quarta-feira, 6 de julho de 2011

Férias!! - MARIAN KEYES Cap.31


Na manhã seguinte, durante a sessão de terapia em grupo, quase tive
uma crise histérica de alívio quando ficou claro que John Joe seria o centro das
atenções.
Josephine não perdeu tempo em pegar no pé dele.
— Na sexta-feira passada, demos uma olhada na sua vida amorosa e
sexual — disse ela. — Talvez você tenha tido tempo para pensar a respeito, de lá
para cá.
Ele deu de ombros. Já era de se prever.
— Para quem está de fora, pelo menos, a vida que você levou parece
muito solitária. Concorda?
— Acho que sim. — Ele assentiu com a cabeça, obsequioso.
— Por que nunca se casou? — perguntou ela, como já fizera na sexta.
Ele pareceu confuso, como se realmente não fizesse a menor idéia.
— Talvez, er... sabe como é.,. porque a mulher certa não apareceu? —
arriscou, corajoso.
— É isso que você acha, John Joe? — ela perguntou, com um sorriso
irônico terrível.
Ele largou os braços ao longo do corpo, num gesto de impotência.
— É, acho que sim.
— Pois eu não acho, John Joe — disse ela. — Bem, perguntei a você na
sexta se já tinha perdido sua virgindade. Está preparado para responder a essa
pergunta?
Ele se limitou a olhar para as botas, sem sequer arriscar uma espiada
por baixo das sobrancelhas espessas.
Estava claro que Josephine não teria o mesmo tipo de sucesso com
John Joe que desfrutara na véspera com Neil. Eu desconfiava de que não havia
nada a descobrir a respeito de John Joe.
Errado.
— Me fale da sua infância — sugeriu ela, bem-humorada.
Pela madrugada, pensei. Que clichê.
John Joe pareceu não compreender.
— Como era o seu pai? — ela perguntou.
— Ahhh, já faz um tempão que ele bateu as botas...
— Conte para nós do que se lembra — disse ela, firme. — Como ele era
fisicamente?
— Um homem grandão, bonito — disse ele, devagar. — Alto que nem
um armário. E era capaz de carregar um boi debaixo de cada braço.
— Qual é a lembrança mais antiga que você tem dele?
Fiquei surpresíssima quando ele se pôs a falar — falar para valer.
— Eu era um molequinho de três ou quatro anos. A gente devia de
estar em setembro, porque o feno já tinha sido colhido e estava todo empilhado
em fardos pequeninos no campo lá embaixo, e o ar cheirava da colheita. Eu ia
brincando no caminho de pedras diante de casa, atirando um pedaço de pau de
um lado pro outro, com um dos porcos.
Ouvi com assombro a lírica descrição de John Joe. Quem teria
imaginado que ele seria capaz de fazer uma descrição dessas?
— E, por pura estripulia, encasquetei de dar uma paulada no porco
com o pedaço de pau. Dei, e qual não foi meu espanto, quando vi que tinha
matado o bicho bem matado...
E quem teria imaginado que aquele velhote frágil era capaz de matar
um porco?
— PJ começou a chorar que nem uma mulher e entrou correndo em
casa: "Você matou o porco, vou te dedurar pro pai..."
— Quem é PJ? — perguntou Josephine.
— O irmão.
— E você ficou com medo?
— Acho que fiquei. Acho que sabia que não era bom negócio sair por aí
matando porcos. Mas, quando o pai saiu de casa, deu uma olhada e se esgoelou
de rir, falando: "Caramba! Mas tem que ser um homem muito forte prá matar
um porco!"
— Quer dizer então que seu pai não ficou zangado?
— Não, não mesmo. Ficou orgulhoso de mim.
— E você gostou que seu pai ficasse orgulhoso de você?
— Gostei. Me senti poderoso. John Joe estava animadíssimo.
Mesmo contra a minha vontade, comecei a admirar Josephine. Ela
certamente conhecia os calcanhares-de-aquiles das pessoas. Embora eu não
tivesse certeza de aonde estava querendo chegar com aquela dobradinha John
Joe/Pai.
— Descreva em uma palavra como seu pai fez você se sentir — pediu
ela. — Pode ser qualquer palavra. Feliz, triste, fraco, inteligente, forte, burro,
qualquer uma. Pense por alguns minutos.
John Joe refletiu longa e arduamente, respirando pela boca de uma
maneira bastante desagradável. Por fim, disse, convicto:
— Seguro.
— Tem certeza?
Ele assentiu com a cabeça.
A resposta pareceu agradar a Josephine.
— Você mencionou PJ "chorando que nem uma mulher". Isso parece
indicar uma atitude bastante preconceituosa em relação às mulheres. Ou, por
outra, é como se você não tivesse muito resp...
— Eu sei o que quer dizer "preconceituoso" — interrompeu John Joe.
Sua voz lenta e grossa estava carregada de brio e irritação.
Senti que todos tínhamos nos empertigado em nossas cadeiras,
surpresos.
— Você tem algum preconceito contra as mulheres? — ela perguntou.
— Tenho! — ele respondeu sem pestanejar, para espanto de todos. —
Sempre se lamuriando e choramingando, sempre precisando de alguém que
tome conta delas...
— Hum. — A boca sem batom de Josephine esboçou um sorriso
malicioso. — E quem é que toma conta delas?
— Os homens.
— Por quê?
—Porque são fortes. Os homens têm a obrigação de tomar conta dos
outros.
— Mas isso deixa você numa posição difícil, não é, John Joe? — ela
perguntou, com um brilho estranho nos olhos. — Porque, embora seja homem, e
portanto tenha a obrigação de tomar conta dos outros, você também gosta que
tomem conta de você. Gosta de se sentir seguro.
Ele assentiu, desconfiado.
— Mas as mulheres não podem tomar conta de você, segundo seu
ponto de vista. Portanto, para você se sentir realmente seguro, seria preciso que
outro homem tomasse conta de você.
Por alguns momentos, ela deixou no ar todos os tipos de perguntas e
respostas.
Aonde ela quer chegar?, me perguntei, desarvorada. Não podia estar
querendo dizer...? Não estava insinuando...? Que John Joe era...?
— Gay — disse ela, curta e rasteira. — Mas talvez vocês estejam mais
familiarizados com a palavra "homossexual".
O rosto de John Joe tinha ficado amarelo. Mas, para meu boquiaberto
assombro, não soltou a torrente furiosa e hidrofóbica de negativas que eu
esperava. ("Quem é que é viado aqui? Você diz isso porque não passa de uma
freira velha e sapatona que nunca viu um homem com o cipó de fora...")
John Joe parecia resignado, mais do que qualquer outra coisa.
— Você já sabia disso, não sabia? — perguntou Josephine, observandoo
atentamente.
Para cúmulo de meu assombro, John Joe deu de ombros, cansado:
— Ara, sabia e não sabia. Que bem me teria feito?
Você podia ter-se tornado padre, quase disse eu, para ter um cardápio
de garotos à sua escolha.
— Você tem sessenta e seis anos de idade — disse Josephine. — Que
vida solitária deve ter levado até hoje.
Ele parecia exausto e desolado.
— Já é hora de começar a viver sua vida honesta e devidamente —
prosseguiu ela.
— É tarde demais — disse ele, abatido.
— Não é, não — rebateu Josephine.
Comecei a imaginar John Joe trocando seu terno preto, velho e retinto
por um par de 501s, uma camiseta branca e uma cabeça raspada. Ou John Joe
com uma camisa xadrez, aquelas calças de couro que deixam a bunda de fora e
um bigodão com as pontas retorcidas, dizendo adeus às tetas das vacas para
dançar ao som do Village People e dos Communards.
— John Joe — disse Josephine, retomando seu ar professoral —,
entenda uma coisa. Uma pessoa é tão doente quão mais doentios forem os seus
segredos. Enquanto você viver uma mentira, vai continuar a beber. E, se
continuar a beber, vai morrer. Logo.
Era de dar medo.
— Há muito trabalho a ser feito, John Joe, em relação à maneira como
você tem vivido a sua vida, mas hoje transpusemos uma grande barreira. Fique
com os sentimentos. Quanto a vocês, sei que nem todos são homossexuais ou
lésbicas enrustidos, mas não pensem que só por causa disso podem ser
alcoólatras e toxicômanos.
Horas mais tarde, chegou uma nova interna. Fiquei sabendo da
novidade quando Chaquie passou ventando pelo refeitório depois do almoço e
gritou: "Temos uma nova garota! Eu a vi, quando estava passando o aspirador de
pó."
Não fiquei contente de saber que a nova aquisição do Claustro era uma
garota. Minha competição com Misty 0'Merda 0'Malley pela atenção de Chris já
era bastante acirrada.
Por sorte, a nova garota era provavelmente a mulher mais gorda que eu
já vira na vida real. Eu já vira pessoas com uma massa igual à sua no programa
do Geraldo, mas não acreditava que realmente existissem. Ela estava sentada à
mesa no refeitório, quando voltamos da sessão de grupo da tarde. Dr. Billings
apresentou Angela a nós e foi cuidar da vida.
Chris se chegou até mim.
Meu coração deu um salto, quando ele disse:
— Rachel, por que não vai falar com Angela?
— Eu? — perguntei. — Por que eu?
— E por que não? Vai lá — encorajou-me. — Neste momento, ela
provavelmente vai se sentir mais à vontade conversando com outra mulher. Vai
lá. Lembra como estava assustada no seu primeiro dia?
Eu já ia dizendo "Comigo foi diferente", mas queria agradar a ele, de
modo que sapequei um sorriso na cara e me aproximei dela. Mike se juntou a
mim e tentamos entabular uma conversa.
Nenhum de nós perguntou a ela por que razão estava internada,
embora desconfiássemos que tivesse alguma coisa a ver com comida e excesso
de consumo da propriamente dita.
Ela estava com um ar amedrontado e infeliz. Quando vi, já estava
dizendo "Não se preocupe, meu primeiro dia também foi horrível, mas depois
melhora", mesmo sem acreditar em uma só palavra.
Don e Eddie estavam aos berros do outro lado da mesa, a propósito de
uma gota de chá que o primeiro derramara no jornal do segundo. Eddie insistia
que Don comprasse outro jornal para ele, mas Don recusava-se
terminantemente. Eu sabia que a rixa era totalmente inofensiva, mas Angela
parecia horrorizada. Mike e eu tentamos animá-la.
— Eddie está furioso — eu ri. — Mas se engana redondamente se
pensa... er... que Don vai comprar outro jornal.
No momento em que eu disse "redondamente", meu olhar cruzou com o
de Angela, e o momento durou uma eternidade. Fiquei com ódio de mim mesma.
Estava sempre metendo os pés pelas mãos. Sempre.
— Mas Don é um Hitlerzinho, já está mais do que na hora de alguém
furar... — Mike virou uma estátua, mas logo se obrigou a concluir a frase — ...o
balão dele.
— Afinal das contas, é só um jornal — disse eu, com jovialidade
forçada. — Eddie podia ter um pouco de jogo de cintura... Respeitar mais o
espaço dos outros... — Para meu horror, as palavras "cintura" e "espaço" saíram
num tom de voz muito mais alto do que eu pretendera.
Senti gotas de suor brotarem no meu lábio superior. Foi impressão
minha ou Angela estremeceu? Nesse momento, Fergus, que até então tentava
apitar a peleja Don/Eddie, caminhou em nossa direção.
— Como vai? — Cumprimentou Angela com um aceno de cabeça,
sentando-se. — Cara. — Sacudiu a cabeça, incrédulo. — Que barra-pesada.
Todos nos retesamos. Como defuntos entrando em estado de rigidez
cadavérica.
— Você se refere a Don e Eddie? — perguntei, ansiosa, tentando aliviar
a barra.
— Exatamente — suspirou Fergus, distraído. — Se pelo menos Don
topasse comprar outro jornal para Eddie... MAS É AÍ QUE A PORCA TORCE O
RABO.
— Isso vai ser um prato cheio... — hesitei — ...digo, vai dar pano prá
manga na sessão de terapia em grupo deles.
A essa altura, eu suava em bicas.
— ...NEM QUE A VACA TUSSA! — berrou Eddie para Don. Eu e Mike
trememos nas bases.
— Ih, olha só — gritou Stalin. — QUE BOLÃO! Patati-patatá. Soubemos
depois que estava olhando a sessão de futebol no jornal e que o Arsenal tinha
ganho, mas, na hora, não foi o que pareceu.
Eu estava me sentindo um trapo.
Ato contínuo, Peter se aproximou e sentou-se conosco. Soltei um
grande suspiro de alívio.
— Oi — ele cumprimentou Angela. — Meu nome é Peter.
— Angela. — Ela sorriu, nervosa.
— Bem — ele soltou uma gargalhada de efeito —, nem preciso
perguntar por que você está aqui.
Quase desmaiei.
— Talvez Angela e Eamonn se apaixonem — sugeriu Don, horas depois,
apertando as mãos, os olhos acesos. — Não seria lindo? E teriam um monte de
filhinhos lindos, que já nasceriam quicando.
— Isso lá é coisa que se diga? — censurou-o Vincent, com um muxoxo.
— E por que não? — indagou Don. — Por acaso Liz Taylor e Larry
Foreskinsky não se conheceram num centro de reabilitação? As histórias de
amor acontecem, os sonhos se realizam.
Eu me perguntava se o homossexualismo de Don ainda era enrustido
demais para ele ter chegado ao ponto de descobrir Judy Garland. Se fosse o
caso, eu não poderia deixar de apresentá-lo a ela.
* * *
Duas vezes por dia, durante o resto da semana, suei em bicas, morta
de medo de que Josephine lesse o questionário na sessão de grupo. Mas ela não
o leu, e comecei a ter uma tênue esperança de que nunca chegasse a fazê-lo.
Apesar de ser poupada, isso não me impedia de botar fumacinhas pelo nariz
sempre que pensava em Luke — ou seja, a maior parte do tempo. Eu oscilava
entre o ódio fumegante, em que planejava uma vingança terrível, e uma espécie
de confusão lamuriosa, em que me indagava por que ele fora tão cruel comigo.
A companhia dos outros internos me proporcionou um conforto
estranho e inesperado. Quase todos condenavam Luke com um entusiasmo
fanático, e eram muito afetuosos comigo.
No entanto, eu gostava de pensar que os abraços de Chris queriam
dizer algo mais. Como não estávamos no mesmo grupo, eu só o via às refeições e
à noite. Mas ele sempre saía de seus cuidados para vir sentar ao meu lado
depois do jantar. Eu ficava ansiosa por vê-lo, para batermos nosso papinho
especial e íntimo. Às vezes, eu quase conseguia me convencer de que estar presa
no Claustro não era de todo mau. Esse convívio intenso fatalmente ajudaria
nosso incipiente relacionamento a se desenvolver.
A semana foi passando. Na quarta-feira, Chaquie leu a história de sua
vida, que foi aguada e sem graça.
Na quinta, um dos irmãos de Clarence veio como seu Outro Importante
Envolvido, mas, como Clarence já não negava mais seu alcoolismo, não houve
nenhuma surpresa. Pelo contrário, Clarence chegava a se antecipar ao irmão,
desfechando cada história de terror.
Na sexta, veio a namorada de Neil, Mandy. Por algum motivo, eu esperava
uma dondoca de minissaia e olhos pretos de delineador. Mas Mandy podia se
passar pela irmã mais velha e mais malajambrada de Emer. Minha impressão
era de que Neil estava procurando uma imago materna. Mandy confirmou o que
todos já sabiam: Neil bebia horrores, gostava de dar uns catiripapos nas suas
mulheres e quebrava um ou outro osso seu de vez em quando.
Na noite de quinta, houve uma reunião dos Narcóticos Anônimos.
Quando olhei o quadro de avisos no meu primeiro dia, tive a
impressão de que havia bilhões de reuniões. Mas, na realidade, era apenas uma
por semana. Como era minha primeira reunião, eu estava curiosa. Quase
excitada. Mas foi tudo uma doideira.
O que ocorreu foi que eu, Vincent, Chris, Fergus, Nancy, a dona-decasa,
Neil e mais dois ou três outros marchamos para a Biblioteca. Onde uma
mulher linda e loura com sotaque de Cork sentou-se conosco, fingindo ter sido
viciada em heroína até sete anos atrás.
Chamava-se Nola, ou, pelo menos, esse foi o nome que nos deu. Mas
era tão articulada e elegante que só de olhar para ela eu soube que jamais
conhecera um dia de desregramento em sua vida. Devia ser uma atriz que o
Claustro tinha contratado para tentar convencer os viciados de que podiam se
recuperar. Mas a mim ela não enganou.
Perguntou-me se eu gostaria de dizer alguma coisa e, sobressaltada,
murmurei que não. Tive medo de que se aborrecesse comigo. Mas ela me deu um
sorriso tão lindo e deslumbrante, que tive vontade de me enfiar no seu bolso e
ficar com ela. Achei-a linda.
Duas coisas boas aconteceram aquela semana, em meio a minha raiva
e confusão costellianas. A primeira foi que encerrei minha semana na equipe do
café da manhã e passei para a do almoço, chefiada por Clarence, o que
significava que podia dormir até tarde e dar adeus aos ovos. A segunda foi que
Margot, uma das enfermeiras, me pesou, e eu estava com menos de cinqüenta e
quatro quilos, o peso que sonhara ter durante quase toda a minha vida.
Mas quando ela disse "Que bom, você ganhou novecentos gramas",
fiquei estupefata.
— Desde quando? — perguntei.
— Desde o dia em que chegou.
— E como você sabe quanto eu pesava?
— Porque nós pesamos você. — Pareceu interessada e puxou uma ficha
branca na sua direção. — Não se lembra?
— Não. — Fiquei muito confusa.
— Não precisa se preocupar — ela sorriu, escrevendo no cartão.
— A maioria das pessoas está num tal nevoeiro químico no dia em que
chega aqui, que não sabe nem se é gente ou personagem de ficção. Demora
algum tempo para esse nevoeiro se dissipar. Os outros não têm comentado que
você emagreceu?
Tinham, uma vez ou outra. Como ela sabia?
— Têm — respondi, titubeante —, mas não acreditei neles. Achei que,
por serem fazendeiros e afins, queriam uma boa mulher com bastante carne
para ter onde pegar, como eles dizem, com ancas tão largas que poderiam parir
um novilho e força para caminhar seis quilômetros com uma ovelha debaixo de
cada braço, cozinhar um batatal inteiro para o chá toda noite e...
Não se podia fazer piada sobre coisa alguma. Bastou eu dizer isso para
Margot começar a escrever furiosamente na ficha branca.
— É uma piada — disse eu, em tom de desprezo, com um olhar
significativo para a ficha.
Margot me deu um sorriso cúmplice:
— Rachel, até mesmo as piadas são muito reveladoras.
Não havia nenhum espelho de corpo inteiro onde eu pudesse conferir a
descoberta de Margot. Mas, quando arrisquei passar os dedos pelos quadris e as
costelas, compreendi que devia mesmo ter perdido peso — meus quadris não
estavam tão enxutos assim desde que eu tinha dez anos de idade. Mesmo
eufórica, não tinha a menor idéia de como isso acontecera. Anos e anos de
malhação na academia não haviam surtido nenhum efeito. Quem sabe eu não
tivera a sorte de pegar uma solitária?
Porém, uma coisa era certa, jurei de pés juntos para mim mesma:
agora que eu perdera peso, estava determinada a não ganhá-lo de novo. Nada
mais de Pringles, biscoitos ou comida entre as refeições. Nem comida às
refeições, tampouco. Isso manteria as coisas nos eixos.
E, antes que eu me desse conta, chegamos ao fim de semana,
passamos ventando pela aula de culinária e os jogos de sábado e, de repente, era
domingo de novo.

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