"Você sabe, eu tenho um pouco de claustrofobia," eu disse instantaneamente. "Não sabia que havia muitos edifícios em Dallas com porão, mas tenho que dizer, eu só não acredito que eu queira vê-lo." Me agarrei ao braço de Hugo e tentei sorrir de um jeito encantador mas auto-depreciativo.
O coração de Hugo estava batendo como um tambor porque ele estava apavorado – eu juraria que ele estava. Confrontado com aquelas escadas, de algum modo sua calma foi corroendo novamente. Qual era a do Hugo? Apesar do medo, ele resolutamente deu um tapinha no meu ombro e sorriu se desculpando com nossos companheiros. "Talvez devessemos ir," ele murmurou.
"Mas eu realmente acho que vocês deveriam ver o que temos no subsolo.Realmente temos um abrigo anti-bombas," Sarah disse, quase rindo em seu entretenimento. "E é totalmente equipado, não é, Steve?"
"Temos todo o tipo de coisas lá em baixo," Steve concordou. Ele ainda parecia relaxado, bem-humorado, e no comando, mas eu já não via essas características como benignas. Ele de um passo à frente, e já que ele estava atrás de nós, eu tinha que ir em frente ou correr o risco de ele tocar em mim, o que eu achava que não estava muito afim.
"Vamos lá," disse Sarah com entusiasmo. "Eu aposto que Gabe está aqui em baixo, e Steve pode ir ver o que Gabe queria enquanto nós olhamos o resto da instalação." Ela seguiu trotando pelas escadas tão rapidamente quanto ela tinha percorrido o corredor, seu traseiro redondo remexendo de um jeito que eu provavelmente teria considerado bonito se eu não tivesse simplesmente beirando um ataque de pânico.
Polly acenou para que fôssemos à sua frente, e nós descemos. Eu estava indo em frente com isso porque Hugo parecia absolutamente confiante de que nenhum dano seria causado a ele. Eu estava pegando isso muito claramente. Seu medo anterior tinha completamente apaziguado. Era como se ele tivesse resignado a algum planejamneto, e sua ambivalência tivesse desaparecido. Em vão, desejei que ele fosse mais fácil de ler. Virei o meu foco sobre Steve Newlin, mas o que eu recebia dele era um espesso muro de auto-satisfação.
Avançamos bastante escada abaixo, apesar do fato dos meus passos terem sido lentos e em seguida tornarem-se mais lentos ainda. Eu tive a certeza de que Hugo estava convencido de que ele iria voltar a subir estas escadas: afinal, ele era uma pessoa civilizada. Estas todas eram pessoas civilizadas.
Hugo realmente não poderia imaginar que algo irreparável poderia acontecer com ele, porque ele era um americano branco de classe média com uma educação universitária, como todas as pessoas que estavam na escada com a gente.
Eu não tinha tanta convicção. Eu não era totalmente uma pessoa civilizada.
Esse era um pensamento novo e interessante, mas como muitas das minhas idéias nesta tarde, ela teve que ser armazenada, para ser explorada no meu tempo livre. Se eu fosse ter tempo livre novamente.
Na base da escada havia uma outra porta, e Sarah bateu nela em um padrão. Três batidas rápidas, suspendia, duas rápidas, o meu cérebro registrou. Escutei fechaduras se abrindo.
O cara de cabelo preto curtíssimo – Gabe - abriu a porta. "Ei, você me trouxe alguns visitantes," disse ele entusiasticamente. "Boa demonstração!" Sua camisa de golfe foi enfiada ordenadamente em suas calças de pregas, seu tênis Nike era novo e imaculado, e ele estava tão bem barbeado quanto uma navalha poderia raspar. Eu estava disposta a apostar que ele fazia cinqüenta flexões, todas as manhãs. Havia uma corrente interior de excitação em cada gesto e movimento dele; Gabe estava realmente adrenalizado com alguma coisa.
Eu tentei "ler" a superfície do ambiente, mas eu estava muito agitada para me concentrar.
"Estou feliz que você esteja aqui, Steve," disse Gabe. "Enquanto Sarah vai mostrando o abrigo aos nossos visitantes, talvez você possa dar uma inspecionada no nosso quarto de hóspedes." Ele balançou sua cabeça para a porta do lado direito do estreito corredor de concreto. Havia uma outra porta no final do corredor, e uma porta do lado esquerdo.
Eu odiei aqui em baixo. Eu tinha alegado claustrofobia para sair desta. Agora que eu já tinha sido coagida a descer as escadas, eu estava achando que essa era uma falha minha verdadeira. O cheiro azedo, o brilho da luz artificial, e a sensação de clausura. . . Eu odiei tudo isso. Eu não queria ficar aqui. As palmas das minhas mãos transbordaram em suor. Meus pés pareciam ancorados ao chão. "Hugo," eu sussurrei. "Eu não quero fazer isto." Tinha muito pouco fingimento no desespero da minha voz. Eu não gostei de ouvir isso, mas estava lá.
"Ela realmente precisa voltar para cima," disse Hugo se desculpando. "Se vocês não se importam, vamos apenas voltar a subir e esperamos por vocês lá."
Eu virei, esperando que isto fosse funcionar, mas me encontrei olhando para a cara do Steve. Ele não estava mais sorrindo. "Acho que vocês dois têm de esperar naquela outra sala, até que eu resolva este outro assunto. Então, vamos conversar." Sua voz não permitia nenhuma discussão, e Sarah abriu a porta para expôr um pequeno quarto com duas cadeiras e duas camas estreitas.
"Não," eu disse: "Eu não posso fazer isso," e empurrei Steve o mais forte que eu pude. Eu estou muito forte, muito forte de verdade, já que eu tomei sangue vampiro, e apesar do seu tamanho, ele cambaleou. Eu agarrei as escadas tão rápido quanto pude me mover, mas uma mão se fechou no meu tornozelo, e caí da forma mais dolorosa. As bordas da escada bateram em mim por toda parte, sobre a minha bochecha esquerda, meus seios, meus quadris, o meu joelho esquerdo. Isso me machucou tanto que quase comecei a vomitar.
"Aqui, mocinha," disse Gabe, me puxando pelos pés.
"O que você - como você pôde machucá-la desse jeito?" Hugo estava soltando faíscas, verdadeiramente zangado. "Viemos aqui pensando em aderir ao seu grupo, e essa é a maneira como você nos trata?"
"Pare com a atuação," avisou Gabe, e ele torceu meu braço atrás das minhas costas antes que eu tivesse recuperado o juízo após a queda. Eu arfei com a nova dor, e ele me empurrou para dentro do quarto, no último minuto agarrando a minha peruca e arrancando-a da minha cabeça. Hugo entrou atrás de mim, embora eu arquejasse, "Não!" e em seguida eles fecharam a porta atrás dele.
E nós ouvimos ela ser trancada.
E foi isso.
***
"Sookie," disse Hugo, "sua maçã do rosto está amassada."
"Não me diga," Eu murmurei fracamente.
"Você está muito ferida?"
"O que você acha?"
Ele me respondeu literalmente. "Acho que você está com contusões e talvez uma concussão. Você não quebrou nenhum osso, quebrou?"
"Apenas um ou dois," eu disse.
"E você não está obviamente machucada seriamente o suficiente para cortar o sarcasmo," disse Hugo. Se ele pudesse ficar zangado comigo, isso iria fazer ele se sentir melhor, eu tive a certeza, e eu me perguntava por quê. Mas eu não tive que pensar muito. Eu estava bastante certa de que sabia.
Eu estava deitada sobre uma das cama estreitas, um braço atravessando meu rosto, tentando manter a privacidade e fazer algumas reflexões. Nós não conseguíamos ouvir muito do que estava acontecendo no corredor do lado de fora. Uma vez eu pensei ter ouvido uma porta abrir, e tínhamos ouvido vozes sussurando, mas isso foi tudo. Estes muros foram construídos para resistir a uma explosão nuclear, então eu acho que o silêncio era de se esperar.
"Você tem um relógio?" Perguntei ao Hugo.
"Sim. São cinco e meia."
Umas boas duas horas até que os vampiros levantassem.
Eu deixei o silêncio continuar. Quando eu percebi que o difícil-de-ler Hugo tinha recaído dentro de seus próprios pensamentos, eu abri minha mente e escutei com toda a concentração.
Não deveria acontecer assim, não gosto disto, certamente tudo irá ficar bem, como será quando precisamos ir ao banheiro, não posso puxar para fora na frente dela, talvez Isabel nunca fique sabendo, eu deveria saber que depois daquela garota ontem à noite, como vou poder sair dessa ainda advogando, se eu começar a me distanciar depois de amanhã talvez eu possa cair fora disso meio que facilmente. . .
Eu pressionei o meu braço contra os meus olhos forte o suficiente para doer, para me impedir de dar um pulo e agarrar uma cadeira e bater em Hugo Ayres insensatamente. Até então, ele não compreendia completamente a minha telepatia, e nem a Sociedade, ou não teriam me deixado aqui com ele.
Ou talvez Hugo fosse tão dispensável para eles quanto era para mim. E certamente seria para os vampiros; eu mal podia esperar para dizer a Isabel que seu brinquedinho era um traidor.
Isso acalmou meu desejo de derramamento de sangue. Quando me dei conta do que Isabel iria fazer com Hugo, me toquei de que não teria nenhuma satisfação real em testemunhar isso. Na verdade, ficaria aterrorizada e enojada.
Mas uma parte de mim pensava que ele suntuosamente merecia isso.
A quem esse advogado em conflito devia fidelidade?
Uma maneira de descobrir.
Eu me sentei dolorosamente, pressionando minhas costas contra a parede. Eu me curaria bem rápido – o sangue de vampiro, novamente - mas eu ainda era uma humana, e eu ainda me sentia péssima. Eu sabia que meu rosto estava terrivelmente machucado, e eu estava disposta a considerar que o osso da minha maçã do rosto estava fraturado. O lado esquerdo da minha face estava com um inchaço um tanto feroz. Mas as minhas pernas não foram quebradas, e eu ainda podia correr, se tivesse chance; esse era o principal.
Uma vez que eu estava preparada e o mais confortável quanto eu iria ficar, eu disse: "Hugo, há quanto tempo você tem sido um traidor?"
Ele ficou ruborizado com um vermelho incrível. "Para quem? Para Isabel, ou para a raça humana?"
"Faça a sua escolha."
"Eu traí a raça humana quando assumi o lado dos vampiros no tribunal. Se eu tivesse alguma idéia do que eles eram. . . Eu adotei o ponto de vista do caso despercebido, porque achei que seria um desafio jurídico interessante. Eu sempre fui um advogado dos direitos civis, e eu estava convencido de que os vampiros tinham os mesmos direitos civis que as outras pessoas."
Sr. Comportas. "Claro," eu disse.
"Negar-lhes o direito de viver em qualquer lugar que eles quisessem, isso era anti-americano, eu pensei," Hugo continuava. Ele parecia amargo e cansado da vida.
Ele não tinha visto amargo, ainda.
"Mas sabe de uma coisa, Sookie? Vampiros não são americanos. Eles nem sequer são negros ou asiáticos ou índios. Eles não são Rotarianos ou Batistas. Eles são só simples vampiros. Essa é a sua cor e sua religião e sua nacionalidade."
Bem, isso é o que acontece quando uma minoria se oculta durante milhares de anos. Dãh.
"Na época, eu pensei que se Stan Davis quisesse viver na Rua Green Valley, ou na Floresta Hundred-Acre, era um direito seu como um americano. Então eu o defendi contra a Associação dos Moradores do Bairro, e eu ganhei. Fiquei realmente orgulhoso de mim mesmo. Então eu acabei conhecendo Isabel, e eu fui para a cama com ela uma noite, me sentindo ousado de verdade, realmente o grande cara, o intelectual emancipado."
Eu o encarava, sem piscar ou dizer uma palavra.
"Como você sabe, o sexo é ótimo, o melhor. Eu estava em servidão a ela, não conseguia ter o suficiente. A prática do meu trabalho sofreu. Eu comecei a ver os clientes apenas na parte da tarde, porque eu não conseguia me levantar de manhã. Eu não conseguia cumprir audiências no tribunal pela manhã. Eu não podia deixar Isabel depois de escurecer."
Isto soava como um conto de alcoólatra, para mim. Hugo tinha se tornado um viciado em sexo vampírico. Achei a idéia fascinante e repugnante.
"Eu comecei a fazer pequenos trabalhos ela encontrava para mim. Este mês passado, eu ficava indo lá e fazendo todas as tarefas domésticas, só para que eu pudesse ficar perto de Isabel. Quando ela me pediu para trazer a tigela de água para a sala de jantar, fiquei animado. Não por fazer essa tarefa tão inferior – Eu sou um advogado, pelo amor de Deus! Mas porque a Sociedade tinha me chamado, me perguntando se eu poderia dar-lhes qualquer perspectiva do que os vampiros de Dallas pretendiam fazer. Na época que chamaram, eu estava bravo com Isabel. Nós tínhamos tido uma briga por causa da maneira como ela me tratava. Então eu estava aberto a ouví-los. Eu tinha escutado o seu nome passando entre Stan e Isabel, então eu o passei para a Sociedade. Eles têm um cara que trabalha para a Anubis Air. Ele descobriu quando o avião do Bill estava chegando, e eles tentaram agarrá-la no aeroporto para que pudessem descobrir o que os vampiros queriam com você. O que eles fariam para ter você de volta. Quando eu entrei com a tigela de água, ouvi Stan ou Bill chamá-la pelo nome, então eu sabia que eles tinham perdido você no aeroporto. Eu senti como se eu tivesse alguma coisa a dizer a eles, para compensar a perda da escuta que eu coloquei na sala de conferências."
"Você traiu Isabel," eu disse. "E você me traiu, embora eu seja humana, como você."
"Sim," disse ele. Ele não me olhava nos olhos.
"E quanto a Bethany Rogers?"
"A garçonete?"
Ele estava se esquivando. "A garçonete morta," eu disse.
"Eles a levaram," disse ele, agitando a cabeça de lado a lado, como se ele estivesse na verdade dizendo: Não, eles não poderiam ter feito o que fizeram. "Eles a levaram, e eu não sabia o que eles iam fazer. Eu sabia que ela era a única pessoa que tinha visto Farrell com Godfrey, e eu disse isso a eles. Quando eu acordei hoje e ouvi que ela tinha sido encontrada morta, eu simplesmente não podia acreditar."
"Eles a raptaram depois que você disse a eles que ela tinha estado na casa do Stan. Depois de você ter dito a eles que ela era a única verdadeira testemunha."
"Sim, eles devem ter feito assim."
"Você ligou pra eles na noite passada."
"Sim, eu tenho um telefone celular. Eu saí para o quintal e liguei. Eu estava realmente me arriscando, porque você sabe o quão bem os vampiros podem ouvir, mas eu liguei." Ele estava tentando convencer a si mesmo de que tinha sido uma coisa corajosa, ousada de se fazer. Fazer uma ligação do quartel general dos vampiros para por o dedo na ferida da pobre, patética Bethany, que acabou levando um tiro em um beco.
"Ela foi baleada depois que você a traiu."
"Sim, eu... Eu ouvi isso no jornal."
"Adivinha quem fez isso, Hugo."
"Eu... Simplesmente não sei."
"Claro que sabe, Hugo. Ela foi uma testemunha ocular. E ela foi uma lição, uma lição para os vampiros: ‘Isto é o que faremos com as pessoas que trabalham para vocês ou ganham a vida a partir de vocês, se eles forem contra a Sociedade.’ O que você acha que eles vão fazer com você, Hugo?"
"Eu os estava ajudando," disse ele, surpreso.
"Quem mais sabe disso?"
"Ninguém."
"Então, quem iria morrer? O advogado que ajudou Stan Davis a viver onde ele queria."
Hugo ficou sem fala.
"Se você é tão extremamente importante para eles, como é que você está aqui nessa sala comigo?"
"Porque até agora, você não sabia o que eu tinha feito," ele salientou. "Até agora, era possível que você me desse outra informação que pudesse usar contra eles."
"Então, agora, agora que eu sei o que você é, eles deixarão você sair. Certo? Por que você não tenta isso para ver? Eu preferia ficar sozinha."
Bem nesse momento uma pequena abertura na porta abriu. Eu não tinha sequer percebido aquilo ali, estando tão preocupada enquanto eu estava fora no corredor. Um rosto apareceu na abertura, que media talvez vinte e cinco por vinte e cinco centímetros.
Era um rosto familiar. Gabe, sorrindo. "Como estão indo aí, vocês dois?"
"Sookie precisa de um médico," disse Hugo. "Ela não está reclamando, mas eu acho que sua maça do rosto está quebrada." Ele soou reprovador. "E ela sabe sobre a minha aliança com a Sociedade, então você poderia muito bem me deixar sair."
Eu não sabia o que Hugo pensava que estava fazendo, mas eu tentei parecer tão espancada quanto possível. Isso foi bastante fácil.
"Tenho uma ideia," disse Gabe. "Eu já fiquei meio que entediado aqui embaixo, e eu não espero que Steve ou Sarah – ou até a velha Polly - voltem para cá em breve. Temos um outro prisioneiro por aqui, Hugo, que poderia ficar feliz em ver você. Farrell? Você o conheceu lá no quartel general dos diabólicos?"
"Sim," disse Hugo. Ele parecia muito descontente com esta reviravolta na conversa.
"Você sabe o quanto Farrell vai apreciar você? E ele é gay, também, uma bicha sugadora de sangue. Estamos tão fundo no subterrâneo que ele tem acordado cedo. Então eu pensei que eu poderia simplesmente colocar você lá dentro com ele, enquanto eu me divirto um pouco com a traidora fêmea, aqui." E Gabe sorriu para mim de uma forma que fez o meu estômago embrulhar.
A cara de Hugo estava uma careta. Uma verdadeira careta. Várias coisas passaram pela minha mente, coisas pertinentes para dizer. Eu abri mão do prazer duvidoso. Eu precisava poupar a minha energia.
Um dos ditados preferidos da minha avó estalou em minha mente irresistivelmente enquanto eu olhava para o rosto bonitão de Gabe. "Bonitinho mas ordinário*", eu murmurei, e começei o doloroso processo de ficar de pé para me defender. Minhas pernas podem não estar quebradas, mas o meu joelho esquerdo certamente não estava em boa forma. Já estava muito manchado e inchado.
(*No original é Pretty is as pretty does, que quer dizer que não se deve julgar a pessoa pela aparência e sim pelo comportamento, achei que assim ficou menos formal)
Eu imaginava se Hugo e eu poderíamos derrubar o Gabe juntos quando ele abrisse a porta, mas logo que ela balançou para fora, e vi que ele havia se armado com uma pistola e um objeto preto de aspecto ameaçador, que eu decidi que poderia ser uma arma imobilizadora.
"Farrell!" Eu chamei. Se ele estivesse acordado, ele ia me ouvir; ele era um vampiro.
Gabe deu um pulo, olhando para mim com suspeita.
"Sim?" uma voz profunda vinda do quarto mais longe descendo o corredor. Ouvi sons de correntes enquanto o vampiro se movia. Claro, eles tinham que acorrentá-lo com prata. Caso contrário ele poderia arrancar a porta das dobradiças.
"Stan nos enviou!" eu gritei e em seguida Gabe me atingiu com as costas da mão que segurava a arma. Já que estava contra a parede, minha cabeça ricocheteou nela. Eu fiz um barulho horrível, não exatamente um grito mas muito alto para um lamento.
"Cala a boca, cadela!" Gabe gritava. Ele estava apontando a arma para Hugo e tinha a arma imobilizadora no ponto a poucos centímetros de mim. "Agora, Advogado, saia para o corredor. Mantenha-se afastado de mim, você ouviu?"
Hugo, com suor escorrendo pelo seu rosto, avançou lentamente passando por Gabe em direção ao corredor. Eu estava dando um duro danado para rastrear o que estava acontecendo, mas eu reparei que no espaço estreito que Gabe teve de manobrar, ele chegou muito perto de Hugo a caminho para abrir a cela de Farrell. Exatamente quando eu achei que ele tinha descido o corredor o suficiente para que eu escapasse, ele disse ao Hugo para fechar a porta da minha cela, e embora eu sacudisse freneticamente a minha cabeça para Hugo, ele o fez.
Eu não acho que Hugo sequer me viu. Ele estava completamente voltado para seu íntimo. Tudo dentro dele estava desmoronando, seus pensamentos estavam num caos. Eu tinha feito o meu melhor por ele dizendo a Farrell que fomos enviados por Stan, o que no caso de Hugo foi desenvolvido consideravelmente, mas Hugo estva muito assustado ou desiludido ou envergonhado para mostrar alguma determinação. Considerando a sua profunda traição, fiquei muito surpresa de ter me incomodado. Se eu não tivesse segurado a mão dele e visto as imagens de seus filhos, eu não teria.
"Não tem nada para você, Hugo," eu disse. Seu rosto reapareceu na janela ainda aberta momentaneamente, sua cara branca com aflições de todos os tipos, mas depois ele desapareceu. Ouvi uma porta abrindo, eu ouvi o tinir das correntes, e eu ouvi uma porta fechando.
Gabe tinha forçado Hugo a entrar na cela de Farrell. Eu tomei um profundo fôlego, um após o outro, até eu sentir que podia hiperventilar. Eu peguei uma das cadeiras, uma de plástico com quatro pernas de metal, do tipo que você sentou milhões de vezes nas igrejas e nas reuniões e salas de aula. A segurei no estilo domador-de-leão, com as pernas viradas para fora. Era tudo que eu poderia pensar em fazer. Pensei em Bill, mas era muito doloroso. Pensei em meu irmão, Jason, e desejei que ele estivesse lá comigo. Fazia muito tempo que eu não tinha essa vontade quanto a Jason.
A porta abriu-se. Gabe já estava sorrindo enquanto foi entrando. Era um sorriso sórdido, deixando toda a feiúra escoar de sua alma através de sua boca e olhos. Esta realmente era a idéia dele de diversão.
"Você acha que essa pequena cadeira irá mantê-la segura?" ele perguntou.
Eu não estava com disposição para conversar, e eu não quis ouvir as serpentes em sua mente. Eu me mantive fechada, contendo a mim mesma apertadamente, amarrando a mim mesma.
Ele segurou a pistola, mas manteve a arma imobilizadora em sua mão. Agora, tal era a sua confiança, ele a colocou em uma pequena bolsa de couro em seu cinto, do lado esquerdo. Ele apoderou-se das pernas das cadeiras e começou a sacudi-las de lado a lado.
Eu ataquei.
Eu quase o fiz sair pela porta, de tão inesperado que foi o meu forte contra-ataque, mas no último instante ele conseguiu virar as pernas lateralmente, de forma que elas não poderiam passar através da porta estreita. Ele ficou contra a parede do outro lado do corredor, arquejando, seu rosto vermelho.
"Puta," ele sibilou, e veio pra cima de mim novamente, e desta vez ele tentou puxar a cadeira para fora de minhas mãos completamente. Mas como eu disse antes, eu tomei sangue vampiro, e eu não o deixei pegá-la. E eu não deixei ele me pegar.
Sem eu ver, ele esticou a arma imobilizadora e, rápido como uma serpente, ele me alcançou sobre a cadeira e tocou a arma em meu ombro.
Eu não sofri um colapso, o que ele esperava, mas caí de joelhos, ainda segurando a cadeira. Enquanto eu ainda estava tentando descobrir o que havia acontecido comigo, ele arrancou a cadeira das minhas mãos, e me deu um golpe por trás.
Eu quase não podia me mover, mas eu poderia gritar e manter minhas pernas fechadas, e eu o fiz.
"Cala a boca!" ele gritou, e já que ele estava me tocando, eu tive a certeza de que ele realmente me queria inconsciente, ele iria gostar de me estuprar enquanto eu estivesse inconsciente; na verdade, isso era ideal para ele.
"Não gosta de mulheres acordadas," eu ofeguei, "não é?" Ele enfiou uma mão entre nós e puxou com força abrindo minha blusa.
Eu ouvi a voz de Hugo, gritando, como se isso fosse fazer algum bem. Mordi o ombro de Gabe.
Ele me chamou de puta novamente, o que estava ficando ultrapassado. Ele abriu suas próprias calças, agora ele estava tentando levantar a minha saia. Fiquei feliz instantaneamente por ter comprado uma longa.
"Você tem medo que elas reclamem, se estiverem acordadas?" Eu gritei. "Deixe-me ir, saia de cima de mim! Sai, sai, sai!" Finalmente, eu afastei meus braços. Em um momento, eles tinham se recuperado o suficiente da descarga elétrica para funcionarem. Eu coloquei minhas mãos em conchas. Enquanto eu gritava com ele, eu batia minhas mãos sobre seus ouvidos.
Ele urrou, e se ergueu para trás, colocando suas próprias mãos na sua cabeça. Ele estava tão cheio de raiva que isso fluía dele e desaguava em mim; era como tomar um banho de fúria. Então eu soube que ele ia me matar se pudesse, não importava quais represálias ele tivesse que enfrentar. Eu tentei rolar para um lado, mas ele tinha me fixado com suas pernas. Vi assim que sua mão direita formou um punho, que parecia tão grande quanto um pedregulho para mim. E com uma sensação de sentença, eu assisti o arco do punho que descia para o meu rosto, sabendo que esse iria me nocautear e estaria tudo acabado...
E isso não aconteceu.
O punho de Gabe passou, as calças abertas e com o pênis para fora, o seu soco atingiu o ar, seus sapatos chutando as minhas pernas.
Um homem baixo estava segurando Gabe para cima; não um homem, eu percebi com um segundo olhar, um adolescente. Um adolescente antigo.
Ele era loiro e estava sem camisa, e seus braços e tórax eram cobertos com tatuagens azuis. Gabe estava gritando e batendo, mas o menino continuou com serenidade, seu rosto inexpressivo, até Gabe acabar. No momento em que Gabe calou-se, o menino trocou a suspensão de Gabe por uma espécie de abraço de urso pela cintura, e Gabe ficou pendurado para frente.
O menino baixou os olhos para mim imparcialmente. A minha blusa estava aberta rasgada, e o meu sutiã se rompeu ao meio.
"Você está muito ferida?" o garoto perguntou, quase relutantemente.
Eu tinha um salvador, mas não um muito entusiasmado.
Eu me levantei, o que foi uma proeza maior do que parece. Levei um bom tempo nisso. Estava tremendo violentamente por causa do choque emocional. Quando eu fiquei de pé, eu estava no nível do olhar do garoto. Em idade humana, ele teria cerca de dezesseis anos quando ele foi transformado em vampiro. Não tinha como dizer há quantos anos isso tinha acontecido. Ele devia ser mais velho que Stan, mais que Isabel. Seu inglês era distinto, mas com forte sotaque. Não tinha idéia de que tipo de sotaque era. Talvez o seu idioma original nem sequer ainda fosse falado. Que sentimento solitário deveria ser.
"Eu vou remendar," eu disse. "Obrigada." Eu tentei reabotoar minha blusa - havia poucos botões sobrando - mas minhas mãos estavam tremendo demais. Ele não estava interessado em ver a minha pele, de qualquer maneira. Ela não fazia diferença para ele. Seus olhos estavam muito frios.
"Godfrey," disse Gabe. Sua voz estava esganiçada. "Godfrey, ela estava tentando fugir."
Godfrey sacudiu ele, e Gabe calou-se.
Então, Godfrey era o vampiro que eu tinha visto através dos olhos Bethany - os únicos olhos que podiam se lembrar de tê-lo visto no Asa de Morcego naquela noite. Os olhos que já não estavam vendo nada.
"O que você pretende fazer?" Perguntei a ele, mantendo a minha voz tranqüila e regular.
Os olhos azuis pálidos de Godfrey pestanejavam. Ele não sabia.
Ele fez as tatuagens enquanto ele estava vivo, e elas eram muito estranhas, símbolos cujo significado foi perdido há séculos, eu estava disposta a apostar. Provavelmente algum estudioso daria o seu canino superior para dar uma olhada nessas tatuagens. Sorte minha, eu as estava vendo de graça.
"Por favor, me deixe sair," eu disse com tanta dignidade quanto eu consegui reunir. "Eles vão me matar."
"Mas você tem ligações com vampiros," disse ele.
Meus olhos se lançavam de um lado para o outro, enquanto eu tentava entender essa.
"Ah," eu disse hesitante. "Você é um vampiro, não é?"
"Amanhã eu repararei o meu pecado publicamente," disse Godfrey. "Amanhã irei cumprimentar o amanhecer. Pela primeira vez em mil anos, verei o sol. Então eu irei ver o rosto de Deus."
Certo. "Você escolheu," eu disse.
"Sim."
"Mas eu não. Eu não quero morrer." Eu dispensei um olhar para a cara de Gabe, que estava bastante azul. Em sua agitação, Godfrey estava espremendo Gabe muito mais apertado do que deveria. Me perguntei se eu deveria dizer alguma coisa.
"Você está ligada mesmo aos vampiros," Godfrey acusou, e eu voltei a olhar fixamente para seu rosto. Eu sabia que era melhor não deixar minha concentração perambular novamente.
"Estou apaixonada," eu disse.
"Por um vampiro."
"Sim. Bill Compton."
"Todos os vampiros são amaldiçoados, e todos deveriam encontrar o sol. Nós somos uma mácula, uma mancha na face da terra."
"E estas pessoas" - apontei para cima para indicar que me referia a Sociedade - "estas pessoas são melhores, Godfrey?"
O vampiro parecia desconfortável e infeliz. Ele estava faminto, eu notei; suas bochechas estavam quase côncavas, e elas estavam tão brancas como papel. Seus cabelos loiros quase flutuavam sobre sua cabeça, estavam tão elétricos, e seus olhos pareciam mármores azuis contra a sua palidez. "Eles, pelo menos, são humanos, parte do plano de Deus," disse ele discretamente. "Os vampiros são uma abominação."
"Ainda assim você foi melhor para mim do que este humano." Que estava morto, eu percebi, enquanto lancei um olhar em seu rosto. Tentei não hesitar, e voltei o foco para Godfrey, que era muito mais importante para o meu futuro.
"Mas tiramos o sangue dos inocentes." Os olhos azuis pálidos de Godfrey fixos nos meus.
"Quem é inocente?" Eu perguntei retoricamente, esperando que eu não soasse muito como Pôncio Pilatos perguntando: O que é verdade? quando ele sabia muito bem.
"Bem, as crianças," disse Godfrey.
"Ah, você... se alimentou de crianças?" Eu coloquei minha mão sobre minha boca.
"Eu matei crianças."
Eu não pude pensar em algo para dizer por um bom tempo. Godfrey continuou alí, olhando para mim tristemente, segurando o corpo de Gabe em seus braços, esquecido.
"O que parou você?" Perguntei.
"Nada vai me parar. Nada além da minha morte."
"Eu sinto muito mesmo," eu disse inadequadamente. Ele estava sofrendo, e fiquei realmente triste por isso. Mas se ele fosse humano, eu diria que ele merecia ir para a cadeira elétrica sem pensar duas vezes.
"Quanto falta para anoitecer?" Eu perguntei, não sabendo o que dizer.
Godfrey não tinha relógio, claro. Presumi que ele estava de pé apenas porque estava no subsolo e porque ele era muito velho. Godfrey disse: "Uma hora."
"Por favor, deixe-me ir. Se você me ajudar, eu posso sair daqui."
"Mas você vai dizer aos vampiros. Eles vão atacar. Vou ser impedido de encontrar o amanhecer."
"Por que esperar até de manhã?" Eu perguntei, subitamente irritada. "Caminhe lá para fora. Faça isso agora."
Ele ficou estupefato. Ele deixou Gabe cair, que aterrisou com um baque. Godfrey nem sequer lhe dispensou um olhar. "A cerimônia está prevista para a madrugada, com muitos crentes ali para testemunhar isso," explicou. "Farrell também será trazido para enfrentar o sol."
"Qual é a minha parte nesse jogo?"
Ele deu de ombros. "Sarah queria ver se os vampiros trocariam um deles por você. Steve tinha outros planos. Sua idéia era flagelar você junto a Farrell, assim quando ele quimasse, você queimaria com ele."
Fiquei espantada. Não que Steve Newlin tenha tido essa idéia, mas que ele pensasse que isso seria um atrativo para sua congregação, porque isso é o que eles eram. Newlin estava ultrapassando os limites além do que eu sequer tinha adivinhado. "E você acha que um monte de gente se divertiria vendo isso, uma jovem mulher executada sem qualquer tipo de julgamento? Que eles iriam pensar que era uma cerimônia religiosa válida? Você acha que as pessoas que planejaram esta morte terrível para mim são verdadeiramente religiosas?"
Pela primeira vez, ele parecia ter uma sombra de dúvida. "Mesmo para os humanos, isso parece um pouco extremo," ele concordou. "Mas Steve pensou que isso seria uma poderosa declaração."
"Bem, claro que seria uma poderosa declaração. Ela diria: ‘Eu sou louco.’ Eu sei que este mundo é cheio de gente ruim e vampiros maus, mas eu não acredito que a maioria das pessoas neste país, ou neste caso simplesmente aqui no Texas, seriam edificadas pela visão de uma mulher gritando queimando até a morte."
Godfrey parecia duvidoso. Eu podia ver que eu estava expressando pensamentos que já tinham ocorrido a ele, pensamentos em que ele negava a si mesmo que estava se divertindo. "Eles chamaram a mídia," afirmou. Isto era como o protesto de uma noiva designada a casar com um noivo que de repente ela duvidava. Mas os convites já tinham sido enviados, Mãe.
"Tenho certeza de que chamaram. Mas isso vai ser o fim da organização deles, posso te dizer francamente. Repito, se você realmente quer fazer uma declaração dessa maneira, um grande 'Sinto Muito,' então saia dessa igreja agora e repouse sobre o gramado. Deus estará assistindo, eu lhe prometo. É com isso que você deve se importar."
Ele lutou com isso; devo reconhecer.
"Eles têm um manto branco especial para eu vestir," disse ele. (Mas eu já comprei o vestido e reservei a igreja.)
"Grande merda. Se estamos discutindo roupas, você realmente não quer fazer isso. Aposto que você vai amarelar na hora."
Eu tinha definitivamente perdido de vista o meu objetivo. Quando as palavras saíram da minha boca, eu me arrependi delas.
"Você vai ver," eledisse firmemente.
"Eu não quero ver, se eu vou estar amarrada a Farrell no momento. Eu não sou malvada, e eu não quero morrer."
"Quando foi a última vez que esteve na igreja?" Ele estava me lançando um desafio.
"Há uma semana. E eu fiz a Comunhão, também." Eu nunca fui tão feliz de ser uma freqüentadora da igreja, porque eu não poderia ter mentido sobre isso.
"Ah." Godfrey parecia peplexo.
"Tá vendo?" Senti que estava roubando dele toda sua majestade ofendida com este argumento, mas droga, eu não queria morrer queimada. Eu queria Bill, queria ele com uma saudade tão intensa que eu esperava que ele pulasse do seu caixão. Se eu pudesse ao menos dizer a ele o que estava acontecendo... "Vamos lá," disse Godfrey, estendendo a sua mão.
Eu não quis dar a ele uma chance de repensar a sua posição, não depois de todo esse balé, por isso peguei a mão dele passando por cima de Gabe que estava de bruços, indo para o corredor. Havia uma abominável falta de conversa entre Farrell e Hugo, e para dizer a verdade, eu estava muito assustada para gritar algo para descobrir o que estava acontecendo com eles. Eu pensei que se eu pudesse sair daqui, eu poderia salvá-los simultaneamente, de qualquer maneira.
Godfrey inalou o sangue sobre mim, e seu rosto foi varrido pelo desejo. Eu conhecia esse olhar. Mas era desprovido de luxúria. Ele não se importava nem pouco com meu corpo. A ligação entre sangue e sexo é muito forte para todos os vampiros, assim eu me considerei com sorte que eu era definitivamente madura e em forma. Eu inclinei o meu rosto para ele por gentileza. Depois de uma longa hesitação, ele lambeu o pingo de sangue que saía do corte na minha maça do rosto. Ele fechou seus olhos por um segundo, saboreando o gosto, e então nós começamos a subir as escadas.
Com uma grande dose de ajuda de Godfrey, eu voei pelos degraus. Ele usou seu braço livre, para socar a combinação de batidas na porta, e abriu-a. "Eu estava aqui embaixo, na sala no final do corredor," ele explicou, numa voz que parecia um pouco mais que uma perturbação do ar.
O corredor estava limpo, mas a qualquer segundo alguém poderia sair de um dos escritórios. Godfrey não parecia ter medo disso de jeito nenhum, mas eu tinha, e eu era aquela cuja liberdade estava em jogo. Não ouvi nenhuma voz; aparentemente o pessoal tinha ido para casa para se preparar para a cerimônia fechada, e os convidados ainda não tinham começado a chegar. As portas de alguns dos escritórios estavam fechadas, e as janelas dos escritórios eram a única forma da luz do sol chegar ao corredor. Estava escuro o suficiente para Godfrey estar confortável, eu presumi, já que ele não tinha sequer estremecido. Havia muita luz artificial vindo por baixo da porta do escritório principal.
Estávamos apressados, ou pelo menos tentando ser, mas a minha perna esquerda não estava cooperando muito. Eu não sabia ao certo qual era a porta para onde Godfrey se dirigia, talvez para as portas duplas que eu tinha visto antes na parte de trás do santuário. Se eu pudesse chegar com segurança até elas, eu não teria de atravessar a outra ala. Eu não sabia o que ia fazer quando chegasse lá fora. Mas estar fora definitivamente seria bem melhor do que estar lá dentro. Justamente quando alcançamos a porta de entrada próxima ao último escritório à esquerda, aquele onde a pequena mulher hispânica tinha vindo, a porta do escritório de Steve abriu. Nós congelamos. O braço de Godfrey em volta de mim parecia uma faixa de ferro. Polly saiu de lá, ainda virada para a sala. Estávamos há apenas uns dois metros de distância.
"... fogueira," ela estava dizendo.
"Ah, eu acho que nós temos o suficiente," disse a voz doce de Sarah. "Se todos respondessem seus cartões de presença, saberíamos ao certo. Eu não posso acreditar o quanto as pessoas são ruins em confirmar presença. É tão sem consideração, depois que fizemos tudo para facilitar o máximo possível para eles nos dizerem se estariam ou não aqui!"
Uma discussão sobre etiqueta. Deus, eu queria que a Senhorita Boas Maneiras estivesse aqui para me dar conselhos sobre essa situação. Eu era uma hóspede indesejada de uma pequena igreja, e eu fui embora sem dizer adeus. Eu sou obrigada a escrever um bilhete de agradecimento, ou posso simplesmente enviar flores?
Polly começou a girar a cabeça, e eu sabia que a qualquer momento ela nos veria. Mesmo que com a idéia formada, Godfrey empurrou-me para um escritório vazio escuro.
"Godfrey! O que você está fazendo aqui em cima?" Polly não soou assustada, mas ela não soou feliz, também. Era mais como se ela tivesse encontrado o jardineiro na sala de estar, se sentindo em casa.
"Eu vim para ver se há mais alguma coisa que eu precise fazer."
"Não é terrivelmente cedo para você estar acordado?"
"Eu sou muito velho," disse ele educadamente. "Os velhos não precisam dormir tanto quanto os jovens."
Polly riu. "Sarah," disse ela brilhantemente, "Godfrey está acordado!"
A voz de Sarah soou mais próxima, quando ela falou. "Bem, olá, Godfrey!" disse ela, em um tom brilhante idêntico. "Você está animado? Aposto que está!"
Elas estavam conversando com um vampiro de mil anos como se fosse uma criança na véspera de seu aniversário.
"O seu manto está todo pronto," disse Sarah. "Tudo funcionando perfeitamente!"
"E se eu mudasse de idéia?" Godfrey perguntou.
Houve um longo silêncio. Eu tentei respirar muito devagar e silenciosamente. Quanto mais perto ficasse do anoitecer mais eu podia imaginar que tivesse uma chance de sair desta.
Se eu pudesse telefonar... Eu olhei sobre a mesa do escritório. Havia um telefone sobre ela. Mas os botões dos aparelhos nos escritórios não acenderiam, indicando essa linha, se eu utilizasse o telefone? Neste momento, isso faria muito barulho.
"Você mudou de idéia? Isso pode ser possível?" Polly perguntou. Ela estava claramente irritada. "Você veio até nós, se lembra? Você nos contou sobre a sua vida de pecado, e da vergonha que você sentiu quando você matou crianças e... fez outras coisas. Alguma destas coisas mudou?"
"Não," disse Godfrey, soando mais pensativo do que qualquer outra coisa. "Nada disto mudou. Mas não vejo qualquer necessidade de incluir algum humano no meu sacrifício. Na verdade, acredito que Farrell deve ser deixado para fazer sua própria paz com Deus. Não deveríamos forçá-lo ao sacrifício."
"Precisamos trazer Steve de volta para cá," disse Polly para Sarah em um tom suave.
Depois disso, só ouvi a Polly, então eu presumi que Sarah voltou para o escritório para ligar para Steve.
Uma das luzes do telefone acendeu. Sim, isso era o que ela estava fazendo. Ela saberia se eu tentasse usar uma das outras linhas. Talvez em um minuto.
Polly estava tentando considerar docemente com Godfrey. Godfrey não estava falando muito, ele mesmo, e eu não fazia ideia do que se passava pela cabeça dele. Eu continuei indefesa, pressionada contra a parede, esperando que ninguém entrasse no escritório, esperando que ninguém fosse lá embaixo e desse o alarme, esperando que Godfrey não tivesse ainda uma outra mudança de sentimento.
Socorro, eu disse na minha mente. Se eu pudesse simplesmente pedir ajuda dessa maneira, através do meu outro sentido!
A centelha de uma ideia cruzou a minha mente. Tentei permanecer tranquila, embora as minhas pernas estivessem ainda em choque tremendo, e meu joelho e rosto machucados como as seis sombras do inferno. Talvez eu pudesse chamar alguém: Barry, o mensageiro do hotel. Ele era um telepata, como eu. Ele poderia ser capaz de me ouvir. Não que eu alguma vez tivesse tentado algo assim antes - bem, eu nunca conheci um outro telepata, não é? Eu tentei desesperadamente me localizar em relação ao Barry, supondo que ele estivesse no trabalho. Este era aproximadamente o mesmo horário que nós tínhamos chegado de Shreveport, então ele deveria estar. Eu imaginei a minha localização no mapa, que felizmente eu tinha dado uma olhada com Hugo - embora eu soubesse agora que ele estava apenas fingindo não saber onde era o Centro da Sociedade - e eu percebi que estávamos a sudoeste do Hotel Silent Shore.
Eu estava em um novo território mental. Eu reuni o que eu tinha de energia e tentei girá-la em uma bola, na minha mente. Por um segundo, me senti totalmente ridícula, mas quando eu pensava em ficar livre deste lugar e dessas pessoas, tinha muito pouco a ganhar em não ser ridícula. Pensei em Barry. É difícil fixar exatamente como eu fiz, mas eu projetei. Saber o seu nome ajudou, e saber a sua localização também.
Eu decidi começar devagar. Barry, Barry, Barry, Barry...
O que você quer? Ele entrou absolutamente em pânico. Isto nunca tinha acontecido com ele antes.
Nunca tinha feito isto também. Eu esperava estar reassegurando. Eu preciso de ajuda. Estou em apuros.
Quem é você?
Bem, isso iria ajudar. Burra. Eu sou Sookie, a loira que chegou na noite passada com o vampiro de cabelos castanhos. Da suíte do terceiro andar.
Aquela dos peitões? Ah, desculpe.
Pelo menos ele se desculpou. Sim. Aquela dos peitões. E o namorado.
Então, qual é o problema?
Agora, tudo isso soa muito claro e organizado, mas não eram palavras. Era como se estivéssemos enviando telegramas emocionais e fotos um ao outro.
Tentei pensar como explicar a minha situação difícil. Vá até meu vampiro assim que ele acordar.
E então?
Diga-lhe que estou em perigo. Perigoperigoperigo...
Ok, peguei a ideia. Onde?
Igreja. Eu imaginei que teria que taquigrafar o Centro da Sociedade. Eu não conseguia pensar em como transmitir isso ao Barry.
Ele sabe onde?
Ele sabe onde. Diga a ele que desça as escadas.
Você é de verdade? Eu não sabia que havia mais ninguém...
Eu sou de verdade. Por favor, me ajude.
Eu podia sentir um complicado conjunto de emoções correndo pela mente de Barry. Ele estava com medo de falar com um vampiro, ele estava assustado que seus patrões descobrissem que ele tinha uma "coisa estranha no cérebro", ele estava simplesmente animado que havia alguém como ele. Mas ele estava com medo principalmente desta parte dele que o intrigou e assustou durante tanto tempo.
Eu conhecia todos esses sentimentos. Está tudo bem, eu entendo, eu disse a ele. Eu não pediria isso se não estivesse à beira de ser assassinada.
O medo o surpreendeu novamente, o medo da sua própria responsabilidade nisso. Eu nunca deveria ter acrescentado essa parte.
E então, de alguma maneira, ele ergueu uma barreira superficial entre nós, e eu não tinha certeza do que Barry iria fazer.
***
Enquanto eu estava me concentrando em Barry, as coisas tinham ficado bem movimentadas lá no corredor. Quando eu comecei a ouvir novamente, Steve tinha retornado. Ele, também, estava tentando ser razoável e positivo com Godfrey.
"Agora, Godfrey," ele dizia, "se você não queria fazer isso, tudo o que tinha que fazer era falar. Você se comprometeu com isso, todos nós o fizemos, e nós levamos adiante confiantes na expectativa de que você iria manter a sua palavra. Muitas pessoas vão ficar muito desapontadas se você deixar o seu compromisso com a cerimônia."
"O que você vai fazer com Farrell? Com o humano Hugo, e a mulher loira?"
"Farrell é um vampiro," declarou Steve, ainda com a doce voz da razão. "Hugo e a mulher são criaturas dos vampiros. Eles devem ir para o sol, também, amarrados a um vampiro. Esse foi o grupo que escolheram em suas vidas, e esse deve ser seu grupo na morte."
"Eu sou um pecador, e sei disso, então quando eu morrer minha alma vai para Deus," disse Godfrey. "Mas Farrell não sabe disto. Quando ele morrer, ele não terá uma chance. O homem e a mulher, também, não tiveram uma chance de arrepender-se de seus atos. Será justo matá-los e condená-los ao inferno?"
"Precisamos ir ao meu escritório," disse Steve decisivamente.
Então eu percebi, finalmente, que isso era o que Godfrey tinha a intenção de fazer o tempo todo. Tinha uma certa quantidade de pés se arrastando, e eu ouvi Godfrey murmurando, "Depois de você," com grande cortesia.
Ele queria ser o último para que assim pudesse fechar a porta atrás dele.
Meu cabelo finalmente parecia seco, livre da peruca que o tinha encharcado em suor. Ele estava solto caindo pelos meus ombros em cachos separados, porque fiquei enrolando-os silenciosamente durante a conversa. Parecia uma coisa bem casual a fazer, enquanto ouvia o meu destino sendo resolvido, mas eu tinha que me manter ocupado. Agora eu cuidadosamente arrumei as mechas, corri os dedos pelo meio do emaranhado, e me preparei para me esgueirar para fora da igreja.
Eu espiei com cautela pelo vão da porta. Sim, a porta de Steve estava fechada. Eu saí na ponta dos pés do escritório escuro, peguei a esquerda, e continuei pela porta que levava até o santuário. Virei a maçaneta bem discretamente e ela abriu fácil. Eu entrei no santuário, que estava muito escuro. Havia luz suficiente vinda dos enormes vitrais nas janelas para me ajudar a descer pela nave da igreja sem cair sobre os bancos.
Então eu ouvi vozes, ficando mais altas, vindo da ala mais distante. As luzes do santuário foram ligadas. Eu me meti em uma fileira e rolei para debaixo do banco da igreja. Uma família entrou em grupo, todos falando alto, a menininha choramingando por ter que perder algum show favorito na televisão porque tinha que vir para a velha e fedida cerimônia fechada.
Isso rendeu a ela um tapa no traseiro, ou pareceu isso, e seu pai lhe disse que ela tinha sorte de estar indo ver essa prova tão incrível do poder de Deus. Ela estava indo ver a salvação em ação.
Mesmo sob as circunstâncias, eu discordava disso. Eu me perguntava se esse pai realmente entendeu que seu líder planejou que a congregação assistisse dois vampiros queimarem até a morte, pelo menos um deles com um humano agarrado que também se queimará. Imaginei o que aconteceria com a saúde mental da menina depois da "incrível prova do poder de Deus."
Para meu horror, eles prosseguiram com o posicionamento dos seus sacos de dormir contra uma parede do outro lado do santuário, ainda falando. Pelo menos esta era uma família que se comunicava. Além da menininha reclamona, tinha dois filhos mais velhos, um rapaz e uma garota, e como verdadeiros irmãos brigavam como gatos e cachorros.
Um par de pequenas sapatilhas vermelhas percorreu até o final do meu banco de igreja e desapareceu através da porta da ala de Steve. Me perguntava se o grupo em seu gabinete ainda estava discutindo.
Os pés iam passando novamente após alguns segundos, desta vez muito rápido. Me perguntava sobre isso, também.
Esperei cerca de cinco minutos a mais, porém nada mais aconteceu.
De agora em diante, haveria mais gente chegando. Era agora ou nunca. Eu rolei para fora do banco e me levantei. Para minha sorte, eles estavam todos olhando para baixo para sua tarefa quando me levantei, e eu comecei a andar rapidamente em direção às portas duplas no fundo da igreja. Por seu súbito silêncio, eu sabia que eles tinham me localizado.
"Oi!" chamou a mãe. Ela se levantou ao lado do seu saco de dormir azul brilhante. Seu rosto claro estava cheio de curiosidade. "Você deve ser nova na Sociedade. Eu sou Francie Polk."
"Sim," eu respondi, tentando soar alegre. "Estou com pressa! Falo com você mais tarde!"
Ela se aproximou. "Você se machucou?" ela perguntou. "Você - me desculpe - você está horrível. Isso é sangue?"
Eu dei uma olhada em minha blusa. Tinha algumas pequenas manchas no meu peito.
"Eu levei uma queda," disse, tentando parecer chateada. "Eu preciso ir para casa e fazer um pouco de primeiros socorros, trocar minhas roupas, coisas assim. Eu volto!"
Eu podia ver a dúvida no rosto de Francie Polk. "Há um estojo de primeiros socorros no escritório, por que não corro até lá e pego ele?" ela perguntou.
Porque eu não quero que você vá. "Você sabe, eu preciso buscar uma blusa limpa, também," eu disse. Eu enruguei meu nariz para mostrar a minha opinião contrária a andar com uma blusa manchada a noite toda.
Outra mulher tinha chegado bem na porta pela qual eu tinha esperanças de sair, e ficou ouvindo a conversa, seus olhos escuros se lançando para frente e para trás, de mim para a determinada Francie.
"Ei, garota!" ela disse com um sotaque levemente acentuado, e a pequena mulher hispânica, a Metamorfa, me deu um abraço. Venho de uma cultura de abraços, e foi automático abraçá-la de volta na mesma hora. Ela me deu um beliscão significativo enquanto nós estávamos abraçadas.
"Como vai você?" Perguntei de modo perspicaz. "Já faz muito tempo."
"Oh, você sabe, a velha história de sempre," disse ela. Ela sorriu alegremente para mim, mas havia cautela em seus olhos. Seu cabelo era castanho bem escuro, ao invés de preto, e era grosso e abundante. Sua pele era da cor de um caramelo leitoso, e ela tinha sardas escuras. Os lábios generosos estavam pintados com um fúcsia extraordinário. Ela tinha grandes dentes brancos, piscando para mim em seu sorriso largo. Eu olhei para baixo em seus pés. Sapatilhas vermelhas.
"Ei, vamos lá fora comigo, enquanto eu fumo um cigarro," disse ela.
Francie Polk estava parecendo mais satisfeita.
"Luna, você não está vendo que sua amiga precisa ir ao médico?" ela disse honestamente.
"Você tem mesmo alguns inchaços e machucados," afirmou Luna, me examinando. "Você já caiu de novo, menina?"
"Você sabe que a mamãe sempre me diz, 'Marigold, você é tão desajeitada quanto um elefante.'"
"Essa sua mãe," disse Luna, sacudindo a cabeça em desgosto. "Como se isso fizesse você menos desastrada!"
"O que posso fazer?" Eu disse, dando de ombros. "Se você nos der licença, Francie?"
"Bem, claro," disse ela. "Vou vê-la mais tarde, eu acho."
"Com certeza vai," afirmou Luna. "Eu não perderia isso por nada."
E com a Luna, eu dei um passeio para fora do salão de renião da Sociedade do Sol. Eu estava ferozmente concentrada em manter a minha marcha constante, assim Francie não iria me ver mancar e ficar ainda mais desconfiada.
"Graças a Deus," eu disse, quando nós estávamos fora.
"Você me reconheceu pelo que eu era," disse ela rapidamente. "Como você sabia?"
"Tenho um amigo que é um Metamorfo."
"Quem é ele?"
"Ele não é daqui. E eu não vou te dizer sem o consentimento dele."
Ela me encarou, toda simulação de amizade caiu nesse instante.
"Ok, eu respeito isso," disse ela. "Por que você está aqui?"
"O você tem com isso?"
"Eu simplesmente tirei o seu da reta."
Ela tinha um ponto, um bom ponto. "Certo. Sou uma telepata, e fui contratada pelo líder vampiro da sua área para descobrir o que foi feito de um vampiro desaparecido."
"Assim está melhor. Mas ele não é líder da minha área. Eu sou um sobre*, mas não sou nenhum vampiro esquisito. Com qual vampiro você tem acordo?"
"Eu não preciso de lhe dizer isso."
Ela levantou suas sobrancelhas.
"Não vou."
Ela abriu a boca como se fosse gritar.
"Pode gritar. Há algumas coisas que eu simplesmente não vou dizer. O que é um sobre?"
(*no original supe, abreviatura de supernatural)
"Um ser sobrenatural. Agora, escute aqui," disse Luna. Nós estávamos andando pelo estacionamento agora, e carros começaram a passar regularmente pela estrada. Ela sorriu um monte de vezes e acenou, e eu tentei pelo menos parecer feliz. Mas não dava mais pra esconder que estava mancando, e meu rosto estava inchado como uma puta, como diria Arlene.
Meu Deus, eu estava com saudades de casa de repente. Mas empurrei essa sensação pra longe para prestar atenção em Luna, que claramente tinha coisas a me dizer.
"Você diga aos vampiros que nós mantemos este lugar sob vigilância-"
"Nós quem?"
"Nós os metamorfos da maior parte de Dallas."
"Vocês são organizados? Ei, isso é ótimo! Eu tenho que contar ao... meu amigo."
Ela rolou seus olhos, claramente não se impressionando com meu intelecto. "Escuta aqui, menina, você diz aos vampiros que assim que a Sociedade descobrir sobre nós, eles virão atrás de nós, também. E nós não vamos nos integrar. Nos ocultamos para sempre. Estúpidos vampiros esquisitos. Então nós estamos de olho na Sociedade."
"Se vocês estão tão de olho, como é que vocês não chamaram os vampiros e lhes disseram sobre Farrell estar no porão? E sobre Godfrey?"
"Ei, Godfrey quer se matar, não temos nada com isso. Ele procurou a Sociedade; eles não foram atrás dele. Eles quase mijaram nas calças, e ficaram tão felizes por tê-lo, depois que eles superaram o choque de sentar na mesma sala com um do condenados."
"E quanto a Farrell?"
"Eu não sabia quem estava lá embaixo," Luna admitiu. "Eu sabia que eles tinham capturado alguém, mas não estou exatamente na panelinha ainda, e não pude descobrir quem era. Eu até tentei bajular o idiota do Gabe, mas isso não ajudou."
"Você ficará contente em saber que Gabe está morto."
"Ei!" Ela sorriu genuinamente pela primeira vez. "Isto é uma boa notícia."
"Aqui está o resto. Assim que eu entrar em contato com os vampiros, eles virão para resgatar Farrell. Então se eu fosse você, eu não voltaria para a sociedade hoje à noite."
Ela mastigou seu lábio inferior por um minuto. Nós estávamos na parte final da área de estacionamento.
"Na verdade," eu disse, "seria perfeito se você pudesse me dar uma carona até o hotel."
"Bem, eu não estou no negócio de tornar a sua vida perfeita," ela rosnou, fazendo lembrar sua personalidade rude. "Eu tenho que voltar para aquela igreja antes da merda bater no ventilador, e pegar alguns documentos. Pense nisso, garota. O que os vampiros vão fazer com Godfrey? Eles podem deixá-lo vivo? Ele é um molestador de crianças e um assassino em série; fez isso tantas vezes que você sequer pode contar. Ele não consegue parar, e ele sabe disso."
Então tinha um lado bom para a igreja... ela deu a vampiros como Godfrey um local para cometer suicídio enquanto são vigiados?
"Talvez eles devessem simplesmente disponibilizar na tv paga," eu disse.
"Eles o fariam se pudessem." Luna estava séria. "Esses vampiros tentando se integrar, eles são bastante duros com qualquer um que possa perturbar seu plano. Godfrey não é nenhum garoto propaganda."
"Não posso resolver todos os problemas, Luna. Aliás, o meu nome verdadeiro é Sookie. Sookie Stackhouse. De qualquer forma, eu fiz o que pude. Fiz o trabalho que eu estava contratada para fazer, e agora eu tenho que voltar e relatar. Godfrey viva ou Godfrey morra. Acho que Godfrey vai morrer."
"É melhor você estar certa," disse ela de modo agourento.
Eu não poderia entender por que seria minha culpa se Godfrey mudasse de idéia. Eu tinha apenas questionado o local que ele escolheu. Mas talvez ela tenha razão. Eu poderia ter alguma responsabilidade, aqui.
Tudo foi simplesmente demais para mim.
"Adeus," eu disse, e começei a mancar durante o caminho do estacionamento até a estrada. Eu não tinha ido longe quando ouvi uma gritaria originando-se da igreja, e todas as luzes do exterior se acenderam. O clarão repentino era de cegar.
"Talvez eu não volte para o Centro da Sociedade afinal de contas. Não é uma boa idéia," disse Luna pela janela de um Subaru Outback. Eu me arrastei para o assento do passageiro, e nós aceleramos em direção a saída mais próxima pegando a estrada de quatro faixas. Eu apertei meu cinto de segurança automaticamente.
Mas tão rápido quanto tínhamos nos movido, outros tinham ido ainda mais rapidamente. Diversos veículos familiares estavam sendo posicionados para bloquear as saídas do estacionamento.
"Merda," disse Luna.
Nós ficamos em marcha lenta por um minuto, enquanto ela pensava.
"Eles nunca me deixariam sair, mesmo que você se escondesse de alguma maneira. Eu não posso levar você de volta para a igreja. Eles podem revistar a área de estacionamento com muita facilidade." Luna mastigou seu lábio um pouco mais.
"Ah, dane-se esse trabalho, de qualquer maneira," disse ela, e jogou o Outback em marcha. Ela dirigiu conservadoramente no início, tentando atrair a menor atenção possível. "Essas pessoas não saberiam o que é a religião se isso lhe mordesse o traseiro," disse ela.Perto da igreja, Luna dirigiu sobre o meio-fio que separa a área de estacionamento do gramado. Depois seguimos sobre o gramado, circulando a área de recreação cercada, e eu descobri que estava sorrindo de orelha a orelha, embora machucasse fazer isso.
"Yee-hah!" Eu gritei, enquanto nós atingíamos o borrifador principal do sistema de irrigação do gramado. Nós voamos pelo jardim da frente da igreja, e, com um surpreso choque, ninguém estava nos perseguindo. Eles se organizariam em um minuto, contudo, os obstinados. As pessoas que não adotavam as medidas mais extremas desta Sociedade iriam receber uma ligação para despertar de verdade esta noite.
Como era de se esperar, Luna olhou no espelho retrovisor e disse: "Eles desbloquearam as saídas, e alguém está vindo atrás de nós." Nós arrancamos dentro do tráfego na estrada que passava em frente a igreja, uma outra estrada de quatro faixas enorme, e as buzinas soaram ao nosso redor por causa da nossa entrada súbita no fluxo de tráfego.
"Puta merda," Luna disse. Ela diminuiu para uma velocidade razoável e manteve seu olhar no espelho retrovisor. "Está muito escuro agora, não posso dizer quais faróis são os deles."
Eu me perguntei se Barry tinha alertado Bill.
"Você tem um celular?" Eu perguntei a ela.
"Está na minha bolsa, junto com a minha carteira de motorista, que ainda está lá no meu escritório na igreja. Foi assim que eu soube que você estava à solta. Fui ao meu escritório, senti seu cheiro. Soube que você estava machucada. Então eu saí e explorei os arredores, e quando eu não pude encontrá-la, voltei para dentro. Tivemos uma sorte danada de eu estar com as minhas chaves no meu bolso."
Deus abençoe os metamorfos. Fiquei triste pelo telefone, mas isso não podia ser evitado. De repente eu me perguntei onde estava a minha bolsa. Provavelmente lá no escritório da Sociedade do Sol. Pelo menos eu tirei meu documento de identidade dela.
"Será que devemos parar em um telefone público, ou na delegacia?"
"Se você chamar a polícia, o que eles vão fazer?" perguntou Luna, num tom encorajador de alguém que conduz uma criança pequena ao aprendizado.
"Ir para a igreja?"
"E o que vai acontecer então, garota?"
"Ah, eles perguntariam ao Steve porque é que ele estava mantendo uma humana presa?"
"Claro. E o que ele vai dizer?"
"Não sei".
"Ele vai dizer: ‘Nós nunca fizemos dela uma prisioneira. Ela entrou em algum tipo de discussão com o nosso empregado Gabe, e ele acabou morto. Prendam-na!’"
"Ah. Você acha?"
"Sim, eu acho."
"E quanto a Farrell?"
"Se a polícia começar a entrar, é melhor você acreditar que eles terão alguém detalhado para correr até o porão e enfiar uma estaca nele. Até a hora que a policia chegar lá, não exitirá mais Farrell. Eles poderiam fazer o mesmo com Godfrey, se ele não os apoiasse. Ele provavelmente iria permanecer quieto nisto. Ele quer morrer, esse Godfrey."
"Bem, e sobre Hugo?"
"Você acha que Hugo iria explicar como foi que ele ficou trancado num porão daqueles? Eu não sei o que aquele idiota diria, mas ele não contaria a verdade. Ele levou uma vida dupla por meses até agora, e ele não pode dizer se sua cabeça está em ordem ou não."
"Então não podemos chamar a polícia. Quem é que podemos chamar?"
"Tenho que te deixar com os seus parceiros. Você não precisa conhecer os meus. Eles não querem ser conhecidos, você entende?"
"Claro."
"Você tem que ser alguma coisa esquisita também, hein? Para nos reconhecer."
"Sim."
"Então, o que você é? Não é uma vampira, com certeza. Não é uma de nós também."
"Sou uma telepata."
"Você é! Não brinca! Bem, woooo woooo", afirmou Luna, imitando o tradicional som de fantasma.
"Não mais woo woo do que você é," eu disse, sentindo que eu podia ser perdoada por soar um pouco irritada.
"Desculpe", disse ela, sem intenção. "Ok, eis o plano-"
Mas eu não tive chande de ouvir qual era o plano, porque naquele momento nós fomos atingidos na parte traseira.
***
A próxima coisa que eu soube, foi que eu estava pendurada de cabeça para baixo em meu cinto de segurança. Uma mão estava penetrando para me puxar para fora. Reconheci as unhas; era Sarah. Eu a mordi.
Com um grito penetrante, retirou a mão. "Ela está obviamente fora de si," Eu ouvi a voz doce de Sarah tagarelando para alguém, alguém não relacionado com a igreja, eu percebi, e eu sabia que tinha que agir.
"Não dê ouvidos a ela. Foi o carro dela que bateu em nós," eu gritei. "Não deixe que ela toque em mim."
Eu olhava para Luna, cujo cabelo já tocava o teto. Ela estava acordada, mas não falando. Ela estava se retorcendo toda, e deduzi que estava tentando desatar seu cinto.
Tinha muita conversa fora da janela, a maior parte delas controversa.
"Eu estou dizendo, eu sou a irmã dela, e ela só está bêbada," Polly estava dizendo a alguém.
"Eu não estou. Eu exijo um teste de sobriedade agora mesmo," eu disse, em uma voz tão digna quanto eu poderia conduzir, considerando que fiquei aérea com a pancada e estava pendurada de cabeça para baixo, "Chamem a polícia imediatamente, por favor, e uma ambulância."
Embora Sarah tenha começado a falar precipitadamente, uma forte voz masculina disse: "Senhora, não está parecendo que ela quer você por aqui. Parece que ela tem alguns pontos positivos."
Um rosto de homem apareceu na janela. Ele estava ajoelhado e curvado lateralmente para ver dentro. "Liguei para o nove-um-um," disse a voz pesada. Ele estava despenteado e eriçado, e eu achei que ele era bonito.
"Por favor, fique aqui até que eles cheguem," eu implorei.
"Eu vou," ele prometeu, e seu rosto sumiu.
Havia mais vozes agora. Sarah e Polly estavam ficando estridentes. Elas tinham atingido o nosso carro. Várias pessoas tinham testemunhado. Elas afirmando ser irmãs ou qualquer coisa assim não caiu muito bem com essa multidão. Também, eu entendi, elas estavam com dois homens da sociedade que não estavam sendo nada encantadores.
"Então nós vamos simplesmente embora," disse Polly, com fúria em sua voz.
"Não, vocês não vão," disse meu maravilhoso agressivo homem. "Vocês têm que negociar o seguro com elas, de qualquer jeito."
"É isso mesmo", disse uma voz masculina muito mais jovem. "Vocês simplesmente não querem pagar para consertar o carro delas. E se elas estiverem feridas? Vocês não terão de pagar o hospital?"
Luna tinha conseguido se desatar,e ela retorceu quando caiu no teto que agora era o piso do carro. Com uma maleabilidade que eu só podia invejar, colocou sua cabeça para fora da janela aberta, e então começou a apertar os pés contra qualquer aquisição que pudesse encontrar. Gradualmente, ela começou a se mover para fora da janela. Uma das aquisições passou a ser o meu ombro, mas eu não dei um pio sequer. Uma de nós precisava ficar livre.
Havia exclamações lá fora enquanto Luna aparecia, e então eu a ouvi dizer, "Ok, qual de vocês estava dirigindo?"
Várias vozes aderiam, uns dizendo que era um, uns dizendo que foi outro, mas todos eles sabiam que Sarah e Polly e seus escudeiros foram os autores do crime e Luna era a vítima. Tinha tantas pessoas em torno daquilo que quando mais um carro de homens vindos da Sociedade estacionou, não havia nenhuma maneira de que eles pudessem simplesmente nos rebocar dalí. Deus abençoe o espectador americano, eu pensei. Eu estava num humor sentimental.
O paramédico que acabou me soltando do carro era o cara mais fofo que eu já vi. Seu nome era Salazar, de acordo com seu crachá, e eu disse, "Salazar," só para ter certeza de que eu poderia dizer isso. Tive que falar cuidadosamente.
"Sim, sou eu," disse ele enquanto levantava minha pálpebra para ver o meu olho. "Você se bateu um pouco, moça."
Comecei a dizer a ele que eu já tinha algumas dessas lesões antes do acidente de carro, mas então ouvi Luna dizer, "Minha agenda voou do painel e atingiu seu rosto."
"Seria muito mais seguro se você mantivesse o seu painel vazio, senhora," disse uma nova voz com tom fanho desafinado.
"Eu o ouvi, senhor policial."
Policial? Tentei virar a minha cabeça e fui adverdida por Salazar. "Você fique parada até eu terminar de examinar você," disse ele firmemente.
"Ok." Eu disse após um segundo, "A polícia está aqui?"
"Sim, senhora. Agora, o que dói?"
Passamos por toda uma lista de perguntas, a maioria das quais eu era capaz de responder.
"Acho que vai ficar bem, senhora, mas temos de levar você e sua amiga para o hospital só para verificar isso." Salazar e sua parceira, uma mulher anglo-americana grande, eram práticos sobre essa necessidade.
"Oh," eu disse ansiosamente, "não precisamos ir ao hospital, precisamos, Luna?"
"Claro," disse ela, mais surpresa que ela poderia ficar. "Temos que tirar um raio x seu, doçura. Quero dizer, essa sua bochecha está com aspecto ruim."
"Ah." Fiquei um pouco espantada com essa virada. "Bem, se você acha que sim."
"Oh, sim."
Então Luna se dirigiu para a ambulância, e eu fui carregada em uma maca, e com a sirene soando estridente, nós começamos a sair. A minha última visão antes de Salazar fechar as portas era de Polly e Sarah falando com um policial muito alto. Ambas pareciam muito chateadas. Isso era bom.
O hospital era como todos os hospitais. Luna ficou grudada em mim como arroz de sushi*, e quando estávamos no mesmo cubículo, uma enfermeira entrou para anotar mais alguns detalhes. Luna disse, "Diga ao Dr. Josephus que Luna Garza e sua irmã estão aqui."
(* a expressão no original é like white to rice, que quer dizer o mais próximo possível de algo ou alguém, uma expressão originada de comentários em relação aos asiáticos, por isso preferi traduzir assim pra dar um sentido mais parecido)
A enfermeira, uma jovem mulher afro-americana, deu a Luna um olhar duvidoso, mas disse, "Ok," e saiu imediatamente.
"Como fez isso?" Perguntei.
"Fazer uma enfermeira parar de preencher formulários? Eu pedi este hospital de propósito. Nós temos uma pessoa em cada hospital na cidade, mas sei que o nosso homem aqui é o melhor."
"Nosso"?
"Nós. Os de natureza dupla."
"Ah." Os metamorfos. Eu mal podia esperar para contar a Sam sobre isso.
"Eu sou o Dr. Josephus," disse uma voz calma. Eu levantei minha cabeça para ver que um homem com cabelo prateado e escasso tinha entrado em nossa área cortinada. Seu cabelo estava diminuindo e ele tinha um nariz acentuado onde pousava um par de óculos de armação fina. Ele tinha olhos azuis intensos, ampliados pelos seus óculos.
"Eu sou Luna Garza, e esta é minha amiga, ah, Marigold." Luna disse isto como se ela fosse uma pessoa diferente. Na verdade, eu olhei em volta para me certificar de que era a mesma Luna. "Nós encontramos contratempos esta noite no caminho do dever."
O médico me olhou com uma certa desconfiança.
"Ela é merecedora," afirmou Luna, com grande solenidade. Eu não queria estragar o momento rindo, mas tive que morder o interior da minha boca.
"Você precisa de raios X," disse o médico após a olhar para meu rosto e analisar meu joelho grotescamente inchado. Eu tinha várias escoriações e contusões, mas essas eram minhas únicas lesões realmente significativas.
"Então precisamos que eles sejam tirados rapidamente, e em seguida temos de sair daqui de forma segura," disse Luna em uma voz que não iria tolerar negação.
Nenhum hospital já tinha se movimentado tão rapidamente. Eu só poderia supor que o Dr. Josephus estava na mesa dos diretores. Or talvez ele fosse o chefe de equipe. A máquina portátil de raios-X foi trazida, os raios X foram tirados, e em poucos minutos Dr. Josephus me disse que eu tinha um traço de fratura do osso malar que se emendaria por conta própria. Ou eu poderia ver um cirurgião plástico quando o inchaço acabasse. Ele me deu uma receita de comprimidos para dor, uma série de conselhos, e uma bolsa de gelo para o meu rosto e outra para o meu joelho, que ele chamava de "desconjuntado."
Dentro de dez minutos depois, estávamos saindo do hospital. Luna foi me empurrando numa cadeira de rodas, e o Dr. Josephus foi nos guiando através de uma espécie de túnel de serviço. Passamos por dois funcionários no caminho. Eles pareciam ser pessoas pobres, do tipo que arranja empregos com baixos salários como zelador de hospital e cozinheiro. Eu não podia acreditar que o Dr. Josephus maciçamente auto-confiante tinha alguma vez descido por este túnel antes, mas ele parecia saber o caminho, e o pessoal não agiu assustado ao vê-lo. No final do túnel, ele empurrou para abrir uma porta de metal pesado.
Luna Garza meneou a cabeça regiamente para ele, dizendo "Muito obrigada," e me empurrando para a noite lá fora. Tinha um velho carro grande estacionado lá. Era vermelho escuro ou marrom escuro. Quando olhei ao redor um pouco mais, eu percebi que estávamos em um beco. Tinha grandes lixeiras encostadas na parede, e eu vi um gato se movendo para atacar algo - que eu não quero saber o que - entre duas das lixeiras. Depois de fechar a porta ruidosamente por causa da pressão do ar atrás de nós, o beco ficou calmo. Comecei a sentir medo novamente.
Eu estava extremamente cansada de ter medo.
Luna foi até o carro, abriu a porta traseira, e disse alguma coisa para quem quer que estava dentro. Qualquer que fosse a resposta que ela recebeu, a deixou zangada. Ela estava protestando em outro idioma.
Houve outra discussão.
Luna andou como um furacão de volta para mim, "Você tem que ficar de olhos vendados," disse ela, obviamente certa de que eu levaria isso como uma grande ofensa.
"Sem problemas," disse, com um aceno de lado para indicar o quão insignificante isso era.
"Você não se importa?"
"Não. Eu entendo, Luna. Todo mundo gosta de sua privacidade."
"Ok, então." Ela apressou-se de volta ao carro e retornou com um lenço em suas mãos, de seda verde e azul pavão. Ela o dobrou como se fôssemos jogar ‘cabra cega’, e amarrou-o firmemente por trás da minha cabeça. "Me escute," ela disse ao meu ouvido, "esses dois são difíceis. Você vai ver." Legal. Eu queria ficar mais assustada.
Ela me empurrou até o carro e ajudou-me a entrar. Eu acho que ela guiou a cadeira de rodas de volta para a porta para ser coletada; de qualquer forma, após um minuto ela entrou do outro lado do carro.
Havia duas presenças no banco da frente. Eu os senti mentalmente, muito delicadamente, e descobri que ambos eram metamorfos; pelo menos, tinham a sensação de metamorfo em seu cérebro, o semi-opaco emaranhado confuso que eu recebo de Sam e Luna. Meu chefe, Sam, geralmente se transforma em um collie. Imagino qual seria a preferência de Luna.
Tinha uma diferença sobre esses dois, uma pulsação meio que pesada. O esboço das suas mentes parecia sutilmente diferente, não exatamente humano.
Houve apenas silêncio por alguns minutos, enquanto o carro caía fora do beco e se dirigia pela noite.
"Hotel Silent Shore, certo?" disse a motorista. Ela parecia meio que rugindo. Então eu percebi que era quase a lua cheia. Oh, diabos. Eles tinham que se transformar na lua cheia. Talvez foi por isso que Luna tinha chutado o pau da barraca tão prontamente na Sociedade esta noite, uma vez que ficou escuro. Ela tinha ficado atordoada pelo aparecimento da lua.
"Sim, por favor," eu disse educadamente.
"Comida que fala," disse o passageiro. Sua voz estava ainda mais perto de um rugido.
Claro que eu não gostei daquilo, mas não tinha idéia de como reagir. Havia tanto para eu aprender sobre os metamorfos quanto havia sobre os vampiros, aparentemente.
"Parem com isso vocês dois," Luna disse. "Esta é minha convidada."
"Luna andando com comida de cachorro," disse o passageiro. Eu estava começando a realmente não gostar desse cara.
"Cheira mais como hambúrguer pra mim," disse a motorista. "Ela tem um arranhão ou dois, não é, Luna?"
"Vocês estão lhe dando uma grande impressão de como somos civilizados," Luna rebateu. "Mostre algum controle. Ela já teve uma noite difícil. Ela tem um osso quebrado, também."
E a noite não estava sequer na metade ainda. Eu mudei de posição a bolsa de gelo que estava segurando no meu rosto. Você só pode agüentar tanto frio assim na cavidade do seu seio.
"Por que Josephus tinha que enviar os lobisomens esquisitos?" Luna murmurou em meu ouvido. Mas eu sabia que eles tinham ouvido; Sam ouvia tudo, e ele não era de jeito nenhum tão poderoso quanto um verdadeiro lobisomem. Ou pelo menos, essa era a minha avaliação. Para dizer a verdade, até este momento, eu não tinha certeza se lobisomens realmente existiam.
"Eu acho," eu disse com tato e audivelmente, "que ele pensou que eles poderiam nos defender melhor se fossemos atacadas novamente."
Eu podia sentir as criaturas no banco da frente endirentando seus ouvidos. Talvez literalmente.
"Nós estávamos indo bem," afirmou Luna indignadamente. Ela se contorceu e se inquietou no banco ao meu lado como ela tivesse bebido dezesseis xicaras de café.
"Luna, nós fomos atingidas e seu carro ficou destruído. Nós estávamos no pronto socorro. ‘Bem’ em que sentido?"
Então eu tive que responder à minha própria pergunta. "Ei, me descupe, Luna. Você me tirou de lá quando eles iam me matar. Não é sua culpa que bateram em nós."
"Vocês duas fizeram uma pequena algazarra esta noite?" perguntou o passageiro, mais civilizadamente. Ele estava ansioso por uma luta. Eu não sei se todos os lobisomens eram tão briguentos quanto esse cara, ou se isso era apenas a sua natureza.
"Sim, com a porra da Sociedade," disse Luna, mais de um traço de orgulho em sua voz. "Eles estavam com essa garota presa em uma cela. Em uma masmorra."
"Não diga?" perguntou a motorista. Ela tinha a mesma hiper pulsação nela - bem, eu tinha que chamar isso de sua aura, pela falta de uma palavra melhor.
"Digo sim," eu disse firmemente. "Eu trabalho para um metamorfo, onde moro," acrescentei, para fazer conversa.
"Não brinca? Qual é o negócio?"
"Um bar. Ele é dono de um bar."
"Então, você está muito longe de casa?"
"Muito longe," eu disse.
"Este pequeno morcego salvou sua vida esta noite, de verdade?"
"Sim." Eu estava sendo absolutamente sincera sobre isso. "Luna salvou minha vida." Eles poderiam estar falando literalmente? Luna se transformava em um. . . Oh, Deus.
"Mandou bem, Luna." Houve um pouco mais de respeito em sua voz de rosnado profundo.
Luna achou o elogio agradável, tal como devia, e deu tapinhas em minha mão. Num silêncio mais agradável, nós dirigimos talvez mais cinco minutos e, em seguida, a motorista disse, "O Silent Shore, chegamos."
Eu exalei um longo suspiro de alívio.
"Há um vampiro na frente, esperando."
Eu quase arranquei a venda, antes de eu perceber que fazer isso seria uma coisa muito brega. "Como é que ele é?"
"Muito alto, loiro. Cabeleira comprida. Amigo ou inimigo?"
Eu tive que pensar sobre isso. "Amigo," eu disse, tentando não soar duvidosa.
"Yum, yum," disse a motorista. "Será que ele topa um encontro híbrido?"
"Eu não sei. Quer que eu pergunte?"
Luna e o passageiro ambos fizeram som de engasgos. "Você não pode sair com um morto!" Luna protestou. "Me poupe, Deb - eca, garota!"
"Ah, tá bom," disse a motorista. "Alguns deles não são tão ruins. Estou estacionando no meio-fio, senhorita biscoitinho de cachorro."
"Essa seria você," Luna disse no meu ouvido.
Nós paramos, e Luna inclinou-se sobre mim para abrir minha porta. Enquanto eu saltava, guiada e puxada pelas mãos, eu ouvi uma exclamação da calçada. Rápida como um piscar de olhos Luna fechou a porta atrás de mim. O carro cheio de metamorfos arrancou do meio fio cantando os pneus. Um uivo o seguiu no ar espesso da noite.
"Sookie?" disse uma voz familiar.
"Eric?"
Eu estava hesitante com a venda, mas Eric simplesmente agarrou-a por trás e puxou. Eu tinha adquirido um belo, embora um pouco manchado, lenço. A frente do hotel, com as suas pesadas portas falsas, estava brilhantemente iluminada na noite escura, e Eric parecia notavelmente pálido. Ele estava usando um absolutamente convencional terno de risca de giz azul marinho, ainda por cima.
Eu estava realmente feliz em vê-lo. Ele agarrou meu braço para que eu não cambaleasse e me olhou até embaixo com uma cara ilegível. Os vampiros eram bons nisso. "O que aconteceu com você?" disse ele.
"Eu fui... Bem, é difícil de explicar em um segundo. Onde está o Bill?"
"Primeiro ele foi para a Sociedade do Sol para buscar você. Mas ouvimos ao longo do caminho, por um de nós que é um policial, que você tinha se envolvido em um acidente e foi para um hospital. Então ele foi para o hospital. No hospital, ele descobriu que você tinha saído por uma rota conveniente. Ninguém dizia nada a ele, e ele não conseguia ameaçá-los adequadamente." Eric parecia extremamente frustrado. O fato de que ele tinha que viver dentro das leis humanas era uma constante irritação para Eric, ainda que ele aproveitasse bastante os benefícios. "E então não foi encontrado qualquer vestígio seu. O porteiro só tinha ouvido você uma vez, mentalmente."
"Pobre Barry. Ele está bem?"
"Mais rico por várias centenas de dólares, e muito feliz com isso," disse Eric numa voz seca. "Agora só precisamos do Bill. Que monte de problemas você é, Sookie." Ele puxou um celular do seu bolso e discou um número. Depois do que pareceu um longo tempo, ele foi atendido.
"Bill, ela está aqui. Alguns metamorfos a trouxeram." Ele me olhou mais. "Espancada, mas andando." Ele ouviu um pouco mais. "Sookie, você tem sua chave?" ele perguntou. Eu senti no bolso da minha saia onde eu enfiei o retângulo de plástico cerca de um milhão de anos atrás.
"Sim," eu disse, e simplesmente não podia acreditar que algo tinha dado certo. "Ah, espere! Eles pegaram Farrell?"
Eric sinalizou com a mão para indicar que ele falaria comigo em um minuto. "Bill, eu vou levá-la para cima e começar a restaurá-la." As costas de Eric enrijeceram. "Bill," disse ele, e tinha um mundo de ameaças na sua voz. "Tudo bem então. Adeus." Ele virou de volta para mim como se não tivesse havido qualquer interrupção.
"Sim, Farrell está seguro. Eles invadiram a Sociedade."
"Mui... muita gente se machucou?"
"A maioria deles estava muito apavorada para se aproximar. Eles se dispersaram e foram para casa. Farrell estava numa cela subterrânea com Hugo."
"Oh, sim, Hugo. O que aconteceu com Hugo?"
Minha voz deve ter sido muito curiosa, porque Eric me olhou de lado enquanto estamos avançando em direção ao elevador. Ele estava acompanhando o meu ritmo, e eu estava mancando demais.
"Posso carregar você?" ele perguntou.
"Oh, eu acho que não. Eu cheguei até aqui." Se fosse Bill, eu teria aceitado a oferta instantaneamente. Barry, na campainha do balcão da recepção, me deu um pequeno aceno. Ele poderia ter corrido até mim se eu não estivesse com Eric. Eu dei a ele o que eu esperava ser um olhar significativo, para dizer que eu falaria com ele de novo mais tarde eentão a porta do elevador tiniu aberta e entramos. Eric apertou o botão do andar e inclinou-se contra a parede espelhada do lado oposto da cabine. Ao olhar para ele, eu dei uma olhada no meu próprio reflexo.
"Oh, não," eu disse, absolutamente chocada. "Oh, não." Meu cabelo tinha sido achatado pela peruca, e em seguida penteado com os meus dedos, então estava um desastre. Minhas mãos iam até ele, indefesas e doloridas, e minha boca estremeceu com lágrimas reprimidas. E o meu cabelo era o de menos. Eu tinha hematomas visíveis variando de leve a grave sobre a maior parte do meu corpo, e isto apenas na parte que você podia ver. Meu rosto estava inchado e descolorido em um lado. Havia um corte no meio da contusão na minha maça do rosto. A minha blusa estava sem metade de seus botões, e minha saia estava rasgada e imunda. Meu braço direito estava com uma crosta de sangue aglomerado.
Comecei a chorar. Eu estava tão horrível; isso simplesmente quebrou o que restava do meu espírito.
Para o seu crédito, Eric não deu risada, embora ele talvez quisesse. "Sookie, um banho e roupas limpas e você ficará bem," disse ele como se estivesse falando com uma criança. Para dizer a verdade, eu não sentia me muito mais velha no momento.
"A lobisomem achou você bonito," eu disse, e chorei um pouco mais. Nós saímos do elevador.
"A lobisomem? Sookie, você teve aventuras esta noite." Ele me recolheu como uma braçada de roupas e segurou-me junto a ele. Eu deixei o seu lindo paletó molhado e imprestável, e sua camisa de um branco puro não estava mais impecável.
"Oh, eu sinto muito!" Eu me apoiei para trás e olhei seu traje. Eu esfreguei-o com o lenço.
"Não chore de novo," disse ele apressadamente. "Só não comece a chorar novamente, e eu não me importo de levar isso para o pessoal da limpeza. Eu não me importo nem mesmo de comprar um terno novo."
Eu achei isso muito divertido que Eric, o temido comandante vampiro, tinha medo de mulheres chorando. Eu sorri silenciosamente através dos soluços restantes.
"Algo engraçado?" ele perguntou.
Balancei a minha cabeça.
Eu deslizei minha chave na porta e entramos. "Eu ajudo você a entrar na banheira se quiser, Sookie," Eric ofereceu.
"Oh, eu acho que não." Um banho era o que eu queria mais do que qualquer outra coisa no mundo, isso e nunca mais colocar essas roupas novamente, mas com certeza não tomaria um banho com Eric em qualquer lugar a minha volta.
"Eu aposto que você é um deleite, nua," disse Eric, só para aumentar o meu astral.
"Você sabe disso. Sou tão saborosa quanto um grande Éclair*," eu disse, e sentei cuidadosamente em uma cadeira. "Embora no momento eu me sinta mais como boudain". Boudain é uma lingüiça Cajun**, feita de todos os tipos de coisas, nenhuma delas elegante. Eric empurrou uma cadeira e levantou a minha perna para elevar o joelho. Eu recoloquei a bolsa de gelo nele e fechei os olhos. Eric pediu para a recepção uma pinça, uma tigela, e uma pomada anti-séptica, além de uma cadeira com rodinhas. Os itens chegaram em cerca de dez minutos. Este pessoal do hotel era bom.
(*doce)
(**Os cajun são os descendentes dos acadianos expulsos do Canadá e que se fixaram na Luisiana, no sul dos Estados Unidos. Este povo tem uma cultura própria, em especial uma variedade de música e culinária que se tornaram muito populares naquela região)
Tinha uma pequena mesa encostada a uma parede. Eric a deslocou para o lado direito da minha cadeira, levantou meu braço, e deitou-o por cima da mesa. Ele ligou a lâmpada. Após limpar meu braço com uma toalha de rosto molhada, Eric começou a remover o aglomerado. Eles eram pequenos pedaços de vidro da janela do carro de Luna. "Se você fosse uma garota comum, eu poderia encantar você e você não sentiria isso," comentou ele.
"Seja corajosa." Aquilo doeu como o inferno, e as minhas lágrimas corriam pelo meu rosto durante todo o tempo que ele trabalhava. Eu lutei muito para ficar quieta.
Por fim, ouvi outra chave na porta, e eu abri meus olhos. Bill olhou em meu rosto, estremeceu, e em seguida examinou o que Eric estava fazendo. Ele assentiu aprovadoramente para Eric.
"Como isso aconteceu?" ele perguntou, tocando levemente meu rosto. Ele puxou a cadeira disponível mais próxima e sentou-se. Eric continuou com o seu trabalho.
Eu comecei a explicar. Eu estava tão cansada que minha voz gaguejava de tempos em tempos. Quando eu cheguei à parte sobre Gabe, eu não tive juízo suficiente para suavizar o episódio, e eu podia ver que Bill estava segurando seu temperamento com um controle de ferro. Ele levantou a minha blusa suavemente a deu uma olhada no sutiã rasgado e nas contusões no meu peito, mesmo com Eric lá. (Ele olhou, naturalmente.)
"O que aconteceu com este Gabe?" Bill perguntou, muito calmamente.
"Bem, ele está morto," eu disse. "Godfrey o matou."
"Você viu Godfrey?" Eric se inclinou para frente. Ele não tinha dito nada até este ponto. Ele tinha acabado de cuidar do meu braço. Ele aplicou uma pomada antibiótica em todo o braço como se fosse proteger um bebê de assaduras.
"Você tinha razão, Bill. Foi ele quem raptou Farrell, embora eu não tenha qualquer detalhe. E Godfrey impediu Gabe de me estuprar. Embora eu tenha que dizer, eu tinha conseguido dar eu mesma algumas boas bofetadas."
"Não se gabe," disse Bill com um pequeno sorriso. "Então, o homem está morto." Mas ele não parecia satisfeito.
"Godfrey foi muito bom em parar Gabe e me ajudar a sair. Especialmente quando ele só queria pensar em encontrar o amanhecer. Onde ele está?"
"Ele correu para a noite durante o nosso ataque à Sociedade," explicou Bill. "Nenhum de nós conseguiu pegá-lo."
"O que aconteceu na Sociedade?"
"Eu vou te dizer, Sookie. Mas vamos dizer boa noite ao Eric, e eu contarei tudo enquanto eu te dou um banho."
"Ok," eu concordei. "Boa noite, Eric. Obrigado pelos primeiros socorros."
"Acho que esses são os pontos principais," disse Bill a Eric. "Se existir mais, eu vou até o seu quarto mais tarde."
"Bom." Eric olhou para mim, seus olhos meio abertos. Ele deu uma lambida ou duas no meu braço ensanguentado enquanto ele o tratava e que o gosto parecia tê-lo intoxicado. "Descanse bem, Sookie."
"Ah," eu disse, meus olhos escancararam de repente. "Você sabe, nós devemos aos metamorfos."
Ambos os vampiros me encararam. "Bem, talvez não vocês, mas eu com certeza sim."
"Ah, eles vão reivindicar," Eric previu. "Aqueles metamorfos nunca executam qualquer serviço gratuitamente. Boa noite, Sookie. Estou feliz que você não foi violentada e assassinada." Ele deu seu repentino sorriso forçado brilhante, e pareceu muito mais como ele mesmo.
"Meu Deus, muito obrigada," disse, fechando os olhos novamente. "Boa noite."
Quando a porta se fechou atrás de Eric, Bill me carregou para fora da cadeira e me levou para o banheiro. Era tão grande quanto a maioria dos banheiros de hotéis, mas a banheira era adequada. Bill a encheu de água quente e com muito cuidado tirou minhas roupas.
"Basta jogá-las, Bill," eu disse.
"Talvez eu faça, nesse ponto." Ele estava olhando as contusões novamente, seus lábios pressionados em uma linha reta.
"Alguns deles são provenientes da queda da escada, e alguns são do acidente de carro," eu expliquei.
"Se Gabe não estivesse morto eu o encontraria e o mataria", disse Bill, principalmente para si mesmo. "Eu levaria o tempo que quisesse." Ele me levantou tão facilmente como se eu fosse um bebê e me colocou na banheira, começando a lavar-me com um pano e uma barra de sabonete.
"Meu cabelo está tão nojento."
"Sim, ele está, mas vamos ter de cuidar dos seus cabelos pela manhã. Você precisa dormir."
Começando com o meu rosto, Bill gentilmente me limpou de cima a baixo. A água se tornou manchada com sujeira e sangue velho. Ele checou minuciosamente o meu braço, para certificar-se de que Eric tinha tirado todos os vidros. Então ele esvaziou a banheira e encheu-a novamente, enquanto eu tremia. Desta vez, eu fiquei limpa. Depois que eu lamentei sobre o meu cabelo uma segunda vez, ele se deu por vencido. Ele molhou minha cabeça e passou shampoo em meus cabelos, lavando-o arduamente. Não há nada mais maravilhoso do que sentir-se limpa da cabeça aos dedos dos pés depois de você ter estado imunda, em uma confortável cama com lençóis limpos, sendo capaz de dormir nela em segurança.
"Me fale sobre o que aconteceu na Sociedade," eu disse enquanto ele me carregava para a cama. "Me faça companhia."
Bill me colocou sob os lençois e engatinhou para o outro lado. Ele deslizou seu braço sob minha cabeça e aproximou-se rápido. Eu cuidadosamente encostei minha testa em seu peito roçando nele.
"Quando nós chegamos lá, estava como um formigueiro despedaçado," disse ele. "O estacionamento estava cheio de carros e pessoas, e mais continuavam chegando para a – noite da festa do pijama?"
"Cerimônia fechada," eu murmurei, cuidadosamente virando o meu lado direito para me abrigar junto a ele.
"Houve um certo tumulto quando nós chegamos. Quase todos eles se amontoaram em seus carros e foram embora tão rápido quanto o trânsito permitiria. Seu líder, Newlin, tentou negar nossa entrada no salão da Sociedade - tem certeza de que foi uma igreja alguma época? - e ele nos disse que iríamos explodir em chamas se nós entrássemos, porque éramos amaldiçoados." Bill bufou. "Stan pegou ele e o colocou de lado. Entramos na igreja, Newlin e sua mulher seguindo atrás de nós. Nenhum de nós explodiu em chamas, o que pareceu agitar bastante as pessoas."
"Eu aposto que sim," Eu balbuciei em seu peito.
"Barry nos disse que quando se comunicava com você, ele tinha a sensação que você estava 'baixa' - abaixo do nível do solo. Ele achou que ouviu a palavra "escada" de você. Estavamos em seis, Stan, Joseph Velasquez, Isabel, e outros - e isso nos tomou talvez seis minutos para eliminar todas as possibilidades e encontrar as escadas."
"O que você fez em relação a porta?" Ela tinha fechaduras fortes, eu lembrei.
"Nós a arrancamos de suas dobradiças."
"Ah." Bem, isso proporcionaria acesso rápido, com certeza.
"Eu pensei que você ainda estava lá, é claro. Quando eu encontrei a sala com o homem morto, que estava com suas calças abertas..." Ele fez uma longa pausa. "Eu tinha certeza de que tinha estado lá. Eu ainda podia sentir o seu cheiro no ar. Tinha uma mancha de sangue nele, o seu sangue, e eu achei outros vestígios dele em volta. Eu estava muito preocupado."
Eu o afaguei. Me sentia muito cansada e fraca para o afagar vigorosamente, mas esse era o único consolo que tinha para oferecer no momento.
"Sookie," disse ele com muito cuidado, "há algo mais que você queira me dizer?"
Eu estava muito sonolenta para pensar sobre isso. "Não," eu disse e bocejei. "Eu acho que fiz a cobertura completa das minhas aventuras mais cedo."
"Eu pensei que talvez já que Eric estava no quarto antes, você não gostaria de contar tudo?"
Eu finalmente entendi o que obviamente ele queria saber. Eu beijei o seu peito, sobre seu coração. "Godfrey realmente chegou a tempo."
Houve um longo silêncio. Olhei para cima para ver o rosto de Bill que estava tão rígido que parecia uma estátua. Seus cílios escuros destacavam-se contra a sua palidez com uma clareza espantosa. Seus olhos escuros pareciam insondáveis. "Conte-me o resto," eu disse.
"Então nós fomos mais adiante no abrigo anti-bombas e encontramos o quarto maior, juntamente com uma extensa área repleta de suprimentos - alimentos e armas - onde era evidente que outro vampiro tinha estado."
Eu não tinha visto esta parte do abrigo anti-bombas, e eu certamente não tinha planos de voltar para ver o que foi que eu perdi.
"Na segunda cela encontramos Farrell e Hugo."
"Hugo estava vivo?"
"Por pouco." Bill beijou a minha testa. "Felizmente para Hugo, Farrell gosta de sexo com homens mais jovens."
"Talvez tenha sido por isso que Godfrey escolheu Farrell para raptar, quando ele decidiu fazer um outro pecador de exemplo."
Bill assentiu. "Isso foi o que Farrell disse. Mas ele tinha estado sem sexo e sangue por um longo tempo, e ele estava faminto em todos os sentidos. Sem as algemas de prata, Hugo teria... tido um momento ruim. Mesmo com prata em seus punhos e tornozelos, Farrell foi capaz de se alimentar de Hugo."
"Você sabia que Hugo era o traidor?"
"Farrell ouviu sua conversa com ele."
"Como - oh, certo, audição de vampiro. Que estúpida."
"Farrell também gostaria de saber o que você fez para Gabe que lhe fez gritar."
"Dei um golpe sobre as suas orelhas." Eu coloquei uma mão em concha para mostrar a ele.
"Farrell estava satisfeito. Esse Gabe era um desses homens que tem prazer em ter poder sobre os outros. Ele submeteu Farrell a muitas indignidades."
"Farrell tem sorte de não ser uma mulher," eu disse. "Onde está o Hugo agora?"
"Ele está em um lugar seguro."
"Seguro para quem?"
"Seguro para os vampiros. Longe da mídia. Eles todos iriam apreciar demais a história de Hugo."
"O que é que eles vão fazer com ele?"
"Isso é para Stan decidir."
"Lembra-se do acordo que nós temos com Stan? Se humanos forem considerados culpados por uma de minhas evidências, eles não serão mortos."
Bill obviamente não quis debater comigo sobre isso agora. Seu rosto estava fechado. "Sookie, você tem que ir dormir agora. Nós vamos falar sobre isso quando você levantar."
"Mas até lá ele pode estar morto."
"Por que você se importa?"
"Porque esse foi o acordo! Eu sei que Hugo é um merda, e eu o odeio, também, mas eu sinto pena dele; e não creio que eu possa estar implicada na sua morte e viver com a consciência tranquila."
"Sookie, ele ainda estar vivo quando você se levantar. Iremos falar sobre isso depois."
Senti o sono me puxando como o recuo das ondas de surf. Foi difícil de acreditar que era apenas duas horas da manhã.
"Obrigado por ir atrás mim."
Bill disse, após uma pausa, "Primeiro você não estava na Sociedade, apenas vestígios de seu sangue e um estuprador morto. Quando eu te descobri que não estava no hospital, que você tinha sido sumido de lá, de alguma maneira..."
"Mmmmh?"
"Eu fiquei muito, muito assustado. Ninguém tinha alguma idéia de onde você estava. Na verdade, enquanto eu estava ali falando com a enfermeira que admitiu que você seu nome sumiu da tela do computador."
Fiquei impressionada. Aqueles metamorfos eram organizados em um grau surpreendente. "Talvez eu deva enviar algumas flores para Luna," eu disse, dificilmente conseguindo com que as palavras saíssem da minha boca.
Bill me beijou, um beijo muito gratificante, e essa era a última coisa que eu lembrava.
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