terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo, Meg Cabot, Cap 1

Eu achei a pedra exatamente onde a Sra. Gutierres disse onde ela estaria, entre (alguma coisa que pinga) e os hibiscos que cresceram demais no seu pomar. Eu apaguei a lanterna. Deveria ter uma lua cheia naquela noite, mas a meia noite um grosso tanto de nuvens veio do mar que tinham reduzido a visibilidade a nenhuma.    Mas eu não precisava de mais de luz para ver. Eu só precisava cavar. Eu coloquei meus dedos na terra macia e molhada e tirei a pedra do seu lugar de descanso. Ela se moveu facilmente e não era pesada. Logo eu estava tocando a terra para tentar achar a caixa que sra.Gutierrez tinha jurado que estaria lá...    O negócio era que não tava. Não tinha nada nos meus dedos além de terra molhada.    Foi quando eu ouvi - alguma coisa se mexendo sob o peso de alguém por perto.    Eu gelei. Eu estava transgredindo uma lei. A ultima coisa que eu precisava era ser levada para casa pela polícia de Carmel.    De novo.    Dai, com o meu sangue pulsando muito rápido em quanto eu tentava descobrir como no mundo eu ia me explicar pra sair dessa, eu reconhecia a sombra - mas escura do que todas as outras – há alguns metros de mim. Meu coração continuou a bater nas minhas orelhas, mas agora por uma razão completamente diferente.


- Você. - eu disse, levantando devagar, tremendo, até ficar em pé.    - Olá Suze - sua voz, flutuando até mim, era profunda, e nem um pouco tremendo...Diferente da minha própria voz, que tinha uma terrível tendência de tremer quando ele estava por perto.
Essa não era a única parte de mim que tremia, também.    Mas eu estava determinada a não deixar ele saber disso.
- Devolve isso - eu disse segurando a minha mão.    Ele jogou a cabeça para traz e riu.
- Você é maluca? - ele queria saber.
- Eu falei sério Paul - disse, minha voz dura, mas a minha confiança já começando a se dissipar, como a terra entre meus pés.    - São dois mil dólares, Suze - ele disse, como se eu não soubesse disso - dois mil.
- E isso pertence a Julio Gutierrez - eu parecia certa de mim mesma, mesmo que eu não tivesse me sentindo desse jeito – Não a você.
- Tá bom! - disse Paul, sua voz transbordando de sarcasmo - E o que Gutierres vai fazer? Chamar a polícia? Ele nem sabe que o dinheiro está sumido, Suze. Ele nem mesmo sabia que estava aqui.
- Porque a avô dele morreu antes de ter a chance de contar pra ele. - Eu lembrei a ele.
- Então ele não vai notar, vai? - Mesmo com a escuridão eu podia dizer que Paul estava sorrindo. Eu podia ouvir isso na sua voz. - Você não pode perder o que nem sabia que tinha.
- A Sra. Gutierres sabe. - Eu tinha largado a minha mão para ele não saber que eu estava tremendo, mas eu não podia disfarçar a minha voz que estava tremendo cada vez mais tão fácil assim. - Se ela descobrir que você roubou o dinheiro, ela vai vir atrás de você.
- O que te faz pensar que ela já não veio atrás de mim? - Ele perguntou, tão doce que fez com que os cabelos do meu braço ficassem todos arrepiados...E nem era por causa do tempo friozinho.
Eu não queria acreditar nele. Ele não tinha razão para mentir. E obviamente a Sra. Gutierrez tinha ido até ele como veio a mim, ansiosa por qualquer ajuda que ela pudesse ter. De que outro jeito ele poderia saber sobre o dinheiro?


Pobre Sra. Gutierrez. Ela tinha totalmente posto sua confiança no mediador errado. Porque parecia que Paul não tinha apenas roubado ela. Ah não!
Mas como uma idiota, eu fiquei lá parada no meio do quintal e chamei o nome dela só no caso dela ainda estar lá, o mais alto que eu ousei. Eu não queria acordar a Grieving - família dentro da modesta casa de stucco a alguns metros de distância.


-Sra Gutierrez? - eu estiquei o meu pescoço para ver alguma coisa, penetrando na escuridão, tentando ignorar o frio no ar...E no meu coração – Sra. Gutierrez? Você está ai? Sou eu Suze...Sra. Gutierrez.


Não foi lá tanta surpresa quando ela não apareceu. Eu sabia, é claro, que ele podia fazer os mortos desaparecerem. Eu nunca achei que ele fosse baixo nível o suficiente para isso.

Eu devia ter sabido isso melhor.
Um vento frio veio do mar quando eu virei para ficar cara a cara com ele. Eu rodei um punhado do meu cabelo escuro e comprido em volta do meu rosto, até que as pontas finalmente grudaram no meu gloss. Mas eu tinha coisas mais importantes para pensar.


-Essas são as economias da vida dela. - eu disse para ele, sem ligar se ele tinha notado o nó na minha garganta - Tudo que ela tem pra deixar para seus netos.


Paul encolheu os ombros, as mãos enterradas fundo nos bolsos da sua jaqueta de couro.


-Ela devia ter posto em um banco então. - Ele disse.


Talvez se eu explicar pra ele, eu pensei...

-Muitas pessoas não confiam no banco com o dinheiro deles.


Mas não teve jeito.


-Não é a minha culpa - ele disse encolhendo os ombros de novo.


- Você nem mesmo precisa de dinheiro - eu berrei - Seus pais te compram tudo que você quer. Dois mil dólares não são nada pra você, mas pra os netos da Sra. Gutierrez é uma fortuna!


-Ela devia ter tomado conta melhor do dinheiro, então - foi tudo q ele disse.


Ai, aparentemente vendo a minha expressão – eu nem sei como, desde que tinha várias nuvens no céu – ele amoleceu a voz.


-Suze, Suze, Suze. - ele disse, tirando uma das mãos do bolso do casaco e colocando seu braço forte em volta do meu ombro - O que eu vou fazer com você?

Eu não disse nada. Eu não acho que eu seria capaz de falar se eu quisesse. Já era bem difícil de respirar. Tudo que eu podia pensar era sobre a Sra. Gutierrez e o que ele tinha feito com ela. Como podia alguém que cheirava tão bem – o fino odor da sua colônia enchia meus sentidos – ou de alguém que tanto calor irradiava – especialmente bem vindo, dado ao frio no ar e ao meu casaquinho nino – ser tão...
Bem, mal?


-Te dizer o que - Paul disse. Eu podia sentir sua voz vibrando através dele enquanto ele falava, ele EStava me segurando perto assim. -Eu divido com você, metade pra cada um.


-Você é doente! - eu repliquei.


-Não seja assim, Suze - ele disse - Você tem que admitir que é justo, você pode fazer o que quiser com a sua parte, mandar de volta pra os Gutierrez, eu não ligo, mas se você for esperta, vai usar para comprar um carro para você, agora que tirou a licença. Você podia comprar um carrinho com esse dinheiro, e não ter que se preocupar em furtar o carro da sua mãe da garagem quando ela cai no sono...


-Eu te odeio - eu gritei, saindo de seu abraço e ignorando o frio que ficou nos lugares em que seu corpo estava me tocando.


-Não, você não me odeia - ele disse. A lua apareceu momentaneamente de trás do grosso cobertor de nuvens acima, só longo o bastante para eu ver que seus lábios estavam em um louco sorriso - Você só esta brava porque sabe que eu estou certo.


Eu não podia acreditar nos meus ouvidos. Ele tava falando serio?

-Tomar dinheiro de uma mulher morta é a coisa certa a se fazer?


-Obviamente - ele disse.

A lua tinha desaparecido de novo, mas eu podia dizer pela sua voz que ele estava de saco cheio.

-Ela não precisa mais dele. Você e o padre Dom são um casal de verdadeiros pushovers, você sabe. Agora eu tenho uma pergunta pra você. Como é que você soube o que ela estava dizendo? Eu achei que você tava fazendo francês, não espanhol.


Eu não respondi a ele naquele momento. Eu estava pensando em uma resposta que não incluísse a palavra que eu menos gostava de mencionar em sua presença, a palavra que, toda a hora que eu ouvia ou ao menos pensava nela, fazia o meu coração dar uns saltos dentro do meu peito, e fazia com que o sangue em minhas veias corresse a um ritmo prazeroso.

Infelizmente aquela era uma palavra que não produzia o mesmo efeito em Paul.


Antes que eu pudesse pensar em uma mentira, qualquer que fosse, ele descobriu por ele mesmo.


-Ah, certo - ele disse em sua voz de repente sem tom. - Ele, que estúpido de mim.


Ai, antes que eu pudesse pensar em alguma coisa pra dizer que fosse amenizar a situação – ou pelo menos tirar o Jesse da cabeça dele, a ultima pessoa no mundo que eu queria o Paul pensando sobre – ele disse numa voz bem diferente:

-Bem, eu não sei sobre você, mas eu estou exausto. Eu vou chamar isso de uma cansativa noite, te vejo por ai Simon.


Ele virou para ir embora, simplesmente assim, virou para ir embora.    Eu sabia o que eu tinha que fazer, claro. Eu não estava procurando por
isso... em fato, meu coração tinha isso simplesmente até a minha garganta e as minhas palmas da mão tinham ido de repente, e inexplicavelmente, molhadas de suor.

Mas que escolha eu tinha? Eu não podia deixar ele ir embora com todo aquele dinheiro. Eu tinha tentado conversar com ele, e não tinha funcionado. Jesse não gostaria disso, mas a verdade era, não tinha outra alternativa. Se Paul não desistisse do dinheiro voluntariamente, bem, eu ia apenas ter que tirar o dinheiro dele.


Eu disse a mim mesma que eu tinha boas chances de conseguir. Paul tinha a caixa enfiada em um dos bolsos do seu casaco. Eu senti quando ele colocou seu braço em volta de mim. Tudo que eu tinha que fazer era distraí-lo de algum jeito... Ai agarrar a caixa e jogá-la pela janela fechada. Os Gutierrez iriam pirar, é claro, com o som do vidro quebrando, mas eu duvido que eles iriam chamar os policiais...Não Quando eles achassem dois mil dólares numa caixa no chão...


Assim foi, não era um dos meus melhores planos, mas era tudo q eu tinha.
Eu chamei seu nome.


Ele virou. A lua escolheu aquele momento para aparecer entre uma grossa camada de nuvens acima, eu podia ver pela luz pálida que Paul tinha uma expressão absurdamente esperançosa. A esperança aumentou enquanto eu cruzava a grama entre nós. Eu suponho que ele pensou por um minuto que ele finalmente tinha me vencido. Achado minha franqueza. Que tinha sucedido me trazendo para o lado negro.
E por esse preço baixo, preço baixo de mil dólares. Não.


A esperança em seu olhar o deixou bem no momento que ele viu meu punho. Eu até pensei que, por um minuto, eu tinha visto um olhar ferido naqueles olhos azuis, pálido como a luz da lua a nossa volta. Ai a lua se escondeu entre as nuvens, e nós estávamos de novo na escuridão.


A próxima coisa que eu sabia, Paul, se movendo mais rápido que eu achei ser possível, tinha segurado meus pulsos com tanta força que doía e tinha chutado meus pés. Um segundo depois, eu estava estatelada na grama molhada pelo peso de seu corpo e seu rosto a centímetros do meu.


-Isso foi um erro - ele disse, de um jeito bem casual, considerando a força com que seu coração batia, que eu podia sentir batendo contra o meu - Eu estou retirando minha oferta.


Sua respiração, diferente da minha, estava ofegante. Ainda, eu tentei esconder meu medo dele.


-Que oferta? - eu perguntei.


-Dividir o dinheiro, eu vou ficar com ele todo agora. Você realmente machuca meus sentimentos, sabia disso Suze?


-Eu tenho certeza - eu disse o mais sarcasticamente que eu podia - agora saia de cima de mim. Essas são as minhas favoritas low-riders, e você está fazendo pedaços de grama entrarem nela.


Mas Paul não estava pronto para me deixar ir. Ele também não parecia apreciar minha febril tentativa de fazer uma piada sobra a situação. Sua voz, vinda até mim, parecia mortalmente séria.


-Você quer que eu faça seu namorado desaparecer? - ele perguntou - Do jeito que eu fiz com a Sra. Gutierrez?

Seu corpo estava quente contra o meu, por isso não tinha nenhuma outra explicação para o meu coração ter ficado frio que nem gelo, a não ser que as suas palavras tenham me amedrontado a ponto de parecer que meu sangue congelara nas minhas veias.


Eu não podia, de qualquer jeito, deixar meu medo aparecer. Fraqueza parece sempre trazer crueldade, nada de compaixão, de pessoas como o Paul.

-Nós temos um acordo. - eu disse, minha língua e meus lábios formando as palavras com dificuldade porque, como o meu coração, tinham ficado gelados como gelo com o medo.


-Eu prometi que não o mataria - Paul disse -Eu não disse nada sobre impedir que ele morresse em primeiro lugar.


Eu pisquei para ele, sem entender.


-O que? Sobre o que você esta falando? - eu murmurei.


-Você vai descobrir - ele disse, ele abaixou a cabeça e deu um leve beijo nos meus lábios congelados - Boa noite suze.


Ai ele se levantou e desapareceu na neblina.


Me levou um minuto para descobrir que eu estava livre. Ar frio me cobriu em todos os lugares que seu corpo estivera me tocando. Eu finalmente consegui me levantar sentindo como se eu tivesse batido minha cabeça em uma parede. Mas eu ainda tinha força o suficiente para gritar:

-Paul! Espere!


Isso foi quando alguém dentro da casa dos Gutierrez acendeu as luzes. O pomar me pareceu um campo de corrida. Eu ouvi uma janela sendo aberta e alguém gritando:

-Ei você, o que esta fazendo aqui?


Eu não me prolonguei para perguntar se iam ou não chamar a policia. Eu me levantei do chão e escalei o muro que eu tinha usado para chegar até lá meia hora antes. Eu achei o carro da minha mãe exatamente onde eu o tinha deixado. Eu entrei nele e comecei minha longa jornada até em casa, amaldiçoando um certo companheiro mediador – e a grama pinicando o meu jeans – por todo o caminho.


Eu não tinha idéia de como a partir daquela noite, as coisas entre Paul e mim estavam para ficar feias mesmo.
Mas estava para descobrir.

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