quarta-feira, 6 de julho de 2011

Férias!! - MARIAN KEYES Cap.44


Era um encontro, um encontro como manda o figurino.
Ele disse que me apanharia às oito e meia e me levaria a um
restaurante francês. Senti uma leve inquietação quando ele veio com essa
conversa de restaurante francês, porque só caipiras e gente de fora
freqüentavam restaurantes franceses. A pedida para impressionar uma mulher
eram os turcomanos. Mas, e daí?, pensei.
Aprontei-me com calma, sem nenhuma pressa. Não estava sentindo
aquele tipo de sobe-e-desce no estômago que em geral associava a Luke. Em seu
lugar, uma expectativa surda e incessante vibrava dentro de mim.
O elevador continuava no meu estômago, mas estava parado. De vez
em quando abria e fechava a porta pantográfica, só para me lembrar da sua
existência.
É claro, lembrei a mim mesma, que Luke podia estar engabelando a
mim, Anya e Deus sabe quantas outras. Mas eu simplesmente sabia que não
estava. Ignorava de onde vinha essa certeza absoluta e inabalável, mas não a
questionava.
Tínhamos passado por mil peripécias: a noite de amor depois do
Rickshaw Rooms, o convite dele para sairmos, minha recusa, sua aparição em
minha festa, a recusa dele, minha procura por ele em toda parte, nosso encontro
no Llama Lounge, a transa alucinante, a chegada de Daryl, a partida emburrada
de Luke. Depois de tudo isso, das tentativas de aproximação e dos foras, o fato
de Luke ainda querer sair comigo e o fato de eu ainda querer ir só podiam
indicar a existência de alguma centelhazinha de entendimento.
Tínhamos chegado a um ponto em que ambos já conhecíamos o
bastante um do outro, até os defeitos, ou principalmente os defeitos, e mesmo
assim queríamos ir em frente.
Vesti-me com todo o recato para o meu jantar francês.
Por fora, pelo menos.
Enverguei aquele que chamava de "meu vestido adulto". Chamava-o
assim porque não era nem preto, nem de laicra, nem deixava entrever o contorno
da calcinha por baixo. Era um vestido solto, cinza-escuro, conventual. Essas
características me fizeram achá-lo um elefante branco, mas Brigit me obrigou a
comprá-lo, argumentando que algum dia ainda viria a calhar. Respondi que não
estava pretendendo morrer, entrar para um convento ou ser levada ao banco dos
réus sob acusação de assassinato. Mas agora, ao admirar minha recatada
imagem no espelho (a qual, estranhamente, não me provocou engulhos), admiti
que ela tinha razão.
E minha imagem melhorou ainda mais. Calcei saltos altos e prendi os
cabelos num coque. Em geral, só podia fazer uma coisa ou a outra, não as duas,
a menos que estivesse a fim de olhar para a humanidade de cima, como o
Incrível Hulk. Mas Luke era bastante homem para me encarar no meu zênite.
Por baixo da batina, eu me espremera num par de meias de seda
pretas e uma cinta-liga — um sinal inequívoco de que estava louca por Luke.
Sim, porque ninguém usa esse tipo de lingerie se não estiver pretendendo tirá-la
muito em breve, não é mesmo? Mas que me dava uma sensação de desconforto e
artificialidade, isso dava. Eu me sentia ridícula como uma drag queen.
A noite chegou e Luke também, às oito e meia em ponto. Bastou eu dar
uma olhada nele — olhos escuros, rosto bem barbeado, perfume cítrico — para o
elevador quase furar o teto do edifício.
Ele estava muito mais elegante do que eu jamais o tinha visto —
muitos acres a menos de cabelo e jeans do que normalmente estariam à mostra.
Compreendi que estava me levando a sério, e transbordei de prazer.
Quando ele cruzou o umbral, me preparei para levar um daqueles
beijos que deixam a mulher entre a vida e a morte. Mas, para minha surpresa,
ele não me beijou. Sobressaltei-me por um momento, mas me recompus
galhardamente, recusando-me a descer ao fundo do poço, que acenava para
mim, tentador. Não achei que ele não se sentia atraído por mim. Sabia que se
sentia, teria apostado minha vida nisso.
Ele sentou no sofá com toda a educação e, com toda a educação,
absteve-se de me atirar no chão e me violentar. Que sensação estranha, ficarmos
no mesmo aposento por mais de cinco segundos e ainda estarmos vestidos!
— Me apronto num minuto — prometi a ele.
— Não tem pressa — disse ele.
Senti seus olhos me seguirem, enquanto eu saía atarantada pele
apartamento, esbarrando em tudo quando é canto, à procura de minhas chaves.
Um quadril esmagado numa bancada aqui, um cotovelo esfolado numa
maçaneta acolá. Nada como a sensação de estai sendo observada por um homem
que eu deseje para fazer com que eu comece a me comportar como uma
paspalha desastrada. Por fim virei-me para ele e perguntei, fingindo irritação:
— Que foi?
Eu sabia que vinha coisa boa por aí, entende?
— Você está... — ele fez uma pausa — ...linda.
Resposta certa.
Eu não conhecia o restaurante a que ele me levou, nem mesmo d
nome. Mas era lindo. Tapetes felpudos, uma penumbra tão escura que chegava a
ser soturna e garçons humildes, trocando murmúrio num sotaque francês tão
exagerado que um não entendia o que outro dizia.
Luke e eu mal nos falamos a noite inteira.
Mas isso não era um sinal de discórdia. Na realidade, eu nunca me
sentira tão próxima de alguém em toda a minha vida. Não conseguíamos parar
de sorrir um para o outro. Sorrisos largos, de orelha a orelha, entusiasmados, de
olhos nos olhos.
Ele continuou se comportando com aquela cortesia antiprensa-naparede
com que inaugurara a noite. Em seu lugar, foi um tal pagar táxi, abrir
porta e me conduzir até a mesa sem contato físico que não tinha mais fim. E, a
cada gesto, um sorriso homérico.
Quando segurou minha mão com toda a gentileza para me ajudar a
entrar no carro, ambos sorrimos a bandeiras despregadas Quando chegamos ao
La Bonne Chère (O Bom e Caro), ele me ajudou a descer do carro com a máxima
deferência, e soltamos sorrisos tonitruantes. Houve uma breve pausa enquanto
ele pagava o chofer, e em seguida nos viramos um para o outro, franzindo tanto
os olhos que mal enxergávamos.
(NOTA: LA BONNE CHÈRE: "A Criada Querida". A autora está
ironizando o francês de Rachel).
Ele perguntou "Vamos?", ofereceu-me ou braço e entramos no
restaurante com um andar bamboleante e relaxado. Onde fomos saudados com
um entusiasmo indecifrável pelos garçons. E isso fez com que nos
entreolhássemos, trocando um sorriso irônico.
Fomos conduzidos até uma mesa tão discreta e mal iluminada, que
mal consegui ver Luke. "Aqui está bom para você, gata?", ele murmurou. Não
cabendo em mim de contente, assenti com um sorriso. Qualquer coisa teria sido
maravilhosa.
Houve um breve instante de constrangimento quando nos sentamos
um diante do outro, pois, afinal, nunca tínhamos estado numa situação dessas
antes. Só existe uma coisa que deixa a mulher mais envergonhada do que a
primeira vez em que vai para a cama com um homem, e é a primeira vez em que
vai para a mesa com ele. Luke tentou puxar conversa com um animado "E aí?".
Pensei em responder, mas a alegria me inundou e desaguou na boca, obrigandoa
a se abrir em outro sorriso de êxtase. Compreendi que não havia necessidade
de dizer nada. A resposta de Luke ao meu sorriso foi outro do mesmo quilate, e
nos ofuscamos reciprocamente, como dois idiotas de aldeia. Ficamos nisso,
sorrindo de olhos vidrados, até o garçom francês chegar e nos oferecer os
cardápios, com ar melífluo.
— Acho melhor a gente... — Luke apontou o cardápio.
— Ah, claro — disse eu, tentando me concentrar.
Depois de alguns segundos, levantei os olhos e dei com Luke me
encarando outra vez. Desatamos a sorrir novamente. Um pouco encabulada,
abaixei os olhos. Mas não consegui me conter e olhei para ele de novo. Ele ainda
estava me fitando, e pusemos mais dois sorrisos na nossa conta.
Novamente num misto de encanto e encabulamento, murmurei:
— Pára.
E ele murmurou:
— Desculpe, não consigo me conter, você é tão...
Trocamos um risinho delicioso de encanto. Ele tornou a apontar o
cardápio:
— É melhor mesmo nós...
— Temos mesmo que... — concordei.
Eu me sentia como se fosse explodir de felicidade por estar com ele.
Tinha certeza de que devia estar parecendo um sapo-boi, inchada ao máximo de
alegria.
Ele pediu champanhe.
— Por quê? — perguntei.
— Porque... — Ele se calou, olhando para mim, com ar de especulação.
Prendi o fôlego, certa de que ia dizer que me amava.
— ...porque você vale — disse, por fim.
Dei um sorrisinho secreto. Tinha visto o rosto dele, sabia o que sentia
por mim. E ele sabia que eu sabia.
Passei a noite toda sentindo uma calma superficial. Mas, por baixo,
sentia uma deliciosa falta de ar. Era como se meus pulmões mal conseguissem
absorver o ar, meu coração a custo batesse, meu sangue rastejasse
sensualmente pelas veias. Eu tinha caído num ritmo diferente, inebriada pelo
que sentia por ele.
Todos os meus sentidos estavam exacerbados. Meus nervos estavam
em carne viva, expostos, à flor da pele. Meu sistema nervoso central era um
verdadeiro Centre Pompidou. Sentia prazer cada vez que respirava. Fruía cada
batida de meu coração, cada sobe-e-desce em meu estômago.
Cada hausto era uma vitória, ao que meu peito subia e descia para,
depois de uma pausa um milésimo de segundo longa demais, tornar a subir e
descer. Era como chegar ao topo de uma pequena colina. E depois outra. E mais
outra.
— Está gostoso? — Ele indicou com a cabeça minha pomme au fenêtre,
ou seja lá que nome tivesse.
— Está, sim, uma delícia — murmurei, conseguindo engolir dois ou
três átomos dele.
E era um tal de pegarmos os talheres e deixá-los suspensos sobre a
comida — que provavelmente estava deliciosa, mas pelo visto nenhum de nós
conseguia comer —, e sorrir um para o outro feito dois retardados, que não tinha
mais fim. E depois abaixar os garfos e flagrar um olhando para o outro, antes de
explodirmos em sorrisos outra vez.
Tirando a sensação de que meu esôfago e estômago tinham sido
cimentados, eu me sentia inebriada, eufórica.
Ambos parecíamos ter consciência de que o que sentíamos um pelo
outro era algo frágil e precioso, que devia ser carregado cuidadosamente e
mantido em repouso. Não podíamos perturbar sua ordem e estabilidade, mas,
mesmo a despeito dessa inércia, estávamos plenamente conscientes de sua
existência. E de pouco mais além disso.
Não havia necessidade de desbancarmos um o outro com casos
engraçados, pois ambos já sabíamos que sabíamos contá-los. Não havia
necessidade de nos atracarmos, rasgando nossas roupas, pois isso aconteceria
no seu devido tempo.
Só houve uma única pedra no caminho a noite inteira, e foi quando
Luke perguntou:
— Como vai Daryl?
— Olha — disse eu, sem graça, decidindo pôr algumas cartas na mesa
—, não aconteceu nada entre mim e Daryl.
— Tenho certeza que não — disse ele.
— Como assim? — perguntei, meio picada.
— Porque ele é gay — Luke riu.
— Sai prá lá! — Fiquei vermelha feito um tomate. Embora, pensando
bem, isso explicasse muita coisa.
Só que, nesse caso, não deveria ter sido "papá" em vez de "mamá"?
— Mas ele dedica energia demais ao vício — disse Luke, indignado —
para ter qualquer tipo de sexualidade.
— Ah, sim — disse eu, insegura quanto ao que dizer, mas convicta de
que devia dizer alguma coisa.
Durante a noite inteira, a nascente de desejo estancada limitou-se a
cintilar suavemente sobre o leito rochoso da convicção do que sentíamos um
pelo outro. Quando Luke pagou a conta (Tá vendo? Tá vendo? Eu não disse? Vou
levar você), uma parte da neve de inverno se derreteu, aumentando a torrente.
Quando saímos na noite úmida, Luke perguntou, educado:
— Prefere caminhar ou tomar um táxi?
— Caminhar — respondi. Tanto melhor para aumentar a expectativa.
No percurso, ele sequer segurou minha mão, apenas mantendo-se ao
meu lado com a mão nas minhas costas, o que achei encantador. A separação
imposta, a sensação de estar a um tempo tão longe e tão perto dele, mas sem
encostarmos um no outro, só serviu para intensificar meu desejo por ele.
Quando entramos na reta final em direção ao meu edifício, senti um
grande alívio. Que diabo, já está mais do que na hora, pensei. A falta de contato
físico entre nós dois tinha me deixado muito mais tensa do que eu me dera
conta. Animada, preparei-me para encenar o velho roteiro: "Não quer subir para
tomar um café etc. etc.?"
Apertei o passo, já pronta a irromper pela portaria adentro e subir
correndo as escadas, quando ele começou a andar mais devagar, até finalmente
se deter. Puxou-me para um canto, fora do caminho dos pedestres, e me deu um
beijo no rosto. Eu estava louca para agarrá-lo pelo gancho da calça, mas tinha
sido um encontro tão terno e contido, que me obriguei a esperar mais alguns
minutos.
— Obrigado pela noite maravilhosa — ele murmurou.
— Não há de quê — respondi. — Eu é que agradeço.
Sorri, gentil, mas já pensando, impaciente, chega desse chove-nãomolha,
vamos subir logo para você poder me atirar no chão e enfiar a mão
embaixo da minha saia, como costuma fazer.
— Vejo você em breve? — ele perguntou. — Te ligo amanhã?
— Ótimo — disse eu, mas minha euforia já começara a se descarregar,
como se alguém tivesse arrancado a tomada da parede. Ele não podia estar
seriamente dando a noite por encerrada, podia? Tudo bem que o decoro tivesse
pautado aquele encontro, mas só porque eu não acreditara nem um minuto que
fosse sincero. E será que eu tinha gasto todo aquele tempo e tido todo aquele
trabalho de pôr uma cinta-liga e um par de meias de seda para ser eu mesma a
tirá-las?
— Boa-noite — disse ele, inclinando-se e me dando um beijo curto na
boca. Seus lábios se demoraram sobre os meus o tempo exato de conferir ao
momento um caráter sagrado. Ato contínuo, ele se afastou, deixando minha
cabeça cheia de vertigens e estrelas.
— Ah, antes que me esqueça — disse ele, me entregando um
embrulhinho que parecia ter surgido do nada. Então, sem mais delongas, girou
nos calcanhares e saiu caminhando pela rua afora, me deixando Já, a encará-lo,
de queixo caído.
Pelo amor de Deus, pensei, incrédula. Não, falando sério: pelo amor de
Deus!
Dei-lhe alguns minutos para se virar, sorrindo, e dizer: "Ha, ha,
brincadeirinha, quer ver meu pau-de-sebo?" Mas ele continuou a caminhar.
Tudo que eu via eram suas costas se afastando cada vez mais de mim,
e o som de suas botas tornando-se cada vez mais fraco. Até que ele dobrou a
esquina, e não vi nem ouvi mais nada.
Ainda assim, continuei esperando, na expectativa de ver sua cabeça
surgindo de trás de uma parede na esquina, como se estivesse na ponta de um
palito, mas nada feito.
Quando finalmente aceitei o fato de que não tinha nenhuma opção,
subi as escadas pisando duro, com o gosto amargo da frustração na boca. "Qual
é a dele?", murmurei. Sério, que diabos ele pretendia?
Desesperada por alguma pista sobre os motivos de Luke, abri aos
rasgões o pequeno embrulho que ele me dera, agitada demais para apreciar o
lindo papel de presente e o lacinho de fita brilhante em cima. Mas era apenas
um livro de poemas de Raymond Carver.
— Poemas? — gritei, indignada. — Quero uma trepada. — Atirei o livro
na parede.
Saí pelo apartamento batendo portas e esbarrando nos objetos. Brigit,
a filha-da-puta, não estava em casa, de modo que eu não tinha ninguém com
quem me desabafar.
Uma fera, arranquei a lingerie provocante, me enchendo de desaforos
por ter chegado a colocá-la. Eu devia saber que estava desafiando o destino.
Tinha a impressão de que a cinta-liga de renda, as meias de seda e a calcinha
minúscula estavam se divertindo à minha custa. "Seria de esperar que a essa
altura do campeonato ela já tivesse aprendido a lição", diziam, às gargalhadas.
Sacanas.
Por fim, quando já não me restava mais nada a fazer, compreendi que
não tinha escolha, a não ser ir dormir. Com a mais absoluta certeza de que meu
facho estava aceso demais para me permitir um minuto de sono sequer, atirei
meu vestido adulto no chão e saí dando uns pontapés nele pelo quarto. (Já
estava até pendurado, mas voltei ao guarda-roupa, tirei-o do cabide e ensinei a
ele o que é bom para a tosse, procurando um bode expiatório para minha
solidão.) No exato momento em que, já sem fôlego, prometia a ele que jamais
tornaria a ver a luz do dia, o telefone tocou.
"Quem será, droga?", me perguntei, torcendo que fosse engano para
poder berrar com o enganado.
— Ainda não acabei com você — ameacei o vestido adulto, encolhido
contra a parede, enquanto ia atender o telefone.
— ALÔ! — urrei no bocal, agressiva.
— Er, é você, Rachel? — perguntou uma voz de homem.
— SOU — admiti, feroz.
— Sou eu, Luke.
— E DAÍ?
— Desculpe, não queria te incomodar, falo com você amanhã — disse
ele, humilde.
— Não, espera! Por que você me telefonou?
— Fiquei preocupado depois de hoje à noite, sabe?
Não disse nada, mas meu coração palpitou de alívio.
— Achei que estava fazendo o que era certo — ele se apressou em dizer.
— Tentando ser um cavalheiro, tentando mudar o padrão entre nós dois, sabe,
para tocar as coisas em frente. Mas, depois que cheguei em casa, achei que
talvez não tivesse sido claro o bastante, e que você poderia pensar que não gosto
mais de você, quando estou louco por você, então pensei em te ligar, mas depois
pensei que talvez já fosse muito tarde e você já estivesse deitada, talvez já seja
mesmo muito tarde e você esteja deitada...
— Aonde é que você quer chegar? — A essa altura, eu já estava
excitadíssima. Podia sentir a ansiedade dele, seu desejo de acertar. Será que
vinha uma declaração de amor por aí? Será que ia me pedir para ser sua
namorada?
Então, ele deixou a seriedade de lado e sua voz readquiriu um tom de
riso:
— Será que uma trepada está fora de cogitação?
Ofendida até a medula e mortalmente decepcionada, bati com o
telefone.
Gaguejava de indignação. É isso mesmo, gaguejava. "Dá prá acred...?
Ouviu o que ele acabou de dizer?", dirigi a pergunta ao aposento em geral e ao
vestido adulto em particular.
— A audácia dele; a audácia dele.
Sacudi a cabeça, incrédula.
— Se ele pensa que vou lhe dar as horas sequer, depois de se
comportar desse jeito, está muitíssimo enganado...
Soltei um suspiro mais triste do que zangado, sentindo prazer em
sacudir a cabeça mais uma vez, escandalizada.
— Francamente... — Soltei o ar, indignada.
Seis segundos depois, estava tirando o fone do gancho. É claro que
uma trepada não estava fora de cogitação.

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