segunda-feira, 18 de julho de 2011

Charlaine Harris - Morto até o Anoitecer Cap.09

Ao anoitecer do dia seguinte me preparei para sair. Bill me tinha avisado de que iria

alimentar se antes de que partíssemos, e embora a idéia me entristecia, tinha que reconhecer

que tinha sentido. Também tinha estado no certo respeito a como me sentiria depois de meu

pequeno suplemento vitamínico informal da noite anterior. Encontrava-me genial: muito

forte, muito alerta, muito ardilosa e, por estranho que soe, também muito bonita.

O que me ia pôr para minha pequena entrevista com o vampiro? Não queria que

parecesse que tratava de resultar sexy, mas tampouco tinha intenção de me fazer passar por

uma parva do bote me pondo um saco de arpillera sem forma. A resposta parecia estar nos

texanos azuis, como quase sempre. Pu-me umas sandálias brancas e uma camiseta de

pescoço amplo. Não a tinha levado desde que comecei a sair com o Bill, porque deixava ver

as marcas de dentadas, mas pensei que aquela noite não estava de mais reafirmar sua

"propriedade" sobre mim. Recordei que aquela vez um policial me comprovou o pescoço,

assim coloquei um cachecol na bolsa. Pensei-me isso melhor e acrescentei um colar de

prata. Escovei-me o cabelo, que parecia bastante mais loiro, e me deixei isso solto sobre as

costas.

Justo quando já não podia me tirar da cabeça a imagem do Bill junto a outra pessoa,

bateu na porta. Abri e ficamos nos olhando o um ao outro durante um minuto. Seus lábios

estavam menos pálidos do normal, assim que o tinha feito. Mordi-me meus para não dizer

nada.

-Está distinta.

-Crie que alguém mais se dará conta? -confiei em que não fosse assim.

-Não sei. -Ofereceu-me sua mão e fomos para seu carro. Abriu-me a portinhola e me

rocei com ele ao entrar. Fiquei paralisada.

-O que ocorre? -perguntou ao dar-se conta de minha reação.

-Nada -respondi, tratando de manter um tom sereno. Acomodei-me no assento do copiloto

e olhei fixamente à frente.

Disse-me que era como ficar furiosa com a vaca da que se comeu um hambúrguer. Mas

de algum modo não me saía o sorriso.

-Cheira diferente -pinjente quando já levávamos vários minutos na auto-estrada. O

carro prosseguiu sua marcha vários minutos mais, sem que disséssemos uma palavra.

-Agora sabe como me sentirei se Eric te toca -me respondeu-. Mas será pior, porque

Eric desfrutará te tocando, e eu não desfrutei muito de meu jantar.

Supu-me que isso não era de tudo certo: a mim, por exemplo, eu gosto de comer embora

não me sirvam minha comida favorita. Mas apreciava a intenção.

Não falamos muito; os dois estávamos preocupados com o que nos esperava. Muito logo

estávamos outra vez estacionando junto à a Fangtasía, mas esta vez por detrás. Assim que

Bill me abriu a porta do carro tive que conter um impulso de me agarrar ao assento e me

negar a sair. Quando consegui me obrigar a isso, senti outro intenso desejo de me esconder

detrás do Bill. Dava uma espécie de ofego, agarrei-me de seu braço e caminhamos juntos

para a porta, como um casal que vai a uma festa que aguardava com entusiasmo. Bill me

estudou com aprovação. Me deu vontade de lhe pôr má cara.

Bateu na porta de metal com as letras do FANGTASIA gravadas nela. Encontrávamonos

em um beco de serviço e traslado de mercadorias que percorria por detrás todas as lojas

da pequena galeria comercial. Havia outros carros ali estacionados, entre eles o esportivo

conversível vermelho do Eric. Todos os veículos eram caros; não verá um vampiro em um

Ford Festa.

A chamada do Bill consistiu em três golpes rápidos e dois espaçados. A Chamada

Secreta dos Vampiros, supus. Talvez chegasse a aprender o Apertão de Mãos Secreto.

Abriu-nos aquela preciosa vampira loira, a que tinha estado na mesa com o Eric a outra

vez que fui ao bar. apartou-se para nos permitir o passo, sem dizer uma palavra.

Se Bill houvesse sido humano, teria se queixado do forte que lhe apertava a mão.

A mulher nos precedeu com mais velocidade da que podiam seguir meus olhos, e

pomos-se a andar detrás dela. Bill, é obvio, não se surpreendeu absolutamente. Guiou-nos

através de um armazém com um parecido desconcertante ao do Merlotte's, e logo até um

estreito corredor. Cruzamos a porta da direita.

Era uma sala pequena, e a presença do Eric a dominava. Não é que Bill se ajoelhasse a

beijar seu anel, mas fez uma inclinação bastante pronunciada. Havia outro vampiro na

habitação: Sombra Larga, o garçom. Estava em boa forma, com uma camiseta de

suspensórios e calças de esporte, ambos os objetos de cor verde escura.

-Bill, Sookie -nos saudou Eric-. Já conhecem sombra Larga. E, Sookie, recordará ao

Pam-Pam era a loira-. E este é Bruce.

Bruce era humano, o humano mais apavorado que jamais tenha visto. Senti simpatia por

ele. Era de média idade e barrigudo, com escasso cabelo escuro que se curvava em

ondulações fixos sobre seu couro cabeludo. Era de bochechas quedas e boca pequena.

Tinha posto um traje bonito, de cor bege, com camisa branca e gravata a raias de cores

marrom e azul marinho. Suava muito, e se sentava em uma singela cadeira rígida. Eric, é

obvio, estava na poltrona do chefe. Pam e Sombra Larga se apoiavam contra a parede, perto

do Eric, junto à porta. Bill se colocou junto a eles, mas quando fui pôr me a seu lado, Eric

voltou a falar.

-Sookie, escuta ao Bruce.

Fiquei olhando ao Bruce um instante, esperando a que falasse, quando ao fim

compreendi a que se referia Eric.

-O que estou procurando exatamente? -perguntei, sabendo que minha voz soava

cortante.

-Alguém desfalcou uns sessenta mil dólares que eram nossos -explicou Eric. Céus,

alguém tinha vontades de que o matassem, pensei-. E em vez de submeter a todos nossos

empregados humanos a morte ou tortura, pensamos que possivelmente você poderia olhar

em suas mentes e nos dizer quem foi.

Disse "morte ou tortura" com tanta tranqüilidade como outro diria "Bud ou Old

Milwaukee"

-E depois o que fará?-perguntei. Eric pareceu surpreso. -O culpado nos devolverá o

dinheiro -disse com

simplicidade.

-E então?

Entrecerró seus grandes olhos azuis e cravou seu olhar em mim.

-Bom, se podemos obter provas do delito, entregaremos ao culpado à polícia -disse com

lentidão.

Mentira, mentira e três vezes mentira.

-Façamos um trato, Eric-disse, sem me incomodar em sorrir. A amabilidade não

funcionava com ele, e

não parecia disposto a me saltar em cima. Ainda não. Sorriu condescendente.

-Do que se trata, Sookie?

-Se de verdade entregar ao culpado à polícia voltarei a fazer isto para ti, sempre que

querer.

Eric arqueou uma sobrancelha.

-Sim, sei que é provável que volte a necessitá-lo. Mas não seria melhor se acessasse de

maneira

voluntária, se tivéssemos confiança o um no outro?-Comecei a suar. Não me podia

acreditar que estivesse

regateando com um vampiro.

Eric parecia estar pensando o mesmo. E de repente estive em sua cabeça. Pensava que

poderia me obrigar

a fazer o que quisesse, sempre e em qualquer lugar, que para isso bastava ameaçar ao Bill

ou a alguma pessoa

a que eu quisesse. Mas queria integrar-se, seguir tudo quão legal pudesse, manter suas

relações humanas

dentro da honradez, ou ao menos tudo quão honradas pudessem ser nas relações entre

humanos e vampiros.

Não queria matar a ninguém se não era necessário.

Foi como me inundar de repente em um poço de serpentes, de serpentes frite e letais. Solo

foi um brilho,

um pedaço de sua mente, por assim dizê-lo, mas me mostrou todo um novo mundo.

-Além disso -disse com rapidez, antes de que se desse conta de que tinha estado dentro de

sua cabeça-,

como está tão seguro de que o ladrão é humano?

Pam e Sombra Larga se moveram de repente, mas Eric enchia a sala com sua presença, e

lhes indicou que

ficassem quietos.

-Essa é uma idéia interessante -disse-. Pam e Sombra Larga são meus sócios no bar, e se

nenhum dos

humanos é culpado, suponho que teremos que olhar para eles.

-Só era uma idéia-respondi com docilidade. Eric me olhou com os glaciais olhos azuis de

um ser que logo

que recorda como era ser humano.

-Começa agora, com este homem-ordenou.

Ajoelhei-me junto à cadeira do Bruce, tratando de decidir como proceder. Nunca me tinha

posto a

formalizar algo que basicamente correspondia ao azar. Tocá-lo ajudaria; o contato direto

facilita a

transmissão, por assim dizê-lo. Agarrei-lhe da mão, mas descobri que resultava muito

pessoal (e estava muito

suada), assim que lhe subi a manga da jaqueta para lhe sustentar a boneca. Olhei dentro de

seus pequenos

olhos.

Eu não agarrei o dinheiro; quem o agarrou, que louco estúpido poria a todos em um

perigo como este, o

que fará Lillian se me matarem, e Bobby e Heather, porquê me colocava trabalhar com

vampiros, é por pura

avareza, e agora vou pagar o, Deus, nunca voltarei a trabalhar para estas criaturas de novo,

como pode esta

louca descobrir quem agarrou o maldito dinheiro, por que não me deixa que me largue, o

que é, deve ser

também uma vampira, ou uma espécie de demônio, seus olhos são muito estranhos, deveria

ter descoberto

antes que faltava o dinheiro e averiguar quem o levou antes de dizer nada ao Eric...

-agarraste você o dinheiro?-pinjente, com fôlego entrecortado, embora estava segura de

que já conhecia a

resposta.

-Não -grunhiu Bruce. O suor percorria sua cara. Seus pensamentos, sua reação à pergunta,

confirmaram o

que já tinha ouvido.

-Sabe quem o fez?

-Oxalá.

Pu-me de pé e me girei para o Eric sacudindo a cabeça.

-Não é ele-disse.

Pam escoltou fora ao pobre Bruce e trouxe para o seguinte suspeito. tratava-se de uma

garçonete, vestida

com avental negro. Mostrava muito decote e seu cabelo, esfarrapado e de cor vermelha,

caía-lhe murcho pelas

costas. Certamente, trabalhar no Fangtasía tinha que ser um luxo para uma colmillera, e as

cicatrizes que

luzia aquela garota demonstravam que desfrutava dos incentivos trabalhistas.

Tinha a suficiente segurança em si mesmo para sorrir ao Eric e sentar-se despreocupada e

confiada na

cadeira de madeira. Inclusive cruzou as pernas ao Sharon Stone (ou isso acreditava ela).

Surpreendeu-se de

ver um vampiro desconhecido e a uma mulher na habitação, e eu não lhe agradei, embora

Bill fez que se

lambesse os lábios.

-Olá, doçura-disse ao Eric. Ficou claro que não devia ter nada de imaginação.

-Ginger, responde as perguntas desta mulher-respondeu Eric. Sua voz era como um muro

de pedra: Lisa e

sem fissuras.

Ginger pareceu dar-se conta ao fim de que era momento de ficar sérios. Cruzou os

tornozelos e se sentou

com as mãos em cima das coxas, pondo cara circunspeta.

-Sim, amo -disse. Entraram-me vontades de vomitar.

Fez-me um gesto imperioso com a mão, como se dissesse: "Adiante, companheira

servente dos vampiros".

Inclinei-me para sua boneca e ela me apartou a mão.

-Não me toque -disse, com uma voz que era quase um vaio.

Foi uma reação tão exagerada que os vampiros ficaram em tensão. Notei que o ambiente

da sala jogava

faíscas.

-Pam, sujeita ao Ginger-ordenou Eric, e a vampira apareceu silenciosa detrás da cadeira

da garota,

inclinou-se e sujeitou com as mãos seus braços por cima do cotovelo. Ficou claro que

Ginger se debateu um

pouco, porque agitou a cabeça, mas Pam sustentou seu torso com um abraço que manteve o

corpo da garota

imóvel por completo. Meus dedos rodearam sua boneca.

-agarraste você o dinheiro?-perguntei, olhando-a a seus olhos castanhos, carentes de

brilho.

Então gritou, com força e durante um bom momento. Começou a me amaldiçoar. Analisei

o caos de seu

pequeno cérebro, era como tratar de caminhar por um campo bombardeado.

-Sabe quem o fez-revelei ao Eric. Nesse momento Ginger se calou, embora seguiu

soluçando-. Não pode

dizer o nome, mordeu-lhe. -Assinalei as marcas do pescoço do Ginger, como se se

necessitasse mais

demonstração-. É uma espécie de compulsão -informei depois de tentá-lo de novo-. Nem

sequer pode fazer

uma imagem dele.

-Hipnose -comentou Pam. Sua proximidade à assustada garota tinha feito que

aparecessem as presas-.

Um vampiro forte.

-Tragam para seu melhor amiga -sugeri.

Para então Ginger tremia como uma folha, e os pensamentos que tinha proibidos

pugnavam por sair de seu

confinamento.

-Deve ficar ou ir-se? -perguntou-me Pam.

-Que se vá. Solo assustará a outros.

Estava tão metida naquilo, tão dedicada a usar abertamente minha estranha habilidade,

que não olhei ao

Bill. Deu-me a impressão de que se o olhava me debilitaria. Mas sabia que estava ali, que

ele e Sombra Larga

não se moveram desde que começasse o interrogatório.

Pam atirou do Ginger e a levou. Não sei o que fez com a garçonete, mas retornou com

outra vestida com a

mesma classe de traje. O nome desta era Belinda, e era maior e mais preparada. Belinda

tinha óculos, cabelo

castanho, e a careta da boca mais sexy que nunca tenha visto.

-Belinda, a que vampiro esteve vendo Ginger? - perguntou Eric com suavidade, uma vez

Belinda esteve

sentada e eu a tinha pego da boneca. A garçonete teve o sentido comum de aceitar com

tranqüilidade o

procedimento, e a inteligência necessária para dar-se conta de que devia ser honesta.

-A qualquer que queira ter -disse Belinda com franqueza.

Vi uma imagem na mente da Belinda, mas devia pensar em seu nome.

-Qual daqui?-perguntei de repente, e então obtive o nome. Meus olhos o buscaram na

esquina antes de

poder abrir a boca, e de repente Sombra Larga esteve sobre mim, lançando-se por cima da

cadeira em que se

sentava Belinda para aterrissar em cima de mim, que estava diante. Derrubou-me de costas

sobre o escritório

do Eric, e só ao interpor os braços evitei que seus dente se cravassem em minha garganta e

a rasgassem.

Mordeu-me grosseiramente o antebraço e gritei, ou ao menos o tentei, mas ficava tão pouco

ar depois do

impacto que se pareceu mais a um ofego de asfixia.

Só era consciente da pesada figura que tinha em cima e da dor de meu braço. E de meu

terror. Quando me

atacaram os Ratos, não temi que me fossem matar até que quase foi muito tarde, mas nesta

ocasião

compreendi que, para evitar que seu nome saísse de meus lábios, Sombra Larga estava

disposto a

me matar imediatamente. Quando ouvi aquele terrível som e notei que seu corpo se

apertava ainda com

mais força contra o meu, não tive nem idéia do que significava. Pude ver seus olhos por

cima de meu braço.

Eram amplos, castanhos, enlouquecidos, gélidos. De repente se desfocaram e perderam

força. Brotou sangue

de sua boca, sangue que me banhou o braço; me meteu na boca aberta e me deram arcadas.

Suas presas se

afrouxaram e seu rosto caiu inerte. Começou a enrugar-se; seus olhos se converteram em

atoleiros

gelatinosos. Molhos de seu denso cabelo negro caíram sobre minha cara.

Eu estava conmocionada, incapaz por completo de me mover. Umas mãos me agarraram

dos ombros e

começaram a me tirar de debaixo do corpo em decomposição. Empurrei com os pés para

sair mais rápido.

O processo não desprendeu nenhum aroma, mas estava a imundície, negra e dispersa, e o

terrível horror e

asco de contemplar a Sombra Larga desfazer-se a incrível velocidade. Uma estaca aparecia

das costas. Eric o

contemplava, como todos, mas ele sustentava um maço na mão. Bill estava detrás de mim,

era o que me tinha

tirado de debaixo do índio. Pam se encontrava junto à porta, sustentando com uma mão o

braço da Belinda. A

garçonete parecia tão assustada como devia está-lo eu.

Inclusive a imundície começou a desfazer-se em fumaça. Ficamos imóveis até que a

última voluta

desapareceu. No tapete ficou uma espécie de marca chamuscada.

-Terá que comprar um tapete-disse, sem vir absolutamente a conto.

-Tem sangue na boca -mencionou Eric. Todos os vampiros tinham as presas desdobradas

em toda sua

longitude. excitaram-se o bastante.

-sangrou em cima meu.

-Te penetrou algo pela garganta?

-É provável. O que significa?

-Isso está por ver-disse Pam. Sua voz resultava sinistra e rouca. Estudava a Belinda de

uma maneira que

me tivesse posto muito nervosa, mas curiosamente ela parecia sentir-se orgulhosa da

atenção-. Pelo generalacrescentou

a vampira, com os olhos postos sobre os sensuais lábios do Belindasomos -nós

os que bebemos

dos humanos, não ao reverso.

Eric me contemplava com interesse, a mesma classe de interesse que tinha Pam pela

Belinda.

-Como vê agora as coisas, Sookie? -perguntou, com uma voz tão amável que ninguém se

acreditaria que

acabava de executar a um velho amigo.

Que como me pareciam agora as coisas? Mais brilhantes. Os sons resultavam mais claros

e podia ouvir

melhor. Queria me girar e olhar ao Bill, mas me dava medo apartar os olhos do Eric.

-Bom, suponho que Bill e eu teremos que ir já - disse, como a não ser fora possível outra

coisa-. Tenho

feito isso por ti, Eric, e agora temos que ir. Sem represálias contra Ginger, Belinda e Bruce,

de acordo? Era o

lembrado. -Comecei a me dirigir para a porta com uma segurança que estava longe de

sentir-. Suponho que

terá que ver como vai o bar, não? Quem está preparando esta noite as bebidas?

-Temos um substituto -disse Eric distraído, sem que seus olhos se apartassem em nenhum

momento de

meu pescoço-. Cheira diferente, Sookie-murmurou dando um passo para nós.

-Bom, não esqueça que temos um trato, Eric-lhe recordei, com um sorriso amplo e tenso e

com um tom

cheio de alegria-. Bill e eu vamos já a casa, verdade?

Arrisquei-me a jogar uma olhada atrás, para o Bill: me caiu a alma aos pés. Tinha os

olhos muito abertos,

sem piscar, e seus lábios formavam um sorriso silencioso que deixava à vista suas presas

estendidas. Suas

pupilas estavam muito dilatadas. Contemplava ao Eric.

-Pam, deixa passo livre -disse com suavidade mas firmeza. Quando Pam se distraiu de

sua própria sede

de sangue, avaliou a situação com uma só olhada. Abriu de par em par a porta do despacho

e empurrou a

Belinda através dela. Logo se tornou a um lado para nos fazer sair.-Chama o Ginger-sugeri,

e o sentido de

minhas palavras penetrou a nuvem de desejo do Pam.

-Ginger-chamou com voz rouca. A loira apareceu correndo desde outra porta do corredor-.

Eric te

deseja-lhe explicou.

O rosto do Ginger se iluminou como se tivesse uma entrevista com o David Duchovny, e

esteve na sala

esfregando-se contra Eric quase com tanta velocidade como tivesse podido fazê-lo um

vampiro. Como se se

tivesse despertado de um feitiço, Eric baixou o olhar para o Ginger ao tempo que ela

percorria seu peito com

as mãos. Enquanto se inclinava para beijá-la, olhou-me por cima da garota.

-Voltarei a verte -disse, e eu atirei do Bill para sair dali quanto antes. Ele não queria ir-se,

era como

empurrar um tronco. Mas uma vez nos encontramos já no corredor, pareceu ser mais

consciente da

necessidade de nos largar dali, e corremos fora do Fangtasía até seu carro.

Olhei-me. Estava manchada de sangue e com a roupa enrugada, e tinha um aroma

estranho. Que asco.

Voltei-me para o Bill para compartilhar minha repugnância, mas ele me olhava de um

modo inconfundível.

-Não -disse energicamente-. Arranca este carro e saiamos daqui antes de que aconteça

nada mais, Bill

Compton. Lhe digo assim de claro. Não estou de humor.

inclinou-se por cima do assento para mim, com as mãos me agarrando antes de que

pudesse dizer nada

mais. Sua boca esteve sobre a minha, e em apenas um segundo começou a lamber o sangue

de minha cara.

Estava muito assustada, e também muito furiosa. Agarrei-o pelas orelhas e afastei sua

cabeça da minha

recorrendo até ao último grama de força que ficava no corpo, que resultou ser mais do que

eu pensava. Seus

olhos seguiam sendo como cavernas com fantasmas espreitando na profundidade.

-Bill! -gritei. Sacudi-o-. lhe Tire isso de cima!

Pouco a pouco sua personalidade retornou a seus olhos. estremeceu-se e soltou um

suspiro, depois do que

me beijou com suavidade nos lábios.

-Vale, podemos ir já a casa? -perguntei, envergonhada de que minha voz soasse tão

tremente.

-Claro -disse. Ele tampouco pareceu muito firme.

-foi como quando os tubarões cheiram sangue? -perguntei-lhe detrás quinze minutos ao

volante, já quase

fora do Shreveport.

-Boa analogia.

Não precisava desculpar-se: fazia o que a natureza lhe ditava, ao menos a natureza dos

vampiros, e

tampouco lhe preocupava. Mas a mim sim que me tivesse gostado de ouvir uma desculpa.

-Então, estou metida em uma confusão? -perguntei por último. Eram as duas da manhã e

descobri que o

tema não me preocupava tanto como deveria.

-Eric tomará a palavra -respondeu Bill-. Quanto a se te deixará em paz em sentido pessoal,

não sei.

Oxalá... -mas sua voz se desvaneceu. Era a primeira vez que ouvia o Bill desejar algo.

-Sessenta mil dólares não deve ser muito dinheiro para um vampiro -observei- Todos

parecem ter um

montão de massa.

-Os vampiros roubam a suas vítimas, é obvio -disse Bill com tom prático-. Ao princípio

agarramos o

dinheiro do cadáver. Depois, quando temos mais experiência, podemos exercer o controle

necessário para

persuadir a um humano para que nos dê dinheiro por sua própria vontade e depois esqueça

que o tem feito.

Alguns contratam administradores, outros se metem no mercado imobiliário e outros vivem

dos interesses de

seus investimentos. Eric e Pam montaram juntos o bar. Eric contribuiu quase todo o

dinheiro, e Pam o resto.

Conheciam sombra Larga há cem anos, e o contrataram para que fora o garçom. Ele os traiu.

-E por que ia roubar lhes?

-Devia ter alguma aventura comercial para a que necessitasse o capital-explicou Bill

distraído-. E estava

em uma posição integrada; não podia limitar-se a matar ao diretor de um banco depois de

hipnotizá-lo e

persuadi-lo para que lhe entregasse o dinheiro. Assim que o agarrou do Eric.

-Mas, Eric não o teria emprestado?

-Se Sombra Larga não tivesse sido muito orgulhoso para pedi-lo, sim -respondeu Bill.

Houve outro prolongado silêncio. Por último disse:

-Sempre pensei que os vampiros são mais preparados que os humanos, mas não é assim,

né?

-Não sempre-reconheceu.

Quando alcançamos os subúrbios do Bon Temps, pedi ao Bill que me deixasse em casa.

Me olhou de

esguelha, mas não disse nada. Pode que, depois de tudo, os vampiros sim fossem mais

preparados que os

humanos.

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