quarta-feira, 6 de julho de 2011

Férias!! - MARIAN KEYES Cap.34


— Tira o vestido — disse Luke, baixinho.
Assustadíssima, lancei-lhe um olhar-relâmpago para ver se não estaria
ouvindo coisas. Estávamos na minha cozinha, eu diante da pia, Luke encostado
na bancada em frente, com os braços cruzados. Prestes a tomar uma xícara de
café, segundo constava.
Em vez disso, a menos que eu estivesse tendo alucinações auditivas,
ele acabara de me mandar tirar o vestido.
— Que foi que você disse? — perguntei de chofre.
Ele abriu um sorriso lento, mole e sensual que me assustou.
— Você ouviu — respondeu.
Luke Costello acabou de me mandar tirar o vestido, pensei, o pânico e
o ultraje disputando às cotoveladas o primeiro lugar. A puta cara-de-pau dele.
Mas, o que vou fazer?
O óbvio era simplesmente mandar que saísse do meu apartamento. Em
vez disso, murmurei "Mas ainda nem fomos apresentados", bancando a
engraçadinha para livrar minha cara.
Ele não achou graça.
— Vamos lá — disse, num tom de voz que achei apavorante, mas
irresistível. — Tira o vestido.
Senti um nó de medo na garganta. Não tinha cheirado ou bebido o
bastante para fazer esse tipo de coisa. A única razão pela qual Luke estava no
meu apartamento era o fato de Brigit ter me deixado à sua mercê no Llama
Lounge. Nadia tinha batido para ela que o Salto Cubano fora visto no Bar Z, e
ela partiu, eufórica, para desentocá-lo.
Fiz de tudo para acompanhá-la, mas ela não deixou.
— Você fica aqui — disse, maldosa, subitamente com o melhor dos
humores. Piscou o olho, balançando a cabeça para Luke, e disse:
— Mas fica de olho nesse cara, cuidado com o seu dinheirinho. — E lá
se foi ela, feliz da vida, se achando a tal, me deixando a olhar para a porta,
ressentida.
Alguns minutos depois, tentei fugir outra vez, mas Luke fez questão,
irredutível em sua galanteria, de me pagar uma bebida e depois me acompanhar
até em casa. E, quando chegamos ao meu apartamento e ele se convidou para
tomar um café, tentei recusar, mas não pude.
— O vestido — ele repetiu. — Tira.
Pousei a chaleira que estava enchendo d'água. Dava para perceber por
sua voz que falava muito a sério.
— Abre o primeiro botão — ordenou.
Foi nesse momento que eu devia tê-lo posto pela porta afora. Isso não
era uma brincadeira, era coisa de gente grande e eu estava com medo.
Mas, em vez disso, levei a mão ao decote... hesitei... e parei.
Pro inferno com isso, pensei, não vou ficar plantada na minha cozinha
e tirar o vestido para Luke Costello.
— Ou eu vou até aí e faço isso para você — ameaçou ele em voz baixa.
Depressa, assustada, tateei desajeitadamente o botão e o abri, sem
conseguir acreditar no que estava fazendo.
O interruptor do meu ultraje devia estar com defeito. Por que eu não
estava pegando o telefone e chamando a polícia? Em vez de me sentir aliviada
por estar usando o vestido curto e provocante de Alaia?
— Agora o seguinte — disse ele, baixinho, me observando com os olhos
entrecerrados.
Meu estômago dava voltas de excitação. Com os dedos trêmulos, abri o
botão seguinte.
— Continua — ordenou ele, com outro sorriso sensual e assustador.
Sob seu olhar atento, não consegui parar de desabotoar o vestido,
botão por botão, até estarem todos abertos. Morta de vergonha, apertei o vestido
na altura do estômago, mantendo-o fechado.
— Tira — disse ele.
Não me mexi.
— Já falei — ameaçou em voz baixa. — Tira. O. Vestido.
A pausa se prolongou por um bom tempo, nós dois em silêncio. Até
que, entre constrangida e desafiadora, desfiz-me do vestido sacudindo os ombros
e braços, e estendi-o para ele.
Para variar, estava usando um sutiã decente, um bom sutiã de renda
preta, que tinha apenas uma pequena gota na frente. Caso contrário, jamais
teria tirado o vestido. E, embora a calcinha não fizesse par com o sutiã, pelo
menos também era de renda preta. Abaixei a cabeça de modo a jogar os cabelos
para a frente, cobrindo o máximo possível os ombros e seios. Percebi, tarde
demais, que a pequena gota no sutiã era na verdade bem grandinha, e que se
encaixara direitinho ao redor do mamilo, como uma espécie de olho mágico
independente.
Luke esticou o braço e pegou o vestido, sem deixar que sua mão
encostasse na minha, e atirou-o na bancada atrás de si. Nossos olhos se
encontraram e algo se esboçou em seu rosto que me fez tremer. Embora fosse
uma noite quente, eu estava toda arrepiada.
— E agora, o que vou fazer com você? — Ele me avaliava com o olhar,
como se eu fosse uma vaca premiada. Eu tinha vontade de me encolher toda e
me esconder, mas me obriguei a ficar ali, de pé, empertigada, com a barriga para
dentro e o peito para fora. Cheguei a pensar em pôr a mão no quadril, mas
percebi que não tinha coragem para um gesto tão atrevido assim.
— O que vou mandar você tirar agora?
Por mais ridículo que pareça, meu primeiro medo foram os sapatos.
Não queria descalçá-los, pois eram altos e deixavam minhas pernas compridas e
esguias. Bem, não tão gordas quanto eram, pelo menos.
— O.k., tira o sutiã.
— Ah, não!
— Ah, sim, sinto muito. — Ele deu um sorriso mole, debochado.
Encaramo-nos, cada qual de um lado da cozinha, eu vermelha de
vergonha e excitação. Subitamente, vislumbrei o volume revelador em sua calça
jeans e, quando dei por mim, minhas mãos já contornavam as costas,
alcançando e abrindo o fecho do sutiã.
Mas, depois de abri-lo, fiquei paralisada, sem conseguir fazer mais
nada para tirá-lo.
—Continua — disse ele, autoritário, ao perceber que eu me detivera.
— Não posso — confessei.
— Está bem — ele concordou, subitamente compreensivo. — Basta
puxar para baixo uma das alças.
Hipnotizada pelo inesperado de sua gentileza, fiz o que me ordenara.
— Agora a outra — disse ele. Mais uma vez, obedeci, sem pensar.
— Agora me dá aqui — ordenou.
Quando estendi o braço para lhe entregar o sutiã, meus seios
balançaram, e flagrei Luke olhando para eles. Tive um breve lampejo da
extensão do seu desejo por mim.
Então voltei a experimentar aquele misto de humilhação e excitação
doentia.
— Agora vem cá e faz comigo o que fez na sua festa — ordenou ele.
Sentindo a vergonha tomar conta de mim, não me mexi.
— Vem cá — ele repetiu.
Como uma autômata, caminhei em sua direção, de olhos baixos.
— Sabe, você e eu — disse ele, tomando minha mão bruscamente e
levando-a até seu sexo —, temos um assunto pendente.
Contorci-me e dei as costas.
— Nada disso — ele me repreendeu, quando tentei desvencilhar minha
mão.
— Não — tornei a dizer, olhando para o chão.
— Você está começando a se tornar repetitiva — ele zombou. Seus
dedos enlaçavam meu punho e meus mamilos balançavam, roçando o tecido
áspero de sua camisa, mas esse era o único contato entre nossos corpos. Ele
parecia estar propositalmente se mantendo distância. E eu estava com medo
demais desse estranho enorme de alto para encostar no corpo dele. Não
conseguia nem olhar para seu rosto,
— Continua — disse ele, tentando encostar meu punho contraído no
comprido volume de sua ereção. — Termina o que começou no sábado passado.
Ao mesmo tempo em que tinha vontade de morrer de tanta vergonha,
chegava a me sentir enjoada de desejo. Não queria encostar no seu pênis, nem
acariciar sua ereção sob a calça jeans.
— Aposto que Daryl não teve uma dessas — disse ele, antipático, ainda
puxando minha mão para si.
Fiquei morta de vergonha. Tinha esquecido que Luke me vira com
Daryl. Compreendendo que devia me considerar uma galinha de marca maior,
tentei me desvencilhar dele.
— Ah, não — Luke riu, desagradável. — Chega desses joguinhos. Os
homens não gostam de ser provocados.
Tive a impressão de que ele não incluía Daryl nessa categoria.
Com a pele vermelha e arrepiada, forcei-me a pôr alguns dedos na
fivela de seu cinto, mas logo descobri que não podia ir além disso. Sentia algo se
avolumando dentro de mim e tive de parar, antes que me subjugasse.
Dessa vez, Luke não me ordenou ou obrigou a fazer nada. Eu ouvia o
som rouco de sua respiração acima de mim e sentia o calor de seu hálito no meu
couro cabeludo.
Estávamos os dois marcando passo, esperando, não sei pelo quê.
Tinha a sensação de que ambos estávamos numa espécie de acostamento,
esperando alguma coisa passar. Então, ele passou um dos braços pela minha
cintura, num gesto estranhamente protetor. O contato da pele de seu braço na
pele das minhas costas me sobressaltou.
Devagar, sem olhar para ele, comecei a desafivelar seu cinto. Seu cinto
grosso, de couro preto — até isso parecia assustador, coisa de homem adulto —,
deslizou pelas presilhas, com um som leve, que lembrava uma palmada, até ficar
pendurado com a pesada fivela de um lado da braguilha e a tira de couro do
outro.
Eu o ouvia tentando manter a respiração normal, mas sabia que estava
fazendo um esforço bárbaro.
Então foi a vez dos botões da sua calça. Não posso, não posso, pensei,
tomada pelo pânico.
— Rachel — ouvi Luke dizer, com a voz rouca —, não pára...
Prendendo o fôlego, abri o primeiro botão. Depois, o seguinte. E o
seguinte.
Quando estavam todos abertos, fiquei imóvel, esperando que ele me
dissesse o que fazer em seguida.
— Olha para mim — disse ele.
Ergui os olhos, relutante, e, quando finalmente olhamos um para o
outro, algo rompeu dentro de mim, algo que eu podia ver refletido no seu rosto.
Eu o encarava, assustada, maravilhada, cheia de desejo. Por sua
ternura, suas carícias, seus beijos, seu queixo áspero roçando minha face, o
cheiro de sua pele em meu rosto. Levantei a mão trêmula e toquei de leve seu
cabelo sedoso.
No momento em que o toquei, as comportas rebentaram. Dessa vez,
não esperamos que a loucura passasse. Nos agarramos, aos puxões, rasgões,
beijos, lanhos.
Arfando, eu puxava sua camisa, tentando arrancá-la, para poder
passar minhas mãos pela pele sedosa de suas costas, pela trilha de pêlos em seu
ventre.
Com os braços me enlaçando, ele me acariciava e mordia. Enroscou os
dedos em meus cabelos, inclinou minha cabeça e me beijou com tanta força que
doeu.
— Quero você — disse, ofegante.
Suas calças estavam pelos joelhos, a camisa aberta, mas ele ainda
estava com ela. Estávamos no chão, e eu sentia os azulejos frios nas costas. Ele
estava em cima de mim, seu peso me imobilizando contra o chão. Eu estava em
cima dele, arrancando suas calças jeans, em seguida puxando sua cueca para
baixo, tão devagar que ele murmurou: "Anda logo com isso, Rachel, pelo amor de
Deus!"
Eu fitava avidamente seus olhos dilatados e turvos de desejo.
Ele estava sem calças, minha calcinha estava arriada até as coxas,
meus mamilos irritados das suas mordidas, os sapatos ainda nos pés, os dois
ofegando como se tivessem dado uma corrida.
Não agüentei mais esperar.
— Preservativo — murmurei, desarvorada.
— Tá — ele arfou, revirando a jaqueta.
— Aqui. — Entregou-me a embalagem metálica. — Quero que você faça
isso.
Frustrada com minhas mãos trêmulas, que não andavam mais
depressa, rasguei-a e assentei o preservativo sobre a glande reluzente.
Em seguida, com toda a reverência — ao que ele soltava um gemido —,
ajustei-a até o fim do comprido volume.
—Ah, meu Deus — ofeguei. — Você é um tesão.
Ele ficou em silêncio por um momento, e abriu um sorriso tão
inesperado que quase me fez gozar.
— Isso, Rachel Walsh — sorriu —, é um elogio e tanto, vindo de você.
Eu não queria que Luke fosse embora. Queria dormir na minha cama,
aconchegada nos seus braços. Não sabia qual era a minha em relação a ele.
Seria porque eu estava sem namorado desde que chegara a Nova York?, me
perguntava. Talvez, pensava, inconvicta. Afinal, uma mulher tem suas
necessidades.
Mas não era só isso. No qüiproquó Sedução/Rejeição, eu me esquecera
como fora divertida a companhia dele naquela primeira noite no Rickshaw
Rooms. E agora voltava a ser.
— Tá legal, gata — disse, no minuto em que entrou no meu quarto. —
O que este quarto me diz sobre Rachel Walsh? Assim, de cara, já posso ir
garantindo que você não é o que chamam de anal retentiva, é? — disse,
vistoriando o caos em minha penteadeira. — O destino teve a bondade de te
poupar de uma terrível neurose caracterizada pela mania de arrumação.
— Se eu soubesse que você vinha, teria mandado reformar o quarto —
comentei, bem-humorada, deitada na cama, linda de morrer com a melhor
camisola de Brigit.
— Hum, legal — disse ele, observando o pôster do anúncio da
exposição de Kandinsky no Guggenheim. — Apreciadora das artes visuais, hein?
— Não — respondi, surpresa por ouvir alguém como Luke empregando
uma expressão como "artes visuais". — Roubei do meu emprego. Está tapando o
buraco na parede onde caiu um pedaço de reboco.
— Muito bem — disse ele, tranqüilo. — Contanto que eu saiba. Vamos
dar uma olhada nos seus livros — disse ele, avançando em sua direção como
uma locomotiva a pleno vapor. Felizmente, tinha enrolado uma toalha na cintura
que cobria seus penduricalhos, de modo que não fiquei alvoroçada demais com
sua movimentação pelo quarto. — Que tipo de pessoa você realmente é? Muito
bem, aqui estão suas Obras Reunidas de Patrick Kavanagh, como me disse na
noite em que nos conhecemos. Legal, saber que a garota não mente.
— Sai de perto deles — ordenei. — Deixa eles em paz, não estão
habituados a receber visitas, você vai perturbar eles e vão ficar semanas sem
conseguir transar.
Minha "coleção" de livros me encabulava — oito livros não chegam a
constituir uma coleção. Mas o fato é que eu não precisava de mais nenhum.
Raramente encontrava algum livro que me dissesse alguma coisa e, mesmo
quando isso acontecia, levava mais ou menos um ano para lê-lo. Em seguida,
relia-o. E então relia-o outra vez. Depois, lia um dos que já tinha lido um milhão
de vezes. E voltava ao primeiro. E o lia de novo. Sabia que não era essa a
abordagem normal de um texto literário, mas não havia nada que eu pudesse
fazer.
— O Ranger dos Sinos, Medo e Delírio, O Processo, Alice no País das
Maravilhas, Obras Reunidas de PG Wodehouse e, não só um, mais dois livros de
Dostoievski.
Ele sorriu para mim, cheio de admiração:
— Você não é nenhuma boba, é, gata?
Fiquei em dúvida se estava sendo sarcástico, e não consegui chegar a
nenhuma conclusão. Ele se limitou a dar de ombros, distraído.
Eu estava particularmente envergonhada por causa dos livros de
Dostoievski.
— Que é que há de errado com John Grisham? — perguntava Brigit,
toda vez que me pegava com eles. — Por que você lê esses negócios metidos a
besta?
Eu ignorava a razão. Só sabia que achava sua leitura muito
reconfortante. Principalmente porque podia abrir esses livros em qualquer
página que quisesse e saber exatamente em que ponto me encontrava. Não
precisava me dar ao tedioso trabalho de descobrir onde tinha parado, nem
lembrar quem era quem ou qualquer um dos outros problemas que acometem as
pessoas com uma inteligência abaixo da média e uma capacidade de
concentração vergonhosamente baixa.
— Foi muito atrevimento da sua parte me mandar tirar o vestido
daquele jeito — disse eu, para provocá-lo, deitada ao seu lado na minha cama.
— O que te deu tanta certeza de que eu faria o que me mandasse? Eu podia
estar namorando outra pessoa.
— Por exemplo? — ele riu. — Daryl? Aquele babaca burro.
— Ele não é um babaca burro — disse eu, altiva. — É uma pessoa
muito legal e tem um ótimo emprego.
— Pode-se dizer o mesmo de Madre Teresa — debochou Luke —, mas
nem assim eu iria querer ir para casa com ela.
Gostei de saber que Luke tinha ciúmes de mim com Daryl, mas me
sentia um pouco constrangida com o episódio. Assim, tentei mudar de assunto.
— Eu nunca adivinharia que o Llama Lounge faz o seu gênero — disse
eu.
— E não faz, mesmo.
— Então, o que você estava fazendo lá?
Aos risos, ele respondeu:
— Eu não deveria te contar isso, mas o fato é que andei espalhando
uns espiões para ficarem de olho em você.
Senti um misto de vaidade e desprezo por ele.
— Como assim? — Não tinha certeza se queria saber, não fosse pela
grande parte de mim que queria saber tudo.
— Conhece Anya? — ele perguntou.
— Claro que sim. — Anya era uma modelo e eu queria ser ela.
— Falei de você com Anya e ela me ligou, dizendo que você estava no
Llama Lounge.
— Como é que você conhece Anya? — perguntei.
— Eu trabalho com ela.
— Fazendo o quê?
— Processamento de dados numéricos, gata,
— O que é isso?
— Contabilidade. Na agência de Anya.
— Você é contador? — perguntei, atônita.
— Não. Só um humilde contínuo.
— Graças a Deus — suspirei. — O marido de minha irmã
Margaret, Paul, é um tipo de contador, só que pior. Você sabe aqueles
sujeitos de que estou falando, como é mesmo o nome deles?
— Auditores?
— Exatamente. Mas, me diz, como é a Anya? É legal? Tem vagas para
amigas?
— É uma garota ótima — disse ele. — Gente finíssima.
Seus olhos se fecharam, seu discurso tornou-se mais baixo e
murmurado, e ele se virou de lado. Aninhei-me contra a pele lisa de suas costas
e passei os braços ao seu redor, tocando furtivamente sua barriga, para ver se se
distendia em direção à minha mão, como minha barriga fazia com suas costas.
Não se distendeu.
Depois que ele dormiu, subitamente fiquei obcecada com o preservativo
que ele tinha no bolso da calça. Não conseguia dormir, pensando nisso. Mesmo
sabendo que era uma atitude muito responsável da parte dele, fiquei com
ciúmes. Ciúmes da desconhecida com quem ele o teria usado, se não tivesse sido
comigo. E o que isso me diz sobre Luke?, me perguntei, zangada. Que ele estava
sempre de olho numa trepada? A qualquer hora, em qualquer circunstância, em
qualquer lugar? Sempre pronto, seu fiel preservativo a postos para ser
convocado para a ativa? Luke-só-pensa-naquilo-Costello! Quantos mais ele não
teria no bolso, prontos para serem usados de uma hora para a outra? Com
Anya, provavelmente, mas só se ela dormisse de touca, já que nunca iria querer
nada com um idiota como Luke.
Olhei para ele, que dormia, e cheguei à conclusão de que não gostava
mais dele.
Acordei de madrugada com uma cólica menstrual de matar.
— Que foi, gata? — perguntou Luke, vendo que eu me contorcia de dor.
Hesitei. Como iria dizer isso a ele?
"Estou amaldiçoada?" Talvez ele não entendesse.
"Estou pingando?" Era Helen quem dizia isso. Até para os homens.
Resolvi dizer "Estou naqueles dias". Conciso, na medida, sem dar
margem a equívocos, mas não tão clínico quanto "Estou menstruando".
— Que ótimo! — exclamou Luke. — Não vamos precisar de
preservativos durante os próximos cinco dias.
— Pára com isso — gemi. — Tô morta de dor. Me traz um remédio,
procura naquela gaveta.
— O.k. — Ele pulou da cama e, embora eu não gostasse mais dele, não
havia como negar que seu corpo era uma beleza. No escuro, contemplei o brilho
prateado das luzes da rua no contorno musculoso de sua perna, aquela linda
linha que corre pela lateral de uma perna bem definida. Não que eu fosse
nenhuma entendida no assunto.
Enquanto ele vasculhava uma gaveta, admirei a vista lateral de seu
corpo. Que bunda maravilhosa ele tinha, pensei, zonza de dor. Adorava as
reentrâncias dos lados. Para dizer a verdade, adoraria eu mesma ter uma bunda
daquelas.
Ele voltou com meu vidro enorme de analgésicos potência-industrial.
— Dihidrocodeína? — leu o rótulo. — Pauleira. Só é vendido com
receita.
— É isso aí. — Não precisava dizer a ele que comprara a receita de
Digby, o médico viciado em heroína.
— O.k. — disse ele, lendo o rótulo lentamente. — Dois agora e mais
nenhum durante seis horas...
— Pode buscar um copo d'água para mim? — interrompi-o. Dois, uma
ova. Dez era mais o caso.
Enquanto ele estava na cozinha, enfiei um punhado de comprimidos
na boca. Quando voltou, deixei que me desse dois, junto com o copo d'água.
— Mrigada — murmurei, mal podendo falar, tão cheia estava minha
boca. Mas sabia que ele não tinha percebido nada.

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