Ao anoitecer do dia seguinte me preparei para sair. Bill me tinha avisado de que iria
alimentar se antes de que partíssemos, e embora a idéia me entristecia, tinha que reconhecer
que tinha sentido. Também tinha estado no certo respeito a como me sentiria depois de meu
pequeno suplemento vitamínico informal da noite anterior. Encontrava-me genial: muito
forte, muito alerta, muito ardilosa e, por estranho que soe, também muito bonita.
O que me ia pôr para minha pequena entrevista com o vampiro? Não queria que
parecesse que tratava de resultar sexy, mas tampouco tinha intenção de me fazer passar por
uma parva do bote me pondo um saco de arpillera sem forma. A resposta parecia estar nos
texanos azuis, como quase sempre. Pu-me umas sandálias brancas e uma camiseta de
pescoço amplo. Não a tinha levado desde que comecei a sair com o Bill, porque deixava ver
as marcas de dentadas, mas pensei que aquela noite não estava de mais reafirmar sua
"propriedade" sobre mim. Recordei que aquela vez um policial me comprovou o pescoço,
assim coloquei um cachecol na bolsa. Pensei-me isso melhor e acrescentei um colar de
prata. Escovei-me o cabelo, que parecia bastante mais loiro, e me deixei isso solto sobre as
costas.
Justo quando já não podia me tirar da cabeça a imagem do Bill junto a outra pessoa,
bateu na porta. Abri e ficamos nos olhando o um ao outro durante um minuto. Seus lábios
estavam menos pálidos do normal, assim que o tinha feito. Mordi-me meus para não dizer
nada.
-Está distinta.
-Crie que alguém mais se dará conta? -confiei em que não fosse assim.
-Não sei. -Ofereceu-me sua mão e fomos para seu carro. Abriu-me a portinhola e me
rocei com ele ao entrar. Fiquei paralisada.
-O que ocorre? -perguntou ao dar-se conta de minha reação.
-Nada -respondi, tratando de manter um tom sereno. Acomodei-me no assento do copiloto
e olhei fixamente à frente.
Disse-me que era como ficar furiosa com a vaca da que se comeu um hambúrguer. Mas
de algum modo não me saía o sorriso.
-Cheira diferente -pinjente quando já levávamos vários minutos na auto-estrada. O
carro prosseguiu sua marcha vários minutos mais, sem que disséssemos uma palavra.
-Agora sabe como me sentirei se Eric te toca -me respondeu-. Mas será pior, porque
Eric desfrutará te tocando, e eu não desfrutei muito de meu jantar.
Supu-me que isso não era de tudo certo: a mim, por exemplo, eu gosto de comer embora
não me sirvam minha comida favorita. Mas apreciava a intenção.
Não falamos muito; os dois estávamos preocupados com o que nos esperava. Muito logo
estávamos outra vez estacionando junto à a Fangtasía, mas esta vez por detrás. Assim que
Bill me abriu a porta do carro tive que conter um impulso de me agarrar ao assento e me
negar a sair. Quando consegui me obrigar a isso, senti outro intenso desejo de me esconder
detrás do Bill. Dava uma espécie de ofego, agarrei-me de seu braço e caminhamos juntos
para a porta, como um casal que vai a uma festa que aguardava com entusiasmo. Bill me
estudou com aprovação. Me deu vontade de lhe pôr má cara.
Bateu na porta de metal com as letras do FANGTASIA gravadas nela. Encontrávamonos
em um beco de serviço e traslado de mercadorias que percorria por detrás todas as lojas
da pequena galeria comercial. Havia outros carros ali estacionados, entre eles o esportivo
conversível vermelho do Eric. Todos os veículos eram caros; não verá um vampiro em um
Ford Festa.
A chamada do Bill consistiu em três golpes rápidos e dois espaçados. A Chamada
Secreta dos Vampiros, supus. Talvez chegasse a aprender o Apertão de Mãos Secreto.
Abriu-nos aquela preciosa vampira loira, a que tinha estado na mesa com o Eric a outra
vez que fui ao bar. apartou-se para nos permitir o passo, sem dizer uma palavra.
Se Bill houvesse sido humano, teria se queixado do forte que lhe apertava a mão.
A mulher nos precedeu com mais velocidade da que podiam seguir meus olhos, e
pomos-se a andar detrás dela. Bill, é obvio, não se surpreendeu absolutamente. Guiou-nos
através de um armazém com um parecido desconcertante ao do Merlotte's, e logo até um
estreito corredor. Cruzamos a porta da direita.
Era uma sala pequena, e a presença do Eric a dominava. Não é que Bill se ajoelhasse a
beijar seu anel, mas fez uma inclinação bastante pronunciada. Havia outro vampiro na
habitação: Sombra Larga, o garçom. Estava em boa forma, com uma camiseta de
suspensórios e calças de esporte, ambos os objetos de cor verde escura.
-Bill, Sookie -nos saudou Eric-. Já conhecem sombra Larga. E, Sookie, recordará ao
Pam-Pam era a loira-. E este é Bruce.
Bruce era humano, o humano mais apavorado que jamais tenha visto. Senti simpatia por
ele. Era de média idade e barrigudo, com escasso cabelo escuro que se curvava em
ondulações fixos sobre seu couro cabeludo. Era de bochechas quedas e boca pequena.
Tinha posto um traje bonito, de cor bege, com camisa branca e gravata a raias de cores
marrom e azul marinho. Suava muito, e se sentava em uma singela cadeira rígida. Eric, é
obvio, estava na poltrona do chefe. Pam e Sombra Larga se apoiavam contra a parede, perto
do Eric, junto à porta. Bill se colocou junto a eles, mas quando fui pôr me a seu lado, Eric
voltou a falar.
-Sookie, escuta ao Bruce.
Fiquei olhando ao Bruce um instante, esperando a que falasse, quando ao fim
compreendi a que se referia Eric.
-O que estou procurando exatamente? -perguntei, sabendo que minha voz soava
cortante.
-Alguém desfalcou uns sessenta mil dólares que eram nossos -explicou Eric. Céus,
alguém tinha vontades de que o matassem, pensei-. E em vez de submeter a todos nossos
empregados humanos a morte ou tortura, pensamos que possivelmente você poderia olhar
em suas mentes e nos dizer quem foi.
Disse "morte ou tortura" com tanta tranqüilidade como outro diria "Bud ou Old
Milwaukee"
-E depois o que fará?-perguntei. Eric pareceu surpreso. -O culpado nos devolverá o
dinheiro -disse com
simplicidade.
-E então?
Entrecerró seus grandes olhos azuis e cravou seu olhar em mim.
-Bom, se podemos obter provas do delito, entregaremos ao culpado à polícia -disse com
lentidão.
Mentira, mentira e três vezes mentira.
-Façamos um trato, Eric-disse, sem me incomodar em sorrir. A amabilidade não
funcionava com ele, e
não parecia disposto a me saltar em cima. Ainda não. Sorriu condescendente.
-Do que se trata, Sookie?
-Se de verdade entregar ao culpado à polícia voltarei a fazer isto para ti, sempre que
querer.
Eric arqueou uma sobrancelha.
-Sim, sei que é provável que volte a necessitá-lo. Mas não seria melhor se acessasse de
maneira
voluntária, se tivéssemos confiança o um no outro?-Comecei a suar. Não me podia
acreditar que estivesse
regateando com um vampiro.
Eric parecia estar pensando o mesmo. E de repente estive em sua cabeça. Pensava que
poderia me obrigar
a fazer o que quisesse, sempre e em qualquer lugar, que para isso bastava ameaçar ao Bill
ou a alguma pessoa
a que eu quisesse. Mas queria integrar-se, seguir tudo quão legal pudesse, manter suas
relações humanas
dentro da honradez, ou ao menos tudo quão honradas pudessem ser nas relações entre
humanos e vampiros.
Não queria matar a ninguém se não era necessário.
Foi como me inundar de repente em um poço de serpentes, de serpentes frite e letais. Solo
foi um brilho,
um pedaço de sua mente, por assim dizê-lo, mas me mostrou todo um novo mundo.
-Além disso -disse com rapidez, antes de que se desse conta de que tinha estado dentro de
sua cabeça-,
como está tão seguro de que o ladrão é humano?
Pam e Sombra Larga se moveram de repente, mas Eric enchia a sala com sua presença, e
lhes indicou que
ficassem quietos.
-Essa é uma idéia interessante -disse-. Pam e Sombra Larga são meus sócios no bar, e se
nenhum dos
humanos é culpado, suponho que teremos que olhar para eles.
-Só era uma idéia-respondi com docilidade. Eric me olhou com os glaciais olhos azuis de
um ser que logo
que recorda como era ser humano.
-Começa agora, com este homem-ordenou.
Ajoelhei-me junto à cadeira do Bruce, tratando de decidir como proceder. Nunca me tinha
posto a
formalizar algo que basicamente correspondia ao azar. Tocá-lo ajudaria; o contato direto
facilita a
transmissão, por assim dizê-lo. Agarrei-lhe da mão, mas descobri que resultava muito
pessoal (e estava muito
suada), assim que lhe subi a manga da jaqueta para lhe sustentar a boneca. Olhei dentro de
seus pequenos
olhos.
Eu não agarrei o dinheiro; quem o agarrou, que louco estúpido poria a todos em um
perigo como este, o
que fará Lillian se me matarem, e Bobby e Heather, porquê me colocava trabalhar com
vampiros, é por pura
avareza, e agora vou pagar o, Deus, nunca voltarei a trabalhar para estas criaturas de novo,
como pode esta
louca descobrir quem agarrou o maldito dinheiro, por que não me deixa que me largue, o
que é, deve ser
também uma vampira, ou uma espécie de demônio, seus olhos são muito estranhos, deveria
ter descoberto
antes que faltava o dinheiro e averiguar quem o levou antes de dizer nada ao Eric...
-agarraste você o dinheiro?-pinjente, com fôlego entrecortado, embora estava segura de
que já conhecia a
resposta.
-Não -grunhiu Bruce. O suor percorria sua cara. Seus pensamentos, sua reação à pergunta,
confirmaram o
que já tinha ouvido.
-Sabe quem o fez?
-Oxalá.
Pu-me de pé e me girei para o Eric sacudindo a cabeça.
-Não é ele-disse.
Pam escoltou fora ao pobre Bruce e trouxe para o seguinte suspeito. tratava-se de uma
garçonete, vestida
com avental negro. Mostrava muito decote e seu cabelo, esfarrapado e de cor vermelha,
caía-lhe murcho pelas
costas. Certamente, trabalhar no Fangtasía tinha que ser um luxo para uma colmillera, e as
cicatrizes que
luzia aquela garota demonstravam que desfrutava dos incentivos trabalhistas.
Tinha a suficiente segurança em si mesmo para sorrir ao Eric e sentar-se despreocupada e
confiada na
cadeira de madeira. Inclusive cruzou as pernas ao Sharon Stone (ou isso acreditava ela).
Surpreendeu-se de
ver um vampiro desconhecido e a uma mulher na habitação, e eu não lhe agradei, embora
Bill fez que se
lambesse os lábios.
-Olá, doçura-disse ao Eric. Ficou claro que não devia ter nada de imaginação.
-Ginger, responde as perguntas desta mulher-respondeu Eric. Sua voz era como um muro
de pedra: Lisa e
sem fissuras.
Ginger pareceu dar-se conta ao fim de que era momento de ficar sérios. Cruzou os
tornozelos e se sentou
com as mãos em cima das coxas, pondo cara circunspeta.
-Sim, amo -disse. Entraram-me vontades de vomitar.
Fez-me um gesto imperioso com a mão, como se dissesse: "Adiante, companheira
servente dos vampiros".
Inclinei-me para sua boneca e ela me apartou a mão.
-Não me toque -disse, com uma voz que era quase um vaio.
Foi uma reação tão exagerada que os vampiros ficaram em tensão. Notei que o ambiente
da sala jogava
faíscas.
-Pam, sujeita ao Ginger-ordenou Eric, e a vampira apareceu silenciosa detrás da cadeira
da garota,
inclinou-se e sujeitou com as mãos seus braços por cima do cotovelo. Ficou claro que
Ginger se debateu um
pouco, porque agitou a cabeça, mas Pam sustentou seu torso com um abraço que manteve o
corpo da garota
imóvel por completo. Meus dedos rodearam sua boneca.
-agarraste você o dinheiro?-perguntei, olhando-a a seus olhos castanhos, carentes de
brilho.
Então gritou, com força e durante um bom momento. Começou a me amaldiçoar. Analisei
o caos de seu
pequeno cérebro, era como tratar de caminhar por um campo bombardeado.
-Sabe quem o fez-revelei ao Eric. Nesse momento Ginger se calou, embora seguiu
soluçando-. Não pode
dizer o nome, mordeu-lhe. -Assinalei as marcas do pescoço do Ginger, como se se
necessitasse mais
demonstração-. É uma espécie de compulsão -informei depois de tentá-lo de novo-. Nem
sequer pode fazer
uma imagem dele.
-Hipnose -comentou Pam. Sua proximidade à assustada garota tinha feito que
aparecessem as presas-.
Um vampiro forte.
-Tragam para seu melhor amiga -sugeri.
Para então Ginger tremia como uma folha, e os pensamentos que tinha proibidos
pugnavam por sair de seu
confinamento.
-Deve ficar ou ir-se? -perguntou-me Pam.
-Que se vá. Solo assustará a outros.
Estava tão metida naquilo, tão dedicada a usar abertamente minha estranha habilidade,
que não olhei ao
Bill. Deu-me a impressão de que se o olhava me debilitaria. Mas sabia que estava ali, que
ele e Sombra Larga
não se moveram desde que começasse o interrogatório.
Pam atirou do Ginger e a levou. Não sei o que fez com a garçonete, mas retornou com
outra vestida com a
mesma classe de traje. O nome desta era Belinda, e era maior e mais preparada. Belinda
tinha óculos, cabelo
castanho, e a careta da boca mais sexy que nunca tenha visto.
-Belinda, a que vampiro esteve vendo Ginger? - perguntou Eric com suavidade, uma vez
Belinda esteve
sentada e eu a tinha pego da boneca. A garçonete teve o sentido comum de aceitar com
tranqüilidade o
procedimento, e a inteligência necessária para dar-se conta de que devia ser honesta.
-A qualquer que queira ter -disse Belinda com franqueza.
Vi uma imagem na mente da Belinda, mas devia pensar em seu nome.
-Qual daqui?-perguntei de repente, e então obtive o nome. Meus olhos o buscaram na
esquina antes de
poder abrir a boca, e de repente Sombra Larga esteve sobre mim, lançando-se por cima da
cadeira em que se
sentava Belinda para aterrissar em cima de mim, que estava diante. Derrubou-me de costas
sobre o escritório
do Eric, e só ao interpor os braços evitei que seus dente se cravassem em minha garganta e
a rasgassem.
Mordeu-me grosseiramente o antebraço e gritei, ou ao menos o tentei, mas ficava tão pouco
ar depois do
impacto que se pareceu mais a um ofego de asfixia.
Só era consciente da pesada figura que tinha em cima e da dor de meu braço. E de meu
terror. Quando me
atacaram os Ratos, não temi que me fossem matar até que quase foi muito tarde, mas nesta
ocasião
compreendi que, para evitar que seu nome saísse de meus lábios, Sombra Larga estava
disposto a
me matar imediatamente. Quando ouvi aquele terrível som e notei que seu corpo se
apertava ainda com
mais força contra o meu, não tive nem idéia do que significava. Pude ver seus olhos por
cima de meu braço.
Eram amplos, castanhos, enlouquecidos, gélidos. De repente se desfocaram e perderam
força. Brotou sangue
de sua boca, sangue que me banhou o braço; me meteu na boca aberta e me deram arcadas.
Suas presas se
afrouxaram e seu rosto caiu inerte. Começou a enrugar-se; seus olhos se converteram em
atoleiros
gelatinosos. Molhos de seu denso cabelo negro caíram sobre minha cara.
Eu estava conmocionada, incapaz por completo de me mover. Umas mãos me agarraram
dos ombros e
começaram a me tirar de debaixo do corpo em decomposição. Empurrei com os pés para
sair mais rápido.
O processo não desprendeu nenhum aroma, mas estava a imundície, negra e dispersa, e o
terrível horror e
asco de contemplar a Sombra Larga desfazer-se a incrível velocidade. Uma estaca aparecia
das costas. Eric o
contemplava, como todos, mas ele sustentava um maço na mão. Bill estava detrás de mim,
era o que me tinha
tirado de debaixo do índio. Pam se encontrava junto à porta, sustentando com uma mão o
braço da Belinda. A
garçonete parecia tão assustada como devia está-lo eu.
Inclusive a imundície começou a desfazer-se em fumaça. Ficamos imóveis até que a
última voluta
desapareceu. No tapete ficou uma espécie de marca chamuscada.
-Terá que comprar um tapete-disse, sem vir absolutamente a conto.
-Tem sangue na boca -mencionou Eric. Todos os vampiros tinham as presas desdobradas
em toda sua
longitude. excitaram-se o bastante.
-sangrou em cima meu.
-Te penetrou algo pela garganta?
-É provável. O que significa?
-Isso está por ver-disse Pam. Sua voz resultava sinistra e rouca. Estudava a Belinda de
uma maneira que
me tivesse posto muito nervosa, mas curiosamente ela parecia sentir-se orgulhosa da
atenção-. Pelo generalacrescentou
a vampira, com os olhos postos sobre os sensuais lábios do Belindasomos -nós
os que bebemos
dos humanos, não ao reverso.
Eric me contemplava com interesse, a mesma classe de interesse que tinha Pam pela
Belinda.
-Como vê agora as coisas, Sookie? -perguntou, com uma voz tão amável que ninguém se
acreditaria que
acabava de executar a um velho amigo.
Que como me pareciam agora as coisas? Mais brilhantes. Os sons resultavam mais claros
e podia ouvir
melhor. Queria me girar e olhar ao Bill, mas me dava medo apartar os olhos do Eric.
-Bom, suponho que Bill e eu teremos que ir já - disse, como a não ser fora possível outra
coisa-. Tenho
feito isso por ti, Eric, e agora temos que ir. Sem represálias contra Ginger, Belinda e Bruce,
de acordo? Era o
lembrado. -Comecei a me dirigir para a porta com uma segurança que estava longe de
sentir-. Suponho que
terá que ver como vai o bar, não? Quem está preparando esta noite as bebidas?
-Temos um substituto -disse Eric distraído, sem que seus olhos se apartassem em nenhum
momento de
meu pescoço-. Cheira diferente, Sookie-murmurou dando um passo para nós.
-Bom, não esqueça que temos um trato, Eric-lhe recordei, com um sorriso amplo e tenso e
com um tom
cheio de alegria-. Bill e eu vamos já a casa, verdade?
Arrisquei-me a jogar uma olhada atrás, para o Bill: me caiu a alma aos pés. Tinha os
olhos muito abertos,
sem piscar, e seus lábios formavam um sorriso silencioso que deixava à vista suas presas
estendidas. Suas
pupilas estavam muito dilatadas. Contemplava ao Eric.
-Pam, deixa passo livre -disse com suavidade mas firmeza. Quando Pam se distraiu de
sua própria sede
de sangue, avaliou a situação com uma só olhada. Abriu de par em par a porta do despacho
e empurrou a
Belinda através dela. Logo se tornou a um lado para nos fazer sair.-Chama o Ginger-sugeri,
e o sentido de
minhas palavras penetrou a nuvem de desejo do Pam.
-Ginger-chamou com voz rouca. A loira apareceu correndo desde outra porta do corredor-.
Eric te
deseja-lhe explicou.
O rosto do Ginger se iluminou como se tivesse uma entrevista com o David Duchovny, e
esteve na sala
esfregando-se contra Eric quase com tanta velocidade como tivesse podido fazê-lo um
vampiro. Como se se
tivesse despertado de um feitiço, Eric baixou o olhar para o Ginger ao tempo que ela
percorria seu peito com
as mãos. Enquanto se inclinava para beijá-la, olhou-me por cima da garota.
-Voltarei a verte -disse, e eu atirei do Bill para sair dali quanto antes. Ele não queria ir-se,
era como
empurrar um tronco. Mas uma vez nos encontramos já no corredor, pareceu ser mais
consciente da
necessidade de nos largar dali, e corremos fora do Fangtasía até seu carro.
Olhei-me. Estava manchada de sangue e com a roupa enrugada, e tinha um aroma
estranho. Que asco.
Voltei-me para o Bill para compartilhar minha repugnância, mas ele me olhava de um
modo inconfundível.
-Não -disse energicamente-. Arranca este carro e saiamos daqui antes de que aconteça
nada mais, Bill
Compton. Lhe digo assim de claro. Não estou de humor.
inclinou-se por cima do assento para mim, com as mãos me agarrando antes de que
pudesse dizer nada
mais. Sua boca esteve sobre a minha, e em apenas um segundo começou a lamber o sangue
de minha cara.
Estava muito assustada, e também muito furiosa. Agarrei-o pelas orelhas e afastei sua
cabeça da minha
recorrendo até ao último grama de força que ficava no corpo, que resultou ser mais do que
eu pensava. Seus
olhos seguiam sendo como cavernas com fantasmas espreitando na profundidade.
-Bill! -gritei. Sacudi-o-. lhe Tire isso de cima!
Pouco a pouco sua personalidade retornou a seus olhos. estremeceu-se e soltou um
suspiro, depois do que
me beijou com suavidade nos lábios.
-Vale, podemos ir já a casa? -perguntei, envergonhada de que minha voz soasse tão
tremente.
-Claro -disse. Ele tampouco pareceu muito firme.
-foi como quando os tubarões cheiram sangue? -perguntei-lhe detrás quinze minutos ao
volante, já quase
fora do Shreveport.
-Boa analogia.
Não precisava desculpar-se: fazia o que a natureza lhe ditava, ao menos a natureza dos
vampiros, e
tampouco lhe preocupava. Mas a mim sim que me tivesse gostado de ouvir uma desculpa.
-Então, estou metida em uma confusão? -perguntei por último. Eram as duas da manhã e
descobri que o
tema não me preocupava tanto como deveria.
-Eric tomará a palavra -respondeu Bill-. Quanto a se te deixará em paz em sentido pessoal,
não sei.
Oxalá... -mas sua voz se desvaneceu. Era a primeira vez que ouvia o Bill desejar algo.
-Sessenta mil dólares não deve ser muito dinheiro para um vampiro -observei- Todos
parecem ter um
montão de massa.
-Os vampiros roubam a suas vítimas, é obvio -disse Bill com tom prático-. Ao princípio
agarramos o
dinheiro do cadáver. Depois, quando temos mais experiência, podemos exercer o controle
necessário para
persuadir a um humano para que nos dê dinheiro por sua própria vontade e depois esqueça
que o tem feito.
Alguns contratam administradores, outros se metem no mercado imobiliário e outros vivem
dos interesses de
seus investimentos. Eric e Pam montaram juntos o bar. Eric contribuiu quase todo o
dinheiro, e Pam o resto.
Conheciam sombra Larga há cem anos, e o contrataram para que fora o garçom. Ele os traiu.
-E por que ia roubar lhes?
-Devia ter alguma aventura comercial para a que necessitasse o capital-explicou Bill
distraído-. E estava
em uma posição integrada; não podia limitar-se a matar ao diretor de um banco depois de
hipnotizá-lo e
persuadi-lo para que lhe entregasse o dinheiro. Assim que o agarrou do Eric.
-Mas, Eric não o teria emprestado?
-Se Sombra Larga não tivesse sido muito orgulhoso para pedi-lo, sim -respondeu Bill.
Houve outro prolongado silêncio. Por último disse:
-Sempre pensei que os vampiros são mais preparados que os humanos, mas não é assim,
né?
-Não sempre-reconheceu.
Quando alcançamos os subúrbios do Bon Temps, pedi ao Bill que me deixasse em casa.
Me olhou de
esguelha, mas não disse nada. Pode que, depois de tudo, os vampiros sim fossem mais
preparados que os
humanos.
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