sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Capítulo 3

Eu abri os olhos com muita relutância. Senti que eu estava dormindo em um carro, ou que eu tinha tirado uma soneca em uma cadeira de encosto reto; Eu tinha definitivamente adormecido em algum lugar inadequado e desconfortável. Eu me sentia embriagada, e doía por todos os lugares. Pam estava sentada no chão há menos de um metro de distância, seus grandes olhos azuis fixos em mim.
"Funcionou", ela comentou. "Dra. Ludwig tinha razão."
"Ótimo".
"Sim, teria sido uma pena te perder antes que tivéssemos a chance de conseguir tirar algo bom de você", disse ela com uma praticidade chocante. "Há muitos outros humanos associados com a gente que a bacante poderia ter escolhido, e esses humanos são muito mais dispensáveis."

"Obrigada pelos calorosos elogios, Pam," Eu murmurei. Me sentia no último grau de sujeira, como se eu tivesse mergulhado em uma poça de suor e, em seguida, rolado na poeira. Até meus dentes estavam nojentos.
"De nada", disse ela, e quase sorriu. Então a Pam tinha senso de humor, não é algo pelo que os vampiros são conhecidos. Você nunca viu vampiros comediantes, e piadas humanas que ‘gelavam’ os vampiros, ha-ha. (Algumas de suas piadas poderiam lhe dar pesadelos durante uma semana.)
"O que aconteceu?"
Pam entrelaçou seus dedos em torno de seu joelho. "Nós fizemos como a Dra. Ludwig disse. Bill, Eric, Chow e eu, todos nos revezamos, e quando você estava quase seca começamos a transfusão."

Eu pensei sobre isso por um minuto, agradecida por ter ficado inconsciente antes que eu pudesse presenciar o procedimento. Bill sempre tomou sangue quando estávamos fazendo amor, então associei isso ao auge da atividade erótica. Ter "doado" para tantas pessoas teria sido extremamente embaraçoso para mim se eu tivesse presente, por assim dizer. "Quem é Chow?" Perguntei.
"Veja se consegue sentar-se", avisou Pam. "Chow é o nosso novo barman. Ele é bem desenhado."
"Ah?"
"Tatuagens", disse Pam, soando quase humana por um momento. "Ele é alto para um asiático, e ele tem um belo conjunto de... Tatuagens."
Eu tentei parecer interessada. Eu levantei, sentindo uma certa fragilidade que me deixou muito cautelosa. Era como se minhas costas estivessem cobertas de feridas que acabaram de cicatrizar, feridas que poderiam abrir novamente se eu não tomasse cuidado. E esse, Pam me disse, era exatamente o caso.

Além do mais, eu não estava usando nenhuma camisa. Ou qualquer outra coisa. Acima da cintura. Abaixo, o meu jeans ainda estava intacto, embora extraordinariamente indecente.
"Sua camisa estava tão esfarrapada que tivemos que rasgá-la fora", Pam disse, sorrindo abertamente. "Nos revezamos segurando você no colo. Você foi muito admirada. Bill estava furioso."
"Vá para o inferno" era tudo que eu poderia pensar em dizer.
"Bem, quanto a isso, quem sabe?" Pam deu de ombros. "Eu quis render-lhe um elogio. Você deve ser uma mulher modesta." Ela levantou-se e abriu a porta de um armário. Havia camisas penduradas dentro, uma reserva extra para Eric, eu presumi. Pam puxou uma do cabide e jogou-a para mim. Eu alcancei para pegá-la e tive que admitir que o movimento foi relativamente fácil.
"Pam, tem um chuveiro aqui?" Eu odiava ter que colocar uma camisa branca imaculada sobre meu corpo encardido.
"Sim, na despensa. Junto ao banheiro dos empregados”.

Era extremamente básico, mas era um chuveiro com sabonete e uma toalha. Você tinha passar direto por dentro da despensa, o que provavelmente estava muito bom para os vampiros, já que simplicidade não é um grande problema entre eles.
Quando Pam concordou em vigiar a porta, eu a recrutei para ajudar a puxar meu jeans e arrancar meus sapatos e as meias. Ela desfrutou do processo um pouco demais.
Essa foi a melhor chuveirada que já tomei.

Eu tinha que me mover devagar e cuidadosamente. Eu descobri que estava tão debilitada como se eu tivesse passado por uma doença grave, como pneumonia ou uma forte virose da gripe. E acho que eu tinha. Pam abriu a porta o suficiente para me passar alguma roupa íntima, o que foi uma agradável surpresa, pelo menos até que eu me secasse e me dispusesse a me contorcer para entrar naquilo. A calcinha era tão pequena e rendada que praticamente não merecia ser chamada de calcinha. Pelo menos era branca. Eu sabia que tinha melhorado quando me peguei desejando poder ver como eu estava em um espelho. A calcinha e a camisa branca foram as únicas peças que eu podia suportar vestir. Eu saí descalça, ao perceber que Pam tinha enrolado o jeans e todo o resto e enfiado em um saco plástico para que eu pudesse levá-los para casa para lavar.

Meu bronzeado parecia extremamente marrom contra o branco neve da camisa. Eu andei muito lentamente de volta ao escritório do Eric e procurei uma escova na minha bolsa. Assim que comecei a tentar desfazer o emaranhado, Bill entrou e pegou a escova da minha mão.
"Deixe-me fazer isso, querida", disse ele ternamente. "Como você está? Deslize a camisa, para que eu possa verificar as suas costas."

Fiz isso, esperando ansiosamente que não houvesse câmeras no escritório – contudo desde a avaliação da Pam, eu poderia relaxar também.
"Como é que está?" Perguntei-lhe por cima do ombro.
Bill disse brevemente, "Haverá marcas."
"Eu imaginava". Melhor nas minhas costas do que na minha frente. E ficar marcada é melhor do que estar morta.
Eu escorreguei a camisa de volta, e Bill começou a trabalhar no meu cabelo, a coisa favorita dele. Eu fiquei cansada rapidamente e sentei na cadeira de Eric, enquanto Bill ficou atrás de mim.
"Então por que a bacante me escolheu?"
"Ela estava esperando pelo primeiro vampiro que passasse. E eu tinha você comigo - muito mais fácil de machucar – isso foi um bônus."
"Será que ela causou a nossa briga?"
"Não, acho que foi só o acaso. Eu ainda não entendo por que você ficou tão zangada."

"Estou muito cansada para explicar, Bill. Falaremos sobre isso amanhã, ok?"
Eric entrou, juntamente com um vampiro que eu sabia que devia ser Chow. Agora mesmo eu poderia ver porque Chow atrairia clientes. Ele era o primeiro vampiro asiático que eu tinha visto, e ele era extremamente bonito. Ele também estava coberto, pelo menos as partes que pude ver - com essa complexa tatuagem que eu ouvi dizer era de membros favorecidos da Yakuza. Se Chow tivesse sido um bandido quando ele era humano ou não, certamente ele era sinistro agora. Pam deslizou pela porta depois que mais um minuto tinha passado, dizendo: "Tudo trancado. Dra. Ludwig saiu, também."

Então o Fangtasia tinha fechado suas portas por esta noite. Devia ser duas da manhã, então. Bill continuou a escovar meu cabelo, e me sentei na cadeira do escritório com as mãos nas minhas coxas, agudamente consciente do meu vestuário inadequado. Porém, pensando nisso, Eric era tão alto que sua camisa me cobria tanto quanto alguns dos meus shorts que caíam bem. Acho que era a calcinha com modelagem de biquíni francês por baixo que me deixava tão envergonhada.
Além disso, nenhum sutiã. Uma vez que Deus foi generoso comigo no departamento de seios, não deixava nenhuma dúvida, quando eu saía sem sutiã.
Mas não importava se minhas roupas mostravam mais de mim do que eu queria, não importava se todas estas pessoas tinham visto ainda mais os meus peitos do que eles poderiam discernir agora, eu tinha que ser educada.

"Obrigada a todos vocês por salvarem minha vida," eu disse. Eu não fui bem sucedida em soar calorosa, mas esperava que eles pudessem dizer que fui sincera.
"Foi realmente um prazer", disse Chow, com um inconfundível escárnio em sua voz. Ele tinha um vestígio de sotaque, mas não tenho experiência suficiente com as diferentes características das muitas raças de asiáticos para dizer de onde ele vinha originalmente. Estou certa de que "Chow" não era o seu nome completo, tampouco, mas era como todos os outros vampiros o chamavam. "Teria sido perfeito, sem o veneno."
Eu podia sentir Bill tenso atrás de mim. Ele colocava suas mãos em meus ombros, e eu alcançava seus dedos com os meus.
Eric disse: "Valeu a pena ingerir o veneno." Ele manteve seus dedos em seus lábios e os beijou, como se estivesse apreciando o aroma do meu sangue. Eca.
Pam sorriu. "A qualquer hora, Sookie".
Oh, simplesmente fantástico. "Você, também, Bill," eu disse, inclinando minha cabeça para trás contra ele.
"Fui um privilégio para mim", disse ele, controlando seu temperamento com esforço.
"Vocês dois tiveram uma briga antes de Sookie encontrar a bacante?" Eric perguntou. "Foi isso o que eu ouvi Sookie dizer?"

"Isso é problema nosso", eu vociferei, e os três vampiros sorriram entre si. Eu não gostei daquilo nem um pouco.
"A propósito, por que você queria que a gente viesse aqui esta noite, afinal?" Eu perguntei, na esperança de fugir do assunto ‘Bill e eu’.
"Você se lembra de sua promessa para mim, Sookie? Que você usaria sua habilidade mental para me ajudar, desde que eu deixasse os humanos envolvidos vivos?"
"Claro que me lembro." Eu não sou de esquecer uma promessa, especialmente uma feita para um vampiro.
"Desde que Bill foi nomeado investigador da Área 5, não temos tido muitos mistérios. Mas a Área 6, no Texas, tem necessitado de seu trunfo especial. Portanto, temos que emprestar você."
Eu me dei conta de que estava sendo alugada, como uma serra elétrica ou uma escavadeira. Me pergunto se os vampiros de Dallas tiveram que fazer um depósito contra danos.
"Não vou sem Bill." Eric me olhou nos olhos com firmeza. Os dedos do Bill me apertaram um pouco, então eu soube que eu disse a coisa certa.

"Ele estará lá. Nós conduzimos uma difícil negociação", disse Eric, sorrindo amplamente. O efeito era realmente desconcertante, porque ele estava feliz com algo, e suas presas estavam para fora. "Estávamos com medo que pudessem pegar você, ou matá-la, por isso uma escolta era parte do nosso acordo o tempo todo. E quem melhor do que o Bill? Se alguma coisa puder tornar Bill incapaz de protegê-la, enviaremos outra escolta imediatamente. E os Vampiros de Dallas concordaram em oferecer um carro e motorista, alojamentos e refeições, e, claro, uma bela recompensa. Bill terá uma porcentagem nisso."
Quando eu faria o trabalho? "Você precisa combinar o seu acordo financeiro com Bill", disse Eric suavemente. "Estou certo de que ele irá, pelo menos, recompensar você pelo seu tempo longe do seu trabalho no bar."
Ann Landers* nunca escreveu sobre "Quando seu namorado se torna o seu empresário"?

*Ann Landers, pseudônimo de Esther Pauline Friedman Lederer (4 de julho de 1918 - 22 de junho de 2002) foi uma escritora e jornalista americana, que tinha uma coluna de aconselhamento em vários jornais imporantes dos Estados Unidos, onde recebia e publicava cartas de varios leitores em busca de conselhos para seus problemas pessoais.

"Porque uma bacante?" Perguntei, surpreendendo a todos eles. Eu esperava ter pronunciado a palavra corretamente. "Naiades são ninfas das águas e Dríades são das árvores, certo? Então, por uma bacante, estava lá fora na floresta? Bacantes não foram apenas mulheres loucas impulsionadas pelo deus Baco?"
"Sookie, você tem uma profundidade inesperada", disse Eric, depois de uma sensível pausa. Não disse a ele que eu aprendi aquilo lendo livros de mistério. Deixei que penssasse que eu lia literatura grega antiga na língua original. Não poderia fazer mal.
Chow disse, "O deus entrou em algumas mulheres tão completamente que elas se tornaram imortais, ou bem perto disso. Baco era o deus da uva, naturalmente, então bares são muito interessantes para bacantes. Na verdade, tão interessantes que elas não gostam que outras criaturas da escuridão se misturem. Bacantes consideram que a violência provocada pelo consumo de álcool pertence a elas; é disso que elas se alimentam, agora que ninguém formalmente venera seu deus. E elas são atraídas pelo orgulho."

Isso badalou como um sino. Bill e eu não estávamos os dois bancando os orgulhosos, hoje à noite?
"Nós apenas ouivimos rumores de que uma estava na área", disse Eric. "Até que Bill trouxe você"
"Então sobre o que ela o está advertindo? O que ela quer?"
"Tributo", disse Pam. "Nós achamos."
"Que tipo?"
Pam deu de ombros. Parecia que essa era a única resposta que eu iria obter.
"Ou o quê?" Perguntei. Novamente os olhares. Eu dei um profundo suspiro de exasperação. "O que é que ela vai fazer se você não pagar o seu tributo?"
"Enviar sua loucura." Bill pareceu preocupado.
"Rumo ao bar? Ao Merlotte's?" Embora houvesse bares em abundância na área.
Os vampiros se entreolharam.
"Ou em um de nós", disse Chow. "Isso já aconteceu. O massacre do halloween de 1876, em São Petersburgo."
Eles todos assentiram solenemente. "Eu estava lá", disse Eric. "Foram necessários vinte de nós para pôr em ordem. E tivemos que enfiar uma estaca em Gregory, todos tivemos que fazê-lo. A bacante, phryne, recebeu homenagem depois disso, você pode estar certo."

Para os vampiros enfiarem uma estaca em um dos seus, as coisas tinham que estar bastante graves. Eric tinha estacado um vampiro que tinha roubado dele, e Bill me disse que Eric teve que cumprir uma punição severa. Por quem, Bill não tinha dito, e eu não tinha perguntado. Tinha algumas coisas que eu poderia viver muito bem sem saber.
"Então você vai dar um tributo a esta bacante?"
Eles estavam trocando idéias sobre isso, eu poderia dizer. "Sim", disse Eric. "É melhor que nós o façamos."
"Acho que bacantes são bem difíceis de se matar," disse Bill, com uma pergunta em sua voz.
Eric estremeceu. "Oh, sim", disse ele. "Oh, sim."

***

Durante a nossa viagem de volta para Bon Temps, Bill e eu ficamos calados. Eu tinha um monte de perguntas sobre esta noite, mas eu estava cansada dos meus ossos até minha pele.
"Sam deve saber sobre isto", eu disse, enquanto paramos em minha casa.
Bill rodeou para abrir a minha porta. "Porque, Sookie?" Ele pegou minha mão para puxar-me do carro, sabendo que eu mal podia andar.
"Porque..." e então eu estanquei. Bill sabia que Sam era sobrenatural, mas eu não queria lembrá-lo. Sam era dono de um bar, e nós estávamos mais perto de Bon Temps de que Shreveport quando a bacante havia interferido.
"Ele é dono de um bar, mas ele deverá ficar bem," disse Bill razoavelmente. "Além disso, a bacante disse que a mensagem era para Eric."
Isso era verdade.
"Você pensa demais sobre Sam se adaptar a mim," disse Bill, e eu joguei-me em cima dele.
"Você está com ciúmes?" Bill ficava muito desconfiado quando outros vampiros pareciam estar me admirando, mas eu presumia que estava só demarcando seu território. Eu não sabia o que sentir sobre essa nova revelação. Eu nunca tive ninguém que sentisse ciúmes das minhas atenções antes.

Bill não respondeu, em um jeito muito mal humorado.
"Hmmm," eu disse com ponderação. "Bem, bem, bem." Eu estava sorrindo para mim mesma enquanto Bill me ajudava a subir os degraus e atravessar a antiga casa até o meu quarto, o quarto que minha avó tinha dormido durante tantos anos. Agora, as paredes foram pintadas de amarelo claro, os detalhes em madeira eram bege claro
*, as cortinas eram da mesma cor com flores brilhantes estampadas. A roupa de cama combinava.

(*no original a cor é off-white, que no Brasil se chama assim mesmo, mas pra quem nunca ouviu falar é um branco meio amarelado, indo pro bege)
Fui ao banheiro por um momento para escovar meus dentes e tomar cuidados necessários, e sai ainda usando a camisa do Eric.
"Tire isso," disse Bill.
"Olha, Bill, normalmente eu até pularia as preliminares, mas hoje à noite-"

"Eu simplesmente odeio ver você com a camisa dele."
Ora, ora, ora. Eu podia me acostumar com isso. Por outro lado, se ele levasse isto ao extremo, poderia ser um transtorno.
"Ah, tudo bem", eu disse, dando um suspiro que ele podia ouvir a metros de distância. "Eu acho que eu só vou ter que tirar essa camisa velha." Eu a desabotei devagar, sabendo que os olhos de Bill estavam acompanhando minhas mãos se movendo entre os botões, abrindo a camisa cada vez mais. Finalmente, eu a despi e fiquei lá com a calcinha branca da Pam.
"Oh," Bill suspirou, e isso foi um tributo e tanto para mim. Bacantes estariam ferradas, só de ver a cara do Bill me fazendo sentir como uma deusa.
Talvez eu vá na Foxy Femme Lingerie em Ruston no meu próximo dia de folga. Ou talvez a loja de roupas recentemente adiquirida por Bill tivesse roupas íntimas?

***

Explicar a Sam que eu precisava ir para Dallas não foi fácil. Sam tinha sido maravilhoso para mim quando eu perdi a minha avó, e eu contei com ele como um bom amigo, um ótimo chefe, e (de vez em quando) uma fantasia sexual. Eu só disse a Sam que eu estava tirando umas pequenas férias; Deus sabe, que eu nunca pedi nenhuma antes. Mas ele já estava bem desconfiado do que se tratava. Sam não gostava disso. Seus olhos azuis brilhantes pareciam queimar e seu rosto petrificado, e até mesmo o seu cabelo loiro avermelhado parecia chiar. Embora ele praticamente se amordaçasse para não dizer isso, obviamente, Sam achava que Bill não deveria ter concordado com minha ida.
Mas Sam não sabia todas as circunstâncias das minhas relações com os vampiros, assim como apenas Bill, dos vampiros que eu conhecia, sabia que Sam era um Metamorfo. E eu tentava não relembrar Bill. Eu não queria que Bill penssasse ainda mais sobre Sam do que ele já fazia. Bill poderia decidir que Sam era um inimigo, e eu definitivamente não queria isso. Bill é um inimigo muito ruim para se ter.

Eu sou boa em guardar segredos e manter meu rosto em branco, após anos lendo itens indesejados nas mentes das pessoas. Mas tenho de confessar que separar Bill e Sam em compartimentos toma uma grande quantidade de energia.
Sam inclinou-se para trás em sua cadeira depois que tinha concordado em me dar essa folga, sua costituição resistente estava escondida por um grande tipo de pássaro azul na camiseta do Merlotte’s. Sua calça jeans era velha porém limpa, e suas botas eram antigas e de solado pesado. Eu estava sentada na ponta da cadeira do visitante em frente à mesa do Sam, a porta do escritório fechada atrás de mim. Eu sabia que ninguém poderia estar ouvindo atrás da porta; afinal, o bar estava ruidoso como sempre, com a jukebox lamuriando uma melodia Zydeco e os berros das pessoas que já tinham bebido um pouco. Mas mesmo assim, quando se fala sobre algo como uma bacante, você quer diminuir a sua voz, e eu me inclinei por cima da mesa.
Sam automaticamente imitou minha postura, e eu coloquei minha mão sobre o braço dele e disse em um sussurro, "Sam, tem uma bacante rondando pela estrada de Shreveport." O rosto de Sam ficou inexpressivo por um longo segundo antes que ele rompesse em gargalhadas.

Sam, não conseguiu se recuperar de sua crise de risos por pelo menos três minutos, durante os quais eu fui ficando bem zangada. "Me desculpe", ele ficava dizendo, aí parava e continuava novamente. Sabe o quão irritante isso pode ser quando foi você que desencadeou isso? Ele andou ao redor da mesa, ainda tentando abafar suas risadinhas. Eu suportei porque ele ficou constante, mas eu estava furiosa. Ele agarrou meus ombros. "Me desculpe, Sookie", ele repetiu. "Eu nunca vi uma, mas eu ouvi dizer que elas são sórdidas. Porque isto preocupa você? A bacante, ou seja".
"Porque ela não está feliz, como você notaria se pudesse ver as cicatrizes nas minhas costas", eu respondi bruscamente, e seu rosto mudou então, por Deus.
"Você foi ferida? Como isso aconteceu?"
Então eu contei a ele, tentando deixar parte do drama de fora, e suavizando no processo de cura empregado pelos vampiros de Shreveport. Ele ainda queria ver as cicatrizes. Eu virei, e ele levantou a minha camiseta, não passado do nível do sutiã. Ele não emitiu nenhum som, mas senti um toque nas minhas costas, e um segundo depois, percebi que Sam tinha beijado a minha pele. Eu estremeci. Ele puxou minha camiseta sobre as cicatrizes e me virou de frente.

"Eu sinto muito", ele disse, com toda a sinceridade. Ele não estava rindo agora, nem sequer perto disso. Ele ficava horrível perto de mim. Eu praticamente podia sentir o calor irradiando da sua pele, electricidade crepitando através dos pequenos pêlos finos sobre os seus braços.
Eu suspirei profundamente. "Estou preocupada de que ela volte a sua atenção para você," expliquei. "O que as bacantes querem como tributo, Sam?"
"Minha mãe costumava dizer ao meu pai que elas adoram um homem orgulhoso", disse ele, e por um instante eu pensei que ele ainda estava me provocando. Mas olhei para seu rosto, e vi que ele não estava. "Bacantes amam nada mais do que derrubar um homem orgulhoso pelo tamanho. Literalmente."
"Yuck", eu disse. "Alguma outra coisa as satisfaz?"
"Grandes jogos. Ursos, tigres, etc."
"É difícil encontrar um tigre na Louisiana. Talvez possa encontrar um urso, mas como se consegue isso no território das bacantes?" Eu refleti por um tempo, mas não cheguei a nenhuma resposta. "Eu presumo que ela vai querer ele vivo", eu disse, questionando.
Sam, que parecia estar me observando ao invéz de pensar sobre o problema, assentiu e, em seguida inclinou-se para frente e me beijou.
Eu devia ter previsto isso.

Ele estava tão quente depois de Bill, cujo corpo nunca se aqueceria. Morno, talvez. Os lábios de Sam realmente eram ardentes, e sua língua, também. O beijo foi profundo, intenso, inesperado, como a emoção que você sente quando alguém lhe dá um presente que você não sabia que queria. Seus braços me envolveram,e os meus a ele, e nós fomos dando a esse momento tudo o que tínhamos, até que eu voltei para a Terra.
Empurei-o um pouco para longe, e ele lentamente levantou seu rosto do meu.
"Eu realmente preciso sair da cidade por um tempinho", eu disse.
"Desculpe, Sookie, mas venho querendo fazer isso há anos."
Havia muitos caminhos que eu poderia tomar a partir dessa declaração, mas aumentei a minha determinação e tomei o caminho certo. "Sam, você sabe que eu sou..."
"Apaixonada por Bill", ele terminou a minha frase.
Eu não estava tão certa de que eu estava apaixonada por Bill, mas eu o amava, e eu tinha me comprometido com ele. Então, para simplificar a questão, eu balancei a cabeça concordando.

Eu não podia ler os pensamentos do Sam claramente, porque ele era um ser sobrenatural. Mas eu tinha que ser uma lerda, uma telepata nula, para não sentir as ondas de frustração e desejo que saíam dele.
"O ponto a que eu tentava me referir", disse, depois de um minuto, durante o qual nos desembaraçamos e intensificamos a distância um do outro, "é que se esta bacante tem um interesse especial em bares, este é um bar dirigido por alguém que não é exatamente um humano lá muito normal, como o bar de Eric em Shreveport. Então é melhor você tomar cuidado."

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