babaca, para o hospital.


-O hospital - Paul agitou a cabeça - Mas Suze...


-Só faça!


Paul fez. Eu sei que ele pensou que era inútil, mas ele fez. Ele pegou as chaves, voltou e me ajudou a carregar Jesse para o carro da minha mãe. Não foi fácil, mas entre nós dois, nós controlamos. Eu teria arrastado ele por todo o caminho se tivesse que fazer isso.
Então nós estávamos na estrada, Paul dirigia enquanto eu continuava mantendo a cabeça de Jesse nos meus braços. Eu não estava pensando que o que eu estava fazendo era fútil. Talvez, eu pensei, o hospital pudesse salva-lo. A medicina tinha feito tantos avanços nesses últimos 150 anos. Porque não poderia salvar um homem que viajou no tempo, para outra dimensão? Porque não poderia?


Exceto que não poderia.


Oh, eles tentaram. No hospital. Eles vieram correndo para fora com uma maca quando Paul foi lá dentro lhes dizer que nós tínhamos um homem inconsciente no carro. Colocaram em Jesse até uma máscara de oxigênio enquanto o doutor do quarto de emergência me interrogava. Tinha feito uso de drogas? Tinha bebido muito? Teve um ataque apopléctico? Uma dor de cabeça? Reclamou de dor em seu braço?

Não tinha nenhuma explicação médica para o coma de Jesse. Foi o que o médico veio me dizer, horas depois.
Nada que ele pudesse determinar. Um CT scan poderia dizer mais. Será que eu poderia saber que tipo de seguro Jesse tinha? Seu número de seguro social, talvez? O telefone de um parente próximo?

Às 6:00 da manhã, eles o aceitaram. Às 7:00, eu chamei minha mãe, e lhe falei onde eu estava - no hospital com um amigo. Às 8:00, eu telefonei para a única pessoa que eu achava que poderia ter alguma idéia do que fazer.
Padre Dominic tinha voltado de São Francisco na noite anterior. Ele escutou tudo o que eu tinha para dizer sem interromper:

- Padre Dominic, eu fiz... Eu acho que eu fiz algo terrível. Eu não queria, mas... Jesse está aqui. O Jesse verdadeiro. O vivo. Nós estamos no hospital. Por favor, venha.

Ele veio. Quando eu vi a sua alta, forte figura chegando perto do assento de plástico duro que eu fiquei sentada por horas, eu quase desmoronei por ali novamente.

Mas eu não fiz. Eu me levantei e, um segundo depois, estava nos braços dele.

-O que você fez? – ele murmurou - Ele não estava falando somente comigo. Paul estava lá, também - O que vocês dois fizeram?

-Algo terrível - eu disse, erguendo minha face chorosa da camisa dele - Mas nós não queríamos isto.

-Nós estávamos tentando salva-lo - Paul disse embaraçado. A vida dele. Nós quase conseguimos...

-Até que eu o trouxe - eu disse - Oh, Padre Dominic...

Ele me deu tapinhas no ombro e entrou no quarto onde Jesse estava deitado, imóvel, a manta em cima dele se mexia com a sua leve respiração. Jesse fantasma, eu percebi agora, estava parecendo bem melhor - mais vivo - que Jesse vivo.

Padre Dominic fez o sinal da cruz nele mesmo, ele ficou assustado com o que viu. Uma enfermeira estava lá, tirando a pulsação de Jesse e escrevendo os resultados em uma prancheta. Ela sorriu tristemente quando viu Padre Dominic, então deixou o quarto.

Padre Dominic olhou.

Padre Dominic olhou para Jesse. Pela primeira vez, eu observei que as lentes de seus óculos estavam meio embaçadas.

Ele não disse nada.

-Eles querem saber que tipo de seguro ele tem - eu disse amargamente - antes deles fazerem mais testes.

-Eu...Vi - Padre Dominic disse.

-Eu não vejo que mais testes eles precisam fazer - Paul disse.

-Você não sabe - eu retruquei, amarrando a cara para Paul porque eu não podia amarrar a cara para a pessoa que realmente mereceu isto... Eu mesma - Talvez haja algo que eles possam fazer. Talvez haja...

-Seu avô não está em algum lugar por aqui? - Padre Dominic perguntou para Paul.

Paul ergueu o olhar dele do corpo inconsciente de Jesse.

-Sim - ele disse - Eu quero dizer, sim, senhor. Eu acho que sim.

-Talvez você devesse ir lhe fazer uma visita - a voz de Padre Dominic estava tranqüila. A presença dele, eu tinha que admitir, estava me acalmando - Se ele estiver consciente, talvez ele possa nos aconselhar.

O queixo de Paul caiu.

- Ele não falará comigo - Paul insistiu - Até mesmo se ele estiver acordado...

-Eu acho - Padre Dominic disse calmamente - que a lição que você aprendeu com tudo isto, é que a vida é curta e se houver coisas para serem consertadas, você tem que conserta-las depressa, antes que seja tarde demais. Vá e faça as pazes com seu avô.

O Paul abriu a boca dele para protestar, mas Padre Dominic o atirou um olhar que o manteu de boca fechada. Enviando-me um último olhar, Paul deixou o quarto, parecendo entristecido.

-Não fique muito chateada com ele, Susannah - Padre Dominic disse. -Ele pensou que estava fazendo o certo.

Eu estava muito cansada para discutir. Muito.

-Ele achou que estava me separando de Jesse - eu disse - Até mesmo da memória dele.

Padre Dominic encolheu os ombros - No fim, Susannah, isso não poderia ter sido mais favorável, você não acha? Mais favorável que isto, de qualquer maneira - Ele mostrou com a sua cabeça a forma inconsciente de Jesse. (acho que é isso)

Bem, era mesmo verdade.

-Ele teria que partir, de qualquer maneira, Susannah - Padre Dominic disse - Em algum dia.

-Eu sei - O nó em minha garganta se apertou.

Foi quando eu me lembrei. Houvera um fantasma na vida de Padre Dom, também. O fantasma de uma menina que ele tinha amado, talvez amado tanto quanto eu amei Jesse.

-EU... - Eu estava com dificuldade para falar, o caroço em minha garganta cresceu em proporções gigantescas - Eu sinto muito, Padre Dominic. Eu esqueci.

Padre Dom sorriu tristemente e segurou meu braço.

-Não seja muito dura com ele - ele disse, se referindo ao Paul. Então, com um olhar final a Jesse, ele disse – Eu não acho que há muita coisa que se possa fazer. Mas a situação do seguro. Eu penso que posso cuidar disso. Eu logo voltarei. Eu posso trazer alguma coisa para você? Você comeu?

O pensamento de que alguma coisa pudesse passar por aquela massa gigante na minha garganta era tão absurdo, que ri um pouco.

-Não, obrigado - eu disse.

-Tudo bem - Padre Dominic começou a sair do quarto. Na entrada, porém, olhou para trás e disse:

-Eu sinto muito, Susannah - ele disse calmamente - Eu sinto muito por não estar lá quando... aconteceu. E sinto muito por tudo ter terminado desse jeito.

E com isso, ele saiu.

Eu fiquei um momento lá, não fazendo nada, não pensando em nada. Então o verdadeiro significado das palavras dele começaram a penetrar.

E eu perdi.

Porque Padre Dominic tinha razão. Este era o fim. Eu poderia negar isto quantas vezes eu quisesse, mas a verdade era esta. Jesse estava morrendo, diante de meus olhos, e não havia nada, nada que eu pudesse fazer por ele.

E era minha culpa. Minha própria culpa que ele estava me deixando. Seguramente, eu poderia me confortar que onde quer que ele esteja, teria que ser melhor do que a meia-vida que ele tinha tido comigo.

Mas isso não fez doer menos.

Eu sentei na cadeira ao lado da cama do hospital de Jesse. Eu não podia ver, eu estava chorando. Não fora alto. Eu não queria que qualquer enfermeira viesse, correndo com um grupo de tranqüilizantes ou qualquer coisa. O que eu realmente queria, eu percebi, era minha mãe. Não, não minha mãe. Meu papai. Onde meu papai estava agora, quando eu realmente o precisava?

-Susannah.

Eu pensei na sepultura de Jesse, o a lápide que Padre Dominic e eu tínhamos pagado. O que tinha agora naquela sepultura, se o corpo de Jesse estava aqui? Nada. Estava vazio.

Mas não por muito tempo. Não, não por muito tempo.

-Susannah.

E no próprio tempo dele? O que foi que Sr. e Sra. O'Neil estavam fazendo? Provavelmente varrendo as cinzas do celeiro deles. Eles achariam um esqueleto sem dúvida. Mas eles saberiam que não era de Jesse? A família de Jesse deixaria pra lá ou procurariam saber o que tinha acontecido com o filho e irmão amado?

Não. Eles não tinham nenhuma maneira de saber que o corpo era de Diego. Eles pensariam que era de Jesse. Os de Silvas teria um funeral. Mas para o homem errado.

Eu senti uma mão em meu ombro. Ótimo. Alguém estava lá. Alguém estivera me vendo chorando. Legal. Deixe a menina ter um pequeno tempo para sofrer, e, por favor, vá?

-Vá embora - eu murmurei, erguendo minha cabeça - Você não vê que eu estou...

Foi quando eu notei que a figura ao meu lado estava brilhando.

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