A primeira manhã em que me vi na cama com Luke Costello, tive
vontade de morrer.
Depois de acordar, levei um ou dois segundos para compreender que
não estava na minha cama. "Hum", pensei, contente, com os olhos ainda
fechados, "de quem será a cama em que estou? Tomara que seja de alguém
legal." Nesse momento, com o impacto brutal de um balde de água gelada, a
lembrança voltou de um jato: o Rickshaw Rooms, os Homens-de-Verdade, os
amassos no táxi, o sexo com Luke e, o pior de tudo, o fato de que meu atual
paradeiro era sua cama.
Em pensamento, sentei-me de um pulo, agarrando os cabelos e
gritando: Como é que eu pude fazer uma coisa dessas? Na realidade, porém,
continuei imóvel e calada, muito preocupada em não acordar Luke. Muito
preocupada mesmo.
A razão voltara com a luz do dia, e eu estava simplesmente
horrorizada. Não apenas porque dormira com um dos Homens-de-Verdade, mas
porque não tivera a inteligência de acordar de madrugada, me vestir no escuro e
sair do quarto pé ante pé, deixando para trás o homem, os brincos e alguma
coisa constrangedora, como minha pomada para herpes, para nunca mais voltar
a pôr os olhos em nenhum dos três. Não que eu me importasse. Teria deixado de
boa vontade uma bisnaga de pomada para hemorróidas no travesseiro dele à
guisa de bilhete de adeus, se pudesse desaparecer dali como num passe de
mágica.
Tentando não me mexer, abri os olhos com cuidado. Estava de frente
para uma parede. Pelo calor e a respiração de outra pessoa, depreendi que havia
mais alguém na cama.
Alguém que se interpunha entre mim e minha fuga.
Como um camundongo engaiolado, meu cérebro corria de um lado
para o outro, tentando localizar minhas roupas. Ah, como eu me arrependia
amargamente por não ter acordado às três da madrugada!
Não, eu tinha que ser honesta e admitir que o problema começara um
pouco antes disso. Como me arrependia amargamente por ter deixado Luke
Costello me beijar! Então decidi que, na verdade, as coisas haviam começado a ir
para o brejo no momento em que pus os pés nos Rickshaw Rooms. Por que o
segurança não tinha mandado a gente à merda, como esse pessoal costuma
fazer? Quanto mais eu pensava no assunto, mais ficava claro que o dia em que
ouvira falar de Nova York pela primeira vez é que fora o início do rolo. Se eu
tivesse gostado de Praga, nada disso teria acontecido. Se eles tivessem mais
algumas boates por lá...
E eu lá, o corpo rígido, a cabeça voando pelo passado. Se tivesse
conseguido aquela vaga no curso de hotelaria em Dublin, se nunca tivesse
conhecido Brigit, se tivesse nascido homem...
No momento em que datava a origem de meu problema do malfadado
dia em que minha mãe me deu à luz, ouvi uma voz. "Bom-dia, amor", disse
alguém — que eu só podia esperar que fosse Luke, a menos que os caras
dividissem outras coisas além de suas calças de couro. Como então, ele estava
acordado. Isso pôs por terra minha última esperança de sair de fininho, sem
acordá-lo. Se não estivesse fingindo ser muda e tetraplégica, teria escondido o
rosto nas mãos e chorado.
Para meu horror, senti um braço enlaçar como uma serpente meu
corpo nu e arrastá-lo pela cama. Coisa de macho, mesmo, porque eu não era
nenhum peso-pena.
Deslizei com facilidade pelos lençóis até encostar em outro corpo. Um
corpo de homem. Fiquei furiosa com seu atrevimento. Não tinha a menor
intenção de iniciar um corpo-a-corpo matinal com o Sr. Luke Homem-de-
Verdade Cabeludo. Ele dera sorte, muita, muita sorte comigo na noite anterior.
Cheguei a cogitar, por um momento, de me safar inventando que ele abusara de
mim, talvez até acusando-o de praticamente ter me estuprado, mas, a
contragosto, desisti da idéia. Fora um erro terrível da minha parte, que jamais se
repetiria.
— Oi — ele murmurou ao lado de minha cabeça. Não respondi. Estava
de costas para ele e não olharia, não poderia olhar para ele.
Em vez disso, fechei os olhos bem fechados e rezei para que ele fosse
embora, morresse ou coisa que o valha.
Eu chegara até ele exatamente na mesma posição em que estava
deitada no outro extremo da cama. Enquanto jazia implacavelmente hirta como
um cadáver, ele começou a afastar lentamente meu cabelo da pele sensível da
nuca. Horrorizada com sua audácia, mal me permitia respirar. Como ele se
atreve?, pensava, furiosa. Bem, ele que não pense que vai me encontrar molinha,
maleável, receptiva e ávida. Vou me manter perfeitamente imóvel, ele vai se
desinteressar e vou poder fugir.
Então senti uma sensação estranha na coxa, tão suave e tênue que, no
começo, achei que era minha imaginação. Mas não era. Luke estava passando
levemente sua outra mão pelo contorno da minha coxa, arrepiando toda a
penugem. Entre as cócegas e o arrepio. Até a altura do ilíaco, dali até o joelho, de
volta ao ilíaco...
Engoli em seco.
Estava quase histérica para sair dali. Mas não queria fazer nenhum
gesto teatral, do tipo atirar os lençóis para trás (talvez me dando ao luxo de
acertar uma cotovelada no seu rim), até saber onde encontrar pelo menos
algumas das minhas roupas.
Será que não podíamos ter pelo menos fechado as cortinas na noite
passada? Não havia como esconder nem um centímetro da minha nudez, na luz
crua da manhã.
Enquanto a mão de Luke vagava por minha coxa, sua outra mão fazia
cócegas e pinicava minha nuca. De repente, uma sensação muito agradável no
pescoço soltou fagulhas elétricas por todo o meu corpo. O que estava
acontecendo? Um exame mais detalhado do fenômeno revelou que Luke
começara a me mordiscar com delicadeza.
Agora ele tinha ido longe demais!
Eu precisava ir embora. Mas como?
Podia jogar tudo para o alto, pensei, em desespero de causa. Podia
simplesmente pular da cama e fingir que não estava morta de vergonha por sair
atarantada catando minhas roupas no chão. Se achasse minhas calcinhas e
mantivesse pelo menos a bunda no anonimato, não ficaria tão preocupada com o
resto do corpo...
Ou podia tentar bancar a engraçadinha, enrolando o lençol em volta do
corpo como uma toga e... espera aí, que é que ele estava fazendo?
Engoli com dificuldade. A mão do canalha, sabe-se lá como, conseguira
transpor a barreira da rigidez cadavérica de meu braço e agora acariciava meus
mamilos com afagos leves como uma pluma, fazendo com que os dois se
projetassem como os pregos de uma chuteira.
Mas, mesmo assim, mantive minha condição de objeto inanimado. Ele
se aproximou mais de mim, alinhando a frente de seu corpo com os fundos do
meu. Seria excelente para a minha saúde sentir os primeiros sinais de sua
ereção matinal.
Adoro pênis semitúrgidos, pensei, sonhadora. É óbvio que não são tão
úteis quanto os plenitúrgidos, mas são tão gordos, inchados e vivos... E a gente
nunca sabe o que vão fazer em seguida, quer dizer, sabe, claro, mas, mesmo
assim...
Surpresa, constatei que meu sexo estava acordado.
E, não só acordado, como exigindo o café da manhã.
Eu não podia ver Luke, mas podia sentir seu cheiro. Cigarros, pasta de
dentes e alguma outra coisa, sensual e com notas de almíscar, um cheiro
másculo. Essência de homem.
Dessa vez, fui eu quem senti os primeiros sinais da excitação. O
contato com ele era bom demais — grande e sólido, liso e tenro.
Mas ele que fosse à merda, decidi, irredutível. A noite passada fora um
erro.
Ele mexeu as pernas, de modo a que suas coxas encostassem nas
minhas. Eu tinha uma consciência aguda do tamanho e da força delas. Estava
tão sensível a cada toque seu, que era como se houvessem removido uma
camada de minha pele. Nada como um pouco de desejo para me fazer sentir
como se tivesse passado uma hora esfoliando o corpo feito uma louca.
Para minha surpresa, não me sentia gorda e hedionda, como em geral
acontecia quando me encontrava na cama com um homem. Tinha a faca e o
queijo na mão, porque Luke estava louco por mim.
Podia sentir sua ereção às minhas costas, quase encostando na minha
bunda.
Ele tornou a mordiscar meu pescoço e sua mão desceu ainda mais,
contornando a curva de minha barriga (barriga prá dentro, depressa!), em
seguida descendo ainda mais. Eu estava sem fôlego, por motivos totalmente
diversos.
Ele passou a mão por cima de minha barriga, mal tocando-a,
contornando a ponta do meu quadril até a coxa, roçando rapidamente meus
pêlos pubianos (tentei abafar um grito, que escapou e saiu igual ao ganido que o
cachorro solta quando prende o rabo na porta), de volta à barriga, até o quadril,
pelo ilíaco, deslizando para baixo, movendo-se em círculos cada vez mais
estreitos.
Mas não estreitos o bastante para o meu gosto.
Minha cabeça dizia para eu lhe dar um tapa na mão e mandá-lo à
merda, mas meu sexo choramingava como uma criança pequena.
Ai, continua, eu pensava, desesperada, ao que seus dedos desciam.
Ah, não! Ele voltara à minha barriga. E então à minha coxa, dessa vez um pouco
mais alto do que o ponto que tocara antes, mas, ainda assim, não alto o
bastante.
Não obstante, continuei imóvel.
O sangue fugira todo de minha cabeça para a região pélvica, como um
êxodo de refugiados, inundando-a e intumescendo-a. Minha cabeça estava tonta
e leve, minha vagina túmida e hipersensível.
Eu continuava lá, enroscada de lado, pensando no que fazer, quando
de repente, não mais que de repente, tudo mudou! Sem nenhum aviso, Luke
passou os braços por baixo de mim e me virou de barriga para cima. Num
minuto eu estava enroscada como um feto em estado de rigidez cadavérica, no
outro estava deitada de costas, com Luke agachado sobre mim.
— O que está fazendo? — gemi. Estava irritada. Perturbada. Era
obrigada a reconhecer que ele estava muito bonito; a barba por fazer da manhã
ficava bem nele, e seus olhos eram azul-escuros à luz do dia.
Abaixei os olhos e vislumbrei seu membro ereto. Tratei de desviá-los
rapidamente, entre o pavor e a excitação.
— Quero alguém para brincar — disse ele, com a maior simplicidade. E
sorriu. Eu não me lembrava de ter visto na vida um sorriso tão enternecedor.
Senti os últimos fiapos de minha força de vontade balançarem e caírem. — Vou
brincar com você.
Desde o momento em que acordara, mantivera minhas pernas
firmemente apertadas. Mas agora ele punha as duas mãos entre minhas coxas e
delicadamente as afastava. O desejo me encapelava. O desejo me rasgava.
Um som escapou de minha garganta antes mesmo que eu fizesse
menção de soltá-lo.
— A menos que você não queira brincar — disse ele, inocente.
Ajoelhou-se e mordeu um de meus mamilos, com delicadeza mas força,
e novamente gemi de desejo.
Sentia-me inchada, em carne viva de desejo por ele. Podia sentir o
clitóris latejando e ardendo, como se estivesse se derretendo no fogo. Agora sei
como é ter uma ereção, pensei, pasma.
Ele olhou para mim e perguntou:
— E aí?
Mordeu meu outro mamilo.
Eu sabia que não conseguiria me levantar e andar, mesmo que
tentasse. Tudo em mim parecia mais pesado do que o normal. Eu estava aérea,
grogue, bêbada de desejo.
— E aí? — ele repetiu. — Quer brincar?
Olhei para ele — olhos azuis, dentes brancos, coxas gostosas, um pau
enorme e roxo.
— Quero — admiti, sem forças. — Quero brincar.
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