terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Mediadora - Crepúsculo

Aquela foi uma manhã normal de sábado no Brooklyn. Nada fora do normal. Nada que me fizesse suspeitar que aquele era o dia que a minha vida ia mudar para sempre. Nada mesmo.    Eu tinha acordado cedo para assistir cartoons. Eu nem ligava pra acordar cedo se isso significasse que eu poderia passar algumas horas assistindo Bugs e seus amigos. Era acordar cedo para ir a escola que eu não gostava. Até mesmo naquela época eu não era muito fã da escola. Meu pai tinha que fazer cócegas no meu pé para eu sair da cama nos dias de semana.    Não em sábados pensando bem.    Eu acho que o meu pai sentia o mesmo. Sobre os Sábados quero dizer. Ele era sempre o primeiro a acordar no nosso apartamento, mas ele acordava extra cedo nos sábados e em vez de café da manhã de aveia com açúcar mascavo, que ele fazia para mim nos dias de semana, ele tinha feito torrada francesa. Minha mãe, que nunca tinha sido capaz de agüentar o cheiro de (maple syrup), sempre ficava na cama até que nossos pratos estivessem vazios e postos no lava louças, e todos o cheiro tivesse ido embora.    Naquele sábado - aquele logo depois que eu fiz 6 anos - meu pai e eu tínhamos lavado (the syrupy) louças e talheres, e ai eu voltei para os cartoons. Eu não consigo me lembrar qual eu estava assistindo quando meu pai entrou para me dizer tchau, mas era um bom o bastante para que eu desejasse que ele se apreçasse e fosse embora logo.


- Eu vou correr. - ele tinha dito dando um beijo no topo da minha cabeça - até logo Suzinha.
- Tchau - eu tinha dito. Eu não acho que eu ao menos me importei em olhar para ele. Eu sabia como ele era. Um cara grande e alto com muito cabelo grosso e preto que tinha começado a ficar branco em alguns lugares. Naquele dia ele estava vestindo calças de caminhadas cinzas e uma camiseta em que se lia Homeport, Menemsha, fresh seafood all year round (porto de casa, menemsha, frutos do mar frescos durante o ano todo), que veio da nossa ultima viagem para Martha's Vineyard.
Nenhum de nós sabia que aquelas seriam as últimas roupas que qualquer um o veria usando.
- Certeza que você não quer vir ao parque comigo? - ele perguntou.    - Pai. - eu tinha dito, triste pela idéia de perder um único minuto do cartoon. – Não.    - Se cuida - ele disse. – Diga para sua mãe que tem suco de laranja fresco na geladeira.    - Ok. - eu disse – Tchau.    E ai ele foi embora.
Teria eu feito alguma coisa diferente se eu soubesse que aquela seria a ultima vez que eu o veria de novo - vivo, pelo menos? É claro que eu teria. Eu teria ido ao parque com ele. Eu teria feito ele andar em vez de correr. Se eu soubesse que ele teria um ataque cardíaco lá fora, na pista de corrida e morrer na frente de estranhos, eu teria impedido ele de ir ao parque em primeiro lugar, teria feito ele ir ao médico em vez disso.
Só que eu não sabia. Como eu podia saber?

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