terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot - Cap 16

Porquê, a final, eu não podia fazer isso.


Eu achei que poderia. Realmente achei que poderia ficar parada e deixar que Jesse fosse assassinado. Quero dizer, se a alternativa era nunca vir a conhecê-lo? Claro, eu poderia fazer isso. Sem problemas.
Mas então isso foi antes. Antes que eu pudesse vê-lo. Antes que eu pudesse falar com ele. Antes que ele tivesse me tocado. Antes que soubesse quem ele foi, quem ele poderia ter sido, se ele tivesse sobrevivido.


Eu sabia agora que eu não poderia deixar que ele fosse morto, assim como eu podia antes. . . Bom, é como se eu salvasse meu meio-irmão de um carro de corridas ou desse à minha mãe cogumelos venenosos. Eu não podia deixa-lo morrer, mesmo que isso significasse nunca mais poder vê-lo. Eu amava-o demais.


Era simples assim.


Eu sabia que eu iria me odiar depois. Eu sabia que iria acordar e, se eu me lembrasse do que fiz, iria me odiar pelo resto da minha vida.
Mas o que eu podia fazer? Eu não podia ficar estagnada de maneira estúpida enquanto alguém que eu amava estava caminhando para um perigo mortal. Padre Dominic, todos eles, mesmo Paul, estavam certos. Eu tinha que salvar Jesse eu tinha.
Era a coisa certa a fazer.
Mas não era, claro, a coisa fácil. A fácil seria apontar o dedo para ele assim que ele me olhasse bem nos olhos, desacreditado, e... foi, “Ha, babaca, estou só brincando!”


Ao invés disso, eu disse:

-Jesse. Você me ouviu? Eu disse que vim do futuro para salvá-lo.


-Eu ouvi o que disse - Jesse sorriu gentilmente para mim - Você sabe o que eu acho que seria melhor? Se você me deixasse chamar a Sra. O’Neil. Ela cuidaria de você até que eu fosse à cidade chamar o médico. Porquê eu acho que homem que te amarrou nessa cadeira também pode ter te dado uma batelada na cabeça.

-Jesse - eu disse pasma. Eu não posso acreditar nisso. Aqui eu estava, fazendo esse tremendo sacrifício, salvando o amor da minha vida e sabendo que dessa forma eu nunca mais estaria com ele, e ele me acusando de estar sendo estúpida.- Paul não me deu uma batelada na cabeça, ok? Eu estou bem. Um pouco exausta ainda, mas bem. Eu só preciso que você me ouça. Hoje à noite Felix Diego irá se esgueirar até o seu quarto aqui na pensão e estrangulá-lo até a morte. Então ele irá jogar seu corpo numa cova rasa e ninguém mais irá encontrá-lo, até que um século e meio depois, quando meu padrasto instalar uma piscina quente no quintal.

Jesse olhou para mim. Eu poderia estar errada, mas acho que vi piedade em seu olhar.


-Jesse, eu estou falando sério. – eu disse. – Você tem que ir para casa. Ok? Suba em seu cavalo e volte para casa, e não pense mesmo em se casar com Maria de silva.


-Maria falou com você. – Jesse disse finalmente. Sua cara escureceu com uma raiva repentina. Esta é sua maneira de tentar conversar cara a cara, é? Bem você pode voltar para sua senhora e dizer-lhe que não trabalhara mais. Eu não serei da família dela, pensando que eu não sou cavalheiro o bastante para quebrar o compromisso. Eu estou indo vê-la amanhã, gostando ou não. – eu pisquei para ele, completamente sem palavras. Do que ele falava? Então eu me lembrei que Jesse havia me falado uma vez, um segredo que só eu sabia... Que tinha estado no rancho de Silva todos aqueles anos e não pretendia se casar com ela, mas também não quebraria o compromisso.

O que se explicaram todas aquelas cartas terem sido descobertas, no ultimo verão, quando meu meio-irmão estava escavando e achou-as acidentalmente. As maneiras daquele século exigiam que o casal trocasse cartas um com o outro. Diego assassinou Jesse antes que tal troca de cartas pudesse ocorrer, a fim de impedir que o pai de Maria fizesse perguntas incomodas a respeito da ‘folga’ e Jesse, se sua noiva sabia o que tinha feito ele terminar a relação.


-Ah espera. – eu disse. – Contenha-se. Jesse, Maria não falou comigo. Eu não conheço mesmo essa Maria; bem, eu digo, nós nos conhecemos, mas.


-Você tem que conhece-la. – Jesse olhou para o retrato em sua mão. – Ela deu-lhe este retrato, como mais você poderia ter o conseguido?

Jesse balançou a cabeça.


-Eu não sei quem você é - ele disse devagar, em um tom que nunca tinha usado comigo antes - Mas eu estou devolvendo isto - ele balançou o retrato na minha frente - para seu dono de direito. Seja qual for o jogo que você está jogando, acaba agora. Você me entendeu?

Jogo? Eu não podia acreditar nisso. Aqui estava eu, arriscando meu pescoço por ele, e ele estava bravo comigo por ter roubado um retrato estúpido dele?


- Não tem jogo nenhum Jesse, tá bom? Se isto fosse apenas um jogo - Se Maria realmente tivesse me mandado aqui - como eu saberia as coisas que sei? Como eu saberia que Maria e Diego estão secretamente apaixonados? Como eu saberia que sua namorada - que bem piranha - não quer se casar com você de jeito nenhum? E que seu pai não aprova o Diego, e acha que se ela se casar com você ela vai esquecer dele eventualmente? Como que eu saberia que os dois fizeram um plano para te matar hoje à noite e esconder o corpo, de modo que pareça que você fugiu do casamento...


-Nombre de Díos - Jesse estava de pé e amaldiçoando. Eu não podia deixar de notar como o sótão chacoalhava com seus passos. Isso é uma coisa que não teria acontecido com o Jesse fantasma, e era apenas mais uma prova do quão longe eu estava do mundo que conheço.


Mas essa não era a única coisa que não teria acontecido com o Jesse fantasma. Eu percebi na hora que o Jesse vivo se ajoelhou, me segurou pelos ombros e me deu uma chacoalhada frustrada.


-Você sabe de tudo isso porque a Maria te contou - ele disse, entre dentes rangendo. - Admita! Ela te contou! - tão rápido quanto ele tinha me sacudido. Ele me soltou e se levantou. Soltando um murmúrio de chateação, Jesse passou uma mão pelos cabelos.
Meus braços, onde ele tinha me tocado, se arrepiaram.


-Olha, me desculpe - Eu disse sentindo isso. Eu sabia como ele devia estar se sentindo. Seu coração não era o único partido naquele celeiro. - Quero dizer, sobre sua namorada querendo te matar e tudo. Mesmo se você, sabe, fosse terminar tudo mesmo. Mas se é alguma consolação, eu acho que você está muito melhor sem ela. Quero dizer, as únicas vezes que eu me encontrei com ela, ela estava tentando me matar também. Melhor você descobrir que ela é uma piranha gora, e terminar tudo facilmente, do que descobrir isso depois de casado. Porque eu nem sei se eles deixam as pessoas se divorciarem, você sabe, no seu tempo.


-Pare de falar isso! - as duas mãos de Jesse estavam alisando o cabelo agora.


-O que? Piranha? - Talvez eu esteja sendo um pouco dura - bem, tá bom, mas a garota parece trazer somente problemas.


-Não - Jesse se virou e olhou para mim, e eu fiquei surpresa com a intensidade que seu olhar queimou no meu. Seu tempo. O futuro. Você...Você...Desculpe-me, senhorita Suzannah. Mas temo que terei de chamar o xerife de qualquer jeito. Porque você certamente não está muito bem da cabeça.


-Senhorita Suzannah! - para o meu completo horror lágrimas caíram dos meus olhos, mas eu não podia fazer nada...Isso era tão...Tão...
Injusto!


-Então é senhorita Suzannah, não é? - eu perguntei para ele ignorando minhas lágrimas. - Ah, é simplesmente ótimo. Eu venho até aqui, arriscando muitos de meus neurônios, e você nem mesmo acredita em mim? Eu estou basicamente garantindo uma vida de coração partido, e tudo o que você tem a dizer é que eu não estou bem da cabeça? Muito obrigada, Jesse. Não, realmente, está bem assim!


Eu terminei com um suspiro. De repente, isso tudo era demais. Eu não podia nem olhar para ele, porque sempre que eu olhava, meus olhos ficavam ofuscados com tanta luz, como se ele fosse a árvore de natal mais gloriosa que já existiu. Eu enterrei meu rosto em minhas mãos e chorei.

Talvez eu já tenha feito o bastante, eu disse para mim mesma. Talvez contando para ele o plano de Maria e Diego faça com que ele volte para casa hoje. Mesmo que a fonte seja alguém que ele considere maluca. Eu não podia fazer nada mais, podia? Quero dizer, o que mais eu podia fazer para ele acreditar em mim?
daí eu me lembrei.


Eu tirei meu rosto de minhas mãos e olhei para ele, sem nem ligar se ele via ou não minhas lágrimas.


-Médico - eu disse.


-Sim - Jesse tinha tirado um lenço de algum lugar e o tinha me entregado, sua raiva parecia ter desaparecido - Deixe-me buscar um para você. Eu realmente acho, senhorita Suzannah, que mesmo com você dizendo o contrário, a senhorita não está muito bem...


-Não - eu tirei o lenço de vista impaciente - Não para mim. Você.


Um pequeno sorriso apareceu no canto de sua boca:

 -Eu preciso de um médico? Eu lhe garanto senhorita Suzannah, eu nunca me senti melhor.


-Não - eu fiquei de pé. Era a primeira vez que eu tentava ficar de pé depois que ele me desamarrou, e posso afirmar que não estava muito firme.

Mesmo assim eu consegui me levantar sem sua ajuda. Agora eu estava em sua frente, respirando com força - mas por emoção, não por exaustão.


-Um médico - eu disse, olhando em seu rosto confidente e preocupado. Ele era uns vinte centímetros mais alto do que eu, mas eu não liguei, continuei com o ego alto.

-Secretamente você quer ser um médico - eu disse - Você não pediu para ele, mas sabe que seu pai não iria deixar. Ele precisa que você tome conta do rancho, já que é o único homem. Eles não podiam ter você longe tempo suficiente para fazer a faculdade de medicina.


Então alguma coisa aconteceu com o rosto de Jesse. O lapso de suspeita que tinha estado vendo em seu olhar desde que eu lhe mostrei o retrato desapareceu, e em seu lugar veio uma outra coisa...


Alguma coisa como vontade de saber.


-Como...? - Jesse olhou para mim com incredulidade. - Como você poderia...? Eu nunca contei isso para ninguém.
Eu estiquei um braço e segurei em sua mão... Eu fiquei chocado pelo quão quente ela sentia na minha. Todas aquelas vezes que Jesse tinha me segurado... Todas a vezes que ele tinha afastado meu cabelo e eu tinha imaginado seu calor... Agora eu sabia que não tinha sido real, aquele calor. Tinha sido tudo na minha cabeça. Este, este calor foi real. Essa mão era real. Os calos de trabalho que eu conhecia tão bem...Eles eram reais. O Jesse verdadeiro.


-Você me contou - eu disse para ele. - você me contou no futuro.


Jesse sacudiu a cabeça, mas não com força, só um pouquinho.


-Isso...Isso não é possível - ele disse.

É - eu disse - É sim. Você vê, o que vai acontecer hoje a noite é que Diego te matará. Mas só seu corpo morre, Jesse. Sua alma não vai a lugar algum, porque... Bem, porque eu acho que não era para ter acontecido dessa forma.


Eu sei lá o que pra ele, ainda segurando sua mão.

- Eu achei que você devia continuar vivo. Mas você não continuou. Então sua alma andou por aí até o dia que eu cheguei, mais ou menos 150 anos depois. Eu sou o tipo de pessoa que ajuda... Bem, pessoas que morreram. Você me disse que queria ser um médico, Jesse. Você me disse isso no futuro. Acredita em mim agora? Você vai fazer o favor de ir embora e nunca mais voltar?


Jesse olhou pra nossa mão, junta, a minha tão pálida comparada com a dele, bronzeada. Ele não disse nada. O que ele podia falar, realmente? Então porque ele era esse, ele pensou em alguma coisa pra falar... A coisa certa a falar.

- Se você sabe de uma coisa como essa - ele disse, calmamente - Sobre eu querer ser médico - algo que eu nunca contei a Maria - ou À alguma pessoa viva - Então eu devo... Eu acho que devo... Acreditar em você.


-Então - eu disse - agora você sabe, você deve sair daqui, Jesse.

-Apenas suba no seu cavalo e vá embora.
-Eu irei - Ele disse, nós estávamos ali, tão próximos, tudo que ele deveria fazer ali, era sei lá o que, e segurar meu rosto com suas mãos. Mas ele não fez, claro.


Mas eu pude sentir o calor que vinha de suas mãos, não apenas da que eu segurava, mas de seu corpo inteiro. Ele estava tão vibrante? Tão vivo, que eu parei de sentir qualquer fio do cabelo na minha cabeça, qualquer coisa em meu corpo. Eu o amava tanto, e ele nunca... Nunca saberá disso. Mas tudo bem. Porque ele poderia continuar vivo.


Mas não - Jesse disse, pegando minha mão de repente e se virando - hoje eu parei, sentindo como se tivesse sido chutada. Alguma coisa que eu não entendi sobre o ar.

- Q... Que? - eu perguntei, estupidamente - Não o QUE?

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-Hoje não - Jesse disse, apontando para as portas do celeiro, através da qual eu pude ver, as sombras tinham ido embora. O sol tinha ido, não havia mais sombras - Amanhã eu irei pra casa dos de Silva pra falar com Maria e o pai dela. Mas hoje não. Está ficando tarde. Tarde demais pra viajar. Eu vou ficar aqui hoje, e sair de manhã.

-Mas você não pode! - As palavras saíram do fundo da minha alma. - Você precisa viver, Jesse, HOJE! Você não entende, é muito perigoso.

Um sorriso muito familiar apareceu em sua boca.

- Eu sei me cuidar sozinho, senhorita Suzannah - ele disse - Não estou com medo de Felix Diego.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo diante dos meus olhos.

-Bem, você deveria estar! - Eu gritei praticamente. - Considerando que ele mata você!


-Ah - Jesse disse - Mas se eu entendi bem, isso foi antes de você vir me avisar. . . o que eu agradeço a você.

Eu não podia acreditar como aquilo estava indo ruim.

-Jesse - Eu disse, fazendo uma última tentativa desesperada de convencê-lo. -Você não pode passar a noite nessa casa. Você entendeu?É muito perigoso.

Mas Jesse surpreendeu-me. Bem, por que não? Ele sempre surpreendia.

-Eu entendi - ele disse.

-Entendeu? - Eu perguntei para ele - Realmente? Então você irá?

-Não – disse - Eu não irei.

-Mas... - eu vou continuar aqui - ele disse, apontando o chão - Com você. Até amanhã.

Eu olhei pra ele.

-Aqui? Aqui? No celeiro?

- Com você - Jesse disse.

- Comigo?

- É - ele disse e eu levei todo esse tempo pra entender o que ele estava fazendo. Lá estava eu, 150 anos atrás, para protegê-lo, e ele estava tentando proteger a mim.

Isso era uma coisa que o Jesse faria que eu quase comecei a chorar. De verdade!
Mas só quase.


Porque sua próxima pergunta me distraiu.

 -Eu tenho que perguntar...Por que? - seus olhos escuros vasculharam meu rosto.


-Por que o que? - eu murmurei, hipnotizada, como sempre, por seus olhos nos meus.


-Por que você fez isso... veio até aqui... para me avisar sobre Diego?


Porque eu te amo.


Quatro simples palavras. Quatro simples palavras que não tinha jeito de eu dizer. Não para esse Jesse, que tecnicamente era um estranho para mim. Ele já achava que eu era maluca. Eu não queria que as coisas ficassem ainda piores.


-Porque não foi certo o que aconteceu com você. Isso é tudo. - foi o que eu comecei a dizer, quando a voz de um homem chamou:

-Senhor de Silva?


E vamos apenas dizer que não era o Sr. O'Neil.

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