sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Capítulo 9

Bill não ligou de volta naquela noite, e eu saí para o trabalho antes do pôr do sol no dia
seguinte. Ele tinha deixado uma mensagem na secretária eletrônica quando cheguei em casa
para me vestir para a "festa."
"Sookie, levei um bom tempo para decifrar de que situação se tratava, por causa de sua
mensagem tão cautelosa," ele dizia. Sua voz geralmente calma estava definitivamente com
aspecto depressivo. Irritado. "Se você estiver indo para esta festa, não vá sozinha,
independentemente do que você for fazer. Não vale a pena. Leve o seu irmão ou Sam com
você."
Bem, eu consegui alguém ainda mais forte para ir comigo, então eu deveria estar me
sentindo muito eficiente. De alguma maneira, eu não achava que levar Eric comigo iria
tranquilizar Bill.
"Stan Davis e Joseph Velasquez enviam os seus cumprimentos, e Barry o mensageiro."
Eu sorri. Eu estava sentada de pernas cruzadas na minha cama vestindo apenas um roupão
velho de chenilha, escovando o meu cabelo enquanto ouvia às minhas mensagens.
"Eu não esqueci de sexta-feira à noite," disse Bill, na voz que sempre me fazia tremer. "Eu
nunca vou esquecer."
"Então, o que aconteceu sexta-feira à noite?" Eric perguntou.
Eu gritei. Uma vez que eu pude sentir que o meu coração permaneceria em minha caixa
torácica, eu pulei para fora da cama e parti pra cima dele com meus punhos fechados.
"Você tem idade suficiente para saber que você não entra na casa de alguém sem bater
na porta e ter uma resposta. Além disso, quando foi que eu convidei você para entrar?" Eu
tinha que ter estendido o convite, ou senão Eric não poderia ter atravessado a soleira da
porta.
"Quando eu passei por aqui no mês passado para ver o Bill. Eu bati," disse Eric, tentando o
seu melhor para parecer ofendido. "Você não respondeu, e eu pensei ter ouvido vozes,
então eu entrei. Eu até chamei o seu nome."
"Você deve ter sussurrado meu nome." Eu ainda estava furiosa. "Mas você agiu mal, e você
sabe disso!"
"O que você vai vestir para a festa?" Eric perguntou, efetivamente mudando de assunto. "Se
isto vai ser uma orgia, o que uma boa garota como você vai usar?"
"Eu simplesmente não sei," eu disse, desinflada pelo lembrete. "Eu tenho certeza que eu
supostamente devia parecer com o tipo de garota que frequenta orgias, mas eu nunca estive
em uma e não tenho idéia de como começar, mas eu tenho uma ideia bem clara de como
supostamente vou acabar."
"Eu já estive em orgias," ele ofereceu.
"Por que é que isso não me surpreende? O que vocês usam?"
"A última vez eu usei uma pele de animal; mas desta vez eu resolvi usar isso." Eric
estava vestindo um trench coat* comprido. Agora ele o deixou cair dramaticamente, e eu só
pude parar e observar. Normalmente, Eric era o tipo de cara que usa calça jeans e camiseta.
Esta noite, ele usava uma camisa regata rosa e uma calça de lycra. Não sei onde ele
arranjou isso; eu não conheço nenhuma empresa que faça calças de lycra para homens altos
em tamanho extra-grande. Ela era rosa e azul-esverdeado, como os espirais colocados nas
laterais da caminhonete de Jason.
(*O clássico trent coat é um casaco de chuva, que protege do frio e da umidade, feito
em couro, algodão ou gabardine, com tamanho na altura do joelho ou um pouco maior. Foi
desenvolvido para os soldados da 1ª Guerra Mundial, e foi criado por Thomas Burberry, da
famosa grife Burberry.)
"Uau," eu disse, já que era tudo que eu pude pensar em dizer. "Uau. Isso é que é
vestimenta." Quando se vê um cara grande usando lycra isso não deixa muita coisa pra
idealizar. Eu resisti à tentação de pedir para Eric dar uma voltinha.
"Eu não acreditei que eu pudesse ser convincente como uma bicha," Eric disse, "mas decidi
que isto enviaria um sinal tão confuso, que quase tudo era possível." Ele agitou suas
pestanas para mim. Eric estava definitivamente curtindo isso.
"Ah, sim," eu disse, tentando encontrar outro lugar para olhar.
"Devo ir vasculhar suas gavetas e encontrar algo para você vestir?" Eric sugeriu. Ele tinha
na verdade aberto a gaveta de cima da minha cômoda antes que eu dissesse, "Não, não! Eu
vou encontrar alguma coisa!"Mas eu não consegui encontrar nada mais informalmente
sexy do que shorts e camisetas. No entanto, os shorts eram uns que eu tinha abandonado
desde os tempos da escola, e eles se encaixavam em mim "como uma lagarta abraça uma
borboleta," disse Eric poeticamente.
"Tá mais pra uma calcinha que um short*," eu murmurei, me perguntando se as marcas
da renda da minha calcinha ficariam impressas na minha bunda para o resto da minha vida.
Eu usava um sutiã azul acinzentado combinando com uma regata branca transparente que
deixava exposta boa parte dos enfeites do sutiã. Este era um dos sutiãs repostos, e Bill ainda
não tinha sequer chegado a vê-lo, então eu certamente esperava que nada acontecesse com
ele. Meu bronzeado ainda estava durando, e usei o meu cabelo solto.
(*No original a frase é ‘More like Daisy Dukes’, que se refere a um tipo de short jeans
curtíssimo e colado, daqueles desfiados que mostram um pouco do bumbum, que ficou
famoso entre as garotas sulistas por causa da personagem Dayse Duke, do seriado de tv The
Dukes of Hazzard muito popular nos anos 80, hoje no Brasil chamaríamos de o shortinho
da Carla Perez...)
"Ei, o nosso cabelo é da mesma cor," eu disse, nos olhando lado a lado no espelho.
"Claro que é, amorzinho." Eric sorriu ironicamente para mim. "Mas você é loira da cabeça
aos pés?"
"Você não adoraria descobrir?"
"Sim," disse ele simplesmente.
"Bem, você simplesmente terá que imaginar só."
"Eu sou," disse ele. "Loiro por toda parte."
"Eu poderia afirmar o mesmo pelos seus pelos do peito."
Ele levantou o braço para verificar minhas axilas. "Vocês garotas bobas, depilando o pelo
do seu corpo," disse ele, soltando meu braço.
Eu abri a boca para dizer alguma coisa sobre o assunto, mas de repente percebi que isso
levaria a um desastre e ao invés disse, "Temos que ir."
"Você não vai usar perfume?" Ele estava farejando todos os frascos em cima da minha
penteadeira. "Oh, use este!" Ele me arremessou um frasco e eu o peguei sem pensar. Suas
sobrancelhas levantaram. "Você andou tomando mais sangue de vampiro do que eu
pensava, Senhorita Sookie."
"Obsession," eu disse, olhando para o frasco. "Ah, ok." Cuidadosamente não respondendo à
sua observação, eu coloquei levemente um pouco de Obsession entre meus seios e atrás de
meus joelhos. Achei que dessa maneira que eu estaria perfumada da cabeça aos pés.
"Qual é a nossa pauta, Sookie?" Eric perguntou, observando este processo com interesse.
"O que vamos fazer é ir a esta estúpida assim chamada festa do sexo e fazer o mínimo
possível do gênero enquanto eu recolho informações das mentes das pessoas que estiverem
lá."
"Relacionadas à"?
"Relacionadas ao assassinato de Lafayette Reynold, o cozinheiro do Merlotte's."
"E por que é que nós estamos fazendo isso?"
"Porque eu gostava de Lafayette. E para limpar Andy Bellefleur da suspeita de que ele
assassinou Lafayette."
"Bill sabe que você está tentando salvar um Bellefleur?"
"Por que você pergunta isso?"
"Você sabe que o Bill odeia os Bellefleurs," disse Eric, como se esse fosse o fato mais
conhecido na Louisiana.
"Não," eu disse. "Não, eu não sabia de nada disso." Sentei na cadeira ao lado da minha
cama, meus olhos fixos no rosto de Eric. "Por quê?"
"Você tem que perguntar isso ao Bill, Sookie. E esta é a única razão pela qual estamos
indo? Você não está usando habilmente isto como uma desculpa para transar comigo?"
"Eu não sou tão hábil assim, Eric."
"Eu acho que você engana a si mesma, Sookie," disse Eric com um sorriso brilhante.
Eu lembrei que ele poderia agora sentir meus humores, de acordo com Bill. Me pergunto o
que Eric sabia sobre mim que eu não sabia.
"Escute aqui, Eric," eu comecei, enquanto saíamos pela porta e passávamos pela
varanda. Então eu tive que parar e procurar mentalmente uma maneira de expressar o que
eu queria dizer.
Ele esperou. A noite estava nublada, e o bosque parecia se aproximar ao redor da casa.
Eu sabia que a noite só parecia opressora porque eu estava indo para um evento
pessoalmente desagradável para mim. Eu estava indo descobrir coisas sobre pessoas que eu
não conhecia e não queria conhecer. Parecia estúpido procurar pelo tipo de informações que
eu passei a minha vida aprendendo a bloquear. Mas eu sentia uma espécie de obrigação de
serviço público com Andy Bellefleur para descobrir a verdade; e eu respeitava Portia, de
uma maneira estranha, por sua disposição de submeter-se a algo desagradável a fim de
salvar seu irmão. Como Portia podia sentir uma verdadeira aversão por Bill era
simplesmente incompreensível para mim, mas se Bill disse que ela tinha medo dele, era
verdade. Nesta noite que chegava, a ideia de ver a verdadeira face secreta de pessoas que eu
conhecia desde sempre era simplesmente aterrorizante para mim.
"Não deixe que nada aconteça a mim, ok?" Eu disse a Eric diretamente. "Não tenho
nenhuma intenção de ficar íntima com nenhuma dessas pessoas. Acho que estou com medo
de algo acontecer, alguém ir longe demais. Nem mesmo pelo propósito do assassinato de
Lafayette ser vingado, eu não faria sexo de bom grado com qualquer uma dessas pessoas."
Esse era o meu verdadeiro medo, aquele que eu não tinha admitido para mim mesma até
este momento: que escorregássemos em alguma mentira, alguma defesa falhasse, e eu me
tornasse a vítima. Quando eu era criança, uma coisa tinha me acontecido, algo que eu não
podia impedir nem controlar, algo incrivelmente perverso. Eu quase preferiria morrer a ser
submetida a abusos como esse novamente. Foi por isso que eu lutei tanto contra Gabe e
fiquei tão aliviada quando Godfrey o matou.
"Você confia em mim?" Eric pareceu surpreso.
"Sim."
"Isso é... loucura, Sookie."
"Eu não acho." De onde vinha essa certeza, eu não sabia, mas ela estava lá. Eu coloquei um
suéter pesado de comprimento até a coxa que eu tinha trazido comigo.
Balançando sua cabeça loura, seu trench coat fechado em volta dele, Eric abriu a porta de
seu Corvette vermelho. Eu iria chegar na orgia com estilo.
Eu dei as direções para Eric até o Lago Mimosa, e eu o coloquei a par o máximo que eu
pude sobre o contexto desta série de eventos enquanto nós dirigíamos (voávamos) pela
estreita pista dupla. Eric dirigiu com grande entusiasmo e vigor - e a imprudência de
alguém extremamente difícil de morrer.
"Lembre-se, eu sou mortal," eu disse, após passar por uma curva em uma velocidade que
me fez desejar que minhas unhas fossem suficientemente longas para roer.
"Eu penso sobre isso muitas vezes," disse Eric, os olhos fixos na estrada à sua frente.
Eu não sabia o que achar disso, então deixei a minha mente ser levada por coisas
relaxantes. A banheira de Bill. O belo cheque que eu receberia do Eric quando o cheque dos
vampiros de Dallas compensasse. O fato de Jason estar saindo com a mesma mulher há
vários meses seguidos, o que poderia significar que ele estava levando ela a sério, ou
poderia significar que ele já tivesse passado por todas as mulheres disponíveis (e algumas
que não deviam estar) no condado de Renard. Esta era uma noite linda, fresca e eu estava
andando em um carro maravilhoso.
"Você está feliz," disse Eric.
"Sim. Eu estou."
"Você estará segura."
"Obrigada. Eu sei que vou."
Eu apontei para a pequena placa escrita FOWLER que indicava um caminho quase
escondido por um estrado de murtas e espinheiros. Nós viramos descendo por uma alameda
curta, coberta de cascalhos e cercada com árvores. Ela inclinava-se acentuadamente morro
abaixo. Eric franziu o cenho enquanto o Corvette cambaleava pelos cascalhos fundos. Na
hora em que a entrada nivelou na saída da clareira onde ficava a cabana, a ladeira era
suficiente para tornar o telhado um pouco abaixo da altura da estrada ao redor do lago.
Havia quatro carros estacionados sobre a terra batida em frente à cabana. As janelas
estavam abertas para acolher o forte frescor da noite, mas as persianas estavam puxadas. Eu
podia ouvir as vozes à deriva, embora eu não conseguisse distinguir as palavras. Eu estava
de repente, profundamente relutante em entrar na cabana de Jan Fowler.
"Eu poderia ser bissexual?" Eric perguntou. Isso não parecia incomodá-lo, ele parecia,
para falar a verdade, estar se divertindo. Nós ficamos junto ao carro do Eric, encarando um
ao outro, minhas mãos enfiadas nos bolsos do suéter.
"Ok." Eu dei de ombros. E daí? Isto é só um faz de conta. Eu captei um movimento pelo
canto do olho. Alguém estava nos observando através de uma persiana parcialmente
levantada. "Estamos sendo vigiados."
"Então eu vou agir amigavelmente."
Nós saímos do carro nessa hora. Eric se inclinou, e sem me puxar para junto dele, encostou
sua boca na minha. Ele não me agarrou, então eu me senti razoavelmente descontraída. Eu
sabia que no mínimo eu teria que beijar outras pessoas. Então eu estabeleci isso em minha
mente.
Talvez eu tivesse talento natural, o qual havia sido estimulado por um grande professor.
Bill tinha me declarado uma excelente beijadora, e eu queria deixá-lo orgulhoso.
Julgando pela condição da lycra de Eric, eu me saí bem.
"Pronto para entrar?" Eu perguntei, me esforçando para manter os meus olhos acima do seu
peito.
"Não de verdade," disse Eric. "Mas eu suponho que temos que entrar. Pelo menos eu pareço
no clima."
Embora fosse alarmante pensar que esta era a segunda vez que eu tinha beijado Eric e
que eu tinha apreciado isso mais do que deveria, eu podia sentir um sorriso contrair os
cantos de minha boca enquanto atravessávamos o terreno acidentado da clareira. Subimos
os degraus de um grande terraço de madeira, com as habituais cadeiras de alumínio
cadeiras espalhadas e uma grande churrasqueira a gás. A porta de tela rangeu
estridentemente assim que Eric a abriu, e eu bati levemente na porta interior. "Quem é?" a
voz de Jan disse.
"É Sookie e um amigo," eu respondi.
"Ah, oba! Entre!" ela chamou.
Quando empurrei a porta, todos os rostos na sala estavam voltados para nós. Os sorrisos de
boas-vindas se transformaram em olhares assustados quando Eric entrou atrás de mim.
Eric posicionou-se ao meu lado, seu casaco sobre o seu braço, e eu quase assobiei diante da
variedade de expressões. Após o choque de perceber que Eric era um vampiro, o que todos
na sala perceberam após um minuto ou algo assim, os olhos vislumbravam para cima e para
baixo a extensão do corpo do Eric, absorvendo o panorama.
"Ei, Sookie, quem é seu amigo?" Jan Fowler, uma trintona divorciada inúmeras vezes,
estava usando o que parecia ser uma combinação de renda. O cabelo de Jan estava com
mechas e profissionalmente despenteado, e sua maquiagem parecia de uma encenação
teatral, embora para uma cabana no Lago Mimosa o efeito era um pouco exagerado. Mas
como anfitriã, eu suponho que ela achava que poderia usar o que quisesse em sua própria
orgia. Eu deslizei para fora do meu suéter e suportei o constrangimento de receber o mesmo
exame minucioso que foi dado a Eric.
"Este é Eric," eu disse. "Eu espero que vocês não se importem de eu ter trazido um amigo?"
"Oh, quanto mais, melhor," disse ela com indiscutível sinceridade. Seus olhos nunca
levantaram para o rosto de Eric. "Eric, o que eu posso te servir para beber?"
"Sangue?" Eric perguntou esperançosamente.
"Sim, eu acho que eu tenho algum tipo O por aqui," disse ela, incapaz de separar seu
olhar da Lycra. "Às vezes nós... fingimos." Ela levantou suas sobrancelhas de forma
significativa, e meio que olhou atravessado para Eric.
"Não precisa mais fingir," disse ele, devolvendo a ela olhar por olhar. No caminho para se
juntar a ela na geladeira, ele deu um jeito de bater nos ombros de Ovos, e a cara de Ovos se
iluminou.
Ah. Bem, eu sabia que eu aprenderia algumas coisas. Tara, ao lado dele, estava aborrecida,
suas sobrancelhas escuras se contraindo para baixo sobre os olhos escuros. Tara estava
usando um sutiã e calcinha de um vermelho gritante, e ela ficou muito bonita. Suas unhas
dos pés e das mãos foram pintadas de modo que combinassem, e também o seu batom. Ela
veio preparada. Encontrei os olhos dela, e ela os afastou. Não era preciso uma leitora de
mentes para reconhecer a vergonha.
Mike Spencer e Cleo Hardaway estavam em um sofá arruinado contra a parede do lado
esquerdo. A cabana inteira, basicamente uma grande sala com uma pia e um fogão contra a
parede do lado direito e um banheiro cercado no canto mais afastado, era mobiliada com
móveis abandonados, porque em Bon Temps isso é o que se faz com seus móveis antigos.
Contudo, a maioria das cabanas de lago não exibia um tapete tão espesso e macio e tantos
montes de almofadas espalhadas ao redor aleatoriamente, e não teria persianas tão densas
puxadas em todas as janelas. Além disso, os adereços espalhados ao redor daquele tapete
macio eram simplesmente indecentes. Eu nem sequer sabia o que eram alguns deles.
Mas eu colei um sorriso alegre no meu rosto, e abraçei Cleo Hardaway, como eu
costumava fazer quando a via. Só que, ela sempre estava vestindo mais roupas quando ela
dirigia a lanchonete da escola. Mas calcinha era mais do que o que Mike estava usando, que
não era nem costurado.
Bem, eu sabia que seria ruim, mas eu acho que você simplesmente não consegue estar
preparada para algumas visões. Os enormes seios marrom-achocolatados de Cleo estavam
cintilantes com algum tipo de óleo, e as partes íntimas de Mike estavam igualmente
brilhantes. Eu nem sequer queria pensar nisso.
Mike tentou agarrar minha mão, provavelmente para ajudar com o óleo, mas eu deslizei
para longe e aproximei-me lentamente de Ovos e Tara.
"Eu certamente nunca pensei que você viria," Tara disse. Ela estava sorrindo, também, mas
não realmente feliz. Na verdade, ela parecia extremamente infeliz. Talvez o fato de que
Tom Hardaway estava ajoelhado em frente a ela lambendo até o interior de sua perna
tivesse algo a ver com isso. Talvez fosse o óbvio interesse de Ovos em Eric. Tentei
encontrar os olhos de Tara, mas me senti enojada.
Eu só estava aqui há cinco minutos, mas estava disposta a apostar que estes eram os cinco
minutos mais longos da minha vida.
"Você faz isso realmente com frequência?" Perguntei a Tara, absurdamente. Ovos, de olho
na bunda do Eric enquanto Eric estava conversando com Jan perto da geladeira, começou a
tatear o botão do meu short. Ovos esteve bebendo novamente. Eu conseguia sentir o cheiro.
Seus olhos estavam embaçados e seu maxilar estava frouxo. "Seu amigo é muito grande,"
disse ele, como se sua boca estivesse salivando, e talvez ela estava.
"Muito maior que Lafayette," Eu sussurrei, e seu olhar se lançou ao encontro do meu.
"Achei que ele seria bem-vindo."
"Oh, sim," disse Ovos, decidindo não enfrentar a minha declaração. "Sim, Eric é... muito
grande. É bom ter alguma diversidade."
"Isto é tão multicolorido quanto Bon Temps consegue ser,” disse, tentando muito não soar
ousada. Eu suportei a luta contínua de Ovos com o botão. Isto tinha sido um grande erro.
Ovos estava pensando só na bunda do Eric. E em outras coisas do Eric.
Falando do diabo, ele se aconchegou atrás de mim e me envolveu em seus braços,
puxando-me para ele e me afastando dos dedos desajeitados de Ovos. Eu me inclinei para
junto do Eric, realmente muito feliz por ele estar lá. Me dei conta disso porque já esperava
que Eric fosse se comportar mal. Mas vendo pessoas que você conhece por toda a sua vida
agindo assim, bem, isso é que era profundamente repugnante. Eu não estava tão certa de
que poderia impedir meu rosto de mostrar isso, então eu me contorci contra Eric, e quando
ele fez um som feliz, me virei em seus braços para olhá-lo de frente. Eu coloquei meus
braços ao redor do seu pescoço e levantei o meu rosto. Ele obedeceu algremente a minha
sugestão silenciosa. Com meu rosto escondido, minha mente estava livre para vagar. Eu me
abri mentalmente, da mesma forma que Eric separou meus lábios com sua língua, então me
senti completamente desprotegida. Havia alguns fortes "remetentes" naquela sala, e eu
sentia que não era mais eu mesma, mas sim um tipo de canalizador para as necessidades
devastadoras de outras pessoas.
Eu conseguia sentir o sabor dos pensamentos de Ovos. Ele estava lembrando de Lafayette,
seu corpo magro moreno, dedos talentosos, e olhos fortemente maquiados. Ele estava
lembrando dos sussuros insinuantes de Lafayette. Então ele foi asfixiando essas
recordações felizes com as mais desagradáveis, Lafayette protestando violentamente,
esganiçando...
"Sookie," disse Eric no meu ouvido, tão baixo que não creio que outra pessoa na sala podia
tê-lo ouvido. "Sookie, relaxe. Eu estou com você."
Eu acariciei seu pescoço com minha mão. Notei que alguém estava atrás de Eric, meio que
apalpando ele por trás.
As mãos de Jan se estenderam ao redor de Eric e começaram a massagear o meu
traseiro. Já que ela estava me tocando, seus pensamentos estavam absolutamente claros; ela
era uma excepcional "remetente." Eu folheei sua mente como se fossem as páginas de um
livro, e não li nada de interessante. Ela só estava pensando na anatomia de Eric, e
preocupada com sua própria fascinação com os seios de Cleo. Não tinha nada lá para mim.
Avancei em outra direção, me movendo como uma minhoca na cabeça de Mike Spencer,
encontrei o desagradável emaranhado que eu esperava, descobri que enquanto ele enrolava
os seios de Cleo em suas mãos ele estava pensando em outra carne morena, mole e sem
vida. Sua própria carne se levantava quando ele lembrava isso. Através de suas memórias vi
Jan adormecida sobre o sofá enrugado, o protesto de Lafayette que se eles não parassem de
machucá-lo ele iria dizer a todos o que ele tinha feito e com quem, e em seguida os punhos
de Mike descendo, Tom Hardaway se ajoelhando sobre seu peito magro e escuro...
Eu tinha que sair daqui. Eu não podia suportar isso, mesmo que eu não tivesse acabado de
ter a informação que eu precisava saber. Eu não conseguia ver como Portia teria aguentado
isto, tampouco, especialmente porque ela teria de ficar para saber alguma coisa, não tendo o
"dom" que eu tinha.
Eu senti a mão de Jan massageando minha bunda. Este era o pretexto mais triste para sexo
que eu já tinha visto: sexo separado da mente e do espírito, do amor ou afeto. Mesmo
simples simpatia.
De acordo com a minha amiga Arlene - casada quatro vezes - os homens não tinham
qualquer problema com isso. Evidentemente, algumas mulheres também não.
"Eu tenho que sair daqui," eu sussurrei na boca do Eric. Eu sabia que ele poderia me ouvir.
"Vá junto comigo," ele respondeu, e foi quase como se eu o estivesse ouvindo na minha
cabeça.
Ele me levantou e me lançou sobre o seu ombro. Meu cabelo ficou estirado até quase o
meio de sua coxa.
"Nós vamos lá fora por um minuto," ele disse a Jan, e ouvi um grande barulho estalado. Ele
tinha lhe dado um beijo.
"Posso ir também?" ela perguntou, em uma voz ofegante tipo Marlene Dietrich. Foi sorte
que meu rosto não estava aparecendo.
"Dêem-nos um minuto. Sookie ainda está um pouco tímida," disse Eric em uma voz tão
cheia de promessas quanto um pote com um novo sabor de sorvete.
"Deixe ela bem quente," disse Mike Spencer em uma voz abafada. "Nós todos queremos
ver a nossa Sookie pegando fogo."
"Ela estará aquecida," Eric prometeu.
"Acesa pra caralho," disse Tom Hardaway, por entre as pernas da Tara.
Depois, graças a Eric, saímos pela porta para fora e ele me deitou sobre o capô do Corvette.
Ele se colocou em cima de mim, mas a maior parte do seu peso estava apoiada em suas
mãos repousando sobre o capô de ambos os lados dos meus ombros.
Ele estava olhando para mim, seu rosto impondo restrições como um convés de navio
durante uma tempestade. Suas presas estavam para fora. Seus olhos estavam arregalados.
Uma vez que os brancos dos olhos eram tão puramente brancos, eu podia vê-los. Estava
escuro demais para ver o azul dos seus olhos, mesmo que eu quisesse.
Eu não queria. "Isso foi..." Eu comecei, e tive que parar. Eu tomei um fôlego profundo.
"Você pode me chamar de madame pudica* se quiser, e eu não culpo você, afinal de contas
tudo isto foi ideia minha. Mas você sabe o que eu penso? Eu acho isso horrível. Os homens
realmente gostam disso? As mulheres gostam, por sinal? É divertido fazer sexo com
alguém que você nem mesmo gosta?"
(*No original a expressão é Goody two-shoes, que se refere ao personagem de uma
história infantil de 1765, e que significa em geral uma pessoa certinha, recatada e
sentimental)
"Você gosta de mim, Sookie?" Eric perguntou. Ele se apoiou mais fortemente em mim e se
mexeu um pouco.
Uh-oh. "Eric, se lembra de por que estamos aqui?"
"Eles estão assistindo."
"Mesmo se eles estiverem, você se lembra?"
"Sim, eu me lembro."
"Então, temos que ir."
"Você tem alguma prova? Você já soube o que queria descobrir?"
"Eu não tenho nenhuma prova a mais do que eu tinha hoje noite mais cedo, não uma prova
que você possa entregar no tribunal." Eu me obriguei a colocar meus braços em torno de
suas costelas. "Mas eu sei quem fez aquilo. Foi Mike, Tom, e talvez Cleo."
"Isso é interessante," disse Eric, com uma completa falta de sinceridade. Sua língua se
movimentava rapidamente em meu ouvido. Acontece que eu gostava particularmente disso,
e eu podia sentir a minha respiração acelerar. Talvez eu não fosse tão imune ao sexo sem
envolvimento como eu pensava. Mas també, eu gostava de Eric, quando eu não estava com
medo dele.
"Não, eu simplesmente odeio isso," eu disse, chegando a uma conclusão interna. "Eu
não gosto de nenhuma parte disso." Eu empurrei Eric com força, embora isso não tenha
feito a menor diferença. "Eric, me ouça. Tenho feito tudo que posso por Lafayette e Andy
Bellefleur, porém é muito insignificante. Ele só tem que começar a partir daqui com os
fragmentos que eu captei. Ele é um policial. Ele pode encontrar provas concretas para um
tribunal. Eu não sou altruísta o suficiente para ir mais longe com isso."
"Sookie," disse Eric. Eu não acho que ele ouviu uma palavra. "Renda-se a mim."
Bem, essa foi bem direta.
"Não," eu disse, no tom de voz mais definitivo que eu poderia convocar. "Não."
"Eu vou te proteger de Bill."
"Você é quem vai necessitar de proteção!" Quando eu refleti sobre essa frase, não fiquei tão
orgulhosa.
"Você acha que Bill é mais forte do que eu?"
"Eu não estou falando sobre isso." Então eu fui adiante. "Eric, eu agradeço a sua oferta para
me ajudar, e eu aprecio a sua boa vontade de vir a um lugar horrível como este."
"Acredite, Sookie, esta pequena porcaria de reunião não é nada, nada, comparado com
alguns dos lugares que já estive."
E eu acreditei nele completamente. "Ok, mas pra mim isto é terrível. Agora, eu me dei
conta de que eu deveria saber que isso iria, ah, aumentar suas expectativas, mas você sabe
que eu não vim aqui esta noite para fazer sexo com ninguém. Bill é o meu namorado."
Embora as palavras namorado e Bill soassem absurdas na mesma frase, "namorado" era o
papel de Bill em meu mundo, de qualquer maneira.
"Fico feliz em ouvir isso," disse uma voz fria e familiar. "Esta cena me deixaria espantado,
não fosse isso."
Ah, ótimo.
Eric saiu de cima de mim, e eu me afastei do capô do carro e cambaleei na direção da voz
de Bill.
"Sookie," ele disse, quando me aproximei, "está chegando num ponto em que eu não posso
deixar você ir a lugar algum sozinha."
Até onde eu poderia dizer sob a má iluminação, ele não parecia muito feliz em me ver. Mas
eu não poderia culpá-lo por isso. "Com certeza cometi um grande erro," eu disse, do fundo
do meu coração. Eu o abracei.
"Você está cheirando ao Eric," disse ele entre meus cabelos. Bem, que inferno, eu estava
sempre com cheiro de outros homens para Bill. Eu senti uma inundação de angústia e
vergonha, e eu percebi que coisas estavam prestes a acontecer.
Mas o que aconteceu não foi o que eu esperava.
Andy Bellefleur saiu dos arbustos com uma arma na mão. Suas roupas pareciam
rasgadas e manchadas, e a arma parecia enorme.
"Sookie, fique longe do vampiro," disse ele.
"Não." Eu me enrolei ao redor de Bill. Eu não sabia se eu estava protegendo ele ou se ele
estava me protegendo. Mas se Andy nos queria separados, eu nos queria unidos.
Houve um aumento súbito de vozes na varanda da cabana. Alguém estava claramente
olhando pela janela - eu estava meio que me perguntando se Eric tinha inventado isso -
porque, embora nenhuma voz tivesse se elevado, o confronto na clareira tinha atraído a
atenção dos participantes da orgia lá dentro. Enquanto Eric e eu estávamos no jardim, a
orgia tinha avançado. Tom Hardaway estava nu, e Jan, também. Ovos Tallie parecia
embriagado.
"Você está cheirando ao Eric," Bill repetiu, num sopro de voz.
Eu me ergui de volta pra ele, esquecendo completamente de Andy e sua arma. E eu perdi a
calma.
Isto é uma coisa rara, mas não tão raro quanto costumava ser. Isso era meio que
estimulante. "Sim, hum-hum, e eu não posso sequer dizer como quem você cheira! Até
onde sei você esteve com seis mulheres! Dificilmente justo, não é?"
Bill ficou boquiaberto comigo, estupefato. Atrás de mim, Eric começou a gargalhar. A
multidão no terraço estava silenciosamente fascinada. Andy não achava que todos nós
deveríamos estar ignorando o homem com a arma.
"Fiquem juntos em um grupo," ele falou alto. Andy tinha bebido demais.
Eric deu de ombros. "Alguma vez você já negociou com vampiros, Bellefleur?" ele
perguntou.
"Não," disse Andy. "Mas eu posso atirar em você até a morte. Eu tenho balas de prata."
"Isto é-" Eu comecei a dizer, mas a mão de Bill cobriu minha boca. Balas de prata só eram
definitivamente fatais para lobisomens, mas vampiros também tinham uma péssima reação
a prata, e se um vampiro fosse atingido num local vital iria certamente sofrer.
Eric levantou uma sobrancelha e passeou com prazer em direção aos participantes da orgia
no terraço. Bill pegou minha mão, e nós nos juntamos a eles. Pelo menos desta vez, eu teria
adorado saber o que Bill estava pensando.
"Quem foi de vocês, ou foram todos vocês?" Andy levantou a voz.
Todos nós ficamos em silêncio. Eu estava de pé ao lado de Tara, que estava tremendo em
sua lingerie vermelha. Tara estava assustada, não era uma grande surpresa. Me perguntava
se conhecer os pensamentos de Andy poderia ser de alguma ajuda, e eu comecei a me
concentrar nele. Bêbados não servem para uma boa leitura, posso afirmar, porque eles só
pensam em coisas estúpidas, e suas ideias são bastante instáveis. Suas memórias são
duvidosas, também. Andy não tinha muitos pensamentos no momento. Ele não gostava de
ninguém na clareira, nem dele mesmo, e ele estava determinado a extrair a verdade de
alguém.
"Sookie, venha aqui," ele gritou.
"Não," Bill falou bem definitivamente.
"Tenho que tê-la bem aqui ao meu lado em trinta segundos, ou eu atiro - nela!" Andy disse,
apontando a arma direto para mim.
"Você não viverá trinta segundos depois, se você fizer isso," disse Bill.
Eu acreditei nele. Evidentemente Andy acreditou, também.
"Eu não me importo," disse Andy. "Ela não é muita perda para o mundo."
Bem, isso me deixou completamente zangada de novo. Minha ira tinha começado a se
apagar, mas aquilo intensificou-a de uma grande maneira.
Eu arranquei minha mão da de Bill e desci como um furacão as escadas para o jardim. Eu
não estava tão cega de raiva a ponto de ignorar a arma, mas eu estava extremamente tentada
a agarrar Andy por suas bolas e espremer. Ele ainda atiraria em mim, mas ele se
machucaria, também. No entanto, isso era tão auto-derrotante quanto a bebedeira. Esse
momento de satisfação valeria tanto a pena?
"Agora, Sookie, leia as mentes dessas pessoas e me diga qual deles fez aquilo," Andy
ordenou. Ele agarrou meu pescoço por trás com suas mãos grandes, como se eu fosse um
cachorrinho destreinado, e me girou de volta para encarar o terraço.
"Que diabos você acha que eu estava fazendo aqui, seu burro de merda? Você acha que este
é o jeito que eu gosto de passar o meu tempo, com imbecis como estes?"
Andy me sacudiu pelo pescoço. Eu sou muito forte, e tinha uma boa chance de eu poder
ficar livre dele e agarrar a arma, mas isso não estava perto o suficiente de de uma certeza
para me deixar confortável. Eu decidi esperar por um minuto. Bill estava tentando me dizer
algo com seu rosto, mas eu não tinha certeza do que era. Eric estava tentando tirar uma
casquinha de Tara. Ou de Ovos. Era difícil dizer.
Um cachorro choramingava na margem da floresta. Eu rolei meus olhos nessa direção,
incapaz de virar a minha cabeça. Bem, ótimo. Simplesmente ótimo.
"Esse é o meu Collie", eu disse a Andy. "Dean, lembra?" Eu poderia ter usado alguém em
formato humano para ajudar, mas uma vez que Sam tinha chegado à cena transformado
num Collie*, ele tinha que ficar desse jeito ou arriscar se expor.
(*Pra quem não sabe Collie é uma raça de cachorro, aquele igual a Lessie)
"Sim. O que é que o seu cachorro está fazendo aqui?"
"Eu não sei. Não atire ele, ok?"
"Eu nunca atiraria num cão," disse ele, soando verdadeiramente chocado.
"Ah, mas em mim, tudo bem," eu disse amargamente.
O Collie caminhou na direção em que nós estávamos conversando. Gostaria de saber o que
se passava na mente do Sam. Me perguntava se ele retinha muito do pensamento humano
enquanto ele estava na sua forma preferida. Rolei meus olhos em direção a arma, e os olhos
de Sam/Dean seguiram os meus, mas quanto entendimento tinha nele, eu simplesmente não
poderia avaliar.
O collie começou a rosnar. Seus dentes estavam expostos e ele estava olhando furioso para
a arma.
"Para trás, cachorro," Andy disse, irritado.
Se eu pudesse apenas segurar Andy parado por um minuto, os vampiros poderiam pegálo.
Eu tentei visualizar todos os movimentos em minha mente. Eu tinha que agarrar a mão
que estava com arma com as minhas duas mãos e forçá-la para cima. Mas com o Andy me
segurando longe dele desse jeito, não ia ser fácil.
"Não, meu amor," disse Bill.
Meus olhos brilharam em direção a ele. Fiquei consideravelmente assustada. Os olhos de
Bill se moveram do meu rosto para trás de Andy. Eu poderia ter uma dica.
"Oh, quem está sendo mantido como um pequeno filhote?" perguntou uma voz atrás de
Andy.
Oh, isto era simplesmente fofo.
"É minha mensageira!" A bacante passeou devagar ao redor de Andy em um círculo amplo
e veio parar à sua direita, uns poucos metros adiante dele. Ela não estava entre Andy e o
grupo no terraço. Ela estava limpa esta noite, e vestindo absolutamente nada. Eu suponho
que ela e Sam estavam pela floresta fazendo folia, antes de ouvirem o grupo. Seu cabelo
negro caía em um monte emaranhado que ia até seus quadris. Ela não parecia com frio. O
resto de nós (exceto os vampiros) estava definitivamente sentindo as alfinetadas da brisa.
Viemos vestidos para uma orgia, não para uma festa ao ar livre.
"Olá, mensageira," disse a bacante para mim. "Eu esqueci de me apresentar na última
vez, o meu amigo canino me lembrou disso. Eu sou Calisto."
"Senhorita Calisto," eu disse, uma vez que não tinha a menor idéia de como chamá-la. Eu
teria feito uma saudação, mas Andy estava de posse do meu pescoço. Isso estava
certamente começando a doer.
"Quem é este robusto corajoso agarrando você?" Calisto chegou um pouco mais perto.
Eu não tinha idéia de como estava a cara do Andy, mas todos no terraço estavam
encantados e aterrorizados, com exceção de Eric e Bill. Eles estavam indo cuidadosamente
para trás, para longe dos humanos. Isso não era bom.
"Este é Andy Bellefleur," Eu resmunguei. "Ele tem um problema."
Eu poderia dizer pela forma como minha pele formigava que a bacante tinha facilmente se
aproximado um pouco.
"Você nunca viu nada parecido comigo, não é?" ela disse a Andy.
"Não," admitiu Andy. Ele parecia tonto.
"Eu sou bonita?"
"Sim," disse ele, sem hesitação.
"Eu mereço um tributo?"
"Sim," disse ele.
"Eu amo embriaguez, e você está muito bêbado," Calisto disse alegremente. "Adoro os
prazeres da carne, e estas pessoas estão cheias de luxúria. Este é o meu tipo de lugar."
"Ah, que bom," disse Andy de modo incerto. "Mas uma destas pessoas é um assassino, e eu
preciso saber qual deles."
"Não apenas um," Eu murmurei. Lembrado de que eu estava no final do seu braço, Andy
sacudiu-me novamente. Eu estava ficando realmente cansada disso.
A bacante tinha chegado perto o suficiente agora para me tocar. Ela suavemente acariciou
meu rosto, e eu senti o cheiro de terra e vinho em seus dedos.
"Você não está bêbada," ela observou.
"Não, minha senhora."
"E você não aproveitou os prazeres da carne esta noite."
"Oh, apenas me dê um tempo," eu disse.
Ela sorriu. Era uma risada alta, gritava de rir. E era sem parar.
O aperto de Andy foi se soltando, à medida que ele tornou-se mais e mais desconcertado
pela proximidade da bacante. Eu não sabia o que as pessoas no terraço pensavam que
estavam vendo. Mas Andy sabia que ele estava vendo uma criatura da noite. Ele me largou,
muito repentinamente.
"Venha até aqui, novata," chamou Mike Spencer. "Deixe-nos dar uma olhada em você."
Eu estava sobre um amontoado no chão perto de Dean, que estava lambendo meu rosto com
entusiasmo. A partir desse ponto de vista, eu podia ver o braço de serpente da bacante em
torno da cintura de Andy. Andy transferiu sua arma para a mão esquerda para que assim ele
pudesse devolver o cumprimento.
"Agora, o que você queria saber?" ela perguntou a Andy. Sua voz era calma e razoável. Ela
ociosamente balançou a longa varinha com um ramalhete no final. Isso era chamado de
thyrsis*; Eu tinha pesquisado bacante na enciclopédia. Agora eu poderia morrer culta.
(*Não sei se esse nome tem algum significado nesse contexto, a única referência de
Thyrsis que encontrei é que é o título de um poema escrito porMatthew Arnold em
dezembro de 1965, mas nada nesse poema se encaixa aqui.)
"Uma dessas pessoas matou um homem chamado Lafayette, e eu quero saber quem foi,"
disse Andy com a agressividade dos bêbados.
"É claro que quer, meu querido," a bacante susurrou. "Devo descobrir para você?"
"Por favor," ele implorou.
"Tudo bem." Ela examinou as pessoas, e curvou o dedo para Ovos. Tara segurava em seu
braço para tentar mantê-lo com ela, mas ele moveu-se descendo os degraus em direção à
bacante, sorrindo estupidamente o tempo todo.
"Você é uma garota?" Ovos perguntou.
"Não por qualquer alcance da imaginação," disse Calisto. "Você tem tomado muito
vinho." Ela o tocou com o thyrsis.
"Oh, sim," ele concordou. Ele não estava mais sorrindo. Ele olhou dentro dos olhos de
Calisto, e ele sentiu calafrios e estremeceu. Os olhos dela estavam incandecentes. Olhei
para Bill, e vi que ele estava com seus próprios olhos focando o chão. Eric estava olhando
para o capô do seu carro. Ignorada por todos, eu comecei a rastejar em direção a Bill.
Esta era uma bela confusão.
O cão andava ao meu lado, me cheirando ansiosamente. Senti que ele queria que eu me
movesse mais rápido. Alcancei as pernas de Bill e as agarrei. Eu senti sua mão no meu
cabelo. Eu estava com medo de fazer um movimento maior como ficar de pé.
Calisto envolveu seus braços finos ao redor de Ovos e começou a sussurrar para ele. Ele
assentiu e sussurrou de volta. Ela o beijou, e ele ficou rígido. Quando ela o deixou para
subir suavemente para o terraço, ele permaneceu absolutamente imóvel, olhando para o
bosque.
Ela parou perto de Eric, que estava mais próximo do terraçoe do que nós. Ela o olhou de
cima a baixo, e sorriu aquele sorriso aterrorizante novamente. Eric olhou fixamente para o
peito dela, tendo cuidado para não encontrar seus olhos. "Lindo," disse ela, "simplesmente
lindo. Mas não para mim, seu belo pedaço de carne morta."
Então ela estava entre as pessoas no terraço. Ela inspirou profundamente, inalando os
aromas da bebida e do sexo. Ela aspirava como se ela estivesse seguindo uma trilha, e então
ela girou para encararMike Spencer. Seu corpo de meia-idade não se dava muito bem com
o ar frio, mas Calisto parecia encantada com ele.
"Ah," ela disse tão alegremente quanto se tivesse acabado de ganhar um presente, "Você é
tão orgulhoso! Você é um rei? Você é um grande soldado?"
"Não," disse Mike. "Eu possuo uma funerária." Ele não soou tão seguro. "O que você é,
moça?"
"Você alguma vez viu algo parecido comigo antes?"
"Não," disse ele, e todos os outros balançaram suas cabeças.
"Você não se lembra da minha primeira visita?"
"Não, minha senhora."
"Mas você me fez uma oferenda antes."
"Eu fiz? Uma oferenda?"
"Oh, sim, quando você matou o pequeno homem negro. Aquele bonito. Ele era um
discípulo inferior dos meus, e um tributo adequado para mim. Eu o agradeço por tê-lo
deixado fora no local de bebidas; bares são a minha satisfação particular. Você não poderia
me encontrar na floresta?"
"Senhora, nós não fizemos nenhuma oferenda," disse Tom Hardaway, sua pele escura toda
arrepiada e seu pênis apontando para baixo.
"Eu vi você," disse ela.
Tudo ficou silencioso então. O bosque ao redor do lago, sempre cheio de pequenos ruídos e
movimentos mínimos, tornou-se imóvel. Eu cuidadosamente fiquei de pé ao lado de Bill.
"Adoro a violência do sexo, eu adoro o cheiro forte de bebida," disse ela sonhadoramente.
"Eu posso correr por quilômetros para estar presente para o final."
O medo transbordando de suas cabeças começou a encher a minha, e me sugou. Eu cobri
meu rosto com as minhas mãos. Eu atirei rapidamente os escudos mais fortes que eu pude
criar, mas eu ainda mal podia conter o terror. Minhas costas arquearam, e eu mordi minha
língua para evitar emitir um ruído. Eu podia sentir o movimento enquanto Bill se virava
para mim, e em seguida Eric estava ao seu lado e ambos estavam me amassando entre eles.
Não há nada de erótico em ser imprensada entre dois vampiros sob essas circunstâncias.
Seus próprios desejos urgentes pelo meu silêncio alimentavam o medo, porque o que
poderia amedrontar vampiros? O cão pressionava contra as nossas pernas como se ele nos
oferecesse proteção.
"Você bateu nele durante o sexo," disse a bacante a Tom. "Você bateu nele, porque
você é orgulhoso, e a submissão dele enojava e excitava você." Ela esticou sua mão magra
para acariciar a face sombria de Tom. Eu podia ver o branco dos olhos dele. "E você," – ela
deu um tapinha em Mike com sua outra mão – "você bateu nele, também, porque vocêfoi
dominado pela fúria. Então ele ameaçou contar." A mão dela deixou Tom e roçou a de sua
esposa, Cleo. Cleo tinha vestido apressadamente um suéter antes de sair, mas não estava
abotoado.
Uma vez que tinha evitado participar, Tara começou a recuar. Ela era a única que não
estava paralisada pelo medo. Eu podia sentir a pequena centelha de esperança nela, a
vontade de sobreviver. Tara encolheu-se embaixo de uma mesa de ferro forjado sobre o
terraço, transformando a si mesma em uma pequena bola, e apertou seus olhos fechados.
Ela estava fazendo um monte de promessas à Deus sobre o seu comportamento no futuro,
se Ele a tirasse dessa. Isso foi despejado em minha mente, também. O cheiro forte do medo
dos outros atingiram um ponto máximo, e eu podia sentir meu corpo ter tremores enquanto
eles irradiavam tão fortemente que penetraram todas as minhas barreiras. Não tinha sobrado
nada de mim mesma. Eu era apenas o medo. Eric e Bill travaram seus braços um com o
outro, para me manterem de pé e imóvel entre eles.
Jan, em sua nudez, foi completamente ignorada pela bacante. Só posso supor que não
havia nada em Jan que fosse atrativo para a criatura; Jan não era orgulhosa, ela era patética,
e ela não tinha bebido nada esta noite. Ela adotou o sexo por outras necessidades além da
carência de sua perda em sí - necessidades que não tinham nada a ver com renunciar ao
corpo e a mente por um momento maravilhoso de loucura. Tentando, como sempre, ser o
centro do grupo, Jan se aproximou com um pretenso sorriso flertador e pegou a mão da
bacante. De repente ela começou a ter convulsões, e os ruídos vindos de sua garganta eram
horríveis. Espuma saía de sua boca, e seus olhos reviravam. Ela desabou no terraço, e eu
pude ouvir seus calcanhares martelando na madeira.
Depois o silêncio reiniciou. Mas algo estava se preparando há poucos metros de distância
no pequeno grupo sobre o terraço: algo terrível e bom, algo puro e horrendo. O medo deles
foi retrocedendo, e meu corpo começou se acalmar novamente. A terrível pressão em
minha cabeça aliviou. Mas a medida que ela decaía, uma nova força começou a se formar, e
isso era indescritivelmente bonita e absolutamente má.
Isto era pura loucura, era loucura estúpida. Da bacante transbordava a ira selvagem e
incontrolável*, o desejo de saquear, a arrogância do orgulho. Eu fui oprimida quando as
pessoas no terraço foram oprimidas, eu estremeci e fui açoitada enquanto a insanidade saía
girando de Calisto e invadia seus cérebros, e somente a mão de Eric sobre minha boca me
conteve de gritar como eles fizeram. Eu o mordi e provei o seu sangue, e o ouvi gemer pela
dor.
(*No original a expressão é ‘berserker rage’ ou Ira de Berserker, que se refere ao antigo
guerreiro nórdico conhecido por sua selvajeria e seu furor em batalhas, hoje o termo é
usado com pessoas que agem de forma irracional e sem controle.)
Continuou sem parar, a gritaria, e então vieram terríveis sons úmidos. O cachorro,
pressionado contra as nossas pernas, choramingava.
De repente, tinha acabado.
Eu me senti como uma marionete dançante cujos barbantes tinham sido cortados de
repente. Eu mancava. Bill me deitou no capô do carro de Eric novamente. Eu abri meus
olhos. A bacante olhou para mim. Ela estava sorrindo novamente, e ela estava encharcada
de sangue. Era como se alguém tivesse derramado um balde de tinta vermelha sobre a
cabeça dela; seu cabelo estava encharcado, assim como cada pedaço de seu corpo nu, e ela
exalava o cheiro de cobre, o suficiente para deixar seus dentes afiados.
"Você estava perto," ela disse para mim, sua voz tão doce e alta como uma flauta. Ela se
moveu um pouco mais deliberadamente, como se tivesse comido uma refeição pesada.
"Você estava muito perto. Talvez mais perto do que você jamais chegará, talvez não. Eu
nunca vi ninguém enlouquecido pela insanidade dos outros. Um pensamento divertido."
"Divertido para você, talvez," Eu arfei. O cachorro mordeu minha perna para me trazer à
razão. Ela olhou para baixo para ele.
"Meu caro Sam," ela murmurou. "Querido, eu devo deixar você."
O cachorro olhou para ela com olhos inteligentes.
"Nós tivemos algumas boas noites correndo pela floresta," disse ela, e afagou sua cabeça.
"Capturando pequenos coelhos, pequenos coatís."
O cachorro balançou sua cauda.
"Fazendo outras coisas."
O cachorro forçou um sorriso e suspirou.
"Mas está na minha hora de partir, querido. O mundo está cheio de bosques e pessoas que
precisam aprender sua lição. Devo receber um tributo. Eles não devem me esquecer. Eles
devem a mim," disse ela, em sua voz saciada, "devem a loucura e a morte." Ela começou a
seguir o curso para a margem da floresta.
"Afinal de contas," disse ela sobre seu ombro, "não pode ser sempre temporada de
caça."

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