segunda-feira, 18 de julho de 2011

Charlaine Harris - Morto até o Anoitecer Cap.03

O telefone começou a soar. Tampei-me a cabeça com o travesseiro: sem dúvida a avó

podia agarrá-lo. Ao persistir aquele irritante som compreendi que a avó devia ter saído a

comprar ou estaria fora, trabalhando no jardim. Comecei a me arrastar para a mesita de

noite, não contente mas ao menos sim resignada. Com a dor de cabeça e os remorsos de

quem tem uma ressaca terrível (embora a minha era emocional mais que provocada pelo

álcool), estirei uma mão tremente e agarrei o auricular.

-Sim? -perguntei. Não me saiu muito bem. Esclareci-me garganta e o voltava tentar-.

Olá?

-Sookie?

-Estraguem. Sam?

-Sim. Escuta, carinho, pode-me fazer um favor?

-O que? -aquele dia já tinha que ir trabalhar, e não queria carregar com o turno do Dawn

e ainda por cima o meu.

-te passe por casa do Dawn e inteira-se do que lhe passa, por favor. Não responde ao

telefone e tampouco veio hoje. O caminhão das entregas acaba de chegar, e eu tenho que

lhes dizer aos meninos onde devem deixar as coisas.

-Agora? Quer que vá agora? -os velhos lençóis nunca me tinham pego com tanta força.

-Pode? -ao fim pareceu dar-se conta de meu especial estado de humor. Nunca lhe tinha

negado nada.

-Suponho que sim-disse, me sentindo de novo esgotada sozinho de pensá-lo. Eu não

gostava de muito Dawn, e eu a ela tampouco. Estava convencida de que lhe tinha lido a

mente e lhe tinha contado ao Jason algo que ela tinha pensado sobre ele, o que tinha

provocado que meu irmão a deixasse. Se tomasse um interesse assim nos romances do

Jason, não teria tempo de comer nem de dormir.

Tomei banho e me pus a roupa de trabalho, com movimentos torpes. Tinha perdido todo

meu dinamismo, como um refrigerante desentupido. Tomei uns cereais, lavei-me os dentes

e lhe contei à avó aonde ia quando ao fim consegui localizá-la: tinha estado todo o

momento fora, plantando petunias em um vaso junto à porta de atrás. Não pareceu inteirarse

muito bem do que lhe expliquei, mas mesmo assim sorriu e me fez um gesto indicando

que me fora tranqüila. A avó se estava ficando mais surda a cada semana que passava, mas

não tinha que o que sentir saudades, já que tinha setenta e oito anos. Era maravilhoso que

ainda seguisse tão forte e sã, e seu cérebro ainda era sólido como uma rocha.

Enquanto partia a cumprir esse recado indeseado, pensei em quão duro devia ter sido

para a avó criar a outros dois meninos depois de havê-lo feito já com os seus próprios. Meu

pai, seu filho, faleceu quando eu tinha sete anos e Jason dez. Quando eu tinha vinte e três, a

filha da avó, minha tia Linda, morreu de câncer de útero. A filha da tia Linda, Hadley, já

tinha desaparecido na mesma subcultura que tinha engendrado aos Rattray incluso antes de

que sua mãe morrera, e de fato até o dia de hoje não sabemos se Hadley souber que sua mãe

morreu. Teve que ser muito triste para ela agüentá-lo tudo, mas a avó sempre tinha sido

forte por nós.

Divisei através do pára-brisa os três pequenos encostados a um lado da rua Berry, uma

ou duas maçãs decrépitas que se achavam junto à parte mais velha do Bon Temps. Dawn

vivia em uma delas. Descobri seu carro, um compacto verde, junto à entrada de uma das

casas melhor conservadas, e estacionei detrás dele. Dawn já tinha posto uma cesta pendente

com begônias junto a sua porta, mas pareciam secas. Chamei.

Esperei um minuto ou dois, e voltei a chamar.

-Sookie, necessita ajuda? -a voz parecia familiar. Girei-me e tive que me tampar os

olhos ante a força do sol da manhã. Rene Lenier estava junto a sua caminhonete,

estacionado ao outro lado da rua, em uma das pequenas casas de madeira que povoavam o

resto da vizinhança.

-Bom -comecei a dizer, não muito segura de se a necessitava ou não, ou se do Rene

poderia me dar uma mão-, viu ao Dawn? Não veio hoje a trabalhar, e tampouco ontem.

Sam me pediu que acontecer com ver que tal está.

-Sam deveria ocupar-se ele mesmo do trabalho sujo -disse Rene, o que me impulsionou

de modo perverso a defender a meu chefe.

-chegou o caminhão, tem que descarregar.-Voltei-me para chamar de novo à porta-.

Dawn-gritei-, vamos, me deixe entrar! -Baixei o olhar ao cimento do alpendre. O pólen de

pinheiro tinha começado a cair dois dias antes, e o alpendre do Dawn estava totalmente

talher de amarelo. As únicas pisadas eram as minhas. Comecei a sentir um picor no couro

cabeludo.

Apenas me dava conta de que Rene seguia incômodo junto à porta de sua caminhonete,

sem decidir se devia ir-se ou não.

O encostado do Dawn era de uma só planta, bastante pequeno, e a porta do lado estava a

só meio metro da sua. Reduzida-a entrada estava vazia e não havia cortinas nas janelas.

Parecia como se Dawn se ficou durante uma temporada sem vizinhos.

Dawn tinha tido o decoro suficiente para pendurar cortinas em sua casa, brancas com

flores de cor dourada escuro. Estavam jogadas, mas o tecido era fino e não tinha forro, e

além não tinha baixado as trocas e grosas persianas de alumínio. Joguei uma olhada ao

interior e descobri que na sala de estar só havia alguns móveis de brechó. Um tigela de café

descasava sobre a mesa, perto de uma esfarrapada poltrona, e contra a parede havia um

velho sofá coberto com uma afegã de agulha de crochê.

-Acredito que vou dá-la volta por detrás-lhe disse em voz alta ao Rene. Ele, ao outro

lado da rua, sobressaltou-se como se lhe tivesse feito um sinal, e eu me separei do alpendre

dianteiro. Meus pés varreram a murcha erva, amarela pelo pólen, e compreendi que teria

que me limpar as sapatilhas e possivelmente até me trocar os meias três-quartos antes de

entrar em trabalhar. Durante a temporada de polinização do pinheiro, tudo se volta amarelo.

Os carros, as novelo, os telhados, as janelas, tudo se vê impregnado de um fulgor amarelo.

As fontes e os atoleiros de chuva têm porcaria amarela nos borde.

A janela do banho do Dawn estava tão alta, para preservar sua intimidade, que não pude

ver o interior. Tinha baixado as persianas do dormitório, mas não as tinha fechado de tudo.

Pude ver um poquito através das tabuletas: Dawn estava de costas sobre a cama. A roupa de

cama estava pulverizada por toda parte, e ela tinha as pernas abertas e a cara torcida e

descolorida. A língua lhe sobressaía da boca, pela que se arrastavam as moscas.

Pude ouvir que Rene se aproximava por detrás de mim.

-vá chamar à polícia-disse.

-Mas o que diz, Sookie? Vê-a?

-Vê e chama à polícia!

-De acordo, de acordo! -Rene empreendeu uma rápida retirada.

Certa solidariedade feminina fez que não quisesse que Rene visse assim ao Dawn, sem

seu consentimento. E minha companheira do bar não estava para consentir nada.

Permaneci com as costas contra a janela, sentindo grandes tentações de olhar de novo

com a inútil esperança de ter cometido um engano a primeira vez. Contemplei a porta do

encostado do lado, que logo que estava dois metros mais à frente, e me perguntei como seus

inquilinos podiam não ter ouvido sua morte, que sem dúvida tinha sido violenta.

Então retornou Rene. Seu curtido rosto estava franzido por uma expressão de profunda

preocupação, e seus brilhantes olhos marrons pareciam extrañamente brilhantes.

-Poderia chamar também ao Sam? -pedi-lhe. Sem murmurar palavra, deu-se a volta e se

afastou de retorno a sua casa. Estava comportando-se muito bem. Apesar de sua tendência a

fofocar muito, Rene sempre estava disposto a ajudar quando via que era necessário.

Lembrei-me de quando tinha vindo para casa a ajudar ao Jason a pendurar o balanço do

jardim da avó, uma lembrança casual de um dia muito distinto à presente.

O outro encostado era igual ao do Dawn, assim que eu estava justo diante da janela de

seu dormitório. Apareceu uma cara e se abriu a janela. Uma cabeça despenteada apareceu

por ela.

-O que está fazendo, Sookie Stackhouse? -perguntou com lentidão uma profunda voz

masculina. Olhei-o durante uns segundos até que obtive ao fim situá-lo, ao tempo que

tratava de não me fixar com excessivo descaramento em seu esbelto torso nu.

-JB?

-Claro.

Fui ao instituto com o JB du Rone. De fato, algumas de minhas escassas entrevistas

tinham sido com o JB, um menino adorável mas tão simples que não lhe preocupava que

lhe lesse a mente ou não. Inclusive nas circunstâncias daquele dia, não pude a não ser

apreciar sua formosura. Quando seus hormônios estiveram contidas durante tanto tempo

como as minhas, não faz falta muito para as pôr em marcha. Lancei um suspiro ante a

imagem dos musculosos peitorais e tórax do JB.

-O que está fazendo aqui?-voltou a me perguntar.

-Parece que ao Dawn ocorreu algo mau -pinjente, sem saber se devia contar-lhe ou não-

. O chefe me enviou a procurá-la ao ver que não devia trabalhar.

-Está dentro? -JB se limitou a sair pela janela. Tinha postos umas calças curtas, uns

texanos cortados.

-Por favor, não olhe-lhe pedi, interpondo uma mão, e sem aviso prévio comecei a

chorar. Também isso acontecia com miúdo ultimamente-. É tão terrível, JB...

-OH, céu -disse, e (bendito seja seu coração sulino) rodeou-me com um braço e me deu

uns golpecitos no ombro. Se havia perto uma mulher que precisasse ser reconfortada, Por

Deus que isso seria o prioritário para o JB du Rone.

-Ao Dawn gostava de duro-me disse me consolando, como se isso o explicasse tudo.

Pode que assim fora para alguns, mas não para mim, que tinha pouco mundo.

-Como duro? -perguntei, rebuscando um lenço no bolso de meus pantaloncitos.

Elevei o olhar e comprovei que JB se ruborizava um pouco.

-Bom, céu, gostava... uff, Sookie, não tem por que ouvi-lo.

Tinha sobre meus ombros uma estendida reputação de virtuosa, o qual resultava até certo

ponto irônico. E nesse momento, até pouco conveniente.

-me pode contar isso trabalhava com ela-disse, e JB assentiu com solenidade, como se

isso tivesse sentido.

-Bom, céu, gostava que os homens... bom, que a mordessem e a golpeassem. -JB

parecia muito sentido saudades pelas preferências do Dawn. Eu também devi pôr cara

estranha, porque acrescentou-: Sei, não se pode entender por que a alguma gente gosta

dessas coisas.

JB, nunca disposto a deixar acontecer a oportunidade de tirar partido, rodeou-me com

seus dois braços e prosseguiu com as palmadas, mas pareceu concentrar-se no ponto central

de minhas costas (para descobrir se levava prendedor) e depois um pouco mais abaixo.

Recordei que ao JB gostava dos traseiros firmes.

Da ponta da língua me penduravam um montão de perguntas, mas ficaram dentro de

minha boca. A polícia chegou, personificada pela Kenya Jones e Kevin Prior. O chefe de

polícia tinha demonstrado seu senso de humor ao juntar a Kenya e Kevin, ou ao menos isso

pensou todo o povo, posto que Kenya media um e oitenta pelo menos, era da cor do

chocolate amargo, e podia resistir um furacão de pé. Por sua parte, Kevin pode que

chegasse ao um e setenta, tinha sardas em cada centímetro visível de seu pálido corpo, e a

estrutura magra e sem nada de graxa de um corredor de fundo. Curiosamente, os dois Ks se

levavam bastante bem, embora tinham tido algumas briga memoráveis.

Naquele momento os dois pareciam sozinho policiais.

-A que vem isto, senhorita Stackhouse? -perguntou Kenya-. Rene diz que aconteceu

algo ao Dawn Green. - Enquanto falava repassava com o olhar ao JB, e Kevin olhava o

chão a nosso redor. Eu não tinha nem idéia de por que o fazia, mas seguro que havia uma

boa razão policial para isso.

-Meu chefe me enviou aqui a me inteirar de porquê Dawn faltou ontem ao trabalho e

tampouco se apresentou hoje-lhes contei-. chamei a sua porta e não respondeu, mas seu

carro está aí. Como estava preocupada com ela, dei uma volta ao redor da casa olhando

pelas janelas, e está dentro. -Assinalei detrás deles, e os dois agentes se giraram para

contemplar a janela. Então se olharam o um ao outro e assentiram como se mantiveram

toda uma conversação. Enquanto Kenya se dirigia à janela, Kevin torceu para a porta

traseira.

JB se tinha esquecido de seus tapinhas enquanto observava o trabalho policial. De fato,

sua boca estava um pouco entreabierta, revelando uma dentadura perfeita. por cima de tudo

desejava olhar pela janela, mas não podia abrir acontecer com través da Kenya, que tinha

ocupado todo o espaço disponível.

Cansei-me de meus próprios pensamentos. Relaxei-me, deixei cair o guarda e escutei os

de outros. De entre todo o clamor, selecionei um fio e me concentrei nele.

Kenya Jones se girou para nos contemplar sem fixar-se realmente em nós. Estava

pensando em tudo o que Kevin e ela precisavam para manter a investigação tão pulcra e

clara como os fora possível a uns agentes do Bon Temps. Estava pensando que tinha ouvido

coisas más sobre o Dawn e seu interesse no sexo duro, embora lhe dava pena qualquer que

acabasse com moscas passeando-se por sua cara. Agora lamentava ter comido esse último

donut aquela manhã no Nut Hut, porque podia vomitá-lo, e isso a envergonharia como

agente de polícia negra.

Troquei a outro canal.

JB estava pensando que Dawn foi assassinada enquanto follaba imprudentemente, a solo

uns metros de distância dele, e que embora isso era terrível também era algo excitante, e

Sookie ainda tinha um tipazo. Desejava poder atirar-lhe já mesmo. Era tão doce e bonita...

Estava apartando a um lado a humilhação que sentiu quando Dawn lhe pediu que a pegasse,

e ele não pôde; além disso era uma humilhação muito antiga.

Outro canal.

Kevin girou a esquina e se aproximou pensando que ele e Kenya teriam que tomar

cuidado para não arruinar nenhuma pista, e que pelo menos ninguém sabia que ele mesmo

se deitou com o Dawn Green. Estava furioso porque alguém tivesse matado a uma mulher a

que conhecia e desejava que não tivesse sido um negro, porque então sua relação com a

Kenya se faria ainda mais tensa.

Outro canal.

Rene Lenier desejava que alguém viesse e se levasse o cadáver da casa. Confiava em

que ninguém soubesse que se deitou com o Dawn Green. Não pude decifrar com exatidão

seus pensamentos, eram muito tristes e emaranhados. De algumas pessoas não posso obter

uma leitura clara, e ele estava muito alterado.

Sam veio correndo para mim, afrouxando o ritmo quando viu que JB me estava tocando.

Não pude ler os pensamentos do Sam. Sim podia sentir suas emoções (agora mesmo eram uma mescla de preocupação, medo e raiva), mas não pude obter nem um só pensamento.

Era algo tão fascinante e inesperado que me desfiz do abraço do JB e senti vontades de ir

até o Sam, agarrar seus braços e olhá-lo aos olhos, de me mergulhar de verdade em sua

cabeça. Recordei quando me tocou e eu me apartei. Justo nesse momento me sentiu dentro

de sua cabeça e, embora seguiu caminhando para mim, sua mente se apartou. Apesar de seu

convite do outro dia, não tinha previsto que eu fosse capaz de descobrir que seu cérebro era

distinto a outros. Fixei-me nisso até que me desconectou.

Nunca havia sentido algo similar. Era como uma porta de ferro que se fechasse. Em

minha cara.

Estava a ponto de ir tocar o de maneira instintiva, mas deixei cair a mão a meu lado.

Sam olhou a propósito ao Kevin, e não a mim.

-O que acontece, agente?-perguntou.

-vamos entrar nesta casa à força, Sr. Merlotte, a não ser que você tenha uma chave

professora.

por que ia Sam a ter uma chave?

-É meu caseiro -disse JB em meu ouvido, me fazendo pegar um salto.

-É-o? -perguntei sem muito sentido.

-Possui os três encostados.

Sam tinha estado rebuscando em seu bolso, e nesse momento tirou um molho de chaves.

Passou-as com perícia, até deter-se em uma e separar a das demais. Tirou-a do chaveiro e a

entregou ao Kevin.

-Vale para a entrada principal e a traseira? -perguntou Kevin, e Sam assentiu. Seguia

sem me olhar.

Kevin retornou junto à porta traseira do encostado, onde não podíamos vê-lo. Mas

estávamos todos tão imóveis que se pôde ouvir a chave girar no ferrolho. Depois entrou no

dormitório, onde estava a morta, e pudemos ver que esboçou uma careta quando o golpeou

o fedor. Cobrindo-a nariz e a boca com uma mão, inclinou-se sobre o corpo e lhe pôs os

dedos no pescoço. Olhou através da janela e agitou a cabeça em direção a sua companheira.

Kenya assentiu e se dirigiu à rua para usar a rádio do carro patrulha.

-Escuta, Sookie, o que te parece sair para jantar comigo esta noite? -perguntou Isto JB

foi muito duro para ti, e necessita um pouco de distração para superá-lo.

-Obrigado, JB -eu era muito consciente de que Sam nos escutava-, é muito amável por

sua parte. Mas tenho a impressão de que hoje vou ter que trabalhar horas extra.

Durante um segundo ficou a expressão em branco. Então a compreensão se filtrou até

seu cérebro.

-Ah, sim, Sam terá que contratar a alguém mais -observou-. Tenho uma prima no

Springhill que necessita trabalho. Pode que a chame. Agora até poderíamos viver um ao

lado do outro.

Sorri-lhe (embora esteja segura de que foi um sorriso muito tênue) enquanto me situava

junto ao homem para o que levava dois anos trabalhando.

-Sinto muito, Sookie -disse em voz baixa.

-O que?-eu também baixei a voz. ia reconhecer Sam o que tinha acontecido entre nós

dois, ou mas bem o que tinha deixado de acontecer?

-te enviar a procurar o Dawn. Deveria ter vindo eu mesmo. Estava convencido de que

simplesmente se havia arrejuntado com outro novo, e necessitava um aviso de que tinha

que ir trabalhar. Mas a última vez que vim a por ela me gritou tanto que não queria ter que

voltar a me enfrentar a algo assim. E como um covarde, enviei a ti e te há meio doido

encontrá-la assim.

-É um saco de surpresas, Sam.

Não se girou para me olhar nem fez nenhuma réplica. Mas seus dedos envolveram meus.

Durante um comprido momento, estivemos sob o sol sustentando nossas mãos, com a gente

revoando a nosso redor. Sua palma era quente e seca, os dedos fortes. Senti que de verdade

tinha conectado com outro humano. Mas então esse apertão se soltou e Sam avançou uns

passos para falar com o detetive, que estava saindo de seu carro. JB começou a me

perguntar que aspecto tinha o cadáver do Dawn, e o mundo retornou à mesma velha rotina.

O contraste resultava doloroso. Voltei-me a sentir muito cansada, e recordei a noite

anterior com muito mais detalhe do que desejava. O mundo parecia um lugar malvado e

terrível, todos seus habitantes eram suspeitos e eu era o corderito que vagava pelo vale da

morte com um guizo no pescoço. Lancei a meu carro e abri a porta, me sentando de lado no

assento. Já tinha estado muito de pé aquele dia; sentaria-me enquanto pudesse.

JB me seguiu. Agora que me havia redescubierto, não poderia me desfazer dele.

Lembrei-me de quando a avó tinha albergado sérias esperanças de que se formasse alguma

espécie de relação permanente entre nós, quando estávamos no instituto. Mas falar com o

JB, ou inclusive ler sua mente, era tão interessante como um livrinho de pré-escolar para

um leitor adulto. Que uma mente tão boba tivesse acabado em um corpo tão eloqüente

devia ser uma das piadas de Deus.

ajoelhou-se ante mim e me agarrou a mão. Entraram-me vontades de que nesse momento

viesse alguma dama milionária e ardilosa, casasse-se com o JB, cuidasse-o e desfrutasse do

que ele podia oferecer. estaria-se levando uma ganga.

-Onde trabalha agora? -perguntei-lhe, para poder me distrair.

-No armazém de meu pai-respondeu.

Esse era o trabalho de último recurso, ao que JB sempre retornava quando o despediam

de outros curros por fazer algo estúpido ou por não ir a sua hora, ou por ofender de maneira

imperdoável a algum supervisor. O pai do JB tinha uma loja de acessórios para automóveis.

-Como estão seus pais?

-OH, bem. Sookie, deveríamos fazer algo juntos.

Não me tente, pensei.

Algum dia meus hormônios tomarão o controle e farei algo do que me arrependa, e

poderia ser pior que fazê-lo com o JB. Mas decidi me conter e esperar algo melhor.

-Obrigado, céu -lhe disse-, pode que o façamos. Mas agora mesmo estou bastante triste.

-Está apaixonada por esse vampiro? -perguntou a bocajarro.

-Onde ouviste isso?

-Dawn o disse. -O rosto do JB se escureceu ao recordar que Dawn estava morta. Ao

revisar seu cérebro descobri que o que Dawn havia dito era: "Esse novo vampiro está

interessado no Sookie Stackhouse. Eu lhe faria um melhor serviço; necessita uma mulher

que possa suportar que a tratem duro, e Sookie gritaria se a touca".

Não tinha sentido ficar furiosa com uma morta, mas por uns breves instantes me consolei

fazendo precisamente isso. Nesse momento o detetive se aproximou de nós e JB ficou em

pé para afastar-se.

O detetive se colocou na mesma postura que JB, ficando de cuclillas diante de mim. Eu

devia ter mau aspecto.

-Senhorita Stackhouse? -perguntou. Estava usando essa voz serena e potente que muitos

profissionais adotam nos momentos de crise-. Sou Andy Bellefleur. -Os Bellefleur

levavam pelo Bon Temps desde que existia o povo, assim não me fez rir a idéia de que um

homem fora "flor formosa". De fato, ao contemplar a massa de músculos que era o detetive

Bellefleur o lamentei por qualquer que o encontrasse gracioso.

Este membro em particular da família se graduou antes que Jason, e eu tinha estado um

curso por detrás de sua irmã Porta.

Ele também me tinha estado situando.

-Que tal está seu irmão? -perguntou-me, com voz ainda serena embora não tão neutro.

Soava como se tivesse tido uma topada ou dois com o Jason.

-Pelo pouco que o vejo, acredito que vai bem -respondi.

-E sua avó?

Sorri.

-Esta manhã a passa no jardim, plantando flores.

-Isso é estupendo -disse, com essa sincera sacudida de cabeça que, supõe-se, deve

indicar surpresa e admiração-. Bem, por isso me inteirei, trabalha no Merlotte'S.

-Assim é.

-E também o fazia Dawn Green?

-Sim.

-Quando viu por última vez ao Dawn?

-Faz dois dias, no trabalho. -Já me sentia esgotada. Sem mover meus pés do chão nem

meu braço do volante, joguei a cabeça a um lado para apoiá-la no reposacabezas do assento

do condutor.

-Falou com ela nesse momento?

Tratei de recordar.

-Parece-me que não.

-Estava muito unida a ela?

-Não.

-E por que vieste aqui hoje?

Expliquei-lhe que no dia anterior cobri o turno do Dawn, e que Sam me tinha chamado

essa manhã.

-Disse-te o Sr. Merlotte por que não queria vir ele mesmo até aqui?

-Sim, tinha chegado um caminhão com mercadoria. Sam tinha que lhes dizer aos

meninos onde pôr as caixas. -E Sam também tinha feito ele sozinho a metade da descarga,

para acelerar o processo.

-Crie que o Sr. Merlotte tinha alguma relação com o Dawn?

-Era seu chefe.

-Não, fora do trabalho.

-Não.

-Parece muito segura.

-Estou-o.

-Tem uma relação com o Sam?

-Não.

-Então, como está tão segura?

Boa pergunta. Porque de tanto em tanto tinha escutado pensamentos que indicavam que,

se Dawn não odiava ao Sam, ao menos não se sentia nada atraída por ele? Não era o mais

inteligente para dizer-lhe ao detetive.

-Sam é muito profissional com os assuntos do bar -lhe disse. Soou-me ridículo até a

mim. Mas era a verdade.

-Conhecia algo da vida pessoal do Dawn?

-Não.

-Foram amigas?

-Não especialmente. -Meus pensamentos divagaram enquanto o detetive inclinava a

cabeça, meditabundo. Ao menos isso era o que parecia.

-E por que?

-Suponho que não tínhamos nada em comum.

-Como o que? me dê um exemplo.

Suspirei com força, inchando os lábios exasperada. Se não tínhamos nada em comum,

como podia lhe dar um exemplo?

-Está bem -disse com lentidão-. Dawn tinha uma vida social muito ativa, e gostava de

estar com homens. Não gostava tanto passar seu tempo com outras mulheres. Sua família é

do Monroe, assim não tem laços familiares aqui. Bebia, e eu não. Eu leio um montão e ela

não. Basta com isso?

Andy Bellefleur observou minha expressão para comprovar se estava adotando uma

pose. O que viu deveu tranqüilizá-lo.

-Assim nunca lhes viam depois das horas de trabalho.

-Correto.

-E nesse caso não te parece estranho que Sam Merlotte te pedisse que jogasse um olho

ao Dawn?

-Não, absolutamente-respondi com tozudez. Ao menos, não me parecia estranho agora,

depois da descrição do Sam do manha de criança do Dawn-. Me pilha de caminho ao bar, e

eu não tenho filhos como Arlene, a outra garçonete de nosso turno. Assim que me era mais

fácil . -Pensei que parecia bem baseado. Se lhe contava que Dawn lhe tinha gritado ao Sam

a última vez que esteve por aqui, poderia levá-la impressão equivocada.

-O que fez anteontem ao sair do trabalho, Sookie?

-Não devi trabalhar, era meu dia livre.

-E seu plano para esse dia foi...?

-Tomei o sol e ajudei à avó a limpar a casa, e depois tivemos companhia.

-E quem poderia ser?

-Poderia ser Bill Compton.

-O vampiro.

-Correto.

-Até que hora esteve o Sr. Compton em sua casa?

-Não sei, pode que até meia-noite ou a uma.

-Que impressão te deu?

-Parecia estar muito bem.

-Crispado? Irritado?

-Não.

-Senhorita Stackhouse, teremos que seguir falando na delegacia de polícia. Isto da casa

nos vai levar certo tempo, como pode ver.

-Está bem, suponho.

-Poderia vir em um par de horas?

Olhei o relógio de pulso.

-Se Sam não me necessitar para trabalhar...

-Verá, senhorita Stackhouse, isto tem mais prioridade que trabalhar em um bar.

De acordo, isso me encheu o saco. Não porque eu acreditasse que as investigações de um

crime estavam por cima de chegar a tempo ao trabalho; aí estava de acordo com ele. Era

por seu desprezo implícito para meu ofício em particular.

-Pode que cria que meu trabalho não importa muito, mas sou boa nele e eu gosto.

Mereço tanto respeito como sua irmã, a advogada, Andy Bellefleur, e não o esqueça. Não

sou idiota e tampouco uma fulana.

O detetive avermelhou, pouco a pouco e sem nenhum atrativo.

-Minhas desculpas -disse enrijecido. Ainda tratava de negar a antiga relação; o instituto

que compartilhamos, os contatos entre ambas as famílias. Pensava que deveria ter sido

detetive em outro povo, onde poderia tratar às pessoas da maneira que em sua opinião devia

fazê-lo um agente de polícia.

-Não, será melhor detetive aqui se pode superar essa atitude -lhe disse. Abriu muito

seus cinzas olhos, assombrado, e senti uma satisfação infantil por havê-lo deixado tão

pasmado, embora estava segura de que antes ou depois me faria pagar isso. Sempre me

passava quando dava às pessoas uma amostra de meu discapacidad.

Normalmente a gente se afastava de mim a toda pressa quando lhes dava uma dose de

leitura mental, mas Andy Bellefleur se sentiu fascinado.

-Então, é certo -disse com voz entrecortada, como se estivéssemos sozinhos em vez de

sentados na calçada de uns encostados decrépitos na Luisiana rural.

-Não, esquece-o -disse com rapidez-. É sozinho que às vezes posso saber pelo aspecto

da gente o que está pensando.

Pensou a propósito em me desabotoar a blusa, mas eu já estava acautelada e retornei a

meu estado habitual de fortaleza assediada, e não fiz nada mais que sorrir de maneira

agradável. Embora o certo é que não consegui enganá-lo-. Quando estiver preparado, vêem

o bar. Poderemos falar no armazém ou no despacho do Sam-acrescentei com firmeza

enquanto colocava as pernas no carro.

Quando cheguei ali, o bar estava de expulse em bote. Sam tinha avisado ao Terry

Bellefleur (segundo primo do Andy, se não recordar mau) para que vigiasse o local

enquanto ele falava com a polícia em casa do Dawn. Terry teve um bar de campanha no

Vietnam, e na atualidade subsistia precariamente com a pensão governamental por alguma

discapacidad. Tinha sido ferido, capturado e mantido prisioneiro durante dois anos, e agora

seus pensamentos estavam acostumados a ser tão tenebrosos que eu punha um cuidado

especial quando o tinha perto. Terry tinha tido uma vida dura, e atuar de modo natural era

inclusive mais difícil a ele que a mim. Por sorte Terry não bebia, graças a Deus.

Aquele dia lhe dava um suave beijo na bochecha enquanto agarrava a bandeja e me

lavava as mãos. Através do guichê pude ver na pequena cozinha ao Lafayette Reynold, o

cozinheiro, que estava volteando hambúrgueres e inundando uma cesta de batatas fritas em

azeite quente. Além desses pratos, no Merlotte's se servem também alguns sanduíches e

nada mais. Sam não quer ter um restaurante, a não ser um bar onde se possa comer um

pouco.

-por que esse beijo? Embora não é que me queixe-disse Terry. Tinha arqueado as

sobrancelhas. Terry era ruivo, embora quando necessitava um bom barbeado se podia ver

que suas costeletas eram cinzas. passava-se muitíssimo tempo ao ar livre, mas nunca tinha a

pele do todo moréia, mas sim adquiria um aspecto avermelhado que fazia que as cicatrizes

da parte esquerda de sua cara resultassem mais visíveis. Mas isso a ele não parecia

incomodá-lo. Arlene se tinha deitado uma noite com ele, depois de beber o bastante, e me

disse em confiança que Terry tinha muitas cicatrizes incluso piores que as de sua bochecha.

-Só por estar aqui-lhe disse.

-É certo o do Dawn?

Lafayette colocou dois pratos no guichê de servir, e me piscou os olhos um olho com um

varrido de suas densas pestanas falsas. Lafayette leva sempre um montão de maquiagem.

Estou tão acostumada que já não me fixo nunca nisso, mas nesse momento sua sombra de

olhos me trouxe para a memória a aquele menino, Jerry. Permiti que os outros três

vampiros o levassem sem protestar. Era provável que aquilo tivesse estado mau, mas fui

realista: não poderia havê-lo impedido. Nem poderia ter ido à polícia a tempo para que os

pilhassem com ele. Além disso, estava morrendo de todos os modos, e se levava consigo à

tumba a todos os vampiros e humanos que podia. Já era um assassino de por si. Disse a

minha consciência que essa seria a última conversação que teríamos sobre o Jerry.

-Arlene, já estão os hambúrgueres-avisou Terry, me trazendo de novo à realidade.

Arlene se aproximou para recolher os pratos, e me jogou um olhar que indicava que ia

costurar a perguntas assim que pudesse. Também Charlsie Tooten estava trabalhando esse

dia no bar. Chamavam o Charlsie quando uma das garotas regulares ficava doente ou

diretamente não aparecia. Confiei em que Charlsie ficasse com o posto do Dawn a tempo

completo; sempre me tinha cansado bem.

-Sim, Dawn está morta -respondi ao Terry. Não pareceu lhe importar minha larga pausa

prévia.

-O que lhe passou?

-Não sei, mas não foi de modo pacífico. -Tinha visto sangue nos lençóis. Não muita,

mas sim algo.

-Maudette-disse Terry, e o compreendi imediatamente.

-Pode ser-respondi. Certamente, era muito possível que a pessoa que fez aquilo ao

Dawn fosse quão mesma tinha assassinado ao Maudette.

Por descontado, toda a gente da Paróquia do Renard veio ao Merlotte's aquela noite, se

não para comer, sim ao menos para tomar uma taça de café vespertina ou uma cerveja. Os

que não podiam adaptar sua jornada de trabalho para aproximar-se do bar esperaram até a

hora de sair e se passaram por ali de caminho a casa. Duas mulheres mortas em nosso povo

em menos de um mês? Pode apostar a que a gente queria rumores.

Sam retornou por volta das dois, irradiando calor e com o suor caindo pela frente por

permanecer tanto tempo no pátio sem sombras diante da cena do crime. Disse-me que Andy

Bellefleur lhe havia dito que voltaria logo para falar comigo..

-Não sei por que-pinjente, talvez com um pouco de aspereza-, eu nunca ia com o Dawn.

O que lhe ocorreu, hão-lhe isso dito?

-Estrangularam-na depois de lhe dar uma pequena surra -explicou Sam-. Mas também

tinha velhas marcas de dentes. Como Maudette.

-Há muitos vampiros, Sam -disse, respondendo a seu comentário sem necessidade de

que o expor.

-Sookie-seu tom era sereno e cheio de seriedade. Fez-me recordar o modo em que havia

sustenido minha mão em casa do Dawn, e então pensei em como me tinha expulso de sua

mente ao descobrir que o estava sondando, sabia como me manter fora-, carinho, Bill é um

bom tipo para ser vampiro, mas simplesmente não é humano.

-Céu, você tampouco -lhe disse, em voz muito baixa mas com claridade. E lhe dava as

costas, não querendo admitir de modo exato por que estava tão zangada com ele, mas

desejando de todos os modos que ele soubesse.

Trabalhei como uma negra. Fossem quais fossem seus defeitos, Dawn era uma garçonete

eficiente e Charlsie não podia manter-se à altura. Punha toda sua vontade, e eu estava

segura de que conseguiria fazer-se com o ritmo do bar, mas durante aquela noite Arlene e

eu tivemos que carregar com parte de seu trabalho. Aquela tarde e noite ganhei um montão

de dinheiro em gorjetas, porque a gente se inteirou de que tinha sido eu a que tinha

descoberto o corpo. Mantive uma expressão solene e segui adiante, sem querer ofender a

uns clientes que solo queriam inteirar-se de algo, como todos outros do povo.

De caminho a casa, permiti-me um breve descanso. Estava esgotada, e o último que

esperava ver, depois de girar pela pequena entrada e seguir pelo caminillo entre as árvores

que leva a nossa casa, era ao Bill Compton. recostava-se contra um pinheiro, me esperando.

Passei junto a ele, quase decidida a não me deter. Mas ao final me detive um pouco mais

longe.

Abriu-me a porta. Sem olhá-lo aos olhos, saí do carro. Parecia encontrar-se cômodo na

noite, de uma maneira que eu nunca alcançaria a compartilhar. Havia muitos tabus infantis

sobre a noite, a escuridão e as coisas que moravam nela.

E agora que o pensava, Bill era uma dessas coisas. Não tinha nada de estranho que ele se

sentisse tão cômodo.

-vais estar toda a noite te olhando os pés, ou pensa me falar?-disse em uma voz que era

pouco mais que um sussurro.

-aconteceu algo que deveria saber.

-me conte. -Estava tratando de me fazer algo, podia sentir seu poder abatendo-se sobre

mim, mas não fiz conta. Ele suspirou.

-Não posso seguir de pé-disse com cansaço-. nos Sentemos no chão ou em qualquer

parte. Tenho os pés destroçados. Em resposta, agarrou-me em braços e me subiu ao teto do

carro. Ele ficou de pé diante de mim, cruzado de braços e aguardando de maneira muito

óbvia.

-me conte.

-Dawn foi assassinada. Igual a Maudette Pickens.

-Dawn?

De repente me senti um pouco melhor.

-A outra garçonete do bar.

-A ruiva, a que esteve casada tantas vezes?

Senti-me muito melhor.

-Não, a moréia, a que não deixava de se chocar contra sua mesa com seus quadris para

que te fixasse nela.

-Ah, essa. Veio a minha casa.

-Dawn? Quando?

-depois de que você fosse a outra noite, quão mesma os outros vampiros estiveram aqui.

Teve sorte de que não a vissem, estava muito segura de sua capacidade para dirigir

qualquer situação.

Olhei-o à cara.

-por que teve sorte? Não a teria protegido você?

Os olhos do Bill resultavam de tudo escuros sob a luz da lua.

-Não acredito-disse.

-É...

-Sou um vampiro, Sookie. Não penso como você, não me preocupo de maneira

automática pela gente.

-Mas sim me protegeu.

-Você é diferente.

-Sim? Sou uma garçonete, como Dawn. Venho de uma família singela, como Maudette.

O que é o diferente?

Um de seus gélidos dedos me tocou a frente.

-Diferente -disse-. Não é como nós, mas tampouco como eles.

Senti uma quebra de onda tão intensa de ira que era quase divina. Empurrei-o e o peguei,

uma idéia estúpida. Era como golpear um caminhão couraçado. Em um abrir e fechar de

olhos me levantou do carro e me apertou contra seu corpo, me retendo as mãos nos flancos

com um de seus braços.

-Não! -gritei. Dava patadas e me debati, mas mais houvesse me valido conservar a

energia. Por último me deixei cair sobre ele. Tinha o fôlego agitado, igual a ele, embora não

acredito que pelas mesmas razões.

-por que crie que precisava saber o do Dawn? -soava tão razoável que parecia como se a

briga não tivesse tido lugar.

-Bom, Sr. Amo das Trevas-disse furiosa-, Maudette tinha marcas antigas de dentadas

em suas coxas, e a polícia disse ao Sam que Dawn também tinha esses sinais.

Se se pode qualificar o silêncio, aquele foi reflexivo. Enquanto Bill meditava, ou o que

façam os vampiros, seu abraço se afrouxou. Começou a me acariciar as costas com uma

mão, de maneira distraída, como se eu fosse um cachorrillo lhe choraminguem.

-Por isso diz, parece que não morreram por essas dentadas.

-Não, estranguladas.

-Então não foi um vampiro -seu tom não deixava lugar a dúvidas.

-E por que não?

-Se um vampiro se alimentou dessas mulheres, tivessem morrido por falta de sangue em

vez de estranguladas. Nenhum tivesse deixado que se desperdiçasse assim seu líquido.

Justo quando começava a me sentir de novo cômoda com o Bill, tinha que dizer algo tão

frio, tão vampírico, e voltava a me enfurecer.

-Então -disse com aversão-, ou têm um vampiro engenhoso com grande autocontrol, ou

alguém está decidido a matar mulheres que estiveram com vampiros.

-Umm.

Eu certamente não me sentia muito tranqüila com qualquer das possibilidades.

-Crie que o tenho feito eu? -perguntou Bill.

Pergunta-a me pilhou por surpresa. Revolvi-me em seu abraço lhe imobilizem para

poder olhá-lo à cara.

-Tomaste-te grandes moléstias em assinalar quão desalmado é no fundo-lhe recordei-.

O que quer que cria?

E era tão maravilhoso não sabê-lo... Quase sorri.

-Poderia as haver matado, mas não o faria aqui nem agora - disse Bill. Sob a luz da lua

seu rosto não possuía cor algum, salvo os profundos poços escuros de seus olhos e os arcos

de suas sobrancelhas-. Quero ficar aqui, quero uma casa. -Um vampiro, tendo saudades o

lar. Bill compreendeu minha expressão-. Não te compadeça de mim, Sookie. Isso seria um

engano-parecia tentar que o olhasse aos olhos.

-Bill, não pode usar o glamour ou o que queira que seja comigo. Não pode me enfeitiçar

para que me baixe a camiseta e te deixe me morder, não pode me convencer de que nunca

estiveste aqui, não pode fazer nada do que revista fazer. Terá que ser natural comigo, ou me

forçar.

-Não -disse, com sua boca quase sobre a minha-, não te forçarei.

Lutei contra o impulso de beijá-lo. Mas ao menos sabia que era meu próprio impulso,

não um artificial.

-Pois se não foi você-disse, tratando de me rodear ao assunto-, então Maudette e Dawn

conheciam outro vampiro. Maudette ia a esse bar de vampiros do Shreveport. Pode que

Dawn também. Levará-me ali?

-por que? -perguntou, com aparente curiosidade.

Não podia lhe explicar o que era sentir-se em perigo a alguém tão acostumado a estar

além dele. Ao menos de noite.

-Não estou segura de que Andy Bellefleur vá até o final -menti.

-Assim ainda ficam Bellefleur por aqui-disse, e havia algo novo em sua voz. Seus

braços fizeram força sobre meu corpo quase até me fazer danifico.

-Sim -disse-, montões deles. Andy é detetive de polícia. Sua irmã, Porta, é advogada.

Sua primo Terry é veterano de guerra e garçom. Substitui ao Sam. Há muitos mais.

-Bellefleur...

Estava-me esmagando.

-Bill-disse, com voz lhe chiem pelo medo. Soltou sua presa imediatamente.

-me perdoe -disse com formalidade.

-Tenho que ir à cama -acrescentei-. Estou realmente esgotada, Bill.

Deixou-me sobre o cascalho sem apenas uma sacudida. Olhou-me.

-Disse a todos esses vampiros que te pertencia-pinjente.

-Sim.

-O que significa isso exatamente?

-Significa que se tratarem de alimentar-se de ti, matarei-os - explicou-, significa que é

minha humana.

-Devo dizer que me alegra que o fizesse, mas não estou muito segura do que suporta ser

seu humana-pinjente com cautela-. E não recordo que me perguntassem se me parecia

bem.

-Seja como for, é provável que seja melhor que ir de festa com o Malcolm, Liam e

Diane.

Não estava disposto a me dar uma resposta direta.

-vais levar me a esse bar?

-Quando é sua seguinte noite livre?

-dentro de duas noites.

-Então ao anoitecer. Eu conduzo.

-Tem carro?

-Como crie que chego aos sítios se não? -talvez houvesse um sorriso desenhado em seu

resplandecente rosto. girou-se e entrou no bosque. Disse por cima do ombro-: Sookie, me

deixe em bom lugar.

Fiquei ali com a boca aberta.

Que o deixasse em bom lugar!

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