segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A Mediadora - Assombrado, Meg Cabot, Cap 15

Paul não voltou à escola naquele dia.
Não que alguém esperasse. Uma espécie de boletim de busca e apreensão circulou pela décima primeira série, dizendo que, se Paul voltasse, seria posto em suspensão automática por uma semana. Debbie Mancuso ouviu de uma garota da sexta série que ouviu da secretaria do padre Dom, enquanto ela estava lá entregando um aviso de atraso.
Parecia que o melhor era Paul ficar longe até as coisas esfriarem um pouco. Diziam que a noviça que ele tinha xingado ficou histérica e teve de ir descansar na sala das noviças com uma compressa fria na testa até se recuperar. Eu tinha visto o padre Dom com o rosto sério, andando de um lado para o outro diante da porta da sala das noviças. Pensei em ir até ele dando uma de "Eu não disse?". Mas ia ser como bater num cachorro morto, por isso fiquei longe.
Além disso ainda estava furiosa com ele por causa do negócio do Jesse. Quanto mais pensava nisso, com mais raiva ficava. Era como se os dois tivessem conspirado contra mim. Como se eu fosse apenas uma garota estúpida de 16 anos com uma paixonite em que eles tinham de dar um jeito. O estúpido do Jesse estava apavorado demais até mesmo para me dizer na cara que não gostava de mim. O que ele achava que eu ia fazer? Dar-lhe um soco na cara? Bem, agora eu certamente estava a fim.
Ao mesmo tempo em que só queria me enrolar em algum lugar e morrer.
Acho que não estava sozinha nesse sentimento. Kelly Prescott também parecia muito mal. Mas enfrentava a situação de vítima melhor do que eu. Rasgou dramaticamente a parte Slater do embrulho de todas as barras de chocolate que restavam. Depois escreveu Simon do lado de dentro. Parecia que eu e ela éramos candidatas na mesma chapa de novo.
Ganhei por unanimidade a vice-presidência da turma do primeiro ano do segundo grau na Academia da Missão Junipero Serra, a não ser por um único voto em Brad Ackerman. Ninguém se perguntou muito quem teria votado em Brad. Ele nem tentou disfarçar a própria letra.
Mas todo mundo perdoou, por causa da festa que ele ia dar naquela noite. Os convidados tinham sido instruídos a só chegar depois das dez, quando estava decidido que Jake, depois de seu turno na Península Pizza, chegaria com o barril e várias dúzias de pizzas. Andy e mamãe tinham deixado um bilhete na geladeira naquela manhã, listando onde poderiam ser encontrados e nos proibindo de receber convidados para dormir enquanto eles estavam fora. Brad achou isso particularmente hilário.
De minha parte, eu tinha coisas mais importantes com que me preocupar do que uma estúpida festa na piscina.
Só que Cee Cee e Adam queriam sair depois da aula para comemorar a vitória - que na verdade tinha sido valia, já que meu adversário basicamente fora chutado da escola. Mas Adam apareceu com uma garrafa de sidra para a ocasião. Ele e Cee Cee tinham trabalhado tanto na minha campanha, a qual eu contribuíra exatamente com nada ... bem, a não ser com um slogan. Senti tanta culpa que fui de carro com eles ate a praia depois da aula, e fiquei por tempo suficiente para brindar ao pôr-do-sol, um costume que datava desde a primeira vez em que ganhara uma eleição estudantil, logo que mudei para Carmel, havia oito meses.
Quando cheguei em casa descobri varias coisas. Uma: alguns dos convidados tinham começado a chegar cedo, dentre eles Debbie Mancuso, que sempre teve uma certa paixonite por Brad, desde a noite em que eu peguei os dois agarrados no vestiário da piscina na casa de Kelly Prescott. E dois: ela sabia tudo sobre Jesse.
Ou pelo menos pensava que sabia.
- Então quem é esse cara que Brad disse que você esta namorando, Suze? - perguntou ela, parada junto ao balcão da cozinha, artisticamente empilhando copos de plástico como preparativo para a chegada do barril. Brad estava lá fora, com dois colegas, botando uma boa dose de cloro na piscina, sem duvida em antecipação a todas as bactérias com as quais ela se encheria assim que seus amigos mais desagradáveis mergulhassem.
Debbie estava toda vestida para a festa, o que incluía uma mini-blusa e aquelas calças fofas de odalisca que, pelo que imaginei, ela pensava que escondiam o tamanho de sua bunda, que não era pequena, mas que na verdade só a faziam parecer maior. Não gosto de falar mal das pessoas do meu sexo, mas Debbie Mancuso realmente é meio parasita. Ela vinha sugando Kelly há anos. Eu só esperava que ela não virasse o sugador para mim em seguida.
- Só um cara - falei friamente, passando por ela para pegar um refrigerante diet na geladeira. Ia precisar de um barato de cafeína, eu sabia, para me fortificar para a noite: primeiro confrontando Jesse, depois a festa.
- Ele estuda na RLS? - quis saber Debbie.
- Não - falei abrindo o refrigerante. Eu vi que Brad tinha retirado o bilhete de Andy e minha mãe. Bem, era meio embaraçoso, acho. - Ele não está no segundo grau.
Os olhos de Debbie se arregalaram. Ela ficou impressionada.
- É mesmo? Então está na faculdade? Jake conhece ele?
-Não.
Quando não aprofundei mais, Debbie falou:
- Hoje foi bem estranho, não foi? O negócio do tal de Paul.
- É. - Eu imaginei se Jesse estaria lá em cima ou não, me esperando, ou se simplesmente iria embora sem se despedir. Pelo modo como as coisas andavam ultimamente, eu estava apostando na segunda hipótese.
- Eu meio que ... quero dizer, umas garotas andaram falando ... - Debbie, que nunca foi a pessoa mais articulada, parecia estar tendo mais dificuldade do que o normal para desembuchar o que queria dizer. - Que o tal de Paul parece que ... gosta de você.
- É? - Eu sorri sem calor. - Bom, pelo menos alguém gosta.
Então subi a escada até o meu quarto.
Na subida encontrei David descendo. Ele estava carregando um saco de dormir, uma mochila e o laptop que tinha ganhado numa colônia de férias de informática por ter criado o videogame mais avançado. Max vinha atrás, na coleira.
- Aonde você vai? - perguntei.
- Para a casa do Todd. - Todd era o melhor amigo de David. - Ele disse que Max e eu podíamos passar a noite lá. Quero dizer, parece que ninguém vai conseguir dormir por aqui hoje.
- Sabia decisão - falei, aprovando.
- Você deveria fazer a mesma coisa. Ficar na casa de Cee Cee.
- Eu ficaria - falei saudando-o com meu refrigerante. - Mas tenho uma coisinha para fazer aqui.
David deu de ombros.
- Certo. Mas não diga que eu não avisei.
Então ele e Max continuaram descendo a escada.
Não fiquei surpresa ao ver que Jesse não estava no meu quarto quando entrei. Covarde. Chutei os chinelos para longe, entrei no banheiro e tranquei a porta. Não que portas trancadas fizessem diferença para os fantasmas. E não que Jesse fosse aparecer, de qualquer modo. Eu só me sentia mais segura assim.
Então enchi a banheira e entrei, deixando a água quente acariciar meus pés sofridos e aliviar o corpo cansado. Uma pena não haver nada que eu pudesse fazer para o coração dolorido. Talvez chocolate ajudasse, mas por azar eu não tinha nenhum no banheiro.
A pior parte de tudo era que, no fundo, eu sabia que o padre Dom estava certo sobre a mudança de Jesse. Era melhor assim. Quero dizer, qual era a alternativa? Que ele ficasse aqui, e eu simplesmente continuasse dando em cima? O amor não correspondido é legal nos livros e coisa e tal, mas na vida real é um horror.
Só que - e essa era a parte que mais doía - eu poderia ter jurado, naquele dia, semanas atrás, quando ele me beijou, que ele sentia alguma coisa por mim. Verdade. E não estou falando do que eu tinha sentido pelo Paul, que, encaremos a coisa, era tesão. Eu gostava da forma do cara, admito. Mas não o amava.
Eu tinha tanta certeza - tanta - de que Jesse me amava! Mas obviamente estava errada. Bom, eu estava errada na maior parte do tempo. Então qual a novidade?
Depois de ficar de molho um tempo, saí da banheira.
Refiz os curativos nos pés e vesti meus jeans mais confortáveis, cheios de buracos, os que mamãe disse que eu nunca teria permissão de usar em público e que ela vivia ameaçando jogar fora, com uma camiseta de seda preta.
Depois voltei para o quarto e achei Jesse sentado em seu lugar de sempre no banco da janela, com Spike no colo.
Ele sabia. Eu vi com um único olhar que ele sabia que o padre Dom tinha conversado comigo e só estava esperando - cautelosamente - para ver qual seria a reação.
Não querendo desapontá-lo, falei muito educadamente: - Ah, você ainda está aqui? Pensei que já tinha se mudado para a reitoria.
- Suzannah - disse ele. Sua voz estava baixa como a de Spike quando rosnava para Max através da porta do meu quarto.
Ouvi as palavras saindo da boca, mas juro que não sei de onde vinham. Eu tinha me dito, na banheira, que ia ser madura e sensata com relação aquilo tudo. E aqui estava eu, sendo irritante e infantil, e ainda não tinha se passado um minuto de conversa.
- Suzannah - disse Jesse ficando de pé. - Você deveria saber que é melhor assim.
- Ah - falei dando de ombros para mostrar como eu estava muito, muito despreocupada com a coisa toda. - Claro. Dê minhas lembranças à irmã Ernestine.
Ele só ficou ali parado, me olhando. Eu não podia decifrar sua expressão. Se pudesse, não teria me deixado apaixonar por ele. Você sabe, por causa do negócio de ele não me amar. Seus olhos eram escuros - tão escuros quanta os de Paul eram claros - e inescrutáveis.
- Então é só isso que você tem a me dizer? - disse ele, parecendo com raiva, por motivos que eu nem podia começar a avaliar.
Eu não podia acreditar. O cara tinha peito! Imagine, ele com raiva de mim!
- É – falei. Depois me lembrei de uma coisa. - Ah, não, espera.
Os olhos escuros relampejaram. - O quê?
- Craig. Eu esqueci do Craig. Como ele está?
Os olhos escuros ficaram sombrios de novo. Jesse pareceu quase desapontado. Como se ele tivesse algo para estar desapontado! Era eu que estava com o coração sendo arrancado do peito.
- Está igual. Infeliz por ter morrido. Se você quiser, eu posso pedir ao padre Dominic ...
- Ah – falei. - Acho que você e o padre Dominic já fizeram o bastante. Eu cuido do Craig sozinha, acho.
- Ótimo.
- Ótimo.
- Bem ... - as olhos escuros se cravaram nos meus. - Adeus, Suzannah.
Mas Jesse não se mexeu. Em vez disso fez uma coisa que eu não esperava nem um pouco. Estendeu a mão e tocou no meu rosto.
- Suzannah - disse ele. Seus olhos escuros, cada um contendo uma minúscula estrela branca do reflexo da luz do meu quarto, se cravaram nos meus. - Suzannah, eu ...
Só que eu não soube o que Jesse ia dizer em seguida, porque a porta do meu quarto se abriu de repente.

- Desculpe interromper - disse Paul Slater.

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