terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot - Cap 13

Eu estava no meu quarto, mas não era ele.


Onde havia o dossel, tinha uma cama de metal. A cama estava coberta com uma colcha brilhantemente colorida, o tipo de colcha que minha mãe teria ficado maluca para comprar, se a visse em alguma loja. Em vez da minha penteadeira com seu espelho grande, estava uma estante de gavetas, com um jarro e uma bacia em cima dela.


Não havia espelho em lugar nenhum, mas no assoalho estava um tapete tecido de...Bem, de um material diferente. Era um pouco difícil de ver realmente bem, porque a única luz que tinha lá era um pouco da luz da lua, que se derramava dentro da janela que dava para a baía. Não havia nenhum interruptor elétrico. Eu procurei por ele, instintivamente, no minuto em que eu abri meus olhos e percebi a escuridão. Onde o interruptor tinha estado havia apenas madeira.
Isso só podia significar uma coisa.


Eu tinha conseguido.


Espere.


Mas onde estava Jesse? Este quarto estava vazio. Não aparentava como se tivessem dormido na cama recentemente.
Eu tinha vindo tarde demais? Jesse já estava morto? Ou será que eu tinha vindo cedo demais e Jesse ainda não tinha chegado?
Havia apenas uma maneira de saber. Eu coloquei minha mão no trinco da porta - só que, claro, não havia nenhum trinco, agora, mas sim uma trava - e saí para o corredor.


Estava quase completamente escuro no corredor. Não havia nenhum interruptor elétrico lá, também. Em vez disso, enquanto eu procurava um, minha mão tocou em um retrato moldado, ou em algo.


...Isso caiu, prontamente, da parede, com uma pancada, embora nenhum vidro tenha se quebrado. Eu não sabia o que fazer. Eu não podia encontrar a coisa que eu tinha acabado de derrubar, estava muito escuro. Então, eu continuei descendo as escadas, andando, graças à minha memória, já que não tinha nenhuma luz para me guiar.
Eu vi um brilho antes de ouvir os passos rápidos se aproximarem no fundo da escada. Alguém estava vindo...Alguém segurando uma vela.
Jesse? Era possível ser ele?


Mas quando eu cheguei no fim da escada, eu vi que era uma mulher que vinha de encontro a mim, uma mulher que segurava não uma vela, mas algum tipo de lanterna. No início, eu pensei que ela devia ser extremamente gorda, e eu estava tipo, Deus, o que poderia ela ter comido? Não era como se tivessem Twinkles no tempo de Jesse...Hmm, agora, quero dizer.


Mas então eu vi que ela vestia uma espécie de saia com arcos, e que, o que eu tinha visto, era apenas a sua roupa.
- Maria, mãe de Deus. – A mulher gritou quando me viu. – De onde você veio?
Eu pensei que era melhor eu ignorar essa pergunta. Em vez disso, eu lhe perguntei da forma mais polida que eu podia: – Jesse de Silva está aqui?
- O quê? – A mulher levantou ainda mais a lamparina e olhou realmente para mim. – Por Deus. – Ela gritou. – Mas você é uma menina!


- Hmm. – Eu disse. Eu achava que isso era óbvio. Meu cabelo, apesar de tudo, é, consideravelmente, longo, e eu sempre uso ele solto. E tem mais, como sempre, eu estava toda maquiada. – Sim, Senhora. Jesse está aqui? Porque eu realmente tenho que falar com ele.


Mas a mulher, ao invés de apreciar minha educação, pressionou seus lábios muito firmemente. A próxima coisa que eu soube foi que ela estava alcançando a porta, estava mantendo-a aberta, e estava tentando me fazer sair por ela.
- Para fora. – Ela disse. – Para fora. Você deve saber que nós não permitimos garotas como você aqui dentro. Esta é uma casa respeitável.


Eu só fiquei lá, olhando para ela. Uma casa respeitável? Claro que era. Era a MINHA casa.


- Eu não quero causar problema, Senhora. – Eu disse, já que eu podia ver como seria um pouco estranho, encontrar uma garota estranha vagando pela sua casa...Mesmo se for uma pensão. Isso aconteceria comigo. Ou, pelo menos, com a minha mãe e seu novo marido. – Mas eu realmente preciso falar com Jesse de Silva. Você pode me dizer se ele...


- Que tipo de tola você pensa que eu sou? – A mulher não soava muito agradável. – Sr. de Silva não gastaria uma hora do seu dia com uma...Criatura como você. Precisa falar com Jesse de Silva, certamente! Mas fora! Fora da minha casa!
E então, com uma força surpreende para uma mulher em uma saia com arcos, ela me agarrou pela gola da minha jaqueta de couro, e me carregou para fora da casa.
- Boa liberdade para um lixo ruim. – A mulher disse e bateu a porta em minha cara.


Não apenas uma porta qualquer. Minha própria porta. Minha própria porta da frente, da minha casa.

Eu não podia acreditar naquilo. Do que eu tinha sido conduzida a acreditar, de Jesse e daquele livro “Pouca casa na pradaria”, as coisas do século XIX eram todas do tipo preparar manteiga e ler ruidosamente em volta da fogueira. Nada sobre senhoras más, que jogavam garotas para fora de suas próprias casas.
Decepcionada, eu virei e comecei a descer os degraus da varanda da frente...


...E quase caí de cara. Porque os degraus não eram como antes. Ou como iam ser um dia, quero dizer. E, à exceção da luz da lua, que estava tristemente desaparecendo, devido a uma nuvem que estava passando, não havia qualquer luz por perto. Quero dizer, estava muito escuro. Não havia nenhum brilho tranqüilizador vindo de algum poste na rua - eu nem mesmo estava certa de que aquela era a rua onde a Pine Crest Road tinha estado.
E, virando minha cabeça, eu não podia ver nenhuma luz em todas as janelas próximas...Com tudo isso, eu podia dizer que não tinha nenhuma janela próxima. A casa, na qual eu estava em frente, parecia ser a única em milhas e milhas...
E eu fui, apenas, jogada de lá. Eu estava presa no ano 1850 com nenhum lugar para ir e nenhum jeito de entrar na casa. Exceto, eu suponho, se eu me vestisse daquele jeito antiquado.





Eu podia, eu pensei, ir à Missão. Esse era o lugar aonde Paul, supostamente, tinha ido. Eu estiquei meu pescoço, procurando a familiar cúpula vermelha da basílica, que só era visível da minha varanda frontal, aterrizando como se estivesse em Carmel Hills.
Mas, em vez de ver Carmel Valley, quando eu me estiquei, com todas as luzes piscando à vasta escuridão do mar, tudo que eu vi foi a serra escura. Nenhuma luz. Nenhuma cúpula vermelha iluminando-se para os turistas. Nada.


Porque, eu percebi, não havia nenhuma luz. Não tinham sido inventadas ainda. Pelo menos, não as lâmpadas.


Deus. Como as pessoas podiam encontrar qualquer lugar? O que usavam para se guiar, estrelas?


Eu olhei para cima, para verificar a situação das estrelas, querendo saber se iam me ajudar, e eu quase caí na varanda outra vez. Porque havia mais estrelas no céu do que eu já tinha visto em toda minha vida. A Via Láctea era como uma raia branca no céu, tão brilhante quanto a lua, que estava, finalmente, saindo de trás de algumas nuvens, com humilhação.


Uau. Nenhuma maravilha Jesse não ficar impressionado quando eu, felizmente, estava no Big Dipper.
Eu senti saudades. Bem, não havia mais nada que eu pudesse fazer, eu supus, mas eu comecei a vagar em direção à Missão, e esperava encontrar Paul - ou Jesse...Jesse do passado, quero dizer - pelo caminho.


Eu tinha apenas encontrado um caminho para sair da varanda - descendo os degraus de madeira, ao contrário dos de cimento que ficavam lá agora...Quero dizer, no presente...No meu tempo - quando algo caiu em mim. A primeira pesada gota fria da chuva.
Chuva. Eu não estou brincando. Em pouco tempo, eu estava olhando para cima para ver se realmente estava chovendo, ou se alguém tinha cuspido em mim (eca), do segundo andar, quando eu vi o banco de nuvens pretas e grandes rolando do mar. Eu tinha estado tão distraída com todas as estrelas, que eu não tinha percebido essas nuvens antes.



Ótimo. Eu viajo mais de um século e meio no tempo, eu o que eu ganho pelos meus esforços? Começo sendo jogada de minha própria casa, e depois a chuva. Muito bom.


O relâmpago piscou, no céu. Alguns segundos mais tarde houve um trovão, longo e baixo.
Fabuloso. Uma tempestade. Eu estava presa em uma tempestade, em 1850, sem nenhum lugar para ir.


Então o vento chegou, carregando com ele um cheiro que eu não pude saber de que era, ao certo. Eu tentei, por um minuto, me lembrar de que era. Então, eu lembrei, de uma vez: minhas ocasionais (forays) na parte de trás do Central Park, quando eu vivia no Brooklyn.


Cavalo. Havia cavalos por perto.


Isso significava que tinha que haver um celeiro. Que podia estar seco. E que podia não ser cuidado de perto por mulheres que vestiam saias com arcos e que me consideravam um entulho.


Mergulhando minha cabeça de encontro à chuva, que estava caindo mais duramente agora, eu corri no sentido do cheiro do cavalo e logo me encontrei atrás da casa, em frente a um celeiro, bem onde Andy disse que ia instalar uma piscina um dia, depois que todos nós terminássemos a faculdade e pudéssemos ter recursos para isso.


As portas do celeiro estavam fechadas. Eu me apressei até elas, rezando para que elas não estivessem trancadas...
Não estavam. Eu empurrei uma para abrir e deslizei para dentro, enquanto um outro relâmpago listou através do céu, e o trovão soou outra vez, mais alto, desta vez.


Dentro do celeiro estava seco, pelo menos. Escuro como o piche, mas seco. O cheiro de cavalo era forte - eu poderia ouvi-los mover-se inquietos, em suas tendas, assustados com o trovão - mas o cheiro de algo mais era mais forte. Eu acho que era feno. Não sendo, exatamente, uma garota do campo, eu não podia dizer ao certo. Mas eu achei que o material que foi mastigado e que rolou um pouco abaixo das minhas botas podia ser feno.



Bem, isto era ótimo. Eu tinha vindo salvar a vida do meu namorado - ou melhor, impedir alguma outra pessoa de salvá-lo - e tudo que eu tinha feito era irritar a dona da propriedade.
Ah, e eu tinha estado sobre a chuva. E encontrado um celeiro.


Perfeito. Dr. Slaski não estava brincando, quando tinha me avisado sobre a viagem no tempo. Certo de que não tinha sido, de longe, nenhum piquenique.
Foi quando, um segundo mais tarde, eu estava torcendo meu cabelo, para tirar a água, e senti uma mão pesada sobre meu ombro...
Bem, eu tinha tido, definitivamente, o bastante para a metade do século XIX.


Felizmente, para mim, um trovão abafou meu grito. Senão, a dona da casa - ou pior, seu marido, se ela tivesse um - estariam aqui fora em um segundo. E eu, provavelmente, teria muito mais por que gritar do que apenas por um susto.


- Cala a boca! – Paul sussurrou. – Você quer que nos peguem aqui?


Eu virei para trás. Eu só podia ver, turvamente, seu vulto na escuridão. Mas era o bastante para enviar a meu pulso, de que tem competido antes, uma rápida paralisação.


- O que você está fazendo aqui? – Eu reclamei, esperando que ele não pudesse ouvir a confusão em minha voz. Eu senti uma mistura de emoções ao vê-lo: raiva, porque ele tinha chegado lá antes de mim; medo, que ele estivesse lá para tudo; e alívio, em ver um rosto familiar.


- O que você acha que eu estou fazendo aqui? – Paul lançou algo áspero e pesado para mim.


Eu a segurei inexperientemente. – O que é isso?


- Um cobertor. Assim você pode se secar.

Eu joguei, agradecida, o cobertor em torno de meus ombros. Mesmo eu ainda estando com a minha jaqueta, eu estava tremendo embaixo do couro. Eu, também, não acho que era por causa da chuva.
O cobertor cheirava, fortemente, a cavalo. Mas não de uma maneira ruim. Eu acho.


- Então. – Paul disse, e se moveu em direção à fenda de luz jogada da ainda-aberta porta do celeiro, de modo que eu pudesse finalmente ver seu rosto. – Você conseguiu.


Eu aspirei miseravelmente. Eu tentei não prestar atenção ao fato de que eu estava com frio, molhada, e no interior de um celeiro. No ano de 1850.


- Eu não posso acreditar que você, realmente, pensou que me afastaria dele. – Eu disse, contente que eu, finalmente, tinha parecido controlar o tremor em minha voz. Meus dentes vibrando eram uma outra história. – Você pensou que eu não tentaria impedi-lo?


Paul deu de ombros. – Eu achei que ia valer a pena uma tentativa. E há ainda uma possibilidade de eu ter sucesso, você sabe, Suze. Ele não está aqui, ainda.


- Quem não está aqui? – Eu perguntei, estupidamente. Eu ainda estava tentando entender como eu, possivelmente, poderia abandonar o Paul e pegar o Jesse sem que ele visse.


- Jesse. – Paul disse, como se eu fosse doente mental. E você quer saber? Provavelmente eu sou. – Nós viemos um dia mais cedo. Ele vai chegar aqui amanhã.


- Como você sabe? – Eu perguntei, enxugando uma gota de chuva, que estava no meu nariz, com a parte de trás do meu pulso.
- Eu falei com aquela senhora. – Ele disse. – Sra. O' Neil. A que é dona da sua casa, agora.


- Ela falou com você? – Eu não podia esconder minha surpresa. – Ela não falou comigo. Ela me expulsou da casa.


- O que você fez, materializou-se na frente dela? – Paul perguntou, com um olhar de desprezo.

- Não. – Eu disse. – Bom, não bem na sua frente.


Paul balançou a cabeça. Mas eu podia ver que ele estava sorrindo um pouco. – Aposto que você deu um susto nela. O que ela achou do seu estilo? – Ele gesticulou para minha roupa.


Eu olhei para mim mesma. Para minha calça jeans e jaqueta de couro, acho que eu não me assemelhava, realmente, a nenhuma dama do século XIX, que eu sempre via nos filmes. Ou, mais importante, nos retratos da época.


- Ela disse que aquela era uma casa respeitável, e que eu devia pensar muito antes de mostrar meu rosto lá. – Eu admiti e fiquei atormentada, quando Paul riu alto.


- O que foi? – Eu reclamei.


- Nada. – Paul disse. Mas ainda estava rindo.


- Me diz.


- OK. Mas não fique irritada. Ela pensou que você fosse uma dama da noite.


Eu olhei furiosa para ele. – Ela não pensou isso!


- Ela pensou sim. E eu disse para você não ficar com raiva.


- Eu não estou, exatamente, vestida como uma dama da noite. – Eu disse. – Eu estou vestindo calças.


- Esse é o problema. – Paul disse. – Nenhuma mulher respeitável, neste século, usa calças. É uma boa coisa Jesse não ter visto você. Ele, provavelmente, nem mesmo teria falado com você.


Eu tinha tido sobre tudo que eu poderia fazer exame de Paul. Eu disse fervendo: – Ele teria falado sim. Jesse não é desse tipo.


- Não o Jesse que você conhece. – Paul disse. – Mas nós não estamos falando do que você conhece, estamos? Nós estamos falando sobre o Jesse que nunca conheceu você. Que não vagou por cento e cinqüenta anos, prestando atenção ao mundo de perto. Nós estamos falando do Jesse que está a caminho de Carmel para se casar com a garota de seus...


- Cala a boca. – Eu disse, antes que ele pudesse terminar a frase.

Paul deu um sorriso mais largo. – Desculpe. Bom, nós ainda temos um tempo para esperar. Não faz sentido esperarmos discutindo.

Venha até o sótão comigo, e nós nos sentaremos juntos, longe dessa tempestade.
Ele se virou e entrou nas sombras, e eu ouvi um pé raspar em um degrau de madeira. Um dos cavalos relinchou.


- Não tenha medo, Suze. – Paul falou para baixo, para mim, a alguns metros no ar. – São apenas cavalos. Não morderão você. Se você não chegar perto demais deles.


Não era com isso que eu estava assustada. Não que eu estivesse a ponto de admitir qualquer coisa a ele.


- Eu acho que ficarei aqui em baixo. – Eu disse para a escuridão, de onde sua voz tinha vindo.


- Por mim tudo bem. – Paul disse. – Se você quiser ser pega. Você apenas tornará meu trabalho mais fácil. O Sr. O' Neil veio há pouco tempo atrás verificar os cavalos. Eu estou certo de que ele não atiraria em uma menina, de qualquer forma. Se ele perceber a tempo que você é uma menina, quero dizer.
Isto fez eu me mover até a escada.


- Eu odeio você. – Eu comentei, enquanto subia.


- Não, você não odeia. – Paul disse da escuridão acima de mim. Eu podia dizer, por sua voz, que ele estava rindo outra vez. – Mas você acha certo dizer isso para si própria, se isso fizer você se sentir melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário