terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot - Cap 17

Eu senti meu sangue em minhas veias gelar.


Eu conhecia aquela voz. Eu a conhecia muito bem. O homem que a tinha já tinha tentado me matar uma vez.


-É ele! - eu sussurrei. Desnecessariamente, já que é claro que ele sabia quem era.

Jesse se levantou e se moveu para longe das sombras. Ele me deu mais uma expressão de espanto. Eu fiquei aliviada em ver. Ele estava começando a acreditar em mim agora.


-Quem está aí? - Ele falou, levantando a lamparina e girando um botão que trocava a luz mais fraca para a mais forte.


O homem que estava lá embaixo, disse alguma coisa em espanhol que eu não entendi. Exceto as duas últimas palavras. E elas eram fáceis o bastante para eu decifrá-las.


Felix Diego.


É isso então, eu pensei. Não tem como voltar atrás.
Jesse disse alguma coisa em espanhol para Diego, quem respondeu em tons, mesmo que eu não pudesse entender o que ele falava, muito sedosos, mas que valiam a confiança. Ele parecia estar convidado o Jesse a fazer alguma coisa.
E jesse é claro, estava recusando o convite.


-Então? - eu sussurrei ansiosa quando a conversa finalmente terminou e eu ouvi Diego indo embora.


Jesse levantou uma mão, claro, não estava realmente convencido como eu que o homem tinha saído de verdade.
Então, enquanto a tarde se tornava noite e eu não podia mais ver além da lâmpada de gás que Jesse segurava, ele disse:


-Era Felix Diego. Ele disse que seu patrão - o pai de Maria - o enviou para ver se eu tinha tudo que precisava para ficar confortável e para me acompanhar no restante de minha viagem amanhã.


-O pai de Maria já tinha feito isso quando você veio visitá-la antes?-eu perguntei.


-Não - foi a simples resposta do jesse.


-O que você disse para ele?


-Eu disse que estava bem - Jesse disse. Ele estava respondendo às minhas perguntas, mas era claro por sua expressão que ele estava a quilômetros de distância. Ele estava analisando o que eu tinha lhe contado, e colocando junto com o que tinha acabado de presenciar. E não estava gostando nem um pouco do resultado.


-Eu disse que eu ficaria aqui a noite inteira - ele continuou - porque meu cavalo estava doente. Ele disse que meu cavalo lhe parecia bem e me convidou para se juntar a ele lá fora para uma garrafa de vinho...

-Eu prendi a respiração - Você não disse sim, disse?


- Claro que não - Pela primeira vez, jesse parecia me ver, enquanto olhava pra mim - eu acho que você está certa. Acho que ele realmente quer me matar.

Pelo menos, não até um segundo depois, quando ouvi passos se aproximando. Pensando que Diego estava voltando, eu comecei a ir para a escada, pronta para arremessar a alma do cara de volta para o reino...

Mas Jesse entrou na minha frente, colocando o braço pra me impedir de chegar mais perto. E então eu percebi o que era que tinha nos seus olhos. Mas a pessoa que estava se aproximando não era Felix Diego.

-Ah, ótimo - Paul disse, quando ele finalmente entrou no celeiro e nos viu - Ah, isso é simplesmente ótimo. O que ele está fazendo aqui? - Paul estava olhando para Jesse, que correspondeu o olhar.

- Ele acabou de me achar, Paul - eu disse. E não mencionei a parte que fiz com que ele me achasse.

Paul fixou o olhar em Jesse. Se ele notou a diferença entre o Jesse fantasma e o Jesse vivo, ele não aparentou. Jesse, por sua vez, apenas ignorou Paul e me perguntou:

- É ele? O cara que te amarrou? - Eu devia ter dito que não, claro. Eu devia ter previsto o que viria. Mas eu não pensei. Eu só falei:

- É, foi ele.

E foi só quando eu vi as mãos de Jesse se fecharem que percebi o que tinha feito.

-Não, espera! - eu comecei a gritar. Mas era tarde demais. Jesse já tinha se lançado contra Paul, jogando-o no chão do celeiro, e fazendo tanto barulho que os cavalos começaram a pular e relinchar dentro das suas celas - pare! - eu gritei, me jogando no chão tentando separá-los.

Mas era como se eu estivesse tentando separar uma montanha. Paul, pelo menos, não estava na luta como jesse estava, assim que pude ouvi-lo gritando:

- Tire ele de cima de mim, Suze, tira ele de - Na ultima palavra, Jesse se levantou, respirando dificilmente. Sua blusa desabotoou um pouco no meio, e eu consegui ver alguma coisa. Era impossível, mesmo vendo a gravidade da situação, não apreciá-lo.


Bem, - Paul disse, olhando intrigado - O que foi essa mudança de sentimentos? Eu pensei que...

- Isso foi antes - eu disse.

-Antes do que? - Paul achou um pouco de terra no cabelo, e tirou de lá.

- Antes de vê-lo - sem olhar pra nenhum dos dois. Paul não disse nada, o que pra ele era estranho. Jesse, é claro, não sabia do que nós estávamos falando. Ele ainda estava com raiva de Paul por ter me amarrado

- Não sei se posso considerar normal o fato de no seu tempo, você poder deixar uma mulher amarrada - Jesse disse, severamente - mas nesse século, deixe-me te dizer que tal ato pode levar o cavalheiro à cadeia - Jesse disse a palavra cavalheiro como se fosse a última coisa que ele esperasse de Paul. Paul apenas me olhou.

- Você sabe - ele disse - eu acho que prefiro o fantasma.

Eu achei que seria melhor mudar de assunto.

- Ele está aqui - disse para Paul - Felix Diego, quero dizer.

- Eu sei - Paul disse - eu o segui até aqui.

-Eu achei que você fosse dar um jeito nele!

- É, bem, eu não podia apenas chegar perto dele e tirar a sua alma de lá na frente de todo mundo.

-Por que não?

-Porque eu teria levado um tiro, por isso.

-Mas você poderia simplesmente voltar pro futuro.

- Ah, e te deixar amarrada no celeiro da senhora O'Neil? Acho que não. Eu tinha que voltar pra te salvar. - Deu uma olhada rápida pra Jesse - eu não sabia, claro, que o príncipe charmoso teria chegado antes e feito isso por mim.


- Então o que vamos fazer? - perguntei. Paul olhou pra jesse.

-Bem - ele disse - o que o homem maravilha quer fazer?

- Homem maravilha? - Jesse enviou um olhar ameaçador na direção de Paul.

- Ele é meu amigo no futuro? - ele me perguntou.

-Não - eu disse pra Jesse. Para Paul eu disse, - Eu tentei convence-lo a ir embora, mas ele não quis ir.

Paul olhou para Jesse - Amigo - ele disse - Eu não estou te falando isso porque eu gosto de você. Acredite. Mas se você ficar aqui, você vai ser morto. Simples assim. Esse Diego? Ele significa negócio.

-Eu não tenho medo dele - Jesse disse, como se nós fossemos cretinos por não acreditar nele.

-Viu o que eu quero dizer? - eu disse para Paul.

- Ótimo. - Paul se sentou, parecendo doído - Isso é ótimo. Então, quando Diego aparecer e te matar, ele pode machucar a mim e a você, também.

Eu abri minha boca pra dizer que isso não ia acontecer, mas jesse interrompeu.

- Se você acha que eu vou deixá-la sozinha com você novamente - ele disse, o olhar nunca saía de Paul - você realmente não me conhece, nesse futuro que vocês falam.

Não se preocupe - Paul disse, levantando uma mão - Eu não vou esperar mais nada de você, Jesse. Bom, está feito. - Paul se apoiou no feno, achando uma posição mais confortável - Nós esperamos. E se ele voltar, achando que você está dormindo e ele poderá fazer o trabalho dele, nós o pegaremos.

- Não – a mandíbula da Jesse se apertou. Ele não aumentou a voz. Não de verdade. O tom dele estava duro - E cuidarei dele.

- Ah, sem ofensas - Paul disse - mas eu e suze, viemos para cá especialmente para -

- Eu disse que eu cuidarei dele - Jesse disse na mesma voz fria - aquela que eu descobri que Jesse só usa quando está realmente com raiva de alguma coisa - Sou eu quem ele quer. Sou eu quem vai pará-lo.

Paul e eu trocamos olhares. Então Paul suspirou, ergueu a manta de cavalo e colocou em cima do feno em um canto escuro do sótão.


- Muito bem - ele disse - Me acorde quando for a hora de se deslocar para a casa.

E pra minha surpresa, ele fechou os olhos e pareceu dormir.

Eu olhei pra Jesse e vi que ele estava olhando pra Paul com desprezo. Quando ele notou a direção do meu olhar, ele perguntou, com a voz menos dura do que antes - Vocês dois são amigos, de onde você veio?

- Hã, - eu disse - Não, na verdade. Somos tipo... Colegas. Nós dois temos o mesmo... Dom, espero que você chame assim.

- De viajar no tempo? - Jesse perguntou.

- É - eu disse - E... Outras coisas.

- E quando eu matar Diego - eu notei que ele não falou o “se” - você vai voltar pra onde você veio?

- É - eu disse, tentando não pensar em como aquele momento seria inacreditavelmente duro.

- E você quer me ajudar - Jesse disse, no mesmo tom que eu falava com ele – por quê...?

Eu percebi que não tinha respondido a sua pergunta da primeira vez que ele me perguntou. Pela luz fraca da lamparina, ele se virou pra ter certeza de que Diego realmente pensava que ele estava dormindo, pra ele poder pagá-lo inconsciente - Jesse nunca tinha olhado tão bonito até então. Porque, claro, ele nunca esteve vivo das outras vezes que eu o vi. Seus olhos castanhos olhavam suavemente, os cilhos junto da escuridão faziam sombras no sótão. Seus lábios - aqueles lábios que tinham me beijado sempre que eu queria, e, em todo o caso, nunca mais o fariam - parecendo totalmente simpática. Eu tinha que tirar meus olhos de lá e olhar para a mancha puída no joelho de minhas calças jeans.

- Porque é o que eu faço - eu disse, algo estava acontecendo em minha garganta, fazendo as palavras saírem mais rápido do que eu queria que saíssem.

Eu tossi.

- E você faz isso - Jesse mencionava o negócio de voltar no tempo pra impedir os mortos de morrerem assassinados - pra todos aqueles que morrem antes do tempo?

-Hã, não exatamente - eu disse - O seu caso é um pouco... especial.


-E todas as garotas do seu tempo são - Jesse perguntou, sério, aparentemente sem notar o meu desconforto ou a minha fascinação pela boca dele - como você?

-Como eu? Como… se elas são mediadoras?

- Não. - Jesse balançou a cabeça - Sem medo, como você. Corajosas, como você.

Eu sorri. - Eu não sou corajosa, Jesse - eu disse.

- Você está aqui - ele disse, apontando para o chão - Mesmo sabendo - ou pensando que sabe - que uma coisa terrível vai acontecer.

- Bem, claro - eu disse - Porque essa é a razão pela qual eu estou aqui. Para ter certeza que isto não acontecerá. Embora, para ser sincera... - eu olhei de relance para Paul, no caso de - e ele provavelmente estava – ele estar ouvindo - na verdade eu vim para impedi-lo. Paul, quero dizer. De parar Diego. Porque você vê, se você não morrer hoje, você e eu - no futuro, de onde eu vim - nunca nos conheceríamos. E eu não podia deixar isso acontecer. E até você - no futuro - disse que não queria que isso acontecesse. Só que... Que... Aqui estou, deixando isso acontecer. Então você vê, eu não sou corajosa, de verdade.

Eu duvido que ele tenha entendido alguma coisa do que eu falei. Não importava. Era quase a desculpa que o Jesse que eu conheço e amo iria receber. E eu senti que lhe devia uma. Uma desculpa. Pelo que eu fiz. O que estaria destruindo tudo o que nós teríamos juntos.

- Eu penso que você está errada - Jesse disse. Sobre eu não ser corajosa.

Mas o que ele sabia sobre isso, afinal?

Eu apenas sorri.

E foi quando eu ouvi.

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