Havia muitos humanos que não tinham gostado de descobrir que partilhavam o planeta com os vampiros. Apesar do fato de que eles sempre o tiveram feito - sem saber - logo que eles acreditaram que os vampiros eram reais, essas pessoas ficaram determinadas a destruí-los. Eles não eram mais seletivos em relação aos seu métodos de homicídio do que um vampiro traiçoeiro seria sobre o seu.
Vampiros traiçoeiros eram os mortos-vivos que pareciam ultrapassados; eles não queriam que os humanos tivessem conhecimento de sua existência mais do que qualquer humano queria saber sobre eles. Os traiçoeiros recusavam-se a beber o sangue sintético que era a base da maioria das dietas dos vampiros hoje em dia. Traiçoeiros acreditavam que o único futuro para os vampiros seria estabelecer o retorno ao segredo e invisibilidade. Vampiros traiçoeiros massacrariam humanos só pela diversão, agora, porque eles realmente acolhiam um retorno à perseguição da sua própria espécie. Os traiçoeiros viram isso como um meio de persuadir vampiros integrados que o sigilo era melhor para o futuro de sua espécie; e, nesse caso, também, perseguição era uma forma de controle populacional.
Agora eu aprendi com Bill que havia vampiros que começaram a sofrer de um terrível remorso, ou talvez tédio, depois de uma longa vida. Estes renunciantes planejavam "encontrar o Sol", o termo vampiro para cometer suicídio permanecendo fora após o raiar do dia.
Mais uma vez, minha escolha para namorado tinha me conduzido por caminhos que eu jamais teria pisado sob outros aspectos. Eu não precisaria saber de nada disso, nunca sequer teria sonhado em namorar alguém definitivamente falecido, se eu não tivesse nascido com a deficiência da telepatia. Eu era uma espécie de pária pros caras humanos. Você pode imaginar como é impossível namorar alguém cuja mente você pode ler. Quando eu conheci Bill, eu comecei o momento mais feliz da minha vida. Mas indubitavelmente eu me deparei com mais problemas nos meses que o tinha conhecido do que eu tive em todos os meus vinte e cinco anos antes. "Então, você está pensando que Farrell já está morto?" Perguntei, me forçando a manter o foco na crise atual. Eu detestava ter que perguntar, mas eu precisava saber.
"Talvez," disse Stan após uma longa pausa.
"Possivelmente eles o estão mantendo em algum lugar," disse Bill. "Vocês sabem como eles convidam a imprensa para estas... cerimônias,"
Stan encarou o espaço por um bom tempo. Então ele se levantou. "O mesmo homem estava no bar e no aeroporto," disse ele, quase à si próprio. Stan, o chefe vampiro nerd de Dallas, estava agora andando, de um lado pro outro na sala. Isso estava me deixando louca, embora dizer isso estivesse fora de questão. Esta era a casa de Stan, e seu "irmão" estava desaparecido. Mas eu não sou do tipo que fica remoendo silêncio por muito tempo. Eu estava cansada, e eu queria ir para a cama.
"Então," eu disse, fazendo o meu melhor para soar ativa, "Como eles sabiam que eu iria estar lá?"
Se há algo pior do que ter um vampiro encarando você, é ter dois vampiros encarando você.
"Para saber que você estava vindo antes do tempo... Há um traidor," disse Stan. O ar da sala começou a tremer e crepitar com a tensão que ele estava produzindo.
Mas eu tive uma idéia menos dramática. Eu peguei um bloco de notas de cima da mesa e escrevi, "TALVEZ VOCÊ ESTEJA SOB ESCUTA." Ambos olharam para mim como se eu tivesse oferecido à eles um Big Mac. Vampiros, que individualmente têm vários poderes incríveis, às vezes se abstraem do fato de que os humanos desenvolveram alguns poderes por conta própria. Os dois homens trocaram um olhar de especulação, mas nenhum delas ofereceu qualquer sugestão prática.
Bem, ao diabo com eles. Eu só tinha visto isso sendo feito em filmes, mas pensei que se alguém tinha plantado uma escuta nesta sala, teriam feito isso com muita pressa e deviam estar morrendo de medo. Então a escuta estaria perto e não tão bem escondida. Eu tirei o blaiser cinza e chutei fora meus sapatos. Já que eu era uma humana e não tinha dignidade a perder aos olhos de Stan, me joguei debaixo da mesa e começei a engatinhar sob seu comprimento, empurrando as
cadeiras com rodinhas à distância enquanto eu seguia. Pela milionésima vez, eu desejei ter usado calças.
Eu tinha chegado a aproximadamente dois metros das pernas do Stan quando vi algo estranho. Havia uma protuberância escura grudada do lado de baixo da madeira clara da mesa. Eu olhei aquilo tão perto quanto eu pude sem uma lanterna. Não era nenhum chiclete velho.
Após ter encontrado o pequeno dispositivo eletrônico, eu não sabia o que fazer. Eu engatinhei para fora, um tanto mais poeirenta por causa da experiência, e me encontrei bem aos pés de Stan. Ele estendeu sua mão e eu a segurei com relutância. Stan me puxou suavemente, ou pareceu que foi suavemente, mas de repente eu estava de pé encarando ele. Ele não era muito alto, e eu olhei mais nos olhos dele do que realmente queria. Eu segurei o meu dedo na frente do meu rosto para ter certeza de que ele estava prestando atenção. Apontei para debaixo da mesa.
Bill deixou a sala como um raio. O rosto de Stan ficou ainda branco, e seus olhos incendiaram. Eu olhei para qualquer lugar exceto diretamente para ele. Eu não queria ser a imagem enchendo os seus olhos enquanto ele digeria o fato de que alguém tinha plantado uma escuta em sua câmara de audiência. Ele tinha realmente sido traído, só não da maneira que ele supôs.
Eu fiz uma busca em minha mente por algo a fazer que ajudasse. Eu sorri para Stan. Alcançando automaticamente meu rabo de cavalo para endireitá-lo, eu percebi que o meu cabelo ainda estava em seu rolo na parte de trás da minha cabeça, embora consideravelmente menos arrumado. Brincando com ele nas mãos tive uma boa desculpa para olhar para baixo.
Fiquei consideravelmente aliviada quando Bill reapareceu com Isabel e o homem que lavava pratos, que estava carregando uma tigela de água. "Desculpe, Stan," disse Bill. "Eu receio que Farrell já esteja morto, se você seguir aquilo que descobrimos esta noite. Sookie e eu retornaremos para Louisiana amanhã, a menos que você precise de nós ainda mais." Isabel apontava para a mesa, e o homem colocou a tigela no chão.
"É o melhor a fazer," respondeu Stan, em uma voz tão fria quanto gelo. "Me mande a conta dos seus serviços. Seu superior, Eric, foi bastante categórico quanto a isso. Terei que conhecê-lo algum dia." Seu tom indicava que esse encontro não seria agradável para Eric.
Isabel disse abruptamente, "Sua humana estúpida! Você derramou a minha bebida!" Bill passou por mim estendendo a mão para arrancar a escuta debaixo da mesa e largá-la na água, e Isabel, andando ainda mais suavemente para impedir que a água transbordasse pelos lados da tigela, deixou a sala. Seu companheiro ficou para trás.
Isso tinha sido disposto da forma mais simples. E era no mínimo possível que quem quer que estivesse ouvindo fosse enganado por aquele pequeno diálogo. Todos nós relaxamos, agora que a escuta não estava mais lá. Mesmo Stan parecia um pouco menos assustador.
"Isabel diz que você acredita que Farrell pode ter sido raptado pela Sociedade," o homem disse. "Talvez essa jovem e eu pudéssemos ir para o Centro da Sociedade amanhã, e tentar descobrir se lá existem planos para algum tipo de cerimônia em breve."
Bill e Stan o consideraram cuidadosamente.
"Essa é uma boa idéia," disse Stan. "Um casal parece ser menos evidente."
"Sookie?" Bill perguntou.
"Certamente nenhum de vocês pode ir," eu disse. "Acho que talvez pudéssemos conseguir pelo menos o projeto do local. Se você acha que há realmente uma chance de Farrell estar preso lá." Se eu pudesse encontrar mais informações sobre a situação no Centro da Sociedade, talvez eu pudesse evitar que os vampiros atacassem. Eles com certeza não iriam descer até a delegacia de polícia para registrar uma denuncia de pessoas desaparecidas para incitar a polícia a fazer uma busca no Centro. Não importa o quanto os vampiros de Dallas quisessem permanecer dentro dos limites da lei humana para que fossem bem sucedidos em colher os benefícios da integração, eu sabia que se um vampiro de Dallas estava sendo mantido cativo no Centro, humanos morreriam a torto e a direito. Eu poderia talvez evitar que isso acontecesse, e localizar o desaparecido Farrell, também.
"Se esse vampiro tatuado é um renunciante e planeja encontrar o Sol, levando Farrell com ele, e se isto está sendo organizado através da Sociedade, então o falso padre que tentou agarrar você no aeroporto deve trabalhar para eles. Eles sabem quem é você agora," salientou Bill." Você teria que usar sua peruca." Sorriu com satisfação. A peruca tinha sido idéia dele.
Uma peruca neste calor. Oh, diabos. Tentei não parecer petulante. Afinal, seria melhor ter uma coceira na cabeça do que ser identificada como uma mulher que se relacionava com vampiros, enquanto eu estivesse visitando um Centro da Sociedade do Sol. "Seria melhor se houvesse um outro humano comigo," eu admiti, sentindo muito ter que envolver mais alguém em perigo.
"Este é o homem atual de Isabel," disse Stan. Ele ficou silencioso por um minuto, e eu suponho que ele estava "transmitindo" para ela, ou como quer que ele contactasse seus subordinados.
Como era de se esperar, Isabel entrou. Tinha que ser conveniente, ser capaz de convocar as pessoas desse jeito. Você não precisaria de um interfone, ou um telefone. Pergunto-me quão distante outros vampiros poderiam estar e ainda receber a sua mensagem. Eu fiquei meio que agradecida por Bill não poder me enviar sinais sem palavras, porque eu me sentiria demais como sua escrava. Stan poderia convocar humanos da forma como ele chamava seus vampiros? Talvez eu realmente não quisesse saber.
O homem reagiu à presença de Isabel da maneira que um perdigueiro faz quando ele percebe uma codorna. Ou talvez tenha sido mais como um homem faminto a quem foi servido um filé grande, e ainda tinha que esperar pela oração de agradecimento. Você poderia quase ver água em sua boca. Eu esperava que eu não parecesse desse jeito quando eu estava perto de Bill.
"Isabel, o seu humano se ofereceu para ir com Sookie ao Centro da Sociedade do Sol. Ele pode ser convincente como um convertido em potencial?"
"Sim, eu acho que ele pode," disse Isabel, fitando os olhos do homem.
"Antes que você vá - temos visitantes esta noite?"
"Sim, um, da Califórnia."
"Onde ele está?"
"Na casa."
"Ele esteve nesta sala?" Naturalmente, Stan adoraria que o plantador da escuta fosse um vampiro ou humano que ele não conhecesse.
"Sim".
"Traga-o."
Uns bons cinco minutos mais tarde, Isabel voltou rebocando um vampiro alto e loiro. Ele devia ter um metro e noventa e cinco, ou talvez até mais. Ele era musculoso, rosto recém-barbeado, e ele tinha uma cabeleira cor de trigo. Eu olhei para os meus pés imediatamente, enquanto eu senti que Bill estava imóvel.
Isabel disse: "Este é Leif."
"Leif," Stan disse suavemente, "bem-vindo ao meu ninho. Esta noite temos um problema aqui."
Eu encarava meus dedos do pé, desejando mais do que qualquer coisa que já tivesse desejado que eu pudesse estar completamente sozinha com Bill por dois minutos e descobrir o que diabos estava acontecendo, porque esse vampiro não era nenhum "Leif," e ele não era da Califórnia.
Era Eric.
As mãos de Bill entraram em minha linha de visão e se fecharam em torno das minhas. Ele apertou meus dedos muito cuidadosamente, e eu retornei. Bill deslizou o braço em minha volta, e eu me inclinei contra ele. Eu precisava descansar, por Deus.
"Como posso ajudá-lo?" Eric - não, Leif, no momento – perguntou com cortesia.
"Parece que alguém entrou nesta sala e realizou um ato de espionagem."
Essa parecia uma bela maneira de explicar. Stan queria manter a escuta em segredo por enquanto, e levando em conta o fato de realmente haver um traidor aqui, isso era provavelmente uma grande idéia.
“Eu sou um visitante no seu ninho, e não tenho nenhum problema com você ou qualquer um dos seus."
A calma e sincera negação de Lief foi bastante impressionante, dado que eu sabia de fato de que toda sua presença ali era impostora para favorecer algum propósito vampírico insondável.
"Desculpem-me," eu disse, soando tão frágil e humana quanto eu possivelmente poderia.
Stan pareceu bastante irritado com a interrupção, mas ele que se dane.
"O, er, item, teria de ter sido colocado aqui mais cedo do que hoje," eu disse, tentando soar como se estivesse certa de que Stan já havia pensado em tal fato. "Para obter os detalhes de nossa chegada em Dallas."
Stan estava olhando para mim sem qualquer expressão.
Quem tem medo de se molhar, não sai na chuva*. "E com sua licença, estou realmente esgotada. Bill poderia me levar de volta ao hotel agora?"
* (no original é In for a penny, in for a pound, que é uma expressão antiga relacionada a apostas, que quer dizer que se você vai correr um risco que seja logo um dos grandes, achei melhor traduzir com um ditado nosso que tem mais ou menos o mesmo sentido)
"Nós temos Isabel para levá-la de volta sozinha," disse Stan desdenhosamente.
"Não, senhor."
Por trás dos óculos falsos, as sobrancelhas pálidas de Stan levantaram-se voando. "Não?" Ele soou como se nunca tivesse ouvido falar desta palavra.
"Pelos termos do meu contrato, eu não vou a lugar algum sem um vampiro da minha área. Bill é esse vampiro. Não vou a lugar nenhum sem ele, durante a noite."
Stan me lançou outro olhar bem longo. Eu fiquei feliz que tinha encontrado a escuta e me proveiútilde outra maneira, ou eu não iria durar muito na jurisdição de Stan. "Vá," disse ele, e Bill e eu não perdemos tempo nenhum. Nós não poderíamos ajudar Eric se Stan chegasse a suspeitar dele, e nós muito possivelmente poderíamos entregá-lo.Eu seria de longe a mais provável que fizesse isso por algum gesto ou palavra, com Stan me observando. Os vampiros têm estudado os humanos ao longo de séculos, daquele jeito como os predadores aprendem tanto quanto possível sobre a sua presa.
Isabel saiu com a gente, e voltamos em seu Lexus para a carona de volta até o Hotel Silent Shore. As ruas de Dallas, embora não estivessem vazias, estavam pelo menos muito mais calmas do que quando tínhamos chegado ao ninho horas antes. Eu estimava que faltavam menos de duas horas até o amanhecer.
"Obrigada," eu disse educadamente quando estacionamos sob o átrio do hotel.
"O meu humano virá buscar você às três horas da tarde," Isabel me disse.
Reprimindo o instinto de dizer, "Sim, senhora!" e batendo meus calcanhares juntos, eu só disse a ela que isso seria ótimo. "Qual é o nome dele?" Perguntei.
"O nome dele é Hugo Ayres," disse ela.
"Ok." Eu já sabia que ele era um homem ágil com uma idéia. Fui para o saguão e esperei por Bill. Ele estava apenas alguns segundos atrás de mim, e nós subimos pelo elevador em silêncio.
"Você tem a chave?" ele perguntou-me na porta do quarto.
Eu estava semi-adormecida. "Onde está a sua?" Eu perguntei, nada graciosamente.
"Eu só gostaria de vê-la recuperar a sua," disse ele.
De repente eu melhorei o meu humor. "Talvez você gostaria de encontrá-la,", eu sugeri.
Um vampiro do sexo masculino com uma cabeleira escura de comprimento até a cintura passeava pelo corredor, com seu braço em torno de uma garota cheia de curvas com cabelo ruivo crespo. Quando eles entraram num quarto mais distante ao fundo do corredor, Bill começou a procurar pela chave.
Ele a achou muito rápido.
Uma vez lá dentro, Bill me pegou nos braços e me beijou longamente. Precisávamos conversar, já que tanta coisa aconteceu durante esta noite longa, mas eu não estava com humor pra isso e nem ele.
A melhor coisa sobre saias, eu descobri, era que elas simplesmente deslizavam para cima, e se você estivesse usando apenas uma calcinha fio dental por baixo, ela poderia desaparecer num instante. O paletó cinza estava no chão, a blusa branca foi descartada, e os meus braços estavam travadas em torno do pescoço de Bill antes que você pudesse dizer, "Transe com um vampiro."
Bill estava encostado contra a parede da sala de estar tentando abrir suas calças comigo ainda enrolada em seu corpo quando alguém bateu na porta.
"Droga," ele sussurrou no meu ouvido. "Vá embora," disse ele, um pouco mais alto. Eu me retorci contra ele e sua respiração presa se prendeu em sua garganta. Ele tirou os grampos e prendedores do meu cabelo para deixá-lo cair pelas minhas costas.
"Preciso falar com você," disse uma voz familiar, um pouco abafada pela porta espessa.
"Não," eu me queixei. "Diga que não é Eric." A única criatura no mundo que tínhamos de admitir.
"É o Eric," disse a voz.
Eu desenlacei minhas pernas da cintura de Bill, e ele gentilmente me colocou no chão. Irritada de verdade, eu fui como um furacão para o quarto colocar o meu roupão. Para o inferno com recolocar todas aquelas roupas.
Voltei quando Eric estava dizendo a Bill que ele tinha se saído bem esta noite.
"E, é claro, você estava maravilhosa, Sookie," disse Eric, lançando um olhar abrangente ao roupão rosa e curto. Eu levantei os olhos para ele – mais alto e mais alto - e desejei que ele estivesse no fundo do Rio Vermelho, com sorriso espetacular, cabelo dourado, e tudo mais.
"Ah," eu disse malignamente, "muito obrigada por ter subido para nos dizer isso. Não poderíamos ter ido para a cama sem um tapinha nas costas vindo de você."
Eric parecia tão insossamente encantado quanto ele possivelmente poderia. "Oh, querida," disse ele. "Eu interrompi algo? Estas seriam – bem, esta – seria sua, Sookie?" Ele segurava a tira preta que anteriormente tinha sido uma lateral da minha calcinha.
Bill disse, "Em uma palavra, sim. Há mais alguma coisa que você gostaria de discutir com a gente, Eric?" O gelo ficaria surpreso com o quanto Bill podia ser frio.
"Nós não temos tempo hoje à noite," disse Eric pesarosamente, "já que a luz do dia está tão próxima, e há coisas que eu preciso ver antes de dormir. Mas amanhã à noite devemos nos encontrar. Quando você descobrir o que Stan quer que você faça, deixe-me um recado no balcão, e faremos um acordo."
Bill assentiu. "Adeus, então," disse ele.
"Você não quer uma bebida noturna?" Ele estava esperando que oferecêssemos uma garrafa de sangue? Os olhos de Eric foram para o frigobar, e depois para mim. Eu me arrependi de estar vestindo um roupão de nylon fino em vez de algo volumoso e de algodão bem felpudo. "Quente direto da veia?" Bill conservou um silêncio insensível.
Seu olhar demorando sobre mim até ao último minuto, Eric atravessou a porta e Bill a trancou logo atrás dele. "Você acha que ele está ouvindo lá fora?" Perguntei ao Bill, enquanto ele desamarrava a faixa do meu robe.
"Eu não me importo," disse Bill, e inclinou sua cabeça para outras coisas.
***
Quando levantei, por volta de uma hora da tarde, o hotel tinha um silêncio apalpável. Evidentemente, a maior parte dos hóspedes estava dormindo. Arrumadeiras não iriam entrar em um quarto durante o dia. Eu tinha notado a segurança na noite passada – guardas vampiros. O dia seria diferente, já que a segurança durante o dia era pelo que os hóspedes pagavam tão maciçamente. Eu liguei para serviço de quarto pela primeira vez na minha vida e pedi o café da manhã. Eu estava faminta como um cavalo, pois eu não tinha comido nada ontem à noite. Eu estava saindo do banho e enrolada no meu roupão quando o garçom bateu na porta, e depois que eu tive a certeza de que ele era quem dizia ser, o deixei entrar.
Após a tentativa de me raptarem no aeroporto no dia anterior, eu não estava tomando nada por garantido. Eu segurei o spray de pimenta ao meu lado enquanto o jovem posicionava a comida e o bule de café. Se ele desse um passo em direção a porta atrás da qual Bill dormia no seu caixão, eu o atingiria. Mas este indivíduo, Arturo, tinha sido bem treinado, e seus olhos nunca sequer desviaram-se em direção ao quarto. Ele nunca olhou diretamente para mim, também. Ele estava pensando em mim, no entanto, e eu desejei ter posto um sutiã antes de deixá-lo entrar.
Quando ele foi embora - e como Bill tinha me instruído, acrescentei uma gorjeta à nota que tinha assinado – eu comi tudo o que ele tinha trazido: salsicha e panquecas e uma tigela de bolas de melão. Oh Deus, isso é muito gostoso. A calda era realmente xarope de bordo, e as frutas estavam bem maduras. A salsicha estava maravilhosa. Eu fiquei feliz que Bill não estava por perto para me olhar e fazer com que me sentisse desconfortável. Ele realmente não gosta de me ver comer, e ele odeia ele que eu coma alho.
Escovei meus dentes e cabelos e apliquei minha maquiagem. Já estava na hora de me preparar para a minha visita ao Centro da Sociedade. Eu dividi meu cabelo e o prendi para cima, e peguei a peruca da caixa. Era curta e castanha e realmente vulgar. Eu tinha pensado que Bill estava louco quando ele sugeriu que eu trouxesse uma peruca, e eu ainda me pergunto por que lhe veio à mente que eu poderia precisar de uma, mas eu fiquei grata por tê-la trazido. Eu tinha um par de óculos como o de Stan, que servia para o mesmo propósito de camuflagem, e os coloquei. Houve um pequeno aumento na parte inferior, para que eu pudesse afirmar legitimamente que eram óculos de leitura.
O que fanáticos vestiam para ir a uma reunião de fanáticos? Em minha experiência limitada, fanáticos eram normalmente conservadores ao se vestirem, ou porque eram preocupados demais com outras questões para pensarem nisso ou porque eles viam algum pecado em vestir-se elegantemente. Se eu estivesse em casa eu teria que correr para o Wal-Mart e sido conveniente com o dinheiro, mas eu estava aqui no caro e sem janelas Hotel Silent Shores. Entretanto, Bill tinha me dito para ligar para a recepção caso eu precisasse de qualquer coisa. Então foi o que fiz.
"Recepção," disse um humano que estava tentando copiar a calma e fria voz de um vampiro antigo. "Como posso ajudar?" Tive vontade de dizer a ele para desistir. Quem quer uma imitação quando o verdadeiro está sob o mesmo teto?
"Aqui é Sookie Stackhouse do trezentos e quatorze. Preciso de uma saia longa de brim, tamanho trinta e oito, e uma blusa floral em tom pastel ou um top de tricô, do mesmo tamanho."
"Sim, senhora," disse ele, após uma pausa bem longa. "Quando eu tenho que providenciá-los para a senhora?"
"Breve." Caramba, isso foi muito divertido. "De fato, quanto mais rápido melhor." Eu estava começando a gostar disso. Eu amei estar ‘por conta’ nas despesas de outra pessoa.
Assisti às notícias enquanto esperava. Eram as notícias típicas de qualquer cidade americana: problemas de tráfego, problemas de zoneamento, problemas de homicídios.
"Uma mulher encontrada morta ontem à noite num hotel em Dumpsterhas foi identificada," disse um apresentador, com a voz apropriadamente grave. Ele abaixou os cantos de sua boca para demonstrar preocupação séria. "O corpo de Bethany Rogers, de
vinte e um anos de idade, foi encontrado atrás do Hotel Silent Shore, famoso por ser o primeiro hotel em Dallas a hospedar os mortos-vivos. Rogers foi morta por um único tiro na cabeça. A Polícia descreveu o assassinato como "estilo execução." A detetive Tawny Kelner disse ao nosso repórter que a polícia está acompanhando várias pistas." A imagem da tela foi transferida de um rosto artificialmente severo para um rosto verdadeiramente amargo. A detetive tinha seus quarenta anos, eu achei, uma mulher muito baixa com uma longa trança lhe descendo as costas. O alvo da câmera fez uma rotação para incluir o repórter, um pequeno homem negro com um terno muito bem cortado.
"Detetive Kelner, é verdade que Bethany Rogers trabalhava em um bar de vampiros?"
O olhar carrancudo da detetive ficou ainda mais temível. "Sim, é verdade," disse ela. "No entanto, ela era contratada como uma garçonete, não como uma animadora." Uma animadora? O que uma animadora faz no Asas de Morcego? "Ela estava trabalhando lá há apenas dois meses."
"O local utilizado para despejar o seu corpo não indica que houve algum tipo de envolvimento de vampiros?" O repórter foi mais persistente do que eu seria.
"Pelo contrário, acredito que o local foi escolhido para enviar uma mensagem para os vampiros," Kelner rebateu, e em seguida olhou como se lamentasse ter falado. "Agora, se você me der licença..."
"Claro, detetive," disse o repórter, um pouco confuso. "Então, Tom," e ele virou-se para a câmera, como se pudesse ver o apresentador através da lente na estação de tv, "esse é um caso pertubador."
Heim?
O apresentador âncora percebeu que o repórter não estava fazendo o menor sentido, também, e rapidamente mudou para outro tópico.
A pobre Bethany estava morta, e não havia ninguém com quem eu pudesse conversar sobre isso. Eu reprimi as lágrimas; Eu senti que nem tinha o direito de chorar pela a menina. Eu nãopude deixar de me perguntar o que tinha acontecido com Bethany Rogers na noite passada depois que tinha sido conduzida para fora daquela sala do ninho vampiro. Se não houver nenhuma marca de presas, sem dúvida não foi um vampiro que a matou. Era raro um vampiro que poderia dispensar o sangue.
Fungando de reprimir as lágrimas e infeliz com consternação, me sentei no sofá e procurei pela minha bolsa tentando encontrar um lápis. Até que enfim, descobri uma caneta. Usei-a para coçar por baixo da peruca. Mesmo no ar-condicionado pesado do hotel, ela coçava. Em trinta minutos, houve uma batida na porta. Mais uma vez, eu olhei através do olho mágico. Era Arturo novamente, com roupas estendidas por seus braços.
"Devolveremos aquelas que a senhora não desejar," disse ele, entregando-me o monte. Ele tentou não encarar meu cabelo.
"Obrigada," eu disse, e dei a gorjeta à ele. Eu podia me acostumar com isso muito rápido.
Não demorou muito tempo até o horário que supostamente eu deveria encontrar com o tal de Ayres, o ‘pão de mel’ de Isabel. Largando o roupão onde eu estava, olhei para o que Arturo me trouxe. Uma blusa pálida cor de pêssego com flores beges, essa serviria, e a saia... hmmm. Ele não tinha sido capaz de encontrar em brim, aparentemente, e as duas que ele trouxe eram cáquis. Isso ficaria bem, eu pensei, e puxei uma delas. Ela parecia muito justa para o efeito que eu precisava, e fiquei agradecida por ele ter trazido um outro estilo. Era simplesmente perfeita para a imagem. Deslizei meus pés nas sandálias rasteiras, coloquei brincos minúsculos em minhas orelhas furadas, e eu estava pronta para ir. Eu até tinha uma bolsa de palha desgastada para acompanhar o traje. Infelizmente, essa era a minha bolsa normal. Mas ela combinou direitinho. Eu despejei meus documentos e itens de identificação, e desejei ter pensado nisso antes em vez de no último minuto. Eu me perguntava que outras medidas de segurança cruciais eu poderia estar esquecendo.
Eu saí pelo corredor silencioso. Foi exatamente como tinha sido na noite anterior. Não havia espelhos e nem janelas, e a sensação de confinamento era completa. O vermelho escuro do tapete e a combinação de tons escuros de azul, vermelho e creme do papel de parede não ajudava. O elevador abriu-se ao meio quando eu toquei o botão, e desci o percurso sozinha. Nem mesmo música de elevador. O Silent Shore estava à altura do seu nome.
Havia guardas armados de ambos os lados do elevador, quando saí em direção ao lobby. Eles estavam vigiando as portas principais do hotel. Essas portas estavam obviamente bloqueadas. Tinha um monitor de TV montado ao lado das portas, e ele mostrava a calçada do lado de fora das portas. Outro monitor mostrava uma visão mais abrangente.
Eu achei que um terrível ataque devia ser iminente e eu congelei, o meu coração disparou, mas após alguns segundos de calma eu me dei conta de que eles deviam ficar lá o tempo todo. Era por esta razão que os vampiros se hospedavam aqui, e em outros hotéis com especialidades semelhantes. Ninguém iria entrar nos elevadores tendo que passar por esses guardas. Ninguém invadiria os quartos do hotel onde os vampiros deitavam sonolentos e indefesos. Esta era a razão pela qual a diária do hotel era exorbitante. Os dois guardas de plantão no momento eram ambos enormes, e usavam o uniforme preto do hotel. (Ho, hum. Todo mundo parecia achar que vampiros são obcecados com o preto.) As pistolas dos guardas pareciam gigantescas para mim, mastambém, eu não sou tão familiarizada com armas. Os homens olharam para mim e em seguida voltaram para o mesmo olhar entediado fixo em frente.
Até mesmo os recepcionistas estavam armados. Havia espingardas em prateleiras atrás do balcão. Eu me perguntava até onde iriam para proteger seus hóspedes. Será que eles realmente atirariam em outros humanos, invasores? Como a lei lidaria com isso?
Um homem usando óculos sentou-se em uma das poltronas estofadas que enfatizava o piso de mármore do saguão. Ele tinha cerca de trinta anos, alto e esguio, com cabelo cor de areia. Ele estava usando terno, um terno de verão de tecido leve na cor cáqui, com uma gravata conservadora e sapatos tipo mocassim. O lavador de pratos, com certeza suficiente.
"Hugo Ayres?" Perguntei.
Ele saltou para apertar a minha mão. "Você deve ser Sookie? Mas o seu cabelo... na noite passada, vocêera loira?"
"Eu sou. Estou usando uma peruca."
"Parece muito natural."
"Bom. Você está pronto?"
"Meu carro está lá fora." Ele tocou a minha costa brevemente me indicando a direção certa, como se eu não fosse ver as portas caso contrário. Apreciei a gentileza, ainda que não o que implicava. Eu estava tentando conseguir uma impressão de Hugo Ayres. Ele não era um apresentador de TV.
"Há quanto tempo está namorando Isabel?" Perguntei enquanto colocávamos o cinto de segurança em seu Caprice.
"Ah, hum, acho que há cerca de onze meses," disse Hugo Ayres. Ele tinha mãos grandes, com sardas nas costas. Eu estava surpresa por ele não estar morando no subúrbio com uma esposa com luzes no cabelo e duas crianças com cabelos cor de areia.
"Você é divorciado?" Perguntei impulsivamente. Fiquei arrependida quando vi o luto cruzar seu rosto.
"Sim," disse ele. "Muito recentemente."
"É uma pena." Eu comecei a perguntar sobre os filhos, decidi que isso não era da minha conta. Podia lê-lo bem o suficiente para saber que ele tinha uma filhinha, mas não pude descobrir o seu nome e idade.
"É verdade que você pode ler pensamentos?" ele perguntou.
"Sim, é verdade."
"Não admira que você seja tão atraente para eles."
Bem, ai, Hugo. "Essa é provavelmente uma boa parte do motivo," disse, mantendo a minha voz monótona e imparcial. "Qual é o seu trabalho durante o dia?"
"Sou um advogado," disse Hugo.
"Não admira que você seja tão atraente para eles," disse, na voz mais neutra que eu poderia conduzir.
Após um longo silêncio, Hugo disse: "Acho que eu mereci essa."
"Vamos deixar isso para trás. Vamos criar uma história como pretexto."
"Podemos ser irmão e irmã?"
"Isto não está fora de questão. Tenho visto grupos de irmãos e irmãs que se parecem menos entre si do que nós dois. Mas acho que namorado-namorada poderia explicar mais as lacunas no nosso próprio conhecimento, se nós formos separados e interrogados. Eu não estou prevendo que isso vá acontecer, e eu ficaria espantada se o fizessem, mas como irmão e irmã nós teríamos de saber tudo sobre o outro."
"Você está certa. Porque não dizer que nos conhecemos na igreja? Você acabou de se mudar para Dallas, e eu a conheci na escola dominical na igreja metodista Glen Craigie. Essa é realmente minha Igreja."
"Bem. Que tal se eu fosse a gerente de um... restaurante?" Por trabalhar no Merlotte's, pensei que poderia ser convincente no papel se não fosse interrogada intensamente.
Ele parecia um pouco surpreso. "Isso é diferente o bastante para soar bem. Eu não sou muito de atuar, por isso se eu apenas for eu mesmo, eu vou ficar bem."
"Como você conheceu Isabel?" Claro que eu estava curiosa.
"Eu representei Stan no tribunal. Os vizinhos dele entraram com uma ação para que vampiros fossem barrados do bairro. Eles perderam." Hugo tinha sentimentos mistos sobre seu envolvimento com uma mulher vampira, e não estava totalmente certo que ele deveria ter vencido o processo judicial, inclusive. De fato, Hugo estava profundamente ambivalente sobre Isabel.
Ah, bom, isso fez esta incubência ser muito mais assustadora. "Isso saiu nos jornais? O fato de você ter representado Stan Davis?"
Ele pareceu desgostoso. "Sim, saiu. Merda, alguém no Centro poderia reconhecer o meu nome. Ou a mim, a partir de uma foto minha no jornal."
"Mas isso poderia ser ainda melhor. Você pode dizer a eles que viu o erro que cometeu, depois de conhecer os vampiros."
Hugo pensou sobre isso, suas grandes e sardentas mãos se movendo agitadamente ao volante. "Ok," disse ele finalmente. "Como eu disse, eu não sou muito bom ator, mas eu acho que isso dá pra fazer."
Eu atuava o tempo todo, então eu não estava muito preocupada comigo mesma. Tomar nota do pedido de um drink para um cara enquanto finge que você não sabe que ele está especulando sobre se você é loira em todas as partes do corpo pode ser um excelente treinamento de atuação. Você não pode culpar as pessoas – na maior parte das vezes - pelo que estão pensando em seu íntimo. Você tem que aprender a colocar-se acima disso.
Eu comecei a sugerir ao advogado que ele segurasse a minha mão se as coisas ficassem tensas hoje, para enviar-me pensamentos que sobre os quais eu poderia agir. Mas sua ambivalência, a ambivalência que soprava dele como uma colônia barata, me deteve. Ele podia ser escravo sexual de Isabel, ele podia até mesmo amá-la e o perigo que ela representava, mas eu não achava que o seu coração e mente estavam totalmente comprometidos com ela.
Em um momento desagradável do auto-avaliação, eu me perguntava se o mesmo poderia ser dito sobre Bill e eu. Mas agora não era a hora nem o local para refletir sobre isso. Eu estava tendo o bastante da mente de Hugo para imaginar se ele era completamente confiável em termos da nossa pequena missão. Era só um pequeno passo dali para me perguntar o quanto eu estava segura em sua companhia. Eu também me perguntava o quanto Hugo Ayres realmente sabia sobre mim. Ele não tinha estado na sala, quando eu estava trabalhando na noite anterior. Isabel não tinha me passado a impressão de ser uma tagarela. Era possível que ele não soubesse muito a meu respeito.
A estrada de quatro faixas, passando através de um enorme subúrbio, era cercada por todos os habituais locais de fast-food e cadeias de lojas de todos os tipos. Mas gradativamente, os estabelecimentos comerciais davam lugar às residências, e o concreto às áreas verdes. O tráfico parecia implacável. Eu jamais poderia viver em um lugar deste tamanho, deparar-me com isso diariamente.
Hugo diminuiu e ligou o sinal quando nós chegamos a um grande cruzamento. Nós estávamos prestes a virar para a área de estacionamento de uma grande igreja; pelo menos, tinha sido anteriormente uma igreja. O santuário era enorme, pelos padrões de Bon Temps. Somente a igreja Batista poderia contar com esse tanto de demanda, na parte da cidade onde moro, e isso se todas as suas congregações se reunissem. Os dois andares do santuário eram ladeados por duas longas alas de um andar. O edifício inteiro era de tijolo pintado de branco, e todas as janelas estavam coloridas. Lá tinha um gramado quimicamente verde em toda a área, e um enorme estacionamento.
A placa sobre o bem tratado gramado dizia CENTRO DA SOCIEDADE DO SOL - Só Jesus Levantou-se dos Mortos.
Eu bufei enquanto abria a minha porta e saía do carro de Hugo. "Aquilo ali é falso," apontei para meu companheiro. "Lázaro levantou-se dos mortos, também. Os idiotas não conseguem sequer passar as escrituras sagradas corretamente."
"É melhor banir essa atitude da sua cabeça," advertiu-me Hugo, enquanto ele saía e travava as portas. "Isso vai fazer você ser descuidada. Estas pessoas são perigosas. Eles assumiram responsabilidade, publicamente, pela entrega de dois vampiros aos Drenadores, dizendo que pelo menos a humanidade poderia se beneficiar com a morte de um vampiro, de alguma forma."
"Eles lidam com Drenadores?" me senti enojada. Drenadores seguiam uma profissão extremamente arriscada. Eles encurralavam vampiros, aprisionando-os em correntes de prata, e drenavam o sangue direto deles para vender no mercado negro. "Essas pessoas aqui têm entregue vampiros aos Drenadores?"
"Isso foi o que um dos seus membros disse em uma entrevista publicada na imprensa. Naturalmente, o morto estava nas notícias do dia seguinte, negando veementemente o relato, mas eu achava que isso era só um despiste. A Sociedade assassina vampiros de qualquer forma que eles consigam, acham que eles são pecaminosos e uma abominação, e eles são capazes de qualquer coisa. Se você é a melhor amiga de um vampiro, eles podem produzir uma pressão enorme para suportar. Basta lembrar disso, toda vez que você abrir a boca aqui."
"Você, também, o Sr. Aviso Agourento."
Nós caminhamos lentamente para o prédio, observando-o enquanto entrávamos. Havia cerca de dez outros carros no estacionamento, indo do envelhecido e amassado ao novíssimo e luxuoso. O meu favorito era um Lexus branco perolado, tão bom que poderia até ter pertencido a um vampiro.
"Alguém está se dando bem por fora do negócio do ódio," observou Hugo.
"Quem é o líder deste lugar?"
"Um cara chamado Steve Newlin."
"Aposto que este é o carro dele."
"Essa seria a razão para o adesivo no pára-choque."
Eu assenti. Ele dizia FAÇA UM MORTO-VIVO COMETER EUTANÁSIA*. Balançando no espelho de dentro estava a réplica - bem, talvez uma réplica - de uma estaca.
(*no original a frase é TAKE THE UN OUT OF UNDEAD, que é um trocadilho que fica ridículo traduzido, mais ou menos como “tire o vivo fora da palavra morto-vivo”)
Este era um lugar movimentado, para um sábado à tarde. Havia crianças usando os balanços montados e pendurando-se nas barras de ferro de brinquedo em um jardim cercado ao lado do prédio. As crianças estavam sendo vigiadas por um adolescente entediado, que olhava para cima de vez em quando após futucar suas unhas. Hoje não estava tão quente como o dia anterior – o verão estava condenado a perder o seu posto, e graças a Deus por isso - e a porta do prédio estava escorada aberta para tirar vantagem do dia bonito e de temperatura moderada.
Hugo pegou a minha mão, o que me fez pular até que eu percebi que ele estava tentando nos fazer parecer apaixonados. Ele tinha zero de interesse em mim pessoalmente, o que era bom para mim. Após alguns ajustes conseguimos parecer bem naturais. O contato fez com que a mente de Hugo ficasse mais aberta para mim, e eu pude dizer que ele estava ansioso porém decidido. Ele achou que me tocar era desagradável, o que era um sentimento um pouco forte demais para que eu me sentisse confortável com isso; falta de atração era insignificante, mas esta aversão efetiva me deixou apreensiva. Tinha algo por trás desse sentimento, alguma atitude básica... mas havia gente à nossa frente, e eu puxei minha mente de volta ao meu trabalho. Eu podia sentir meus lábios movendo-se para o sorriso deles.
Bill teve o cuidado de deixar o meu pescoço em paz ontem à noite, para que eu não tivesse que me preocupar em disfarçar qualquer marca de mordida, e em minha roupa nova e neste lindo dia era mais fácil para nós parecermos despreocupados enquanto acenávamos com a cabeça para um casal de meia-idade que estava de saída.
Passamos para a obscuridade do edifício, no que deve ter sido a ala da escola dominical da Igreja. Havia novas placas fora das salas subindo e descendo o corredor, placas em que se lia ORÇAMENTO E FINANÇAS, PUBLICIDADE, e mais sinistramente, RELAÇÕES COM A MÍDIA.
Uma mulher em seus quarenta anos saiu de uma porta distante ao fundo do corredor, e virou-se para nós. Ela parecia agradável, até mesmo doce, com uma pele adorável e cabelos curtos castanhos. Seu batom definitivamente rosa combinava com suas unhas definitivamente rosa, e seu lábio inferior ligeiramente fazia beicinho, o que lhe dava um ar inesperadamente sensual; isso reunia uma provocação peculiar ao seu corpo agradavelmente arredondado. Uma saia de brim e uma blusa de tricô, caprichadamente enfiada por dentro, eram o eco da minha própria roupa, e eu me dei batidinhas nas costas mentalmente.
"Posso ajudá-los?" ela perguntou, parecendo esperançosa.
"Queremos saber mais sobre a Sociedade," disse Hugo, e ele parecia tão amável e sincero quanto a nossa nova amiga. Ela tinha um crachá, eu notei, que dizia S. Newlin.
"Estamos contentes que vocês estão aqui," disse ela. "Eu sou a esposa do diretor, Steve Newlin? Sou Sarah?" Ela apertou a mão de Hugo, mas não a minha. Algumas mulheres não acreditam em apertos de mãos com outras mulheres, então não fiquei preocupada com isso.
Nós trocamos ‘prazer em conhecer você’, e ela acenou uma mão feita por manicure em direção às portas duplas no fim do corredor. "Se vocês puderem me acompanhar, eu vou mostrar-lhes onde as coisas acontecem." Ela riu um pouco, como se a idéia de reunião de metas fosse um toque sarcástico.
Todas as portas do corredor estavam abertas, e o interior das salas evidenciava atividades perfeitamente expostas. Se a organização do Newlins estava mantendo prisioneiros ou realizando operações secretas, estava completando seus objetivos em alguma outra parte do edifício. Eu olhei para tudo tão atentamente quanto pude, determinada a encher-me de informação. Mas até agora o interior da Sociedade do Sol era tão enganosamente limpo quanto o exterior, e as pessoas dificilmente pareciam sinistras ou desonestas.
Sarah avançou a nossa frente com uma fácil caminhada. Ela agarrou com força um monte de pastas de arquivo contra seu peito e conversou por cima do ombro enquanto ela se movia num ritmo que parecia relaxado, mas na verdade era um pouco desafiador. Hugo e eu, abandonando as mãos dadas, tivemos que sair andando para acompanhar o ritmo.
Este edifício estava se revelando muito maior do que eu tinha estimado. Nós entramos na extremidade final de uma das alas. Agora nós atravessávamos o grande santuário da antiga Igreja, criada para encontros como em qualquer grande salão, e então passamos para a outra ala. Esta ala foi dividida em salas menores e maiores; a mais próxima do santuário era claramente o escritório do antigo pastor. Agora tinha uma placa na porta que dizia G. STEVEN NEWLIN, DIRETOR.
Esta foi a única porta fechada que eu tinha visto no prédio.
Sarah bateu e, depois de esperar um instante, entrou. Um homem alto e magro atrás da mesa ficou olhando atentamente para nós com um ar de prazeirosa expectativa. Sua cabeça não parecia grande o suficiente para o seu corpo. Seus olhos eram de azul vago, seu nariz era bicudo de perfil, e seu cabelo era castanho escuro quase do mesmo tom do de sua mulher, com uns fios cinza. Eu não sei qual a imagem que eu esperava de um fanático, mas esse homem não era ela. Ele parecia um pouco animado com seu estilo de vida.
Ele estava falando com uma mulher alta com cabelo acinzentado. Ela estava vestindo calça e uma blusa, mas parecia que ela se sentia mais confortável em um terno de executiva. Ela era formidavelmente artificial, e estava descontente com alguma coisa – talvez com nossa interrupção.
"O que posso fazer por vocês hoje?" Steve Newlin perguntou, indicando que Hugo e eu deveríamos nos sentar. Nós puxamos as poltronas de couro verde do lado oposto à sua mesa, e Sarah, sem ser convidada, caiu subitamente em uma cadeira menor que estava encostada na parede de um lado. "Com licença, Steve," ela disse para o marido. "Escuta, posso trazer para vocês dois um café? Ou Soda?"
Hugo e eu olhamos um pro outro e balançamos nossas cabeças.
"Querido, estes são – oh, eu nem sequer perguntei seus nomes?" Ela olhou para nós com uma aflição encantadora.
"Eu sou Hugo Ayres, e esta é a minha namorada, Marigold*."
(*marigold é um tipo de flor que aqui nós chamamos de cravo, ou mais conhecido como cravo-de-defunto, não traduzi por que ia ficar ridículo como nome próprio)
Marigold? Ele ficou louco? Eu mantive o meu sorriso colado no meu rosto com um esforço. Depois eu vi um vaso de cravos-de-defunto na mesa ao lado de Sarah, e pelo menos eu pude entender sua escolha. Nós certamente já teríamos cometido um grande erro; devíamos ter falado sobre isto na vinda para cá. É lógico que se a Sociedade era responsável pela escuta, eles já conheciam o nome Sookie Stackhouse. Graças a Deus Hugo se tocou disso.
"Já não conhecemos Hugo Ayres, Sarah?" O rosto de Steve Newlin tinha a perfeita expressão zombeteira - testa ligeiramente enrugada, sobrancelhas levantadas de modo questionador, cabeça inclinada para um lado.
"Ayres?" disse a mulher de cabelo acinzentado. "A propósito, eu sou Polly Blythe, chefe do cerimonial da Sociedade."
“Oh, Polly, eu sinto muito, eu fiquei distraída." Sarah inclinou sua cabeça dela de volta. Sua testa enrugou-se, também. Então suavizou a expressão e olhou fixamente para seu marido. "Não foi um Ayres o advogado que representou os vampiros em University Park?"
"Então era ele," disse Steve, se inclinando para trás em sua cadeira e cruzando suas pernas longas. Ele acenou para alguém passando pelo corredor e enlaçou seus dedos em torno de seu joelho. "Bem, é muito interessante que você esteja nos fazendo uma visita, Hugo. Nós podemos ter esperanças de que você tenha visto o outro lado da questão dos vampiros?" Steve Newlin emanava satisfação como o aroma que exala do gambá.
"É apropriado que você deva colocar dessa maneira," Hugo iniciou, mas a voz de Steve continou provocando:
"O lado dos sugadores de sangue, o lado escuro da existência dos vampiros? Já descobriu que eles querem matar todos nós, nos dominar com as suas maneiras sujas e promessas vazias?"
Eu sabia que os meus olhos estavam tão redondos quanto pratos. Sarah assentia cuidadosamente, ainda parecendo tão doce e meiga quanto um pudim de baunilha. Polly olhava como se ela estivesse tendo algum tipo de orgasmo realmente cruel. Steve disse - e ele ainda estava sorrindo - "Sabe, a vida eterna nesta terra pode parecer boa, mas você perderia sua alma e eventualmente, quando nós alcançarmos você – talvez não eu, naturalmente, talvez meu filho, ou eventualmente a minha neta – nós iríamos cravar-lhe uma estaca e queimá-lo e então você estaria no inferno de verdade. E isso não vai ser nada melhor por ter sido adiado. Deus tem um cantinho especial para os vampiros que vêm usando humanos como o papel higiênico e dando descarga em seguida..."
Bem, eca. Isto estava despencando montanha abaixo. E o que estava captando do Steve era exatamente esta interminável, envaidecida satisfação, juntamente com um forte traço de esperteza. Nada de concreto ou informativo.
"Desculpe-me, Steve," disse uma voz profunda. Eu girei na minha cadeira para ver um lindo homem de cabelo preto com um corte bem masculino e uma musculatura bem trabalhada. Ele sorriu para todos nós na sala com a mesma boa vontade que todos estavam mostrando. Isso tinha me impressionado antes. Agora, eu estava achando simplesmente assustador. "O nosso convidado está perguntando por você."
"Verdade? Estarei lá em um minuto".
"Eu queria que você pudesse vir agora. Tenho certeza que seus convidados não se importariam em esperar?" O cara do cabelo preto bem cortado nos lançou um olhar apelativo. Hugo estava com a mente absorta em lugares distantes, um lampejo de pensamento que me pareceu muito peculiar.
"Gabe, eu estarei lá assim que tiver acabado com os nossos visitantes," disse Steve muito firmemente.
"Bem, Steve..." Gabe não estava disposto a desistir dessa facilmente, mas ele percebeu um piscar de olhos de Steve que endireitou-se na cadeira descruzando as pernas, e Gabe captou a mensagem. Ele disparou um olhar para Steve que era tudo menos cheio de devoção, mas ele saiu.
Esse intercâmbio foi promissor. Me pergunto se Farrell estava atrás de alguma porta trancada, e eu poderia me imagnar voltando para o ninho dos vampiros de Dallas, dizendo para Stan exatamente onde seu irmão de ninho estava preso. E então...
Oh-oh. E então Stan viria e atacaria a Sociedade do Sol e mataria todos os membros e libertaria Farrell, e em seguida...
Ah, meu Deus.
***
"Nós só queríamos saber se você tem alguns eventos futuros aos quais possamos assistir, algo que nos dê uma idéia do alcance dos programas aqui." A voz de Hugo soou levemente curiosa, nada mais."Já que a senhorita Blythe está aqui, talvez ela possa responder a isso."
Eu notei Polly Blythe lançando um olhar para Steve antes de falar, e eu reparei que seu rosto permaneceu impassível. Polly Blythe ficou muito contente por ser convidada a dar informações, e ela estava muito contente pelo fato de Hugo e eu estarmos lá na Sociedade.
"Nós realmente temos alguns eventos por acontecer," a mulher de cabelos acinzentados disse. "Hoje à noite, teremos uma cerimônia fechada especial e após isso, teremos um ritual ao amanhecer do domingo."
"Isso parece interessante," eu disse. "Literalmente, ao amanhecer?"
"Oh, sim, exatamente. Chamamos o serviço de meteorolgia e tudo mais," disse Sarah, rindo.
Steve disse, "Você nunca mais esquecerá um dos nossos serviços ao amanhecer. É inspirador além da crença."
"Que tipo de - bem, o que acontece?" Hugo perguntou.
"Você verá a prova do poder de Deus bem na sua frente," disse Steve, sorrindo.
Isso soa muito, muito agourento. "Oh, Hugo," eu disse. "Isso não parece excitante?"
"Claro que sim. A que horas começa a cerimônia fechada?"
"Às seis e trinta. Queremos que os nossos membros cheguem aqui antes que eles acordem."
Por um segundo eu visualizei uma bandeja de pãezinhos servidos em algum local quente. Depois percebi que Steve queria dizer que os membros chegassem aqui antes que os vampiros saíssem para a noite.
"Mas o que acontece quando sua congregação for para casa?" Eu não poderia deixar de perguntar.
"Oh, você não deve ter ido para uma cerimônia fechada enquanto era adolescente!" Sarah disse. "É tudo muito divertido. Todo mundo vem e traz os seus sacos de dormir, e nós comemos e fazemos jogos e temos leituras da Bíblia e um sermão, e todos nós realmente passamos a noite na Igreja." Percebi que a Sociedade era uma Igreja, aos olhos de Sarah, e eu estava bem certa de que isso refletia a opinião dos restantes membros da direção. Se lá parecia uma Igreja, e funcionava como uma Igreja, então era uma Igreja, não importa qual fosse o seu estatuto fiscal.
Eu tinha ido umas duas vezes para cerimônias fechadas quando era adolescente, e eu praticamente não fui capaz de suportar a experiência. Um bando de garotos trancados em um prédio durante toda a noite, acompanhados minunciosamente, abastecidos com um fluxo infinito de filmes e lanches, atividades e sodas. Eu tinha sofrido através do bombardeamento mental dos hormônios adolescentes – entupidos de idéias e impulsos, os gritos e os acessos de raiva.
Isto seria diferente, eu disse à mim mesma. Estes são adultos, e adultos com propósitos nisto. Lá não teria um milhão de sacos de batatas fritas espalhados ao redor, e até poderia ter preparativos para uma noite de sono decente. Se Hugo e eu viéssemos, talvez a gente tivesse uma oportunidade de procurar pelo prédio e resgatar Farrell, porque eu tinha certeza de que ele era aquele que ia se reunir ao amanhecer do domingo, pudesse ele escolher ou não.
Polly disse, "Vocês serão muito bem vindos. Teremos cama e comida de sobra."
Hugo e eu nos olhamos indecisos.
"Porque nós não vamos apenas dar uma volta pelo prédio agora, e vocês poderão ver tudo o que há para ver? Depois vocês podem se decidir," Sarah sugeriu. Peguei a mão de Hugo, tomei um soco de ambivalência. Eu estava consternada com as emoções divididas de Hugo. Ele pensou, Vamos cair fora daqui.
Eu abandonei meus planos anteriores. Se Hugo estava em tal tumulto, nós não precisaríamos estar aqui. As perguntas poderiam esperar até mais tarde. "Nós devíamos voltar para minha casa e pegar os nossos sacos de dormir e travesseiros," eu disse brilhantemente. "Certo, amor?"
"E eu tenho que alimentar o gato," disse Hugo. "Mas estaremos de volta aqui às... seis a trinta, você disse?"
"Meu Deus, Steve, não temos alguns colchonetes deixados no depósito? Desde quando aquele outro casal veio para ficar aqui por um tempo?"
"Adoraríamos tê-los aqui conosco até que todos chegassem," Steve nos encorajou, seu sorriso radiante como nunca. Eu sabia que estávamos sendo ameaçados, e eu sabia que precisávamos sair dali, mas tudo que eu estava recebendo mentalmente do Newlins era um muro de determinação. Polly Blythe parecia estar na realidade quase – nos devorando com os olhos. Eu odiei ser forçada e sondada, agora que eu estava consciente de que eles tinham alguma suspeita de nós. Se pudéssemos simplesmente sair dali naquele momento, eu prometeria a mim mesma que nunca mais voltaria. Eu iria desistir desta investigação para os vampiros, eu só cuidaria do bar e dormiria com Bill.
"Nós realmente precisamos ir," eu disse com firme cortesia. "Nós estamos tão impressionados com vocês todos aqui, e nós queremos vir para a cerimônia fechada hoje à noite, mas ainda há tempo suficiente para nós fazermos algumas das nossas incubências antes. Sabe como é quando você trabalha a semana toda. Todas essas pequenas coisas se acumulam."
"Ei, elas ainda estarão lá quando a cerimônia fechada terminar amanhã!" Steve disse. "Vocês precisam ficar, ambos."
Não havia nenhuma maneira de sair daqui sem sair arrastando tudo pela frente até a saída. E eu não seria a primeira a fazê-lo, não enquanto houvesse qualquer esperança de que pudéssemos ir embora. Havia muitas pessoas em volta. Nós viramos à esquerda quando saímos do escritório de Steve Newlin, e com Steve andando a passo lento atrás de nós, e Polly à nossa direita, e Sarah à nossa frente, fomos descendo o corredor. Cada vez que passávamos por uma porta aberta, de dentro alguém chamava, "Steve, eu posso vê-lo por um minuto?" ou "Steve, Ed diz que temos de alterar o texto sobre isso!" Mas além de uma piscadela ou um pequeno tremor em seu sorriso, eu não podia ver muita reação de Steve Newlin a essas demandas constantes.
Eu me perguntava quanto tempo esse movimento duraria se Steve fosse removido. Então eu tive vergonha de mim mesma por pensar assim, porque o que eu quis dizer foi, se Steve fosse morto. Eu estava começando a achar que Sarah ou Polly seriam capazes de dar conta do serviço, se tivessem permissão, porque ambas pareciam feitas de aço.
Todos os escritórios estavam perfeitamente abertos e inocentes, se você considerar inocente a premissa sob a qual a organização foi fundada. Estes todos pareciam americanos habituais, particularmente mais-bem-apessoados-que-o-normal, e havia até algumas pessoas que eram não-caucasianos.
E um não humano.
Passamos por uma pequena e magra mulher hispânica no saguão de entrada, e enquanto os olhos dela agitaram-se sobre nós, eu peguei uma assinatura mental que eu senti apenas uma vez antes. Então, ela vinha de Sam Merlotte. Esta mulher, como Sam, era uma Metamorfa, e ampliou seus grandes olhos assim que sentiu o sopro de "diferente" em mim. Eu tentei capturar seu olhar, e por um minuto nós nos encaramos, eu tentando enviar uma mensagem à ela, e ela tentando não recebê-la.
"Eu contei-lhe que a primeira Igreja a ocupar este local foi construída no início dos anos sessenta?" Sarah estava dizendo, enquanto a minúscula mulher foi para o fundo do corredor num piscar de olhos. Ela lançou um olhar sobre seu ombro para trás, e eu encontrei os olhos dela novamente. Os dela estavam assustados. Os meus diziam, "Socorro."
"Não," eu disse, assustada com a súbita mudança na conversa.
"Só um pouquinho mais," Sarah persuadia. "E vamos ter visto toda a Igreja." Tínhamos chegado à última porta do fim do corredor. A porta correspondente na outra ala levava para o exterior. As alas pareciam ser exatamente equilibradas pelo lado de fora da Igreja. Minhas observações tinham sido obviamente falhas, mas ainda...
"É certamente um lugar imenso," disse Hugo de maneira agradável. Qualquer que fossem as emoções ambivalentes que o atormentavam ele parecia ter abrandado. Na verdade, ele já não parecia tão preocupado. Só alguém com nenhuma sensibilidade psíquica poderia deixar de se preocupar com esta situação.
Esse seria Hugo. Nenhuma sensibilidade psíquica. Ele só pareceu interessado quando Polly abriu a última porta, a porta plana, no final do corredor. Devia levar para fora.
Em vez disso, ela levava para baixo.
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