quarta-feira, 6 de julho de 2011

Férias!! - MARIAN KEYES Cap.53


Antes que eu me desse conta, já estava sentada numa poltrona no
Aposento do Abade — haviam me dado uma das boas, em consideração ao meu
estado —, e Luke estava para chegar a qualquer momento.
Talvez ele não fosse cruel comigo, pensei, com um lampejo de
esperança que quase me fez entrar em parafuso. Talvez, na hora H, ele
simplesmente não tenha coragem de ser cruel. Afinal, Luke fora meu namorado,
fora louco por mim. Certamente ainda gostava de mim, não é mesmo?
Certamente não iria me magoar, não é verdade?
Não era esse o homem que preparava sacos de água quente para mim
todos os meses quando eu estava nos meus dias, o homem que não tinha pudor
de comprar para mim o que chamava de meus "produtos de higiene femininos"?
Novamente, por um átimo de segundo, tive uma fantasia em que eu e
Luke reatávamos. Em que voltávamos juntos para Nova York e púnhamos uma
pedra em cima desse terrível episódio.
Então me lembrei do quanto a sessão de Brigit fora horrível, e que
provavelmente o voto do jurado Costello seria o mesmo. E voltei a me sentir mal
de pavor.
Não parava de rezar para ser poupada, mas, às duas horas em ponto,
Luke, Brigit e Josephine entraram e se sentaram. Quando vi Luke, senti aquele
ínfimo espasmo de alegria, exatamente como de manhã. Ele era tão sensual e
bonito, tão alto e meu. Então vi sua expressão séria e fria e me lembrei de que as
coisas estavam muito diferentes agora.
A sessão começou. Eu sentia que os outros internos não estavam se
agüentando de excitação. Provavelmente tinham sido carrascos em outra
encarnação, pensei, indignada, sem me lembrar de que eu também me sentira
curiosíssima quando os OIEs deles compareceram para lhes baixar o sarrafo
— Pode nos dizer qual é o seu relacionamento com Rachel? - Josephine
perguntou a Luke.
—Namorado — ele murmurou. — Quer dizer, ex-namorado.
— Quer dizer que você estava na posição ideal para testemunhar a sua
dependência?
— É isso aí.
A aparente relutância de Luke me consolou um pouco.
— Algumas semanas atrás você se deu ao trabalho de preencher um
questionário sobre a dependência de Rachel. Será que se importaria se eu o lesse
para o grupo?
Luke deu de ombros, constrangido. Senti meu estômago despencar nos
pés.
Pode mandar o terremoto, Deus, implorei, em silêncio. Ainda não é
tarde demais.
Mas Deus, como a criatura caprichosa que era, tinha outros planos, e
fez com que meu terremoto atingisse uma região remota da China, onde não
trouxe benefícios a ninguém. Quando poderia ter causado um pandemônio no
condado de Wicklow, prestando-me com isso um enorme favor. Tempos depois,
descobri que a região remota era um condado de nome Wik Xla, e me senti um
pouco melhor. Deus não tinha me abandonado, apenas estava um pouco surdo.
Assustada, vi que surgira um calhamaço de folhas nas mãos de
Josephine. Parecia que Luke tinha escrito um livro.
— Certo. — Josephine pigarreou. — A primeira pergunta é:
"Que drogas Rachel usa, que sejam do seu conhecimento?", e Luke
respondeu: "Cocaína, crack, ecstasy..."
Tive vontade de morrer, tão amarga foi a minha decepção. Não haveria
clemência. Luke, meu Luke, me delatara, não havia mais margem para dúvidas.
Até aquele segundo eu ainda tinha esperanças, mas agora estavam mortas.
— "...speed, haxixe, maconha, cogumelos alucinógenos, LSD,
heroína..."
Alguém abafou uma exclamação ao ouvir a palavra "heroína". Pelo
amor de Deus, pensei, furiosa. Eu só tinha fumado heroína.
—"...Valium, Librium, analgésicos que só são vendidos sob prescrição
médica, antidepressivos, soníferos, moderadores de apetite e qualquer tipo de
bebida." — Fez uma pausa para recuperar o fôlego.
— Luke acrescentou um pós-escrito à resposta, que diz: "Se é uma
droga, Rachel já usou. Provavelmente ela já usou drogas que ainda nem foram
inventadas." Uma resposta emocional a uma pergunta objetiva, mas creio que
compreendemos o que você quer dizer, Luke.
Até então eu estava de cabeça baixa e olhos bem fechados, mas
levantei o rosto em tempo de ver Josephine dando um sorriso afetuoso para
Luke.
Era como um pesadelo. Eu não conseguia entender como subitamente
passara de uma posição de extremo poder em relação a Luke para uma de total
impotência.
— A próxima pergunta é: "Você acha que Rachel abusa das drogas?", e
Luke respondeu: "Dá um tempo." O que isso quer dizer, Luke?
— Quer dizer que sim — murmurou Luke.
— Obrigada. A próxima pergunta é: "Quando você acha que o problema
de Rachel começou?", e Luke respondeu: "No Dia da Criação." Poderia se
estender um pouco mais, Luke?
— O.k. — disse ele, se remexendo, inquieto. — O que eu quero dizer é
que o vício dela já vinha de muito antes da gente se conhecer.
Como ele se atreve a usar a palavra "vício" em relação a mim?, pensei,
subitamente irritada. Como se eu fosse uma drogada.
— Nesse caso, que é que você estava fazendo comigo? — Quando dei
por mim, já estava aos gritos. — Se eu era tão horrível assim? — Todo mundo no
aposento levou um susto, inclusive eu.
Luke revirou os olhos, como quem diz "Pela madrugada", como se eu
fosse uma louca tendo uma crise histérica. Senti ódio dele.
— Não se preocupe, Rachel — Josephine sorriu, tranqüila —, nós
vamos chegar lá. Próxima pergunta: "Quando você se deu conta de que Rachel
tinha um problema com drogas?" E Luke respondeu — é uma resposta um
tanto comprida — "Eu sempre soube que Rachel bebia muito e cheirava
cocaína..."
Fiquei furiosa com a desonestidade deslavada dessa resposta. A coisa
estava ficando cada vez pior. Aquele calhorda mentiroso, me pintando como se
eu fosse Oliver Reed.
— "...mas não estranhava isso porque todo mundo que conheço bebe
socialmente e fuma uns baseados. Durante um bom tempo nós só nos
encontramos à noite, de modo que, embora ela estivesse sempre ligada, eu
achava que isso só acontecia em ocasiões sociais. Mesmo assim, disse a ela que
adoraria vê-la limpa. E ela disse que só cheirava porque se sentia encabulada na
minha frente. Acreditei nela. Até achei engraçadinho."
— Eu me sentia encabulada — sibilei, furiosa.
Josephine me fuzilou com o olhar, e prosseguiu:
— “Mas uma vez, depois de ela passar a noite no meu apartamento,
senti um forte bafo de bebida nela de manhã. Era estranho, porque ela não tinha
bebido muito na noite anterior. Embora tivesse cheirado à vera. Depois que ela
foi para casa, meu amigo Joey, que mora comigo, me acusou de beber sua
garrafa de JD..." — Josephine interrompeu a leitura. —JD?
— Jack Daniels — esclareceu Luke.
— Obrigada — disse Josephine. — "...coisa que eu não tinha feito. Mas
não pude acreditar que fosse Rachel que a tivesse bebido, ainda mais em jejum."
De repente, minha raiva amainou. Eu estava morta de vergonha.
Pensei que ninguém tivesse notado o estrago que eu fizera no uísque que
encontrara na cozinha de Luke aquela manhã. Não teria tocado nele, se não
tivesse acordado com um bode tão forte. Estava sem Valium e precisava de
alguma coisa para amenizar o pânico e a paranóia.
— “Um dia, depois de sair de casa para ir trabalhar, tive que voltar.
Tinha esquecido que precisava acordar Joey, porque o rádio-relógio dele estava
quebrado. E encontrei Rachel na cama, cheirando uma carreira de cocaína que
ela tinha tirado da 'poupança' de Joey." Quer dizer então que ela roubou a
cocaína? — Josephine interrompeu a leitura, levantando o rosto da folha para
fazer a pergunta a Luke.
— É, roubou.
Eu queria que a terra se abrisse e me tragasse. Sentia o rosto arder de
vergonha. Odiava ser a parte culpada. Ou, pior, odiava que os outros soubessem
que eu era a parte culpada. Luke não tinha me dito muita coisa, aquela manhã.
Bom, tinha dado uns bons berros, dizendo que estava preocupado comigo e que
eu nunca mais tornasse a fazer uma coisa daquelas. Mas achei que tinha me
safado, que ele estava tão amarrado em mim que tinha resolvido deixar tudo por
isso mesmo. Senti-me profundamente traída por não ser esse o caso. E por que
ele tinha que contar o que acontecera para todo mundo?
— Passei a ficar de olho nela depois disso e, como estava esperto,
percebi o quanto as coisas iam mal. Ela estava sempre sob o efeito de alguma
coisa. Nunca estava limpa.
Disse isso olhando para a minha cara. Minha cabeça dava voltas. Era
em Nova York que nós devíamos estar. Felizes, apaixonados. Luke no Claustro
me esculhambando era uma cena tão surrealista quanto uma revoada de vacas.
— Muito bem — disse Josephine. — Próxima pergunta: "De que forma
as drogas afetavam o comportamento de Rachel?" E Luke respondeu: "É difícil
dizer, porque, até onde sei, ela estava sempre liga da quando estava comigo. Às
vezes era carinhosa e meiga. Mas passava a maior parte do tempo confusa,
combinando as coisas comigo e depois esquecendo. Muitas vezes a gente tinha
conversas que depois ela não lembrava, quando eu tocava no assunto. Acho que
essa distração era efeito do Valium. Ela ficava diferente quando cheirava coca.
Vulgar, grosseira, se achando a tal. Um saco, um mico. O que eu achava mais
difícil de aturar era o fato de ela dar em cima dos homens com a maior cara-depau,
quando ficava naquele estado. Se tivesse qualquer homem presente que
fizesse o tipo do que ela chama de 'descolado'..." — Josephine se deteve, engoliu
em seco e continuou —, "... ela se atirava em cima dele."
Eu estava horrorizada, ferida, morta de vergonha, furiosa.
— Como é que você se atreve? — gritei com ele. — Teve muita sorte de
eu ter chegado a te dar mole algum dia. Como se atreve a me ofender desse jeito?
— E de que jeito você gostaria que eu te ofendesse? — perguntou ele
com a voz lenta e gelada.
O medo quase fez meu coração parar de bater. Luke nunca tinha sido
agressivo comigo. Quem era aquele homem alto, sério, zangado e cruel? Eu não
o conhecia. Mas ele parecia me conhecer.
— Você se atirava em cima deles, sim — insistiu Luke, com os lábios
apertados, um ar adulto e intimidante. Não sei como algum dia pude achar que
ele fosse um palhaço.
—Fala sério, Rachel! — Ele deu um sorriso debochado. — E aquela vez
em que eu te levei à abertura da exposição de François, e você saiu de lá, para
casa, com aquele marchand mauricinho?
Meu rosto ardeu de vergonha. Eu já devia saber que ele tocaria no
assunto. Nunca tinha me deixado esquecê-lo.
— Não dormi com ele — murmurei. — E, de qualquer forma —
acrescentei, agressiva —, foi só porque a gente cheirou uma carreira.
— Uma carreira que você descolou depois de pôr os olhos no cara —
rebateu Luke, com a máxima frieza. Eu estava horrorizada. Pensava que tinha
conseguido jogar areia nos olhos dele. Que coisa mais catastrófica, compreender
que ele sabia exatamente o que eu estava fazendo.
— O que, muito a propósito, nos leva à próxima pergunta — interveio
Josephine. — Qual seja: "Que características incomuns marcavam o
comportamento de Rachel quando ela estava sob o efeito de drogas?" E Luke
escreveu: "Ela passou a se comportar de maneira cada vez mais estranha. Não
comia quase nunca. E tinha surtos brabos de paranóia. Me acusava de ter tesão
por suas amigas e de olhar para elas como se quisesse dormir com elas. Vivia
ligando para o emprego e dizendo que estava doente. Só que não estava, passava
o tempo todo em casa cheirando a balde, até ficar travada. Não saía quase
nunca, só para descolar drogas. Pedia dinheiro emprestado para todo mundo e
nunca devolvia. E, como ninguém queria mais emprestar dinheiro para ela,
passou a roubar..."
Roubar?, me perguntei.
Aquilo não foi roubo, pensei, desdenhosa. Afinal, eles tinham dinheiro,
e a culpa era deles por não me emprestarem.
— Muito bem, o questionário está lido — disse Josephine, pouco
depois. — Agora, como Brigit está abalada demais para responder a mais
perguntas hoje, será que você se importaria de fazer isso, Luke?
— O.k, — ele assentiu.
— Como Rachel... er... colocou, alguns minutos atrás, o que você
estava fazendo com ela?
— O que eu estava fazendo com ela? — Luke quase riu. — Eu era louco
por ela.
Obrigada, Deus, obrigada, Deus, obrigada, Deus. Soltei um profundo
suspiro de alívio. Ele tinha caído em si. Já estava na hora!
Agora, retiraria todas as mentiras que contara sobre mim. Talvez...
talvez até pudéssemos fazer as pazes.
— E por que você era louco por ela?
Luke demorou algum tempo para responder.
— Sob muitos aspectos, Rachel era uma pessoa maravilhosa.
Pretérito imperfeito, notei. Já não me agradou tanto assim.
—Ela tinha um jeito fantástico de olhar para o mundo — disse ele. —
Era engraçadíssima, me matava de rir. Menos às vezes — acrescentou,
inconvicto. — Principalmente quando estava doidona, forçava demais a barra e
aí perdia a graça, cortava todo o meu barato.
Senti uma vontade violenta de relembrar a ele que estávamos
analisando minhas qualidades.
— Eu nunca caí naquela encenação de garota sofisticada e badalativa
— confidenciou Luke. Isso me inquietou. Se ele tinha percebido, quem mais
teria? — Porque quando ela era ela mesma — ele falou como se tivesse
acabado de descobrir o segredo do universo —, era incrível.
Ótimo, de volta ao caminho certo. Josephine assentiu, para encorajálo.
— A gente podia conversar sobre qualquer coisa — disse ele. — Quando
ela estava bem, o dia parecia curto demais para todas as coisas sobre as quais a
gente queria falar.
Era verdade, pensei, ansiando pelo passado, por Luke.
— Ela não era como nenhuma das garotas que eu conhecia, era muito
mais inteligente. Era a única mulher que eu conhecia que citava trechos de
Medo e Delírio*, que ela chamava de Medo e Colírio.
— O que você está tentando provar? — perguntou Josephine, confusa.
— Que ela era divertida. — Ele sorriu. — Às vezes, nos sentíamos tão
próximos um do outro, que tínhamos a sensação de sermos um o outro — disse
ele, nostálgico. Ergueu a cabeça e, por um momento, nossos olhares se
encontraram. Tive um breve vislumbre do Luke que eu conhecia. Senti uma
tristeza lancinante.
—O.k., muito bem — interrompeu Josephine, impaciente, atalhando
aquele momento de sonhadora introspecção de Luke. — Presumo que você tenha
tentado ajudar Rachel, quando descobriu quão grave era a sua dependência.
—É claro — disse Luke. — Mas, primeiro, ela escondeu de mim, e
depois mentiu a respeito. Não admitia o que usava, nem o quanto usava, embora
eu soubesse e dissesse a ela que sabia. Isso me deixava doido. Tentei fazer com
que ela se abrisse comigo. Depois tentei fazer com que fosse a um psiquiatra,
mas ela me mandou à merda. —Ele corou. — Desculpe a expressão, Irmã.
Ela aceitou suas desculpas com um aceno de cabeça gentil.
— E depois?
— Depois ela tomou aquela overdose e foi embora de Nova York.
— Você lamentou o fim do namoro? — perguntou Josephine a ele.
— Já não era mais exatamente um namoro, àquela altura — disse ele.
Senti uma decepção enorme. Ele não estava com jeito de quem queria
voltar para mim.
— Já estava praticamente acabado — prosseguiu.
Senti uma decepção maior ainda. Ele não parava de se referir a mim no
pretérito imperfeito.
— Nem sei por que ela perdia seu tempo comigo, já que nada do que eu
fazia agradava a ela — disse ele. — Queria mudar tudo, minhas roupas, meus
amigos, o lugar onde eu morava, as coisas com que eu gastava meu dinheiro. Até
a música que eu ouvia.
Josephine assentiu, compreensiva.
— Eu sabia que ela ria das roupas que eu e meus amigos usávamos.
Até aí, tudo bem. Nós já estávamos habituados. Mas aí ela começou a me ignorar
em público, fingindo que não me conhecia. E isso não teve a menor graça, não
mesmo.
Olhei para sua expressão franca e honesta e, por um segundo, tive
pena dele, como tivera de Brigit. Coitado do Luke, pensei, ser tratado assim.
Nesse momento, lembrei que fora eu quem tinha sido ruim com ele, e que, na
verdade, não tinha sido ruim coisa nenhuma. Que chorumelão.
—A primeira vez que Rachel me ignorou — prosseguiu ele — eu
pensei: "Tudo bem, ela é meio desligada, pode acontecer com qualquer um."
Mas, depois de algum tempo, tive que encarar o fato. Era uma coisa consciente,
não restava a menor dúvida. A menor, cara! Quando ela conhecia um daqueles
mauricinhos que trabalhavam em butiques de grife, ficava esquisita comigo, me
deixava plantado sozinho feito um babaca. Uma vez saiu de uma festa sem se
despedir de mim. E olha que quem levou ela à festa fui eu, mas ela encontrou
aquelas filhas-da-puta burras — desculpe! —, Helenka e Jessica, e as duas
convidaram ela para ir ao seu apartamento.
— Como você se sentiu? — perguntou Josephine.
— Um lixo — disse Luke, com voz rouca. — Me senti um lixo.
Ela tinha vergonha de mim. Eu era uma pessoa descartável, do tipo
que se usa e joga fora, sabe como? Foi o fim do mundo.
Por um momento, me senti malíssimo. Em seguida olhei para ele, com
desprezo, e pensei: "Cresce, cara, se alguém aqui deveria estar sentindo pena de
si, esse alguém sou eu, não você".
Para minha surpresa, Josephine teve a coragem de perguntar a Luke:
— Você amava Rachel?
Ele não respondeu. Continuou imóvel como uma estátua, olhando para
o chão.
Seguiu-se um longo lapso de tempo, insuportavelmente tenso. Prendi o
fôlego. Ele me amava?
Queria desesperadamente que amasse. Ele se endireitou e passou a
mão pelos cabelos compridos. Eu estava tensa, na expectativa de sua resposta.
Ele respirou fundo antes de falar.
— Não — disse. E uma parte no fundo de minha alma murchou e
morreu.
Fechei os olhos de dor.
Não é verdade, disse a mim mesma, veemente. Ele era louco por mim e
ainda é.
— Não — ele repetiu.
Tudo bem, já ouvi da primeira vez, não precisa ficar jogando isso na
minha cara.
— Se fosse a Rachel legal, a que não vivia ligada e babando o ovo
daqueles panacas da moda — disse ele, pensativo —, aí eu teria amado ela, com
certeza. Não tinha mulher melhor. Mas não foi esse o caso, e agora é tarde
demais.
Olhei para ele. Podia sentir a dor estampada em seu rosto. Ele se
recusava a olhar para mim.
—É isso aí — murmurou ele. — Estou me sentindo muito... — calou-se
por um bom tempo, antes de completar a frase — ...triste.
A palavra ressoou no ar.
Eu sentia um bolo me entupindo a boca e a garganta. Tinha uma
sensação de ardência abaixo do peito, mas minha pele estava fria e arrepiada.
Josephine anunciou o fim da sessão. Brigit deu as costas e foi embora
sem olhar para mim. Antes de Luke sair, fitou-me nos olhos longamente. Tentei
interpretar seu olhar. Arrependimento? Vergonha?
Mas estava vazio.
Quando a porta se fechou às suas costas, os outros internos correram
até mim, para me consolar e proteger. Reconheci a expressão com que olhavam
para mim — um misto de pena e curiosidade —, porque meu próprio rosto a
estampara várias vezes, depois que seus OIEs haviam vindo visitá-los. E achei-a
insuportável.

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