terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot - Cap 12

-É do mesmo diretor de “Tubarão”? – Jesse quis saber – Eu não acredito.


Sábado à noite. Encontro à noite.


E, ok, tecnicamente Jesse e eu não podemos sair à noite (como nos poderíamos, de verdade?) Jesse vem a maioria dos sábados à noite. E verdade, isso não é tão romântico quanto um jantar e um filme. E verdade, nos temos que fazer silencio, pra minha família não suspeitar que eu não estou sozinha no meu quarto.
Mas pelo menos a gente fica junto.
E sim, neste sábado em particular, eu tinha muita coisa na cabeça, nenhuma que eu tivesse intenção de mencionar a Jesse.
Mas isso não significa que a gente não podia gastar 2hs vendo uns vídeos. Jesse tem muita coisa pra ver, como filmes, considerando o fato que eles não tinham sido inventados quando Jesse estava vivo.
O preferido dele até agora é “O Poderoso Chefão”. Eu espero curar essa fraqueza dele com E.T. Como alguém pode preferir Don Corleone a Drew Barrymore com seis anos?





Mas Drew dificilmente conseguiria fixar a atenção de Jesse.



-Tubarão é muito melhor que isso - Jesse disse.


Tubarão é outro de seus preferidos. Ele nem sempre gosta das partes certas. Ele gosta da parte que todos os homens estão mostrando suas cicatrizes. Não me pergunte o porque. Acho que é uma coisa de garotos.


Finalmente, eu desliguei E.T. -Vamos conversar.


Mas, é claro, eu quis dizer, "vamos fazer algo".


Estava tudo muito bem até quando Jesse parou de me beijar e falou:

-Eu quase esqueci. O que Paul estava fazendo na Missão essa noite? Ele se tornou religioso?

Isto era tão estranho que eu tirei meus braços que estavam em volta o pescoço dele e ofeguei - O que?

-Seu amigo Paul - Jesse disse. Eu posso ter feito pouco caso dele, mas ele não estava fazendo pouco caso de mim. Ao mesmo tempo em que isto era agradável, também me distraia. Especialmente o modo como os lábios dele ainda estavam movendo-se ao encontro dos meus. - Eu o vi há pouco tempo atrás na basílica... Que estava fechada, você sabe. Por que ele iria lá a essas horas, o que você acha? Ele não parece o tipo que está querendo seguir a carreia de sacerdócio. A menos que ele recebesse um chamado de repente.

Eu me afastei para longe dele. Bem, se você tivesse sido totalmente pega de surpresa pelo puro terror, você teria feito a mesma coisa.

-Susannah? - Jesse me encarou, cheio de preocupação nos seus olhos castanhos escuros, onde alguns segundos mais cedo. . . Bem, não preocupação. - Você está bem?





-Oh, Deus.- Como eu poderia ter sido tão estúpida? Como, como, como? Aqui estava eu, assistindo filmes – filmes - com meu namorado, nunca suspeitando de tal coisa. Pensando que Paul teria de vir aqui pra casa se ele quisesse voltar ao tempo de Jesse. Pensando que ele não poderia voltar se ele não viesse. Pensando que ele não sonharia em voltar hoje à noite, com o avô dele no hospital. Considerando que Kelly e ele estavam juntos agora, por que mesmo assim ele se incomodaria?

Paul não se preocupava com o avô dele. Ele não se preocupava com ninguém da família dele e nunca se preocuparia. E ele não se preocupava certamente com Kelly. Por que ele deveria? Kelly não o conhecia, Kelly não sabia o que ele realmente era... E, claro que, havia outro marco neste século que tinha existido no tempo de Jesse. Um lugar que Felix Diego provavelmente tinha ido freqüentemente, durante o tempo dele. A missão. A Missão Junipero Serra que tinha sido construída por volta dos 1700.

-Eu tenho que ir - eu disse, tropeçando em meus pés e vestindo a minha jaqueta. Eu sentia dor no meu estômago. - Eu sinto muito, Jesse, mas eu tenho -.

- Suzannah. – Jesse também estava de pé, segurando meu braço em um aperto que era tão forte quanto delicado. Jesse nunca me feriria. De propósito. – O que é isso? Por que você está assim? Porque você se importa que Paul esteja na basílica?


- Você não entende. – Eu disse. Eu realmente pensei que estava começando a ficar doente. Eu pensei mesmo. Devo ter demonstrado isso em meu rosto, porque o aperto de Jesse em meu braço começou, de repente, a ficar mais apertado...
...Como a expressão em seu rosto começou a ficar muito mais raivosa.


- Tente me explicar, Mi hermosa. – Ele disse com uma voz que era tão dura quanto seu aperto.


E então - não me pergunte como ou no que eu pensava porque, sinceramente, eu não acho que estava pensando - tudo veio à tona.
Eu não queria dizer a ele. Não queria, porque eu não queria chateá-lo. Ah Deus, nada disso.

Não, eu não queria que ele soubesse pela mais egoísta das razões: Eu não queria dizer a ele porque eu tinha medo que ele concordasse com padre Dominic e meu pai - que preferiria uma outra chance à vida a ficar como um fantasma por toda a eternidade.


Mas fora isso, o que Dr. Slaski tinha me dito, o que padre Dom tinha dito no telefone há apenas algumas horas. A chuva de palavras que vinha de minha boca não podia ser contida. Eu queria parar da falar, tão rápido quanto as palavras saíam.
Mas já era tarde. Era tarde demais.


Jesse escutou com firmeza, sem me interromper, mesmo quando eu lhe disse a parte sobre meu negócio com Paul: nosso acordo secreto, que eu iria para as nossas “lições de mediação” na Quarta-feira e em troca ele não iria jogar meu namorado no mundo dos mortos.

- Só que agora ele não quer matá-lo, Jesse. – Eu disse a ele amargamente. – Ele quer salvar você, salvar sua vida. Ele vai voltar no tempo e impedir Felix Diego de matar você. E se ele fizer isso...Se ele fizer isso...


- Você e eu nunca nos encontraremos. – A expressão de Jesse era calma, sua voz com seu tom normal.
Nunca tinha soado como se quisesse me acalmar. Eu senti como se meu coração estivesse ferido.


- Sim. – Eu disse freneticamente. – Você não entende, eu tenho que ir lá - agora. Agora mesmo - e impedi-lo.


- Não, Mi hermosa. – Jesse disse, ainda com a voz lenta. – Você não pode fazer isso.


Por um segundo, o terror que estava prendendo meu coração, pareceu espremê-lo até que ele parou. Eu pensei que eu morreria, bem ali.


Jesse queria viver. Meu pai, padre Dominic, Dr. Slaski, Paul...Eles estavam certos. Todos eles estavam certos, e eu era a única errada, eu. Jesse preferiria viver à me encontrar, à me conhecer...
...À me amar...



Eu devia saber, claro. E eu estava arrasada, eu sabia. Que tipo de pessoa - especialmente uma que morreu com a idade que Jesse morreu, apenas vinte - não quereria uma outra chance para voltar a viver, se pudesse? Que tipo de pessoa não estaria disposta a dar tudo o que tem por essa possibilidade?
E o que Jesse tinha? Nada. Nada. Apenas eu.
Meu pai me acusou, há algum tempo, de ser a coisa que prendia Jesse aqui, impedindo-o de seguir em frente. Padre Dominic tinha dito isso, também...Que se eu o amasse realmente, eu o deixaria livre.


E agora eu sabia. Jesse mesmo preferia estar livre a estar comigo.
Meu Deus. Eu tinha sido uma tola. Completamente tola.
Então, Jesse soltou meu braço.
Mas em vez de dizer o que eu estava esperando que ele dissesse – Você não pode ir impedir dele, porque eu quero uma chance. Eu quero a chance de viver outra vez, se eu puder – ele disse, de repente, com uma voz tão fria quanto o vento lá fora:


– Você não pode ir impedir ele. É muito perigoso. Eu irei. Eu irei impedi-lo.


Eu não tinha certeza se eu tinha ouvido direito. Ele tinha dito - era possível que ele poderia ter dito - o que eu achei que ele tinha dito?


- Jesse. – Eu disse. – Eu acho que você não entendeu. Ele quer salvar você. Impedir que você...Que você morra naquela noite.


- Eu entendo. – Jesse disse. – Eu entendo que Paul é um tolo, que pensa que é Deus. Eu não sei o que faz ele pensar que é certo brincar com meu destino. Mas eu sei que ele não irá ter sucesso. Não se eu puder impedi-lo.

Minha circulação pareceu saltar para a vida. De repente, eu podia respirar outra vez. O alívio me purificou em ondas altas.
Ele queria ficar. Jesse queria ficar. Preferia ficar a viver. Preferia ficar - comigo - a viver.




- Você não pode fazer isso. – Eu disse, minha voz soou freneticamente alta - até mesmo para meus próprios ouvidos. Aquele alívio que eu senti, me deixou volúvel. – Você não pode impedi-lo, Jesse. Paul irá...


- E o que você pretende fazer, Suzannah? – Ele perguntou agudamente. E se eu não estivesse convencida antes da sinceridade de seu desejo de permanecer neste lugar e tempo, seu tom irritado, então, seria o bastante. – Conversar com ele sobre seu plano? Não. Isso é muito perigoso.


Mas o amor tinha me dado a coragem que eu nunca soube que tinha. Eu vesti minha jaqueta de couro e disse: – Paul não me machucará, Jesse. Eu sou a razão para ele estar fazendo isso, se lembra?


- Eu não quis dizer o Paul. – Jesse disse. – Eu quis dizer a viagem no tempo. Slaski disse que era perigoso?


- Sim, mas...


- Então você não irá fazer isso.


- Jesse, eu não tenho medo...


- Não. – Jesse disse. Havia um olhar em seu olho que eu nunca tinha visto antes. – Eu estou indo. Você permanecerá aqui. Deixe tudo comigo.


- Jesse, não seja...


Mas, um segundo depois, eu vi que estava falando com o ar.
Porque Jesse tinha desaparecido.
Eu sabia para onde ele tinha desaparecido, claro. Ele tinha ido à basílica, ter uma palavrinha com Paul.


E eu apostava que a palavra estaria acompanhada de um soco.
Eu apostava também que Jesse estava indo tarde demais. Paul não estaria mais na missão, até que ele salvasse Jesse.



Ou, provavelmente, estaria. Mas não na basílica como nós pensávamos.


Havia somente uma coisa, realmente, que eu poderia fazer, então. E aquilo não seria, como Jesse tinha incitado, deixar tudo com ele. Como eu poderia, quando eu podia possivelmente acordar de manhã sem nenhuma lembrança de Jesse?


Eu sabia o que tinha que fazer.


E desta vez, eu não cairia no erro de me consultar com qualquer um de antemão.


Eu caminhei através do quarto, levantei meu travesseiro, e retirei a miniatura de Jesse - uma que ele tinha dado a sua noiva, Maria. Uma com a qual eu tenho dormido desde o dia em que eu a tinha roubado - quero dizer - ganhado.


Olhando para o olhar escuro, e confiável, de Jesse, eu fechei meus olhos e imaginei-o...Imaginei Jesse nesse quarto, só não parecendo como agora, com uma cama do dossel e um telefone de princesa (obrigada, Mãe).


Não, em vez disso, eu imaginei o quarto como ele devia ser parecido há 150 anos. Nenhuma cortina branca sobre a janela que dava para a baía. Nenhum banco da janela com almofadas macias. Nenhum tapete sobre o assoalho de madeira. Nenhum - eca! - banheiro, mas talvez um daqueles, como eram chamados? Ah sim, potenciômetros do quarto.


Nenhum carro. Nenhum celular. Nenhum computador. Nenhum microondas. Nenhum refrigerador. Nenhuma televisão. Nenhum aparelho de som. Nenhum avião. Nenhuma penicilina.
Apenas grama. Grama e árvores e céu e vagões de madeira e cavalos e sujeira e...


E eu abri meus olhos.


E eu estava lá.

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