Para meu alívio, a avó já estava dormida quando cheguei a casa, e consegui me colocar
na cama sem despertá-la. Não foi sentir saudades que à manhã seguinte levantasse muito
tarde.
Quando soou o telefone, eu estava tomando uma taça de café na mesa da cozinha e a avó
limpava a despensa. Apoiou o traseiro no tamborete que havia ao lado da encimera, seu
cabide habitual para o falatório, antes de desprender.
-Quem é? -disse. Por algum motivo sempre soava zangada, como se uma chamada de
telefone fora quão último desejava nesse momento. Mas eu sabia que nunca era assim-.
Olá, Everlee. Não, estava aqui sentada conversando com o Sookie, que se acaba de
levantar. Não, ainda não ouvi nenhuma notícia hoje. Não, ninguém me chamou. O que, o
que tornado? Ontem à noite estava espaçoso. No Four Tracks Comer? Sério? Não! Não me
posso acreditar isso! Sério, os dois? Estragará. E o que diz Mike Spencer?
Mike Spencer era o juiz de instrução da paróquia. Comecei a ter um mau
pressentimento. Terminei o café e me servi outra taça; dava-me a impressão de que ia
necessitá-la.
A avó pendurou um minuto depois.
-Sookie, não te vais acreditar o que passou!
Seguro que me acreditava isso.
-O que?-perguntei, tratando de aparentar inocência. -Porque, embora ontem à noite
parecesse que fazia bom tempo, um tornado deve ter açoitado Four Tracks Comer!
Derrubou a caravana de aluguel que há naquele claro, e o casal que estava dentro... os dois
morreram, apanhados de algum modo debaixo da caravana e feitos mingau. Mike diz que
nunca tinha visto um pouco parecido.
-vai enviar os corpos para que lhes façam a autópsia?
-Bom, suponho que terá que fazê-lo, embora a causa da morte parece bastante clara,
segundo Stella. A caravana está derrubada, o carro médio subido em cima, e as árvores ao
redor do claro amassados.
-Céu santo -murmurei, pensando na força necessária para dispor um cenário assim.
-Carinho, não me há dito se seu amigo o vampiro voltou ontem.
Peguei um coice de culpabilidade, mas me dava conta de que a avó tinha trocado de
tema. Tinha-me estado perguntando cada dia se tinha visto o Bill, e agora ao fim pude lhe
dizer que sim, embora não com alegria.
Como era de prever, a avó se entusiasmou como uma menina. Revoou pela cozinha
como se o convidado que esperava fora o príncipe Carlos.
-Amanhã de noite! E a que hora virá?-perguntou.
-Depois do anoitecer. É o antes que pode.
-Já estamos com o horário do verão, assim que isso será bastante tarde-refletiu a avó-.
Bem, teremos tempo de tomar o jantar e limpá-lo tudo antes de que chegue. E nos dispor de
todo o dia de amanhã para limpar a casa. Dá a impressão de que não limpei esse tapete há
um ano!
-Avó, estamos falando de um tipo que dorme todo o dia clandestinamente-lhe fiz
recordar-. Não acredito que vá se fixar no tapete.
-Bom, pois se não ser por ele, farei-o por mim, para poder me sentir orgulhosa-disse a
avó categórica-. Além disso, jovencita, como sabe você onde dorme?
-Boa pergunta, avó. Não sei. Mas tem que manter-se afastado da luz e estar a salvo,
assim que me suponho isso.
Logo compreendi que nada podia evitar que minha avó entrasse em um frenesi de
orgulho caseiro. Enquanto eu me arrumava para ir ao trabalho, ela foi à loja, alugou um
aspirador de tapetes e ficou a limpá-lo tudo.
De caminho ao Merlotte's, me desviei um pouco ao norte e passei por diante do Four
Tracks Comer. Era um cruzamento de caminhos tão antigo como a presença humana na
área, formalizado agora por asfalto e sinais de tráfico, mas de acordo com o folclore local
foi a intercessão de duas pistas de caça. Suponho que antes ou depois terá casas de estilo
rancheiro e ruas comerciais a cada lado, mas no momento era todo bosque e, segundo
Jason, a caça seguia sendo abundante.
Como não havia nada que me impedisse isso, conduzi pelo caminho consertado que
levava até o claro onde se situava a caravana alugada dos Rattray. Parei o carro e olhei
através do pára-brisa, aterrada. A caravana, que era muito pequena e velha, jazia esmagada
a três metros de sua posição original, enrugada como um acordeão. O amolgado carro dos
Rattray ainda se apoiava sobre um dos extremos da roulotte. Por todo o claro se
pulverizavam matagais e escombros, e as árvores de detrás da caravana mostravam signos
de uma grande violência: tinham os ramos partidos e a taça de um pinheiro pendurava
sozinho de um fio de casca. Havia roupa enganchada nos ramos, e inclusive uma bandeja
para o forno.
Saí pouco a pouco do carro e olhei a meu redor. Os danos eram simplesmente incríveis,
em especial para mim, que sabia que não os tinha provocado um tornado. Bill o vampiro
tinha montado essa cena para ocultar a morte dos Rattray.
Um velho todoterreno se aproximou saltando sobre os buracos até deter-se junto a mim.
-Vá, Sookie Stackhouse! -exclamou Mike Spencer-. O que faz aqui, moça? Não tem
que ir ao trabalho?
-Sim, senhor. Conhecia os Ratos... aos Rattray. É algo terrível -pensei que isso resultava
o bastante ambíguo. Nesse momento vi que junto ao Mike estava o xerife.
-Uma coisa terrível. Sim, bom, ouvi -disse o xerife Bud Dearborn enquanto saltava do
todoterreno- que Mack, Denise e você lhes chamaram de tudo menos bonitos no
estacionamento do Merlotte's, a semana passada.
Senti um calafrio perto de onde deve estar o fígado, quando os dois homens se
colocaram diante de mim. Mike Spencer era também diretor de uma das duas funerárias do
Bon Temps. Como ele sempre assinalava de maneira seca e cortante, tudo o que queria
podia ser enterrado pela Assinatura Funerária Spencer e Filhos, embora parecia que solo os
brancos queriam. De maneira similar, solo os negros decidiam que os enterrasse o Doce
Descanso. Mike era um homem grosso de média idade, com o cabelo e o bigode da cor do
chá claro, e era aficionado às botas de vaqueiro e às gravatas de laço, que lógicamente não
podia ficar quando estava de serviço no Spencer e Filhos. Agora sim as levava.
O xerife Dearborn, que tinha fama de ser bom homem, era um pouco maior que Mike,
mas estava em boa forma e era duro desde seu firme chapéu cinza até a ponta de seus
sapatos. O xerife tinha um rosto esmagado e vivazes olhos castanhos. Meu pai e ele tinham
sido bons amigos.
-Sim, senhor, tivemos uma briga -disse com sinceridade, jogando mão de meu melhor
acento sulino.
-me quer contar isso o xerife tirou um Marlboro e o acendeu com um singelo acendedor
de metal.
E cometi um engano. Deveria haver o contado. A gente pensava que estava louca, e
alguns até que era atrasada. Mas por minha vida que não pude encontrar nenhuma razão
para explicar-lhe ao Bud Dearborn. Nenhuma, exceto o sentido comum.
-por que? -perguntei.
Seus pequenos olhos castanhos ficaram imediatamente alerta, e se desvaneceu o ar
amigável.
-Sookie-disse, com tom de sentir-se muito defraudado. Não me acreditei isso nem por
um instante.
-Eu não tenho feito isto-pinjente, varrendo a destruição com um gesto da mão.
-Não, não o tem feito -admitiu- Mas de todas maneiras, se alguém morrer uma semana
depois de ter uma briga com outra pessoa, acredito que devo fazer algumas pergunta.
Me replanteé a idéia de lhe plantar cara. Era divertido, mas não pensei que merecesse a
pena. Resultava evidente que minha reputação de babeira poderia me ser útil. Pode que não
tenha muitos estudos nem tenha visto mundo, mas não sou estúpida nem inculta.
-Bom, estavam fazendo mal a meu amigo -confessei, deixando cair a cabeça e me
olhando os pés.
-Esse amigo é o vampiro que vive na velha casa Compton? -Mike Spencer e Bud
Dearborn intercambiaram olhadas.
-Sim, senhor. -Surpreendeu-me me inteirar de onde vivia Bill, mas eles não se deram
conta. Graças a tantos anos tendo que me conter para não reagir às coisas que ouço mas não
quero saber, adquiri um bom controle facial. A velha casa Compton estava justo ao outro
extremo dos campos desde nossa casa, ao mesmo lado da estrada. Entre o lar do Bill e o
meu solo se elevavam a arvoredo e o cemitério. O que apropriado para o Bill, pensei com
um sorriso.
-Sookie Stackhouse, sua avó te deixa te relacionar com esse vampiro?-disse Spencer,
demonstrando pouca prudência.
-Pode perguntar-lhe lhe sugeri maliciosa, com muitas vontades de ver o que lhe
responderia a avó a quem sugerisse que não me estava cuidando bem-. Já sabe, os Rattray
estavam tratando de sangrar ao Bill.
-Assim que o vampiro estava sendo drenado pelos Rattray? E você os deteve? -
interrompeu-me o xerife.
-Sim-disse, tratando de parecer resolvida.
-Drenar a um vampiro é ilegal-murmurou.
-Não é assassinato matar a um vampiro que não te atacou? -perguntei.
Pode que estivesse abusando de minha ingenuidade.
-Sabe muito bem que assim é, embora não estou de acordo com essa lei. Mas segue
sendo a lei e a aplicarei -disse o xerife enrijecendo-se.
-E o vampiro os deixou ir-se, sem ameaçá-los vingando-se? Não disse nada como que
gostaria de vê-los mortos? -Mike Spencer se fazia o estúpido.
-Isso é -sorri aos dois e então olhei meu relógio. Recordei o sangue na esfera, meu
próprio sangue, derramada pela surra dos Rattray. Tive que apartar esse sangue de minha
mente para poder ver a hora.
-me desculpem, mas devo ir trabalhar -pinjente-. Adeus, Sr. Spencer, xerife.
-Adeus Sookie -respondeu o xerife Dearborn. Olhou-me como se tivesse mais costure
que me perguntar, mas não sabia como as expor. Estava claro que não ficava de tudo
satisfeito com a cena do crime, e eu não acreditava possível que nenhum radar tivesse
detectado esse suposto tornado. Entretanto, estavam a caravana, o carro, as árvores e os
Rattray mortos debaixo. O que se podia decidir, salvo que um tornado os tinha matado?
Imaginei que teriam enviado os corpos para que lhes fizessem a autópsia, e me perguntei o
que poderia desvelar esta a tenor das circunstâncias.
O cérebro humano é uma coisa surpreendente. O xerife Dearborn tinha que saber que os
vampiros são muito fortes, mas não podia imaginar-se quanto: o suficiente para derrubar
uma caravana e esmagá-la. Inclusive me custava assumi-lo, e isso que eu sabia com
segurança que nenhum tornado tinha golpeado Four Comers.
O bar bulia com os cochichos sobre as mortes. O assassinato do Maudette tinha ficado
em segundo plano ante o falecimento do Denise e Mack. Descobri ao Sam me olhando
fixamente uma ou duas vezes, o que me fez pensar na noite anterior e me expor quanto
saberia ele do ocorrido. Mas me dava medo lhe perguntar, se por acaso não tinha visto
nada. Tampouco eu podia me explicar algumas das coisas acontecidas essa noite, mas
estava tão contente por estar viva que não queria pensar nisso.
Nunca sorri tanto ao servir as bebidas como aquela noite, nem trouxe nunca a mudança
com tal rapidez, nem tomado os encargos com tanta exatidão. Nem sequer Rene, com seu
cabelo alvoroçado, obteve que perdesse o tempo, apesar de que assim que me aproximava
da mesa que compartilhava com o Hoyt e outro par de colegas insistia em me arrastar a
suas intermináveis conversações.
Rene se fazia de vez em quando o cajún louco, embora todo acento cajún que pudesse
pôr era falso, seus velhos tinham deixado que se perdesse qualquer herança. Todas as
mulheres com as que
se casou eram duras e selvagens. Seu breve matrimônio com o Arlene foi quando ela era
jovem e não tinha
filhos, e esta me tinha contado que de vez em quando tinham feito costure que, ao as pensar
agora, punhamlhe
os cabelos de ponta. Ela tinha maturado após, mas Rene não. E para minha surpresa,
Arlene lhe tinha
muito carinho.
Todo mundo no bar aquela noite estava excitado pelos incomuns sucessos do Bon Temps.
Uma mulher
tinha sido assassinada, e isso era um mistério; normalmente, os assassinatos do Bon Temps
resolvem com
facilidade. E um casal tinha morrido de modo violento em um capricho da natureza. Em
minha opinião, o que
aconteceu a seguir se deveu a essa excitação. Aquele era um bar para gente local, com
alguns forasteiros que
se passavam por ele de maneira habitual, e eu nunca tinha tido sérios problemas com
cuidados não desejadas.
Mas essa noite, um homem que se sentava em uma mesa perto do Rene e Hoyt, um loiro
corpulento com a
cara larga e vermelha, colocou uma mão pela perna da calça de meus pantaloncitos quando
lhe levei as
cervejas.
Isso não estava bem visto no Merlotte'S.
Pensei em lhe estampar a bandeja na cabeça, mas senti que retiravam a mão e notei que
havia alguém de
pé detrás de mim. Girei-me e vi que era Rene, que se tinha levantado da cadeira sem que eu
me desse nem
conta. Reseguí seu braço com o olhar e vi que sua mão agarrava a do tipo loiro e a apertava
com força. O
rosto do loiro se estava pondo avermelhado.
-Né, homem, me solte! -protestou-. Não foi nada.
-Não toque a ninguém que trabalhe aqui, essas são as normas. -Rene pode ser baixo e
enxuto, mas todos
no bar tivessem apostado por nosso menino local contra o corpulento visitante.
-Está bem, está bem.
-te desculpe ante a senhorita.
-Ante o Sookie a Louca?-sua voz soava incrédula. Devia ter vindo já alguma vez. A mão
do Rene deveu
apertar com major força, porque vi que as lágrimas apareciam nos olhos do tipo loiro-. O
sinto, Sookie, de
acordo?
Assenti com tanta majestuosidad como fui capaz. Rene soltou com brutalidade a emano
do outro homem e
fez um gesto com o polegar para lhe indicar que se fora a passeio. O loiro não demorou
nada em sair pela
porta, e seu acompanhante o seguiu.
-Rene, deveria deixar que eu me encarregasse destas coisas -lhe disse em voz baixa
quando pareceu que
outros clientes retomavam suas conversações. Tínhamos dado à máquina dos rumores
combustível suficiente
ao menos para um par de dias-. Mas te agradeço que dê a cara por mim.
-Não quero que ninguém se meta com uma amiga do Arleneme respondeu de modo
prosaico-. Merlotte's
é um lugar agradável, e todos queremos que siga sendo-o. Além disso, às vezes recorda a
Cindy, sabia?
Cindy era a irmã do Rene, e se tinha transladado ao Baton Rouge um ou dois anos atrás.
Era loira e de
olhos azuis, mas além disso não fui capaz de lhe encontrar mais similitudes comigo. Mas
não parecia educado
assinalá-lo.
-Vê muito a Cindy? -perguntei-lhe. Hoyt e o outro homem que estava com eles na mesa
discutiam sobre
pontuações e estatísticas dos Capitães do Shreveport.
-de vez em quando-respondeu Rene, inclinando a cabeça para indicar que gostaria de vêla
mais
freqüentemente-. Trabalha na cafeteria de um hospital.
Dava-lhe uma palmada no ombro.
-Tenho que ir trabalhar.
Quando cheguei à barra para recolher o seguinte pedido, Sam me olhou com as
sobrancelhas arqueadas.
Abri muito os olhos para lhe mostrar quão surpreendida estava pela intervenção do Rene, e
Sam se encolheu
ligeiramente de ombros, como se assinalasse que não há modo de prever o comportamento
humano.
Mas quando passei ao outro lado da barra para agarrar umas quantas guardanapos, fixeime
em que tinha
tirado o taco de beisebol de beisebol que guarda debaixo da caixa registradora para os casos
de emergência.
A avó me teve ocupada durante todo o dia seguinte. Ela tirou o pó, passou a aspiradora e
esfregou, e eu
limpei os banhos. Enquanto passava a bucha do privada pela taça, perguntei-me se os
vampiros precisavam ir
alguma vez ao banho. A avó me fez aspirar o cabelo de gato do sofá, e também esvaziei
tudo os cestos de
papéis. Abrilhantei as mesas, e até limpei a máquina de lavar roupa e a secadora, por parvo
que soe.
Quando a avó começou a me colocar pressa para que me desse uma ducha e me trocasse
de roupa,
compreendi que considerava o Bill o vampiro como minha entrevista. Isso me fez me sentir
um pouco
estranha. Primeiro, demonstrava que a avó estava tão se desesperada porque eu tivesse vida
social que até um
vampiro lhe resultava aceitável; segundo, eu albergava certos sentimentos que respaldavam
essa idéia;
terceiro, Bill podia interpretar corretamente todo aquilo; e quarto, podia um humano chegar
a lhe gostar da um
vampiro?
Tomei banho, maquiei-me e me pus um vestido, já que sabia que do contrário a avó se
zangaria. tratava-se de um pequeno vestido azul de algodão com pequenas margaridas estampadas, e era mais
ajustado do que
gostava à avó e mais curto do que Jason considerava apropriado para sua irmã. Já tinha
ouvido todo aquilo a
primeira vez que o levei. Escolhi os pendentes pequenos de bolas amarelas e me joguei o
cabelo para trás,
solto mas sujeito com um passador com forma de plátano amarelo.
A avó pôs um olhar estranho que me custou interpretar. Poderia havê-lo descoberto com
facilidade
escutando-a, mas lhe fazer isso à pessoa com quem convive é algo terrível, assim preferi
permanecer na
ignorância. Por sua parte, ela vestia a saia e a blusa que está acostumado a levar nas
reuniões dos
Descendentes dos Mortos Gloriosos, que não chegava a ser um traje de domingo, mas
estava por cima da
roupa diária.
Quando ele chegou, eu estava varrendo o alpendre dianteiro, que nos tinha esquecido. Fez
uma entrada
puramente vampírica, em um momento dado não estava ali e ao seguinte sim, esperando ao
pé das escadas e
me olhando.
Sorri-lhe e lhe disse:
-Não me assustaste.
Pareceu um pouco coibido.
-É por costume -disse-, o de aparecer assim. Não estou acostumado a fazer muito ruído.
Abri a porta.
-Adiante -lhe convidei, e ele subiu as escadas olhando a seu redor.
-isto lembrança -disse-, embora não era tão grande.
-Lembra-te desta casa? Isso adorará à avó.- Precedi-o até chegar à sala de estar enquanto
avisava à avó.
Ela entrou na sala com muita dignidade, e pela primeira vez me dava conta do grande
esmero que tinha
posto em seu denso cabelo branco, que para variar levava suave e bem penteado, enrolado
sobre a cabeça
formando uma complicada espiral. Também se tinha posto pintalabios.
Bill demonstrou estar tão curtido nas relações sociais como minha avó. saudaram-se,
deram-se as obrigado
o um ao outro, intercambiaram cumpridos e por último Bill se sentou no sofá. Depois de
nos trazer uma
bandeja com três copos de chá ao pêssego, minha avó se sentou na poltrona, deixando claro
que eu devia me
pôr junto ao Bill. Não havia modo de sair daquilo sem ficar em evidência, assim que sentei
a seu lado mas
perto do bordo, como se em qualquer momento pudesse me levantar para lhe encher de
novo o copo de chá
gelado, como é costume.
Bill posou educadamente os lábios no bordo do copo e depois o voltou a deixar. A avó e
eu demos largos
sorvos aos nossos, com nervosismo. Ela escolheu um primeiro tema de conversação
bastante desafortunado.
Disse:
-Suponho que terá ouvido falar do estranho tornado.
-Não, me conte-respondeu Bill, com uma voz suave como a seda. Não me atrevi a olhá-lo,
mas sim me
sentei com as mãos juntas e os olhos fixos nelas.
Assim que a avó lhe falou do estranho tornado e das mortes dos Ratos. Contou-lhe que
era uma coisa
terrível, mas que estava claro o ocorrido, e acredito que ante isso Bill se relaxou um pingo.
-Eu passei ontem por ali, de caminho ao trabalho-intervim, sem elevar o olhar-. junto à
caravana.
-E era como te esperava? -perguntou Bill, com tão só curiosidade na voz.
-Não -respondi-, não era como nada que pudesse prever. Fiquei de verdade... assombrada.
-Mas Sookie, se já viu outras vezes os danos de um tornado-participou a avó,
surpreendida.
Troquei de tema.
-Bill, onde conseguiste essa camisa? É muito bonita -vestia umas calças chineses caquis e
um pólo a raias
verdes e marrons, mocasines lustrosos e finos meias três-quartos marrons.
-No Dilliard's-respondeu, e tratei de imaginar o na galeria comercial do Monroe, talvez, e
ao resto da
gente girando-se para olhar a essa exótica criatura com sua pele reluzente e seus preciosos
olhos. De onde
tirava o dinheiro para pagar? Como se lavava a roupa? metia-se nu no ataúde? Tinha carro
ou se limitava a
flutuar até o lugar que necessitasse?
A avó se sentiu agradada normais que eram os hábitos de compra do Bill. Senti outra
pontada de dor ao
comprovar quão contente estava ela de ver meu suposto pretendente em sua sala de estar,
apesar de que
(segundo a literatura popular) este era vítima de um vírus que o fazia parecer morto.
lançou-se a realizar
perguntas ao Bill, às que ele respondeu com cortesia e de aparente boa vontade. De acordo,
tratava-se de um
morto muito educado.
-E sua família era desta zona? -indagou a avó.
-A família de meu pai era dos Compton, a de minha mãe Loudermilk-disse ele com
prontidão. Parecia
muito depravado.
-Ainda ficam muitos Loudermilk -disse a avó contente-. Mas me temo que o ancião Sr.
Jessie Compton
morreu o ano passado.
-Sei-respondeu Bill-. Por isso retornei. As terras voltaram para minha propriedade, e
como as coisas estão
trocando na sociedade em favor da gente como eu, decidi tomar posse delas.
-Conheceu os Stackhouse? Sookie diz que você possui uma larga história. -Pensei que a
avó tinha
conseguido expor o de maneira elegante. Sorri sem deixar de me olhar as mãos.
-Recordo ao Jonas Stackhouse-disse Bill, para deleite de minha avó-. Meus pais já
estavam aqui quando
Bon Temps não era mais que um buraco no caminho junto à confine fronteiriça. Jonas
Stackhouse se
transladou aqui com sua mulher e seus quatro filhos quando eu era um jovenzinho de
dezesseis anos. Não é
esta a casa que ele construiu, ao menos em parte?
Fixei-me em que quando Bill pensava em tempos pretéritos, sua voz adquiria um
vocabulário e uma
cadência distintos. Perguntei-me quantos mudanças de jargão e tom tinha tido que adquirir
seu inglês durante
o século anterior.
Nem que dizer tem que a avó se sentiu no paraíso genealógico. Queria sabê-lo tudo sobre
o Jonas, o bisavô
de seu marido.
-Possuía escravos? -perguntou.
-Senhora, se lembrança bem tinha uma pulseira doméstica e outro escravo para as terras.
A pulseira era
uma mulher de média idade, e o dos campos um jovem muito grande, muito forte, chamado
Minas. Mas
basicamente eram os Stackhouse os que trabalhavam suas próprias terras, como meus pais.
-OH, essa é a classe de coisas que meu pequeno clube adoraria escutar! Contou-lhe
Sookie que...?
A avó e Bill, depois de muitos finos circunlóquios, fixaram uma data para que Bill desse
seu bate-papo em
uma reunião noturna dos Descendentes.
-E agora, se desculpar ao Sookie e a mim, pode que demos ou n passeio. Faz uma noite
preciosa. -Com
lentidão, para que p udiera vê-lo vir, inclinou-se e agarrou minha mão. levantou-se de uma
vez que eu me
punha em pé. Sua mão estava fria, e seu contato era suave e firme. Bill não estava lhe
pedindo permissão à
avó, mas tampouco a ignorava de tudo.
-OH, partam tranqüilos-disse minha avó feliz, fazendo um gesto com a mão-. Tenho
tantas coisas que
fazer... Terá você que me enumerar todos os nomes da zona que recorde de quando estava...
-e ali se deteve,
tentando não dizer algo que pudesse incomodá-lo.
-Residindo aqui no Bon Temps -sugeri eu.
-É obvio-respondeu o vampiro, e pela pressão de seus lábios soube que estava tratando de
não sorrir.
De algum jeito já nos encontrávamos na porta, e compreendi que Bill me tinha levantado
e transladado
como o raio. Sorri de modo sincero; eu gosto do inesperado.
-Voltaremos em um momento-lhe disse à avó. Não acredito que se dispusesse de nosso
estranho traslado,
já que estava recolhendo os vasitos do chá.
-OH, não lhes preocupem comigo-disse-, estarei bem.
No exterior, as rãs, os sapos e todos outros insetos entoavam sua ópera rural de cada noite.
Bill sustentou
minha mão enquanto passeávamos pelo jardim, cheio do aroma de erva recém atalho e a
planta em flor.
Minha gata, Tina, surgiu de entre as sombras e pediu umas carícias, assim que me agachei a
lhe arranhar a
cabeça. Para minha surpresa, a gata se esfregou contra as pernas do Bill, uma atitude que
ele não fez nada por
impedir.
-Você gosta deste animal? -comentou, com voz neutra.
-É minha gata -lhe disse-. Se chama Tina e, sim, eu gosto de muito.
Sem fazer comentário algum, Bill ficou imóvel e esperou até que Tina seguiu seu
caminho e desapareceu
na escuridão, além da luz do alpendre.
-Você gostaria de te sentar no balanço ou nas cadeiras do jardim, ou prefere dar um
passeio?-pergunteilhe,
já que me parecia que agora era eu a anfitriã.
-OH, passeemos um pouco. Preciso estirar as pernas.
Por algum motivo aquela frase me intranqüilizou, mas começamos a avançar pelo
comprido caminho de
entrada, em direção à estrada comarcal de dois sulcos que passava por diante tanto de nossa
casa como da sua.
-Preocupou-te o da caravana? -perguntou-me.
Tratei de pensar como explicá-lo.
-Sinto-me muito... umm, frágil, quando penso na caravana.
-Já sabia que era forte.
Meneei a cabeça de um lado a outro, refletindo.
-Sim, mas não me dava realmente conta de toda a magnitude de sua força -lhe disse-. Ou
de sua
imaginação.
-Com os anos, acabamos sendo bons em ocultar o que fazemos.
-Já vejo. Então, suponho que terá matado a bastante gente.
-A alguns -sua voz implicava: "assume-o".
Apertei-me as mãos depois das costas.
-Estava faminto justo depois de te converter em vampiro? Como é?
Ele não se esperava essa pergunta. Olhou-me, pude notar seus olhos sobre mim inclusive
embora agora
estávamos às escuras. O bosque nos rodeava e nossos pés rangiam no cascalho.
-Quanto a como me converti em vampiro, é uma história muito larga para este momentome
disse-. Mas
sim, quando era jovem, em alguma ocasião matei por acidente. Alguma vez estava seguro
de quando devia
voltar a me alimentar, compreende? Naturalmente, sempre fomos perseguidos, não havia
nada parecido ao
sangue artificial. E tampouco havia tanta gente. Mas fui um bom homem quando estava
vivo... quer dizer,
antes de pilhar o vírus. Assim tratei de enfocar o de maneira civilizada, de escolher gente
má como minhas
vítimas e nunca me alimentar de meninos. Ao menos obtive não matar nunca a um menino.
Agora é tudo tão
distinto... Posso ir a uma farmácia de guarda de qualquer cidade e conseguir algo se sangre
sintética, embora
tenha mau sabor. Ou posso pagar a uma puta e conseguir o sangue suficiente para subsistir
um par de dias.
Posso enfeitiçar a alguém para que me deixe mordê-lo por amor e depois fazer que se
esqueça de tudo. E além
já não necessito tanto sangue.
-Ou pode encontrar uma garota que tenha uma ferida na cabeça-disse.
-OH, você foi a sobremesa. A comida foram os Rattray.
Assume-o.
-Latido-pinjente, me sentindo sem fôlego-. me Dê um minuto.
Assim o fez. Nem um homem entre um milhão me teria concedido esse tempo sem falar.
Abri minha
mente, deixei cair por completo meus amparos, relaxei-me. Seu silêncio se derramou sobre
mim. Permaneci
imóvel, com os olhos fechados, e respirei desfrutando de um alívio muito profundo para
expressá-lo com
palavras.
-Já é feliz? -perguntou, como se pudesse vê-lo.
-Sim-murmurei. Nesse momento senti que não importava nada cotovelo o que tivesse
feito a criatura que
tinha ao lado; aquela paz era algo inapreciável atrás de toda uma vida de ter as queixa de
outros dentro de
minha cabeça.
-Você também me sinta bem-disse, e me surpreendeu.
-E como é isso?-perguntei, com voz pausada e sonhadora.
-Não tem medo, nem pressas, nem me condena. Não tenho que usar meu glamour para
que fique, para ter
uma conversação contigo.
-Glamour?
-É como um hipnotismo-me explicou-. Todos os vampiros o usam até certo ponto. Porque,
antes de que
se inventasse o novo sangue sintético, para nos alimentar tínhamos que persuadir às pessoas
de que fomos
inofensivos... ou convencer os de que nem sequer nos tinham visto... ou enganá-los para
que pensassem que
tinham visto outra coisa.
-E funciona comigo?
-É obvio-disse, parecendo surpreso.
-De acordo, faz-o.
-me olhe.
-Está escuro.
-Dá igual, observa minha cara. -ficou diante de mim, com as mãos descansando com
suavidade sobre
meus ombros, e me olhou fixamente. Pude espionar o débil resplendor de sua pele e de seus
olhos, e o
contemplei, me perguntando se começaria a cacarejar como um frango ou a me tirar a roupa.
Mas o que ocorreu foi... nada. Solo senti a relaxação narcótica que me produzia sua
companhia.
-Pode sentir minha influência? -perguntou-me com fôlego entrecortado.
-Para nada, sinto-o -pinjente com humildade-. Só te vejo brilhar.
-Pode ver isso? -havia lhe tornado a surpreender.
-Claro. Acaso outros não?
-Não. Isto é muito estranho, Sookie.
-Se você o disser. Posso verte levitar?
-Agora mesmo? -Bill parecia divertido.
-Claro, por que não? Salvo que haja alguma razão...
-Não, nenhuma absolutamente. -deixou ir de meus braços e começou a elevar-se.
Soltei um ofego de puro êxtase. Flutuou para cima na escuridão, brilhando como o
mármore branco à luz
da lua. Quando estava a uns seis metros do chão, começou a planejar. Pareceu-me ver que
me sorria.
-Todos sabem fazer isso?-perguntei-lhe.
-Sabe cantar?
-Não, nunca consigo levar a melodia.
-Bom, tampouco todos nós sabemos fazer as mesmas coisas -Bill descendeu pouco a
pouco e aterrissou
no chão sem nenhum ruído-. A maioria dos humanos parecem mostrar-se apreensivos com
os vampiros. Mas
você não-comentou.
Encolhi-me de ombros. Quem era eu para me mostrar apreensiva com algo
extraordinário? Ele pareceu
entendê-lo porque, depois de uma pausa durante a que retomamos o passeio, disse-me:
-Sempre foi tão duro para ti?
-Sim, sempre-não podia responder outra coisa, embora não era minha intenção me
queixar-. Quando era
muito pequena resultava pior, porque não sabia como levantar barreiras e ouvia coisas que
se supunha que
não deveria ouvir. E é obvio as repetia, como faria qualquer menino. Meus pais não sabiam
o que fazer
comigo. A meu pai, sobre tudo, envergonhava-lhe muito. Minha mãe me levou por último a
uma psicóloga
infantil, que sabia exatamente o que me ocorria, mas que não podia aceitá-lo e insistia em
lhes dizer a meus
pais que eu interpretava sua linguagem corporal e que era muito observadora, assim que me
dava bem
imaginar que ouvia os pensamentos da gente. Certamente, não era capaz de admitir que eu
de verdade ouvia
os pensamentos da gente, porque isso não encaixava em seu mundo. E também me deu mal
a escola, porque
me era muito difícil me concentrar quando quase todos outros alunos pensavam em suas
coisas. Mas quando
havia um exame tirava muito boas notas, porque outros meninos se concentravam em seus
próprios
exercícios... Isso me dava um pouco de margem. Às vezes meus pais pensavam que era
uma vaga por não me
esforçar com os deveres de cada dia, e outras vezes os professores pensavam que tinha uma
discapacidad na
aprendizagem. OH, não te acreditaria que teorias dirigiam. Devem me haver revisado os
olhos e os ouvidos
cada dois meses, ou ao menos essa impressão me dava. E os exploratórios cerebrais... Deus.
Meus pobres pais
se gastaram uma dinheirama. Mas nunca conseguiram aceitar a singela realidade. Ao menos
abertamente,
entende?
-Mas em seu interior sabiam.
-Sim. Uma vez meu pai tratava de decidir se avalizava a um homem que queria abrir uma
loja de
acessórios para automóveis, e quando o homem veio a casa pediu que sentasse a seu lado.
depois de que
partisse, papai me levou fora e com o olhar no horizonte me perguntou: "Sookie, está
dizendo a verdade?".
Foi um momento muito estranho.
-Quantos anos tinha?
-Devia ter menos de sete, porque eles morreram quando eu estava em segundo.
-Como foi?
-Uma enchente. Pilhou-os na ponte, ao oeste daqui.
Bill não fez nenhum comentário. Certamente, ele tinha visto mortes a milhares.
-E mentia aquele homem?-perguntou-me quando tiveram transcorrido uns segundos.
-OH, sim. Planejava agarrar o dinheiro de meu pai e desaparecer.
-Tem um dom.
-Um dom. Claro. -Senti que as comissuras dos lábios me torciam para baixo.
-Faz-te distinta a outros humanos.
-Não me diga. -Caminhamos um momento em silêncio-. Assim que você não te considera
absolutamente
humano?
-Não o faço a muito tempo.
-De verdade crie que perdeste sua alma?-Isso era o que pregava a Igreja Católica sobre os
vampiros.
-Não tenho modo se soubesse -disse Bill, quase de passada. Estava claro que tinha
meditado sobre isso
tão freqüentemente que já era um tema corrente para ele-. Pessoalmente, não acredito. Fica
algo em mim que não é cruel, que não é criminoso depois de todos estes anos. Embora às vezes posso me
comportar de ambas
as maneiras.
-Não é sua culpa te haver infectado com um vírus.
Bill bufou, embora conseguiu soar quase elegante.
-Desde que existem os vampiros houve teorias sobre eles. Pode que essa seja certa. -
Então me olhou
como se lamentasse havê-lo dito-. Se o que te converter em vampiro é um vírusacrescentou,
de modo mais
natural-, trata-se de um muito seletivo.
-Como te converte em vampiro? Tenho lido toda classe de histórias, mas sua palavra seria
um testemunho
de primeira mão.
-Teria que te chupar o sangue, de uma vez ou ao longo de dois ou três dias como muito,
até que estivesse
ao bordo da morte, e então te dar meu sangue. Jazeria como um cadáver umas quarenta e
oito horas, às vezes
até três dias, e depois te elevaria e caminharia na noite. E estaria faminta.
O modo em que disse "faminta" me fez tremer.
-Não há outra maneira?
-Bom, outros vampiros me contaram que os humanos aos que remoem de maneira
habitual, dia detrás dia,
podem converter-se em vampiros quase por surpresa. Mas isso requer dentadas profundas e
consecutivas.
Outra gente, nas mesmas condições, solo acaba anêmica. Além disso, quando a pessoa está
a ponto de morrer
por algum outro motivo, um acidente de carro ou uma overdose, por exemplo, o processo
pode acabar...
realmente mal.
Estava começando a sentir calafrios.
-É momento de trocar de tema. O que planeja fazer com as terras dos Compton?
-Quero viver ali enquanto possa. Estou cansado de vagar de cidade em cidade. Cresci no
campo, e agora
que tenho direito legal a existir e posso ir ao Monroe, ou Shreveport ou Nova Orleáns para
conseguir sangue
sintético ou prostitutas especializadas em nosso estrato, quero ficar aqui. Ao menos quero
ver se for possível.
Levo décadas vagabundeando.
-No que estado está a casa?
-Bastante mau-admitiu ele-. estive tratando de limpá-la, o pouco que posso fazer de noite.
Mas necessito
operários para fazer algumas reparações. Não sou mau com a carpintaria, mas não tenho
nem idéia de
eletricidade. -É obvio que não, pensei-. Me dá a impressão de que a casa precisa ser
recableada -prosseguiu
Bill, com um tom de preocupação idêntico ao que usaria qualquer proprietário.
-Tem telefone?
-Pois claro-disse ele, surpreso.
-E então qual é o problema com os operários?
-É difícil contatar com eles de noite, e mais ainda ficar para uma reunião em que possa
lhes explicar o que
terá que fazer. assustam-se, ou se acreditam que é a chamada de um brincalhão-a frustração
resultava
evidente no rosto do Bill, embora não lhe via a cara.
Ri-me.
-Se quiser, posso lhes chamar eu -sugeri-. Me conhecem, e embora todos pensam que
estou louca sabem
que sou honrada.
-Isso seria um grande favor -disse Bill, depois de duvidá-lo uns instantes-. Poderiam
trabalhar durante o
dia, depois de que me reúna com eles para discutir a tarefa e o presuposto.
-Que moléstia não poder sair de dia-disse com sinceridade. Nunca antes me tinha exposto
isso.
-E tanto que o é -respondeu Bill com voz áspera.
-E ter que ocultar seu lugar de descanso -acrescentei sem pensá-lo. Quando notei o
silêncio do Bill,
desculpei-me-: O sinto. -Se não tivéssemos estado tão às escuras, me teria visto avermelhar.
-O lugar de descanso diurno de um vampiro é seu segredo melhor guardado-comentou
Bill secamente.
-Minhas desculpas.
-Aceito-as -disse, depois de um feio instante. Chegamos à estrada e olhamos a um e outro
lado, como se
esperássemos um táxi. Agora que tínhamos saído de debaixo das árvores podia vê-lo com
claridade à luz da
lua. Ele também a mim. Olhou-me de cima abaixo.
-Seu vestido é da cor de seus olhos.
-Obrigado -pinjente. Eu certamente não podia vê-lo com tanta claridade.
-Embora não há muito vestido.
-Perdão?
-Custa-me me acostumar às senhoritas que levam tão pouca roupa em cima-disse Bill.
-Pois já tiveste umas quantas décadas para te fazer à idéia -respondi agriamente-. Vamos,
Bill, os
vestidos levam quarenta anos sendo curtos!
-Eu gostava das saias largas-disse com nostalgia-. E eu gostava da roupa interior que
levavam as
mulheres. As anáguas.
Emiti um som vulgar.
-Leva a menos encharca? -perguntou-me.
-Levo uma preciosa calcinha de nylon bege com encaixe! - repliquei indignada-. E se
fosse um menino
humano, diria que está tratando de que te fale de minha roupa interior!
riu, com essa risada tão funda e pouco gasta que me afetava profundamente.
-De verdade leva postas umas calcinhas assim, Sookie?
Tirei-lhe a língua porque sabia que podia lombriga. Subi-me um pouco o bordo da saia,
revelando o
encaixe das calcinhas e uns centímetros mais de minha pele moréia.
-Contente? -espetei-lhe.
-Tem umas pernas bonitas, mas me seguem gostando mais dos vestidos largos.
-É teimoso-lhe disse.
-Sim, isso é o que minha mulher sempre me dizia.
-Assim esteve casado.
-Claro, converti-me em vampiro aos trinta, quando já tinha esposa e cinco meninos vivos.
Minha irmã,
Sarah, também vivia conosco. Nunca se casou, seu prometido morreu na guerra.
-A guerra civil.
-Sim. Eu pude retornar vivo do frente, fui dos afortunados. Ao menos assim o pensei
então.
-Lutou pelos Confederados-disse meditabunda-. Se ainda guardasse sua uniforme e o
tivesse posto ao
clube, as damas se deprimiriam de prazer.
-Para quando terminou a luta apenas ficava uniforme-disse com amargura-. Nos
cobríamos com farrapos
e morríamos de fome. -Pareceu fazer um esforço por retornar à presente-. depois de me
converter em
vampiro, já não tinha significado para mim-explicou, de novo com uma voz fria e distante.
-mencionei um tema que te entristece -intervim-, sinto muito. Do que deveríamos falar?-
demos a volta e
começamos a dar o passeio de volta para a casa.
-De sua vida -me disse-. me Diga o que faz quando desperta pelas manhãs.
-Levanto-me da cama, e então a acerto rapidamente. Tomo o café da manhã: torradas, às
vezes cereais e às
vezes ovos. E café. E depois me lavo os dentes, dou-me uma ducha e me visto. Alguns dias
me toca me
depilar as pernas, já sabe. Se for dia de trabalho, ali vou; e a não ser entro até a noite, pode
que vá às compras,
ou leve a avó à loja, ou alugue uma peli ou tome o sol. E leão muito. Tenho sorte de que a
avó ainda seja uma
pessoa ativa. Ela faz a penetrada, prancha a roupa e cozinha quase tudo.
-E os homens?
-OH, já te falei disso. Resulta-me impossível.
-Então, o que fará, Sookie?-perguntou-me com amabilidade.
-Envelhecer e morrer-respondi com voz seca. Tocava muito freqüentemente meu ponto
fraco.
Para minha surpresa, Bill se adiantou e me agarrou a mão. Agora que os dois tínhamos
incomodado um
pouco ao outro, que havíamos meio doido tema delicados, o ambiente parecia de algum
modo mais claro. A
noite estava serena, e uma brisa fez que o cabelo me dançasse por diante da cara.
-Pode te tirar o passador? -pediu Bill.
Não havia motivo para negar-se. Elevei a mão até alcançar o passador e abri-lo, e sacudi a
cabeça para que
o cabelo se soltasse. Guardei-o em um bolso do Bill, já que meu vestido não tinha. Como se
fora a coisa mais
normal do mundo, Bill começou a passar os dedos por meu cabelo, esparramando-o sobre
meus ombros.
Como parecia que o contato físico resultava plausível, toquei suas costeletas.
-São largas -observei.
-Essa era a moda então -disse-. Tenho sorte de não ter levado barba como tantos homens,
onda teria para
toda a eternidade.
-Alguma vez tem que te barbear?
-Não, por fortuna me acabava de barbear. -Parecia fascinado com meu cabelo-: À luz da
lua, parece
prateado-disse em voz muito baixa
-Ah. O que você gosta de fazer?
Pude ver a sombra de um sorriso na escuridão.
-Também eu gosto de ler -disse, pensando nisso-. Eu gosto do cinema... Obviamente, vivi
toda sua
evolução. Eu gosto da companhia de gente que tem normais vidas. Às vezes tenho saudades
a companhia de
outros vampiros, embora a maioria tem vistas muito distintas à minha.
Caminhamos em silencio durante uns momentos.
-Você gosta da televisão?
-Às vezes -confessou-. Durante uma época gravava teleseries e as via de noite, quando
me dava a
impressão de estar esquecendo o que supunha ser humano. Com o tempo o deixei, porque
com os exemplos
que via nesses programas esquecer minha humanidade parecia algo positivo. -Ri-me.
Chegamos ao círculo de luz que rodeava a casa. Até certo ponto esperava que a avó
estivesse no balanço
do alpendre nos esperando, mas não foi assim. E só luzia uma débil lâmpada na sala de
estar. De verdade,
avó, pensei exasperada. Era como se meu novo menino me levasse a casa depois da
primeira entrevista. De
fato, cheguei a me expor se Bill trataria de me beijar ou não. Com suas idéias sobre os
vestidos largos,
provavelmente acreditasse que resultava inapropriado.
Mas por estúpido que possa parecer beijar a um vampiro, dava-me conta de que era o que
de verdade
queria fazer, mais que nenhuma outra coisa. Senti um peso no peito, uma amargura ante
outra coisa que me
proibia. E pensei: por que não?
Detive-o, atirando com suavidade de sua mão. Pu-me nas pontas dos pés e posei meus
lábios sobre sua
reluzente bochecha. Inalei seu aroma, normal mas um pouco salgado. Levava um pingo de
colônia.
Senti que Bill tremia. Girou a cabeça de modo que seus lábios tocassem meus. Depois de
um instante,
rodeei seu pescoço com meus braços. Seu beijo se fez mais intenso e eu abri os lábios.
Nunca me tinham
beijado assim. Seguiu e seguiu até que todo o universo ficou envolto nesse beijo da boca do
vampiro sobre
lambia. Notei que me acelerava a respiração, e comecei a desejar outras coisas.
De repente Bill se apartou. Parecia agitado, o que me satisfez em grande maneira.
-boa noite, Sookie -disse, acariciando meu cabelo uma última vez.
-boa noite, Bill-respondi. Eu também soava tremente-. Manhã tratarei de chamar a alguns
eletricistas.
Farei-te saber sua resposta.
-lhe vejam casa amanhã de noite... Porque não tem trabalho, verdade?
-Não -confirmei. Ainda estava tratando de me recompor.
-Nesse caso te verei então. Obrigado, Sookie. -E se girou para atravessar a pé os bosques
para seu lar.
Uma vez alcançou a zona de escuridão, desapareceu.
Fiquei olhando como uma boba, até que sacudi a cabeça e fui a minha própria casa, a me
deitar.
Passei uma quantidade indecente de tempo acordada na cama, me perguntando se os
mortos viventes
poderiam de verdade fazer... isso. Além disso, expor-me se seria possível manter uma
discussão franco com o
Bill respeito a esse tema. Às vezes parecia muito chapado à antiga, e outras tão normal
como qualquer outro
homem. Bom, nem tanto, mas bastante normal.
Parecia-me tão maravilhoso como patético que a única criatura que conhecia em muitos
anos com a que
queria fazer o amor, no fundo não fora humana. Minha telepatia limitava seriamente as
opções disponíveis.
Sim, sem dúvida poderia ter sexo só por prazer, mas tinha esperado para poder desfrutar de
verdade de uma
relação sexual.
E se o fazíamos, e depois de todos aqueles anos eu descobria que não tinha talento para
isso? Ou pode que
não sentisse prazer. Pode que todos esses livros e filmes exagerassem, e também Arlene,
quem nunca parecia
entender que sua vida sexual não era algo do que queria me inteirar.
Ao final fiquei dormida, e tive compridos e turvos sonhos. À manhã seguinte, enquanto
sorteava as
perguntas da avó sobre meu passeio com o Bill e nossos planos para o futuro, fiz algumas
chamadas.
Localizei a dois eletricistas, um encanador e outra gente de serviços que me deram números
de telefone para
poder localizá-los de noite, e me assegurei de que compreendessem que, se recebiam uma
chamada do Bill
Compton, não era uma brincadeira.
Terminada essa tarefa, estava tendida ao sol me torrando pouco a pouco quando a avó me
trouxe o
telefone.
-É seu chefe-disse. À avó gostava de Sam, e ele devia lhe haver dito algo agradável
porque estava
sonriendo de orelha a orelha.
-Olá, Sam-saudei, embora possivelmente não com um tom muito alegre, porque sabia que
teria ocorrido
algo no trabalho.
-Dawn não veio, carinho -resumiu.
-OH... demônios -respondi, sabendo que teria que ir eu-. Tenho planos, Isso Sam era
prioritário-. Quando
me necessita?
-Poderia vir embora fora de cinco a nove? Isso nos seria de muita ajuda.
-E conseguirei outro dia livre?
-Que tal se Dawn se reparte contigo um turno outra noite? -Fiz um som vulgar e a avó me
pôs má cara.
Seguro que depois me jogava um sermão.
-OH, está bem! -disse a contra gosto-. Verei as cinco.
-Obrigado, Sookie -respondeu-. Sabia que podia contar contigo.
Tratei de me alegrar por isso, embora parecia uma virtude bastante aborrecida. Sempre
pode contar com o
Sookie para dar uma mão e ajudar, porque não tem vida própria! Ao menos poderia ir a
casa do Bill depois
das nove. De todos os modos, ele ia estar levantado toda a noite.
O trabalho nunca me tinha parecido tão lento. Custava-me me concentrar o suficiente
para manter elevadas
as barreiras, porque estava pensando todo o momento no Bill. Foi uma sorte que não
houvesse muitos
clientes, ou tivesse ouvido uma enchente de pensamentos indeseados. Precisamente assim
me inteirei de que
Arlene tinha um atraso na regra e temia estar grávida, e antes de poder me conter lhe dava
um abraço. ficou
me olhando de maneira inquisitiva e então se ruborizou.
-Tem-me lido a mente, Sookie? -perguntou-me, com a ameaça escrita na voz. Arlene era
uma das poucas
pessoas que se limitavam a aceitar minha aptidão sem tratar de explicá-la ou de me
classificar como monstro
por possui-la, embora me tinha fixado em que tampouco falava freqüentemente disso, e
quando o fazia não
usava sua voz natural.
-Sinto muito, não queria-me desculpei-. É que hoje não posso me concentrar.
-Está bem, não passa nada. Mas a partir de agora manténte afastada de mim-disse Arlene
agitando um
dedo diante de minha cara, com seus chamejantes cachos caindo pelas bochechas.
Senti vontades de chorar.
-Sinto-o-repeti, e afastei a pernadas para o armazém para me recuperar. Tive que me
tampar a cara e
conter as lágrimas.
Ouvi que a porta se abria detrás de mim.
-Vale, Arlene, já te hei dito que o sinto! -espetei, porque queria que me deixassem a sós.
Às vezes Arlene
confundia a telepatia com um talento psíquico, e me dava medo que me perguntasse se de
verdade estava
grávida. Faria melhor em comprar uma prova de embaraço caseira.
-Sookie -era Sam. Pô-me uma mão no ombro para que me girasse para ele-. Ocorre algo
mau?
Sua voz era amável e me situou muito mais perto do pranto do que já estava.
-Deveria parecer zangado e assim não choraria! -disse-lhe. Ele riu, não com uma
gargalhada a não ser
com uma pequena risada. Rodeou-me com um braço.
-O que é o que te passa? -Não ia dar-se por vencido e partir.
-OH, eu... -e fiquei paralisada. Nunca, nunca tinha discutido de maneira explícita meu
problema (assim é
como eu o considerava) com o Sam ou outra pessoa. Todos no Bon Temps tinham ouvido
os rumores de por
que era tão estranha, mas ninguém parecia dar-se conta de que tinha que ouvir
continuamente seu martilleo
mental, tanto se queria como a não ser. Cada dia esse falatório constante e constante...
-escutaste algo que te preocupou? -seu tom de voz era sereno e prático. Tocou-me na
metade da frente,
para indicar que sabia com exatidão como podia "escutar" eu essas coisas.
-Sim.
-Não pode evitá-lo, verdade?
-Para nada.
-Odeia-o, não é assim, carinho?
-E tanto.
-Pois então não é sua culpa, não crie?
-Trato de não escutar, mas não sempre posso manter alta o guarda. -Notei que uma
lágrima que não tinha
sido capaz de conter começava a escorregar por minhas bochechas.
-É assim como o faz? Mantém alta o guarda, Sookie? Parecia de verdade interessado, não
como se
pensasse que minha cabeça era uma espécie de cesto de papéis. Olhei um pouco, embora
tampouco muito, nos
azuis olhos, saltados e brilhantes, do Sam.
-Eu sozinho... é difícil descrevê-lo se a outra pessoa não pode fazê-lo... Levanto uma
cerca... não, não uma
cerca, é como fechar umas placas de aço, entre meu cérebro e outros.
-E tem que manter as placas apertadas?
-Sim, e precisa muita concentração. É como ter que dividir minha mente todo o momento,
e por isso a
gente se acredita que estou louca. A metade de meu cérebro está tratando de sustentar as
placas de aço e a
outra metade pode estar apontando pedidos, assim às vezes não fica grande coisa com a que
manter uma
conversação coerente. -Que alívio senti, solo por poder falar disso.
-Ouve palavras ou só recebe impressões?
-Depende da quem esteja escutando. E de seu estado. Se estiverem bêbados, ou muito
transtornados, solo
são imagens, impressões, intenções. Se estiverem sóbrios e cordatos, são palavras e
algumas imagens.
-O vampiro diz que a ele não pode ouvi-lo.
A idéia de que Bill e Sam tivessem tido uma conversação sobre mim fez que me sentisse
muito estranha.
-É certo-reconheci.
-E isso te resulta relaxante?
-OH, sim -e o dizia com todo o coração.
-Pode me ouvir mim, Sookie?
-Não quero tentá-lo! -disse com presteza. Fui até a porta do armazém e permaneci com a
mão no pomo.
Tirei um lenço do bolso dos pantaloncitos e me sequei o rastro da lágrima da bochecha-.
Teria que ir se te
lesse a mente, Sam! Eu gosto, e eu gosto de estar aqui.
-Você sozinho tenta-o de vez em quando, Sookie-disse de modo natural, girando-se para
abrir uma caixa
de uísque com o cortador tão afiado que levava no bolso-. Não se preocupe por mim, terá
um trabalho
enquanto queira um.
Limpei uma mesa em que Jason tinha atirado um pouco de sal. Tinha estado ali um
momento antes,
comendo um hambúrguer e umas batatas fritas e tomando um par de cervejas. Em minha
cabeça estava lhe
dando voltas à oferta do Sam.
Não trataria de escutá-lo esse dia; estava preparado para isso. Esperaria até que estivesse
ocupado fazendo
outra coisa. Limitaria-me a penetrar um pouco e escutar um momento. Tinha-me convidado
a isso, o que
resultava algo por completo excepcional.
Era agradável que lhe convidassem.
Arrumei-me a maquiagem e me recolhi o cabelo. Tinha-o levado solto até então, já que ao
Bill parecia lhe
gostar de assim, mas tinha suposto uma autêntica moléstia durante toda a noite. Já quase era
hora de sair,
assim agarrei minha bolsa da bilheteria, no despacho do Sam.
A casa Compton, como a da avó, ficava separada da estrada, embora resultava um pouco
mais visível
desde esta que a nossa. E a diferença da da avó, desde ela se via o cemitério. Isso se devia,
ao menos em
parte, a que a casa Compton estava situada em um ponto mais elevado: estava ereta em
cima de um montículo
e todo o edifício tinha dois novelo. a da avó tinha um par de dormitórios vazios acima e um
apartamento de
cobertura, mas a podia considerar mas bem de piso e médio.
Em certo momento da história familiar, os Compton possuíram uma casa muito bonita.
Inclusive sob a
escuridão da noite transmitia certa delicadeza. Mas eu sabia que à luz do sol um podia ver
que as colunas se
estavam descascando, que os painéis de madeira estavam torcidos e que o jardim não era
mais que uma selva.
Com o clima úmido e quente da Luisiana, os jardins podiam crescer fora de controle com
bastante rapidez, e o
velho Sr. Compton não era dos que pagavam a outra pessoa para que lhe arrumasse o
jardim. Quando ficou
muito fraco, já ninguém se ocupou disso.
O caminho circular de entrada não tinha recebido cascalho novo em muitos anos, e meu
carro foi dando
tombos até chegar à porta principal. Vi que toda a casa estava iluminada, e comecei a me
dar conta de que
essa noite não transcorreria como a anterior. Havia outro carro estacionado diante da casa,
um Lincoln
Continental, branco com a capota de cor azul escura. Um adesivo com texto azul sobre
fundo branco dizia Os
VAMPIROS ME CHUPAM isso, e em outra vermelha e amarela punha Touca A BUZINA
se FOR
DOADOR DE SANGUE! A matrícula personalizada era simplesmente PRESAS 1.
Se Bill já tinha companhia, possivelmente o melhor fosse ir a casa. Mas me havia
convidado e me
esperava. Ainda duvidando, levantei o punho e bati na porta.
Abriu-me uma vampira.
Estava radiante, em um sentido quase literal. Era negra e media ao menos um e oitenta, e
vestia de licra.
Um prendedor de esporte de cor rosa flamenco e umas malhas até as pantorrilhas do mesmo
tom, junto a uma
camisa branca de traje de cavalheiro posta depressa e sem abotoar, constituíam toda sua
roupa.
Pensei que parecia vulgar como uma furcia, e com toda probabilidade muito apetitosa de
um ponto de
vista masculino.
-Olá, pequena humana -ronronou a vampira.
E de repente me dava conta de que estava em perigo. Bill já me tinha advertido repetidas
vezes de que não
todos os vampiros eram como ele, e de que inclusive ele tinha momentos nos que não era
tão amável. Não me
era possível ler a mente daquela criatura, mas sim pude ouvir a crueldade de sua voz. Pode
que tivesse
atacado ao Bill, ou talvez fosse seu amante.
Tudo isto me passou pela cabeça em um instante, mas não permiti que meu rosto o
revelasse. Tinha a
minhas costas anos de experiência em controlar minha expressão. Notei que meu sorriso
protetor voltava para
seu sítio, endireitei a coluna e pinjente com despreocupação:
-Olá! Tinha que me passar por aqui esta noite e lhe dar ao Bill uma informação. Está
disponível?
A vampira riu de mim, o qual não era algo ao que eu estivesse acostumada. Meu sorriso
se fez um grau
mais ampla. Aquele inseto irradiava perigo do mesmo modo que uma lâmpada irradia calor.
-Esta pequena humana que temos aqui diz que tem uma informação para ti, Bill! -gritou
por cima de seu
(esbelto, moreno e precioso) ombro. Tratei de não mostrar em modo algum meu alívio-.
Quer ver esta cosita,
ou simplesmente devo lhe dar uma dentada amorosa?
por cima de meu cadáver, pensei furiosa, e então me dava conta de que assim poderia ser.
Não ouvi a voz do Bill, mas a vampira se fez a um lado e eu entrei na velha casa. Correr
não me serviria
de nada, essa vampira sem dúvida me derrubaria antes de poder dar cinco passos. E ainda
não tinha visto o
Bill, e não poderia estar segura de que se encontrasse bem até que o visse. Joguei valor ao
assunto e esperei o
melhor. Isso me dá bastante bem.
A grande sala dianteira estava cheia de pessoas e móveis antigos de cor escura. Não, não
de pessoas,
observei detrás me fixar um pouco mais: duas pessoas e outros dois estranhos vampiros.
Os dois eram homens de raça branca. A gente ia rapado e tinha tatuagens em cada
centímetro visível de
sua pele. O outro era inclusive mais alto que a vampira: media talvez um e noventa e cinco.
Levava uma larga
juba de cabelo escuro ondulado e era muito fornido.
Os humanos resultavam menos espetaculares. A mulher era loira e rechoncha, de trinta e
cinco anos ou
mais, e se tinha passado como um quilograma com a maquiagem. Parecia tão gasta como
umas botas velhas.
O homem era bem distinto. Era adorável, o menino mais bonito que jamais vi; não podia ter
mais de vinte e
um. Era moreno, possivelmente hispano, baixo e de estrutura delicada. Levava postos uns
texanos e nada
mais. Salvo a maquiagem, claro. Surpreendeu-me, mas não o encontrei atrativo.
Nesse momento Bill se moveu e pude vê-lo. Estava entre as sombras do escuro corredor
que conduzia do
salão à parte posterior da casa. Olhei-o, tratando de manter o porte nessa situação tão
inesperada. Para minha
consternação, seu aspecto não resultava nada tranqüilizador. Tinha a cara muito séria, por
completo
impenetrável. Embora não pude nem acreditar que eu pudesse pensar algo assim, nesse
momento tivesse sido
estupendo poder jogar uma olhada a sua mente.
-Bom, agora poderemos ter uma estupenda velada - disse o vampiro de cabelo comprido.
Parecia
encantado-. Se trata de tua amiguita, Bill? É tão refrescante...
Pensei em usar uma das palavras deliciosas que tinha aprendido do Jason.
-Se nos desculparem para mim e ao Bill durante um minuto... -disse com muita educação,
como se se
tratasse de uma noite perfeitamente normal-. estive falando com os operários para a casatratei
de que soasse
como se falasse de negócios, de modo impessoal, embora levar pantaloncitos, camiseta e
umas Nike não
inspira muito respeito profissional. Mas mesmo assim confiei em transmitir a idéia de que a
gente com a que
me encontro durante minhas tarefas não pode supor nenhuma ameaça nem perigo.
-E isso que tínhamos ouvido que Bill se mantém com uma dieta exclusiva de sangue
sintético -
acrescentou o vampiro tatuado-. Devemos ouvir mau, Diane.
A vampira inclinou a cabeça e me dirigiu um prolongada olhar.
-Não estou tão segura. me parece virgem.
Não me pareceu que Diane falasse de hímenes.
Dava uns quantos passos para o Bill, de modo natural, mas com a louca esperança de que
ele me
defendesse se as coisas foram a pior. Não me sentia muito segura disso. Eu ainda sorria,
confiando em que ele
falasse, que fizesse algo. E o fez.
-Sookie é minha -disse, e sua voz foi tão serena e suave que, de ter sido uma pedra, não
teria provocado
ondas ao cair na água.
Olhei-o com brutalidade, mas tive a inteligência necessária para manter a boca fechada.
-Que tal estiveste cuidando de nosso Bill? -perguntou Diane.
-Isso não é de sua puta incumbência-respondi, usando uma das palavras do Jason de uma
vez que sorria.
Já hei dito que tenho mau caráter.
Houve uma breve pausa. Todos, humanos e vampiros, pareceram me examinar com tanto
parada para
poder me contar os cabelos dos braços. Então o vampiro alto começou a gargalhar-se e
outros seguiram seu
exemplo. Enquanto se distraíam com as risadas, aproximei-me um pouco mais ao Bill.
Tinha seus escuros
olhos fixos em mim (ele não ria) e obtive a clara impressão de que ele, igual a eu, desejava
que pudesse lhe
ler a mente.
Estava em perigo, isso ficava claro. E se ele o estava, eu também.
-Tem um sorriso gracioso -disse pensativo o vampiro alto. Eu gostava mais quando ria.
-OH, Malcolm-disse Diane-, todas as mulheres humanas lhe parecem graciosas.
Malcolm atraiu para si ao menino humano e lhe deu um comprido beijo. Comecei a me
sentir um pouco
mal. Esse tipo de coisas são íntimas.
-É certo -reconheceu Malcolm, apartando um instante depois para óbvio desgosto do
jovem-. Mas há
algo estranho nesta. Pode que tenha o sangue saboroso.
-Ora -disse a mulher loira, com uma voz que podia arrancar a pintura da parede-, é
sozinho essa louca do
Sookie Stackhouse.
Olhei-a com mais atenção e, depois de eliminar mentalmente de sua cara uns quantos
anos de vida na
estrada e a metade da maquiagem, consegui reconhecê-la. Era Janella Lennox, que tinha
trabalhado no
Merlotte's durante duas semanas até que Sam a despediu. Arlene me contou que se mudou
ao Monroe.
O vampiro das tatuagens rodeou com seu braço a Janella e lhe sovou as tetas. Pude sentir
que minha cara
empalidecia; estava muito enojada. E a coisa foi a pior: Janella, com a decência tão perdida
como o vampiro,
pô-lhe a mão no pacote e começou a esfregá-lo.
Ao menos ficou claro que os vampiros sim que podem ter relações sexuais. Mas naquele
momento não me
senti muito excitada por descobri-lo.
Malcolm me olhava, e lhe mostrei meu asco.
-É inocente -disse ao Bill, com um sorriso cheia de expectativas.
-É minha -repetiu Bill. Nesta ocasião, sua voz foi mais intensa. De ter sido uma serpente
de cascavel, sua
advertência não poderia estar mais clara.
-Bom, Bill, não me diga que essa cosita te esteve dando tudo o que precisa-interveio
Diane-. Tem aspecto
pálido e murcho. Não te esteve cuidando muito bem.
Aproximei-me um centímetro mais ao Bill.
-Venha -lhe ofereceu Diane, a que eu estava começando a odiar-, toma um sorvo da
garota do Liam ou
do precioso muchachito do Malcolm, Jerry.
Janella não reagiu enquanto a ofereciam por aí (talvez porque estava muito ocupada
baixando a
cremalheira dos jeans do Malcolm), mas o formoso noivo do Malcolm, Jerry, deslizou-se
bem disposto para o
Bill. Sorri como se se me fora a partir a mandíbula ao tempo que ele rodeava ao Bill com
seus braços,
acariciava-lhe o pescoço com o nariz e esfregava o peito contra sua camisa.
A tensão do rosto de meu vampiro resultava terrível de contemplar. Surgiram suas presas,
que por primeira
vez vi completamente desdobrados. Era certo, o sangue sintético não satisfazia todas as
necessidades do Bill.
Jerry começou a lamber uma zona da base do pescoço do Bill. Manter elevadas os
amparos mentais me
estava resultando muito duro. Três dos pressente eram vampiros, cujos pensamentos não
poderia ouvir de
todos os modos, e Janella estava muito ocupada, assim que isso solo deixava ao Jerry.
Escutei e senti arcadas.
Bill, suando pela tentação, estava já inclinando suas presas para o pescoço do Jerry,
quando eu gritei:
-Não, tem o a não ser-vírus!
Como se se liberasse de um enfeitiço, Bill me olhou por cima do ombro do Jerry.
Respirava com pesadez,
mas suas presas se retiraram. Aproveitei a ocasião para dar uns passos mais para ele. Já
estava a menos de um
metro de distância.
-A não ser-sida-pinjente.
As vítimas ébrias ou muito drogadas podiam influir de maneira temporária no vampiro
que chupasse delas,
e se dizia que algum inclusive desfrutava de da viagem. Mas não lhes afetava o sangue de
um humano com o
sida, por muito desenvolvido que estivesse, nem as enfermidades de transmissão sexual ou
qualquer outra
praga que assolasse à humanidade.
Exceto o a não ser-sida. No fundo, o a não ser-sida não matava a um vampiro com a
mesma segurança
que matava o sida aos humanos, mas os deixava muito fracos durante quase um mês,
durante o qual resultava
relativamente fácil apanhá-los e lhes aplicar a estaca. E em alguma ocasião, se o vampiro se
alimentava mais
de uma vez de um humano infectado, acabava por morrer de verdade (ou era ré-morrer?)
sem necessidade da
estaca. Embora ainda era pouco habitual nos Estados Unidos, o a não ser-sida estava
fazendo-se forte em
cidades portuárias como Nova Orleáns, pelas que estavam de passagem marinhos e outros
viajantes de muitos
países com vontades de divertir-se.
Todos os vampiros ficaram gelados, olhando ao Jerry como se fora a morte disfarçada. E
para eles, em
certo sentido, podia sê-lo.
O formoso jovem me pilhou totalmente por surpresa. girou-se e me saltou em cima. Não
era um vampiro
mas era forte, e estava claro que solo se encontrava nas primeiras fases da enfermidade.
Empurrou-me contra
a parede. Rodeou minha garganta com uma mão e elevou a outra para me pegar na cara. Eu
ainda estava
levantando as mãos para me defender quando alguém reteve o punho do Jerry e parou seu
movimento.
-lhe solte a garganta-disse Bill, com uma voz tão aterradora que me assustou até a mim. A
essas alturas,
os distintos medos me acumulavam tão seguidos que não acreditava que pudesse voltar a
me sentir segura.
Mas os dedos do Jerry não afrouxaram sua presa, e emiti sem querer um pequeno ruído lhe
choraminguem.
Olhei de lado, e ao ver a cara cinza do Jerry compreendi que Bill sustentava suas mãos,
Malcolm o agarrava
pelas pernas, e ele estava tão assustado que não podia compreender o que lhe pediam.
A sala começou a me parecer muito confusa. A mente do Jerry golpeava contra a minha,
era incapaz de
lhe manter a raia. Seu cérebro estava bloqueado com visões do amante que lhe tinha
passado o vírus, um
amante que o tinha deixado por um vampiro e ao que o próprio Jerry tinha assassinado em
um ataque de
ciúmes homicidas. Jerry via que a morte lhe aproximava na forma dos mesmos vampiros
aos que tinha
querido matar, e sua vingança não se sentia o bastante satisfeita com os vampiros aos que já
tinha infectado.
Pude ver o rosto do Diane por cima do ombro do Jerry, e estava sonriendo.
Bill rompeu a boneca ao Jerry. Este gritou e caiu ao chão. O sangue voltou a me chegar à
cabeça e quase
me deprimi. Malcolm recolheu ao Jerry e o carregou até o sofá com total naturalidade,
como se fora um tapete
enrolado. Mas sua expressão não tinha nada de natural; soube que Jerry teria sorte se morria
com rapidez. Bill
se colocou diante de mim, ocupando o lugar do Jerry. Seus dedos, os mesmos dedos que
acabavam de romper
a boneca do Jerry, massagearam meu pescoço com tanta suavidade como teria feito minha
avó. Passou-me
uma gema pelos lábios para que compreendesse que devia permanecer em silêncio.
Então, me rodeando com o braço, girou-se para enfrentar-se a outros vampiros.
-Isto foi muito entretido-disse Liam. Sua voz era tão tranqüila como se Janella não lhe
estivesse dando
uma massagem muito íntima sobre o sofá. Não se tinha incomodado em mover nem um
dedo durante todo o
incidente, e agora lhe viam tatuagens que não tivesse podido imaginar nunca na vida.
Faziam que me
revolvesse o estômago-, mas acredito que deveríamos agarrar o carro e voltar para o
Monroe. Teremos que
ter um pequeno bate-papo com o Jerry quando despertar, não te parece, Malcolm?
Malcolm carregou o corpo do Jerry, inconsciente, sobre o ombro, e assentiu em resposta
ao Liam. Diane
parecia defraudada.
-Mas meninos -protestou-, não temos descoberto ainda como sabia esta muchachita.
Os dois vampiros masculinos dirigiram simultaneamente seu olhar para mim. Liam
aproveitou justo esse
instante para chegar ao orgasmo. Sim, os vampiros podiam fazê-lo, estava claro. Depois de
um breve suspiro
de consumação, disse:
-Obrigado, Janella. Essa é uma boa pergunta, Malcolm. como sempre, nossa Diane foi
direta ao jugular. -
E os três vampiros visitantes riram como se aquela fora uma grande piada, embora eu
pensei que dava medo.
-Não pode falar ainda, verdade, doçura? -Bill me apertou o ombro enquanto o dizia, como
se eu não
tivesse captado já a indireta.
Sacudi a cabeça.
-É provável que eu possa fazê-la falar -se ofereceu Diane.
-Diane, esquece-o- disse Bill com amabilidade.
-Ah, sim. É tua -disse a vampira, embora não soava amedrontada nem convencida.
-Teremos que prosseguir a visita em algum outro momento -disse Bill, e seu tom deixava
claro que outros
teriam que ir-se ou lutar contra ele.
Liam se levantou, grampeou-se as calças e lhe fez um gesto a sua fêmea humana.
-Vamos, Janella, estão-nos desalojando- as tatuagens de seus potentes braços ondularam
ao estirar-se.
Janella passou as mãos por suas costelas como se não tivesse bastante dele, que a apartou
com tanta facilidade
como se fora uma mosca. Ela pareceu irritada, mas não tão molesta como tivesse estado eu.
Estava claro que
esse tipo de tratamento não era algo novo.
Malcolm recolheu ao Jerry e o tirou através da porta principal sem murmurar palavra. Se
beber do Jerry
lhe tinha irradiado o vírus, certamente ainda não estava indefeso. Diane foi a última,
tornando uma bolsa ao
ombro e lançando um olhar de olhos brilhantes para trás.
-Então lhes deixarei sozinhos, tortolitos. foi divertido, carinho-disse com suavidade, e
fechou a porta
detrás de si com uma portada.
Em quando ouvi que o carro arrancava fora, deprimi-me.
Não me tinha acontecido na vida, e confiei em que não voltasse a me ocorrer, mas me
parecia que estava
justificado. Dava a impressão de que me passava um montão de tempo inconsciente perto
do Bill. Era uma
idéia crucial, e sabia que se merecia uma reflexão séria, mas não nesse momento. Quando
recuperei a
consciencia, tudo o que tinha visto e ouvido me voltou para a mente e senti verdadeiras
arcadas.
Imediatamente Bill me colocou sobre o bordo do sofá, mas consegui manter a comida em
meu estômago,
talvez porque havia muito pouco que manter.
-Os vampiros atuam assim? -sussurrei. Tinha a garganta dolorida e machucada na zona
onde tinha
apertado jerry-. São horríveis.
-Tratei de te localizar no bar quando descobri que não estava em casa -disse Bill, com voz
oca-, mas já
tinha saído.
Embora era evidente que não serviria de nada, comecei a chorar. Estava segura de que
para então Jerry já
estava morto, e sabia que deveria ter feito algo a respeito, mas não podia me calar quando
estava a ponto de
infectar ao Bill. Havia tantas coisas naquela curta cena que me tinham entristecido
intensamente, que não
sabia por onde começar a me deprimir. Em possivelmente menos de quinze minutos tinha
temido por minha
vida, pela vida (bom, pela existência) do Bill, tinha tido que contemplar atos sexuais que
deveriam ser
estritamente privados, tinha visto meu possível amorcito cair nas garras do desejo de
sangue (pôr a ênfase em
"desejo"), e quase tinha sido asfixiada por um chapero sidoso.
Depois de pensá-lo duas vezes, concedi-me permissão total para chorar. Sentei-me,
solucei e me enxagüei
a cara com um lenço que me entregou Bill. Senti curiosidade por me inteirar de que
necessitava um lenço um
vampiro, o que provavelmente constituísse um pequeno brilho de serenidade, alagado pela
maré de lágrimas e
nervos.
Bill teve o sentido comum necessário para não me abraçar. sentou-se no chão e mostrou a
delicadeza de
manter apartada o olhar enquanto eu me secava a cara.
-Quando os vampiros vivem em ninhos-começou a explicar de maneira repentinarevistam
voltar-se mais
cruéis porque se impulsionam os uns aos outros: Sempre estão tratando com outros
vampiros como eles, e
assim se convencem do longe que se encontram da humanidade. Ditam suas próprias leis.
Os vampiros como
eu, que vivem sozinhos, recordam um pouco melhor sua antiga humanidade.
Escutei sua doce voz, que discorria junto a suas reflexões enquanto tentava me explicar o
inexplicável.
-Sookie-prosseguiu-, nossa vida consiste em seduzir e tomar, e para alguns foi assim
durante séculos. O
sangue sintético e a reacia aceitação dos humanos não vai trocar isso da noite para o dia, ou
de uma década a
seguinte. Diane, Liam e Malcolm levam juntos cinqüenta anos.
-Que doce -pinjente, com um tom impregnado de algo que nunca tinha ouvido antes em
mim mesma:
rancor-, são seus bodas de ouro.
-Poderá esquecer o acontecido?-pediu-me Bill. Seus grandes olhos escuros se
aproximavam mais e mais.
Sua boca só estava a cinco centímetros da minha.
-Não sei -as palavras me saíram de maneira espontânea-. Sabia que não tinha claro se
poderia fazê-lo?
Suas sobrancelhas se arquearam de maneira inquisitiva.
-Fazê-lo...?
-Ter... -e me detive, tratando de pensar em um modo agradável de expô-lo. Tinha
presenciado mais
crueldade essa noite que em toda minha vida, e não queria acrescentar ainda mais-. Uma
ereção-concluí,
evitando seu olhar.
-Pois agora já sabe-sua voz sugeria que tratava de não rir-. Podemos ter relações sexuais,
mas não ter
filhos ou deixar grávida a uma mulher. Não te faz sentir isso melhor, que Diane não possa
ter um filho?
Tirou-me de minhas casinhas. Abri os olhos e o olhei muito fixamente.
-Não te ria de mim.
-OH, Sookie -disse, e levantou a mão para me acariciar a bochecha.
Separei-me de seu contato e consegui me pôr em pé. Ele não me ajudou a consegui-lo, o
que foi positivo,
embora ficou no estou acostumado a me observando com um rosto imóvel que não soube
interpretar. Suas
presas se retiraram, mas eu sabia que ainda sentia fome. Dane-se ele.
Minha bolsa estava no chão, junto à porta dianteira. As pernas não me respondiam muito
bem, mas ao
menos avançava. Tirei a lista de eletricistas de um bolso e a pus sobre a mesa.
-Tenho que ir.
De repente estava diante de mim. Havia tornado a fazer uma dessas coisas de vampiros.
-Posso te dar um beijo de despedida? -pediu-me, com as mãos nos flancos, deixando
muito claro que não
me tocaria até que eu lhe desse luz verde.
-Não -disse com veemência-, não poderia suportá-lo depois de vê-los.
-irei verte.
-Sim. Talvez.
Me adiantou para me abrir a porta, mas eu acreditei que ia a por mim e me estremeci.
Girei-me com
brutalidade e corri para o carro, com as lágrimas quase cegando de novo minha vista.
Alegrei-me de que o
caminho a casa fora tão curto.
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