segunda-feira, 18 de julho de 2011

Charlaine Harris - Morto até o Anoitecer Cap.02

Para meu alívio, a avó já estava dormida quando cheguei a casa, e consegui me colocar

na cama sem despertá-la. Não foi sentir saudades que à manhã seguinte levantasse muito

tarde.

Quando soou o telefone, eu estava tomando uma taça de café na mesa da cozinha e a avó

limpava a despensa. Apoiou o traseiro no tamborete que havia ao lado da encimera, seu

cabide habitual para o falatório, antes de desprender.

-Quem é? -disse. Por algum motivo sempre soava zangada, como se uma chamada de

telefone fora quão último desejava nesse momento. Mas eu sabia que nunca era assim-.

Olá, Everlee. Não, estava aqui sentada conversando com o Sookie, que se acaba de

levantar. Não, ainda não ouvi nenhuma notícia hoje. Não, ninguém me chamou. O que, o

que tornado? Ontem à noite estava espaçoso. No Four Tracks Comer? Sério? Não! Não me

posso acreditar isso! Sério, os dois? Estragará. E o que diz Mike Spencer?

Mike Spencer era o juiz de instrução da paróquia. Comecei a ter um mau

pressentimento. Terminei o café e me servi outra taça; dava-me a impressão de que ia

necessitá-la.

A avó pendurou um minuto depois.

-Sookie, não te vais acreditar o que passou!

Seguro que me acreditava isso.

-O que?-perguntei, tratando de aparentar inocência. -Porque, embora ontem à noite

parecesse que fazia bom tempo, um tornado deve ter açoitado Four Tracks Comer!

Derrubou a caravana de aluguel que há naquele claro, e o casal que estava dentro... os dois

morreram, apanhados de algum modo debaixo da caravana e feitos mingau. Mike diz que

nunca tinha visto um pouco parecido.

-vai enviar os corpos para que lhes façam a autópsia?

-Bom, suponho que terá que fazê-lo, embora a causa da morte parece bastante clara,

segundo Stella. A caravana está derrubada, o carro médio subido em cima, e as árvores ao

redor do claro amassados.

-Céu santo -murmurei, pensando na força necessária para dispor um cenário assim.

-Carinho, não me há dito se seu amigo o vampiro voltou ontem.

Peguei um coice de culpabilidade, mas me dava conta de que a avó tinha trocado de

tema. Tinha-me estado perguntando cada dia se tinha visto o Bill, e agora ao fim pude lhe

dizer que sim, embora não com alegria.

Como era de prever, a avó se entusiasmou como uma menina. Revoou pela cozinha

como se o convidado que esperava fora o príncipe Carlos.

-Amanhã de noite! E a que hora virá?-perguntou.

-Depois do anoitecer. É o antes que pode.

-Já estamos com o horário do verão, assim que isso será bastante tarde-refletiu a avó-.

Bem, teremos tempo de tomar o jantar e limpá-lo tudo antes de que chegue. E nos dispor de

todo o dia de amanhã para limpar a casa. Dá a impressão de que não limpei esse tapete há

um ano!

-Avó, estamos falando de um tipo que dorme todo o dia clandestinamente-lhe fiz

recordar-. Não acredito que vá se fixar no tapete.

-Bom, pois se não ser por ele, farei-o por mim, para poder me sentir orgulhosa-disse a

avó categórica-. Além disso, jovencita, como sabe você onde dorme?

-Boa pergunta, avó. Não sei. Mas tem que manter-se afastado da luz e estar a salvo,

assim que me suponho isso.

Logo compreendi que nada podia evitar que minha avó entrasse em um frenesi de

orgulho caseiro. Enquanto eu me arrumava para ir ao trabalho, ela foi à loja, alugou um

aspirador de tapetes e ficou a limpá-lo tudo.

De caminho ao Merlotte's, me desviei um pouco ao norte e passei por diante do Four

Tracks Comer. Era um cruzamento de caminhos tão antigo como a presença humana na

área, formalizado agora por asfalto e sinais de tráfico, mas de acordo com o folclore local

foi a intercessão de duas pistas de caça. Suponho que antes ou depois terá casas de estilo

rancheiro e ruas comerciais a cada lado, mas no momento era todo bosque e, segundo

Jason, a caça seguia sendo abundante.

Como não havia nada que me impedisse isso, conduzi pelo caminho consertado que

levava até o claro onde se situava a caravana alugada dos Rattray. Parei o carro e olhei

através do pára-brisa, aterrada. A caravana, que era muito pequena e velha, jazia esmagada

a três metros de sua posição original, enrugada como um acordeão. O amolgado carro dos

Rattray ainda se apoiava sobre um dos extremos da roulotte. Por todo o claro se

pulverizavam matagais e escombros, e as árvores de detrás da caravana mostravam signos

de uma grande violência: tinham os ramos partidos e a taça de um pinheiro pendurava

sozinho de um fio de casca. Havia roupa enganchada nos ramos, e inclusive uma bandeja

para o forno.

Saí pouco a pouco do carro e olhei a meu redor. Os danos eram simplesmente incríveis,

em especial para mim, que sabia que não os tinha provocado um tornado. Bill o vampiro

tinha montado essa cena para ocultar a morte dos Rattray.

Um velho todoterreno se aproximou saltando sobre os buracos até deter-se junto a mim.

-Vá, Sookie Stackhouse! -exclamou Mike Spencer-. O que faz aqui, moça? Não tem

que ir ao trabalho?

-Sim, senhor. Conhecia os Ratos... aos Rattray. É algo terrível -pensei que isso resultava

o bastante ambíguo. Nesse momento vi que junto ao Mike estava o xerife.

-Uma coisa terrível. Sim, bom, ouvi -disse o xerife Bud Dearborn enquanto saltava do

todoterreno- que Mack, Denise e você lhes chamaram de tudo menos bonitos no

estacionamento do Merlotte's, a semana passada.

Senti um calafrio perto de onde deve estar o fígado, quando os dois homens se

colocaram diante de mim. Mike Spencer era também diretor de uma das duas funerárias do

Bon Temps. Como ele sempre assinalava de maneira seca e cortante, tudo o que queria

podia ser enterrado pela Assinatura Funerária Spencer e Filhos, embora parecia que solo os

brancos queriam. De maneira similar, solo os negros decidiam que os enterrasse o Doce

Descanso. Mike era um homem grosso de média idade, com o cabelo e o bigode da cor do

chá claro, e era aficionado às botas de vaqueiro e às gravatas de laço, que lógicamente não

podia ficar quando estava de serviço no Spencer e Filhos. Agora sim as levava.

O xerife Dearborn, que tinha fama de ser bom homem, era um pouco maior que Mike,

mas estava em boa forma e era duro desde seu firme chapéu cinza até a ponta de seus

sapatos. O xerife tinha um rosto esmagado e vivazes olhos castanhos. Meu pai e ele tinham

sido bons amigos.

-Sim, senhor, tivemos uma briga -disse com sinceridade, jogando mão de meu melhor

acento sulino.

-me quer contar isso o xerife tirou um Marlboro e o acendeu com um singelo acendedor

de metal.

E cometi um engano. Deveria haver o contado. A gente pensava que estava louca, e

alguns até que era atrasada. Mas por minha vida que não pude encontrar nenhuma razão

para explicar-lhe ao Bud Dearborn. Nenhuma, exceto o sentido comum.

-por que? -perguntei.

Seus pequenos olhos castanhos ficaram imediatamente alerta, e se desvaneceu o ar

amigável.

-Sookie-disse, com tom de sentir-se muito defraudado. Não me acreditei isso nem por

um instante.

-Eu não tenho feito isto-pinjente, varrendo a destruição com um gesto da mão.

-Não, não o tem feito -admitiu- Mas de todas maneiras, se alguém morrer uma semana

depois de ter uma briga com outra pessoa, acredito que devo fazer algumas pergunta.

Me replanteé a idéia de lhe plantar cara. Era divertido, mas não pensei que merecesse a

pena. Resultava evidente que minha reputação de babeira poderia me ser útil. Pode que não

tenha muitos estudos nem tenha visto mundo, mas não sou estúpida nem inculta.

-Bom, estavam fazendo mal a meu amigo -confessei, deixando cair a cabeça e me

olhando os pés.

-Esse amigo é o vampiro que vive na velha casa Compton? -Mike Spencer e Bud

Dearborn intercambiaram olhadas.

-Sim, senhor. -Surpreendeu-me me inteirar de onde vivia Bill, mas eles não se deram

conta. Graças a tantos anos tendo que me conter para não reagir às coisas que ouço mas não

quero saber, adquiri um bom controle facial. A velha casa Compton estava justo ao outro

extremo dos campos desde nossa casa, ao mesmo lado da estrada. Entre o lar do Bill e o

meu solo se elevavam a arvoredo e o cemitério. O que apropriado para o Bill, pensei com

um sorriso.

-Sookie Stackhouse, sua avó te deixa te relacionar com esse vampiro?-disse Spencer,

demonstrando pouca prudência.

-Pode perguntar-lhe lhe sugeri maliciosa, com muitas vontades de ver o que lhe

responderia a avó a quem sugerisse que não me estava cuidando bem-. Já sabe, os Rattray

estavam tratando de sangrar ao Bill.

-Assim que o vampiro estava sendo drenado pelos Rattray? E você os deteve? -

interrompeu-me o xerife.

-Sim-disse, tratando de parecer resolvida.

-Drenar a um vampiro é ilegal-murmurou.

-Não é assassinato matar a um vampiro que não te atacou? -perguntei.

Pode que estivesse abusando de minha ingenuidade.

-Sabe muito bem que assim é, embora não estou de acordo com essa lei. Mas segue

sendo a lei e a aplicarei -disse o xerife enrijecendo-se.

-E o vampiro os deixou ir-se, sem ameaçá-los vingando-se? Não disse nada como que

gostaria de vê-los mortos? -Mike Spencer se fazia o estúpido.

-Isso é -sorri aos dois e então olhei meu relógio. Recordei o sangue na esfera, meu

próprio sangue, derramada pela surra dos Rattray. Tive que apartar esse sangue de minha

mente para poder ver a hora.

-me desculpem, mas devo ir trabalhar -pinjente-. Adeus, Sr. Spencer, xerife.

-Adeus Sookie -respondeu o xerife Dearborn. Olhou-me como se tivesse mais costure

que me perguntar, mas não sabia como as expor. Estava claro que não ficava de tudo

satisfeito com a cena do crime, e eu não acreditava possível que nenhum radar tivesse

detectado esse suposto tornado. Entretanto, estavam a caravana, o carro, as árvores e os

Rattray mortos debaixo. O que se podia decidir, salvo que um tornado os tinha matado?

Imaginei que teriam enviado os corpos para que lhes fizessem a autópsia, e me perguntei o

que poderia desvelar esta a tenor das circunstâncias.

O cérebro humano é uma coisa surpreendente. O xerife Dearborn tinha que saber que os

vampiros são muito fortes, mas não podia imaginar-se quanto: o suficiente para derrubar

uma caravana e esmagá-la. Inclusive me custava assumi-lo, e isso que eu sabia com

segurança que nenhum tornado tinha golpeado Four Comers.

O bar bulia com os cochichos sobre as mortes. O assassinato do Maudette tinha ficado

em segundo plano ante o falecimento do Denise e Mack. Descobri ao Sam me olhando

fixamente uma ou duas vezes, o que me fez pensar na noite anterior e me expor quanto

saberia ele do ocorrido. Mas me dava medo lhe perguntar, se por acaso não tinha visto

nada. Tampouco eu podia me explicar algumas das coisas acontecidas essa noite, mas

estava tão contente por estar viva que não queria pensar nisso.

Nunca sorri tanto ao servir as bebidas como aquela noite, nem trouxe nunca a mudança

com tal rapidez, nem tomado os encargos com tanta exatidão. Nem sequer Rene, com seu

cabelo alvoroçado, obteve que perdesse o tempo, apesar de que assim que me aproximava

da mesa que compartilhava com o Hoyt e outro par de colegas insistia em me arrastar a

suas intermináveis conversações.

Rene se fazia de vez em quando o cajún louco, embora todo acento cajún que pudesse

pôr era falso, seus velhos tinham deixado que se perdesse qualquer herança. Todas as

mulheres com as que

se casou eram duras e selvagens. Seu breve matrimônio com o Arlene foi quando ela era

jovem e não tinha

filhos, e esta me tinha contado que de vez em quando tinham feito costure que, ao as pensar

agora, punhamlhe

os cabelos de ponta. Ela tinha maturado após, mas Rene não. E para minha surpresa,

Arlene lhe tinha

muito carinho.

Todo mundo no bar aquela noite estava excitado pelos incomuns sucessos do Bon Temps.

Uma mulher

tinha sido assassinada, e isso era um mistério; normalmente, os assassinatos do Bon Temps

resolvem com

facilidade. E um casal tinha morrido de modo violento em um capricho da natureza. Em

minha opinião, o que

aconteceu a seguir se deveu a essa excitação. Aquele era um bar para gente local, com

alguns forasteiros que

se passavam por ele de maneira habitual, e eu nunca tinha tido sérios problemas com

cuidados não desejadas.

Mas essa noite, um homem que se sentava em uma mesa perto do Rene e Hoyt, um loiro

corpulento com a

cara larga e vermelha, colocou uma mão pela perna da calça de meus pantaloncitos quando

lhe levei as

cervejas.

Isso não estava bem visto no Merlotte'S.

Pensei em lhe estampar a bandeja na cabeça, mas senti que retiravam a mão e notei que

havia alguém de

pé detrás de mim. Girei-me e vi que era Rene, que se tinha levantado da cadeira sem que eu

me desse nem

conta. Reseguí seu braço com o olhar e vi que sua mão agarrava a do tipo loiro e a apertava

com força. O

rosto do loiro se estava pondo avermelhado.

-Né, homem, me solte! -protestou-. Não foi nada.

-Não toque a ninguém que trabalhe aqui, essas são as normas. -Rene pode ser baixo e

enxuto, mas todos

no bar tivessem apostado por nosso menino local contra o corpulento visitante.

-Está bem, está bem.

-te desculpe ante a senhorita.

-Ante o Sookie a Louca?-sua voz soava incrédula. Devia ter vindo já alguma vez. A mão

do Rene deveu

apertar com major força, porque vi que as lágrimas apareciam nos olhos do tipo loiro-. O

sinto, Sookie, de

acordo?

Assenti com tanta majestuosidad como fui capaz. Rene soltou com brutalidade a emano

do outro homem e

fez um gesto com o polegar para lhe indicar que se fora a passeio. O loiro não demorou

nada em sair pela

porta, e seu acompanhante o seguiu.

-Rene, deveria deixar que eu me encarregasse destas coisas -lhe disse em voz baixa

quando pareceu que

outros clientes retomavam suas conversações. Tínhamos dado à máquina dos rumores

combustível suficiente

ao menos para um par de dias-. Mas te agradeço que dê a cara por mim.

-Não quero que ninguém se meta com uma amiga do Arleneme respondeu de modo

prosaico-. Merlotte's

é um lugar agradável, e todos queremos que siga sendo-o. Além disso, às vezes recorda a

Cindy, sabia?

Cindy era a irmã do Rene, e se tinha transladado ao Baton Rouge um ou dois anos atrás.

Era loira e de

olhos azuis, mas além disso não fui capaz de lhe encontrar mais similitudes comigo. Mas

não parecia educado

assinalá-lo.

-Vê muito a Cindy? -perguntei-lhe. Hoyt e o outro homem que estava com eles na mesa

discutiam sobre

pontuações e estatísticas dos Capitães do Shreveport.

-de vez em quando-respondeu Rene, inclinando a cabeça para indicar que gostaria de vêla

mais

freqüentemente-. Trabalha na cafeteria de um hospital.

Dava-lhe uma palmada no ombro.

-Tenho que ir trabalhar.

Quando cheguei à barra para recolher o seguinte pedido, Sam me olhou com as

sobrancelhas arqueadas.

Abri muito os olhos para lhe mostrar quão surpreendida estava pela intervenção do Rene, e

Sam se encolheu

ligeiramente de ombros, como se assinalasse que não há modo de prever o comportamento

humano.

Mas quando passei ao outro lado da barra para agarrar umas quantas guardanapos, fixeime

em que tinha

tirado o taco de beisebol de beisebol que guarda debaixo da caixa registradora para os casos

de emergência.

A avó me teve ocupada durante todo o dia seguinte. Ela tirou o pó, passou a aspiradora e

esfregou, e eu

limpei os banhos. Enquanto passava a bucha do privada pela taça, perguntei-me se os

vampiros precisavam ir

alguma vez ao banho. A avó me fez aspirar o cabelo de gato do sofá, e também esvaziei

tudo os cestos de

papéis. Abrilhantei as mesas, e até limpei a máquina de lavar roupa e a secadora, por parvo

que soe.

Quando a avó começou a me colocar pressa para que me desse uma ducha e me trocasse

de roupa,

compreendi que considerava o Bill o vampiro como minha entrevista. Isso me fez me sentir

um pouco

estranha. Primeiro, demonstrava que a avó estava tão se desesperada porque eu tivesse vida

social que até um

vampiro lhe resultava aceitável; segundo, eu albergava certos sentimentos que respaldavam

essa idéia;

terceiro, Bill podia interpretar corretamente todo aquilo; e quarto, podia um humano chegar

a lhe gostar da um

vampiro?

Tomei banho, maquiei-me e me pus um vestido, já que sabia que do contrário a avó se

zangaria. tratava-se de um pequeno vestido azul de algodão com pequenas margaridas estampadas, e era mais

ajustado do que

gostava à avó e mais curto do que Jason considerava apropriado para sua irmã. Já tinha

ouvido todo aquilo a

primeira vez que o levei. Escolhi os pendentes pequenos de bolas amarelas e me joguei o

cabelo para trás,

solto mas sujeito com um passador com forma de plátano amarelo.

A avó pôs um olhar estranho que me custou interpretar. Poderia havê-lo descoberto com

facilidade

escutando-a, mas lhe fazer isso à pessoa com quem convive é algo terrível, assim preferi

permanecer na

ignorância. Por sua parte, ela vestia a saia e a blusa que está acostumado a levar nas

reuniões dos

Descendentes dos Mortos Gloriosos, que não chegava a ser um traje de domingo, mas

estava por cima da

roupa diária.

Quando ele chegou, eu estava varrendo o alpendre dianteiro, que nos tinha esquecido. Fez

uma entrada

puramente vampírica, em um momento dado não estava ali e ao seguinte sim, esperando ao

pé das escadas e

me olhando.

Sorri-lhe e lhe disse:

-Não me assustaste.

Pareceu um pouco coibido.

-É por costume -disse-, o de aparecer assim. Não estou acostumado a fazer muito ruído.

Abri a porta.

-Adiante -lhe convidei, e ele subiu as escadas olhando a seu redor.

-isto lembrança -disse-, embora não era tão grande.

-Lembra-te desta casa? Isso adorará à avó.- Precedi-o até chegar à sala de estar enquanto

avisava à avó.

Ela entrou na sala com muita dignidade, e pela primeira vez me dava conta do grande

esmero que tinha

posto em seu denso cabelo branco, que para variar levava suave e bem penteado, enrolado

sobre a cabeça

formando uma complicada espiral. Também se tinha posto pintalabios.

Bill demonstrou estar tão curtido nas relações sociais como minha avó. saudaram-se,

deram-se as obrigado

o um ao outro, intercambiaram cumpridos e por último Bill se sentou no sofá. Depois de

nos trazer uma

bandeja com três copos de chá ao pêssego, minha avó se sentou na poltrona, deixando claro

que eu devia me

pôr junto ao Bill. Não havia modo de sair daquilo sem ficar em evidência, assim que sentei

a seu lado mas

perto do bordo, como se em qualquer momento pudesse me levantar para lhe encher de

novo o copo de chá

gelado, como é costume.

Bill posou educadamente os lábios no bordo do copo e depois o voltou a deixar. A avó e

eu demos largos

sorvos aos nossos, com nervosismo. Ela escolheu um primeiro tema de conversação

bastante desafortunado.

Disse:

-Suponho que terá ouvido falar do estranho tornado.

-Não, me conte-respondeu Bill, com uma voz suave como a seda. Não me atrevi a olhá-lo,

mas sim me

sentei com as mãos juntas e os olhos fixos nelas.

Assim que a avó lhe falou do estranho tornado e das mortes dos Ratos. Contou-lhe que

era uma coisa

terrível, mas que estava claro o ocorrido, e acredito que ante isso Bill se relaxou um pingo.

-Eu passei ontem por ali, de caminho ao trabalho-intervim, sem elevar o olhar-. junto à

caravana.

-E era como te esperava? -perguntou Bill, com tão só curiosidade na voz.

-Não -respondi-, não era como nada que pudesse prever. Fiquei de verdade... assombrada.

-Mas Sookie, se já viu outras vezes os danos de um tornado-participou a avó,

surpreendida.

Troquei de tema.

-Bill, onde conseguiste essa camisa? É muito bonita -vestia umas calças chineses caquis e

um pólo a raias

verdes e marrons, mocasines lustrosos e finos meias três-quartos marrons.

-No Dilliard's-respondeu, e tratei de imaginar o na galeria comercial do Monroe, talvez, e

ao resto da

gente girando-se para olhar a essa exótica criatura com sua pele reluzente e seus preciosos

olhos. De onde

tirava o dinheiro para pagar? Como se lavava a roupa? metia-se nu no ataúde? Tinha carro

ou se limitava a

flutuar até o lugar que necessitasse?

A avó se sentiu agradada normais que eram os hábitos de compra do Bill. Senti outra

pontada de dor ao

comprovar quão contente estava ela de ver meu suposto pretendente em sua sala de estar,

apesar de que

(segundo a literatura popular) este era vítima de um vírus que o fazia parecer morto.

lançou-se a realizar

perguntas ao Bill, às que ele respondeu com cortesia e de aparente boa vontade. De acordo,

tratava-se de um

morto muito educado.

-E sua família era desta zona? -indagou a avó.

-A família de meu pai era dos Compton, a de minha mãe Loudermilk-disse ele com

prontidão. Parecia

muito depravado.

-Ainda ficam muitos Loudermilk -disse a avó contente-. Mas me temo que o ancião Sr.

Jessie Compton

morreu o ano passado.

-Sei-respondeu Bill-. Por isso retornei. As terras voltaram para minha propriedade, e

como as coisas estão

trocando na sociedade em favor da gente como eu, decidi tomar posse delas.

-Conheceu os Stackhouse? Sookie diz que você possui uma larga história. -Pensei que a

avó tinha

conseguido expor o de maneira elegante. Sorri sem deixar de me olhar as mãos.

-Recordo ao Jonas Stackhouse-disse Bill, para deleite de minha avó-. Meus pais já

estavam aqui quando

Bon Temps não era mais que um buraco no caminho junto à confine fronteiriça. Jonas

Stackhouse se

transladou aqui com sua mulher e seus quatro filhos quando eu era um jovenzinho de

dezesseis anos. Não é

esta a casa que ele construiu, ao menos em parte?

Fixei-me em que quando Bill pensava em tempos pretéritos, sua voz adquiria um

vocabulário e uma

cadência distintos. Perguntei-me quantos mudanças de jargão e tom tinha tido que adquirir

seu inglês durante

o século anterior.

Nem que dizer tem que a avó se sentiu no paraíso genealógico. Queria sabê-lo tudo sobre

o Jonas, o bisavô

de seu marido.

-Possuía escravos? -perguntou.

-Senhora, se lembrança bem tinha uma pulseira doméstica e outro escravo para as terras.

A pulseira era

uma mulher de média idade, e o dos campos um jovem muito grande, muito forte, chamado

Minas. Mas

basicamente eram os Stackhouse os que trabalhavam suas próprias terras, como meus pais.

-OH, essa é a classe de coisas que meu pequeno clube adoraria escutar! Contou-lhe

Sookie que...?

A avó e Bill, depois de muitos finos circunlóquios, fixaram uma data para que Bill desse

seu bate-papo em

uma reunião noturna dos Descendentes.

-E agora, se desculpar ao Sookie e a mim, pode que demos ou n passeio. Faz uma noite

preciosa. -Com

lentidão, para que p udiera vê-lo vir, inclinou-se e agarrou minha mão. levantou-se de uma

vez que eu me

punha em pé. Sua mão estava fria, e seu contato era suave e firme. Bill não estava lhe

pedindo permissão à

avó, mas tampouco a ignorava de tudo.

-OH, partam tranqüilos-disse minha avó feliz, fazendo um gesto com a mão-. Tenho

tantas coisas que

fazer... Terá você que me enumerar todos os nomes da zona que recorde de quando estava...

-e ali se deteve,

tentando não dizer algo que pudesse incomodá-lo.

-Residindo aqui no Bon Temps -sugeri eu.

-É obvio-respondeu o vampiro, e pela pressão de seus lábios soube que estava tratando de

não sorrir.

De algum jeito já nos encontrávamos na porta, e compreendi que Bill me tinha levantado

e transladado

como o raio. Sorri de modo sincero; eu gosto do inesperado.

-Voltaremos em um momento-lhe disse à avó. Não acredito que se dispusesse de nosso

estranho traslado,

já que estava recolhendo os vasitos do chá.

-OH, não lhes preocupem comigo-disse-, estarei bem.

No exterior, as rãs, os sapos e todos outros insetos entoavam sua ópera rural de cada noite.

Bill sustentou

minha mão enquanto passeávamos pelo jardim, cheio do aroma de erva recém atalho e a

planta em flor.

Minha gata, Tina, surgiu de entre as sombras e pediu umas carícias, assim que me agachei a

lhe arranhar a

cabeça. Para minha surpresa, a gata se esfregou contra as pernas do Bill, uma atitude que

ele não fez nada por

impedir.

-Você gosta deste animal? -comentou, com voz neutra.

-É minha gata -lhe disse-. Se chama Tina e, sim, eu gosto de muito.

Sem fazer comentário algum, Bill ficou imóvel e esperou até que Tina seguiu seu

caminho e desapareceu

na escuridão, além da luz do alpendre.

-Você gostaria de te sentar no balanço ou nas cadeiras do jardim, ou prefere dar um

passeio?-pergunteilhe,

já que me parecia que agora era eu a anfitriã.

-OH, passeemos um pouco. Preciso estirar as pernas.

Por algum motivo aquela frase me intranqüilizou, mas começamos a avançar pelo

comprido caminho de

entrada, em direção à estrada comarcal de dois sulcos que passava por diante tanto de nossa

casa como da sua.

-Preocupou-te o da caravana? -perguntou-me.

Tratei de pensar como explicá-lo.

-Sinto-me muito... umm, frágil, quando penso na caravana.

-Já sabia que era forte.

Meneei a cabeça de um lado a outro, refletindo.

-Sim, mas não me dava realmente conta de toda a magnitude de sua força -lhe disse-. Ou

de sua

imaginação.

-Com os anos, acabamos sendo bons em ocultar o que fazemos.

-Já vejo. Então, suponho que terá matado a bastante gente.

-A alguns -sua voz implicava: "assume-o".

Apertei-me as mãos depois das costas.

-Estava faminto justo depois de te converter em vampiro? Como é?

Ele não se esperava essa pergunta. Olhou-me, pude notar seus olhos sobre mim inclusive

embora agora

estávamos às escuras. O bosque nos rodeava e nossos pés rangiam no cascalho.

-Quanto a como me converti em vampiro, é uma história muito larga para este momentome

disse-. Mas

sim, quando era jovem, em alguma ocasião matei por acidente. Alguma vez estava seguro

de quando devia

voltar a me alimentar, compreende? Naturalmente, sempre fomos perseguidos, não havia

nada parecido ao

sangue artificial. E tampouco havia tanta gente. Mas fui um bom homem quando estava

vivo... quer dizer,

antes de pilhar o vírus. Assim tratei de enfocar o de maneira civilizada, de escolher gente

má como minhas

vítimas e nunca me alimentar de meninos. Ao menos obtive não matar nunca a um menino.

Agora é tudo tão

distinto... Posso ir a uma farmácia de guarda de qualquer cidade e conseguir algo se sangre

sintética, embora

tenha mau sabor. Ou posso pagar a uma puta e conseguir o sangue suficiente para subsistir

um par de dias.

Posso enfeitiçar a alguém para que me deixe mordê-lo por amor e depois fazer que se

esqueça de tudo. E além

já não necessito tanto sangue.

-Ou pode encontrar uma garota que tenha uma ferida na cabeça-disse.

-OH, você foi a sobremesa. A comida foram os Rattray.

Assume-o.

-Latido-pinjente, me sentindo sem fôlego-. me Dê um minuto.

Assim o fez. Nem um homem entre um milhão me teria concedido esse tempo sem falar.

Abri minha

mente, deixei cair por completo meus amparos, relaxei-me. Seu silêncio se derramou sobre

mim. Permaneci

imóvel, com os olhos fechados, e respirei desfrutando de um alívio muito profundo para

expressá-lo com

palavras.

-Já é feliz? -perguntou, como se pudesse vê-lo.

-Sim-murmurei. Nesse momento senti que não importava nada cotovelo o que tivesse

feito a criatura que

tinha ao lado; aquela paz era algo inapreciável atrás de toda uma vida de ter as queixa de

outros dentro de

minha cabeça.

-Você também me sinta bem-disse, e me surpreendeu.

-E como é isso?-perguntei, com voz pausada e sonhadora.

-Não tem medo, nem pressas, nem me condena. Não tenho que usar meu glamour para

que fique, para ter

uma conversação contigo.

-Glamour?

-É como um hipnotismo-me explicou-. Todos os vampiros o usam até certo ponto. Porque,

antes de que

se inventasse o novo sangue sintético, para nos alimentar tínhamos que persuadir às pessoas

de que fomos

inofensivos... ou convencer os de que nem sequer nos tinham visto... ou enganá-los para

que pensassem que

tinham visto outra coisa.

-E funciona comigo?

-É obvio-disse, parecendo surpreso.

-De acordo, faz-o.

-me olhe.

-Está escuro.

-Dá igual, observa minha cara. -ficou diante de mim, com as mãos descansando com

suavidade sobre

meus ombros, e me olhou fixamente. Pude espionar o débil resplendor de sua pele e de seus

olhos, e o

contemplei, me perguntando se começaria a cacarejar como um frango ou a me tirar a roupa.

Mas o que ocorreu foi... nada. Solo senti a relaxação narcótica que me produzia sua

companhia.

-Pode sentir minha influência? -perguntou-me com fôlego entrecortado.

-Para nada, sinto-o -pinjente com humildade-. Só te vejo brilhar.

-Pode ver isso? -havia lhe tornado a surpreender.

-Claro. Acaso outros não?

-Não. Isto é muito estranho, Sookie.

-Se você o disser. Posso verte levitar?

-Agora mesmo? -Bill parecia divertido.

-Claro, por que não? Salvo que haja alguma razão...

-Não, nenhuma absolutamente. -deixou ir de meus braços e começou a elevar-se.

Soltei um ofego de puro êxtase. Flutuou para cima na escuridão, brilhando como o

mármore branco à luz

da lua. Quando estava a uns seis metros do chão, começou a planejar. Pareceu-me ver que

me sorria.

-Todos sabem fazer isso?-perguntei-lhe.

-Sabe cantar?

-Não, nunca consigo levar a melodia.

-Bom, tampouco todos nós sabemos fazer as mesmas coisas -Bill descendeu pouco a

pouco e aterrissou

no chão sem nenhum ruído-. A maioria dos humanos parecem mostrar-se apreensivos com

os vampiros. Mas

você não-comentou.

Encolhi-me de ombros. Quem era eu para me mostrar apreensiva com algo

extraordinário? Ele pareceu

entendê-lo porque, depois de uma pausa durante a que retomamos o passeio, disse-me:

-Sempre foi tão duro para ti?

-Sim, sempre-não podia responder outra coisa, embora não era minha intenção me

queixar-. Quando era

muito pequena resultava pior, porque não sabia como levantar barreiras e ouvia coisas que

se supunha que

não deveria ouvir. E é obvio as repetia, como faria qualquer menino. Meus pais não sabiam

o que fazer

comigo. A meu pai, sobre tudo, envergonhava-lhe muito. Minha mãe me levou por último a

uma psicóloga

infantil, que sabia exatamente o que me ocorria, mas que não podia aceitá-lo e insistia em

lhes dizer a meus

pais que eu interpretava sua linguagem corporal e que era muito observadora, assim que me

dava bem

imaginar que ouvia os pensamentos da gente. Certamente, não era capaz de admitir que eu

de verdade ouvia

os pensamentos da gente, porque isso não encaixava em seu mundo. E também me deu mal

a escola, porque

me era muito difícil me concentrar quando quase todos outros alunos pensavam em suas

coisas. Mas quando

havia um exame tirava muito boas notas, porque outros meninos se concentravam em seus

próprios

exercícios... Isso me dava um pouco de margem. Às vezes meus pais pensavam que era

uma vaga por não me

esforçar com os deveres de cada dia, e outras vezes os professores pensavam que tinha uma

discapacidad na

aprendizagem. OH, não te acreditaria que teorias dirigiam. Devem me haver revisado os

olhos e os ouvidos

cada dois meses, ou ao menos essa impressão me dava. E os exploratórios cerebrais... Deus.

Meus pobres pais

se gastaram uma dinheirama. Mas nunca conseguiram aceitar a singela realidade. Ao menos

abertamente,

entende?

-Mas em seu interior sabiam.

-Sim. Uma vez meu pai tratava de decidir se avalizava a um homem que queria abrir uma

loja de

acessórios para automóveis, e quando o homem veio a casa pediu que sentasse a seu lado.

depois de que

partisse, papai me levou fora e com o olhar no horizonte me perguntou: "Sookie, está

dizendo a verdade?".

Foi um momento muito estranho.

-Quantos anos tinha?

-Devia ter menos de sete, porque eles morreram quando eu estava em segundo.

-Como foi?

-Uma enchente. Pilhou-os na ponte, ao oeste daqui.

Bill não fez nenhum comentário. Certamente, ele tinha visto mortes a milhares.

-E mentia aquele homem?-perguntou-me quando tiveram transcorrido uns segundos.

-OH, sim. Planejava agarrar o dinheiro de meu pai e desaparecer.

-Tem um dom.

-Um dom. Claro. -Senti que as comissuras dos lábios me torciam para baixo.

-Faz-te distinta a outros humanos.

-Não me diga. -Caminhamos um momento em silêncio-. Assim que você não te considera

absolutamente

humano?

-Não o faço a muito tempo.

-De verdade crie que perdeste sua alma?-Isso era o que pregava a Igreja Católica sobre os

vampiros.

-Não tenho modo se soubesse -disse Bill, quase de passada. Estava claro que tinha

meditado sobre isso

tão freqüentemente que já era um tema corrente para ele-. Pessoalmente, não acredito. Fica

algo em mim que não é cruel, que não é criminoso depois de todos estes anos. Embora às vezes posso me

comportar de ambas

as maneiras.

-Não é sua culpa te haver infectado com um vírus.

Bill bufou, embora conseguiu soar quase elegante.

-Desde que existem os vampiros houve teorias sobre eles. Pode que essa seja certa. -

Então me olhou

como se lamentasse havê-lo dito-. Se o que te converter em vampiro é um vírusacrescentou,

de modo mais

natural-, trata-se de um muito seletivo.

-Como te converte em vampiro? Tenho lido toda classe de histórias, mas sua palavra seria

um testemunho

de primeira mão.

-Teria que te chupar o sangue, de uma vez ou ao longo de dois ou três dias como muito,

até que estivesse

ao bordo da morte, e então te dar meu sangue. Jazeria como um cadáver umas quarenta e

oito horas, às vezes

até três dias, e depois te elevaria e caminharia na noite. E estaria faminta.

O modo em que disse "faminta" me fez tremer.

-Não há outra maneira?

-Bom, outros vampiros me contaram que os humanos aos que remoem de maneira

habitual, dia detrás dia,

podem converter-se em vampiros quase por surpresa. Mas isso requer dentadas profundas e

consecutivas.

Outra gente, nas mesmas condições, solo acaba anêmica. Além disso, quando a pessoa está

a ponto de morrer

por algum outro motivo, um acidente de carro ou uma overdose, por exemplo, o processo

pode acabar...

realmente mal.

Estava começando a sentir calafrios.

-É momento de trocar de tema. O que planeja fazer com as terras dos Compton?

-Quero viver ali enquanto possa. Estou cansado de vagar de cidade em cidade. Cresci no

campo, e agora

que tenho direito legal a existir e posso ir ao Monroe, ou Shreveport ou Nova Orleáns para

conseguir sangue

sintético ou prostitutas especializadas em nosso estrato, quero ficar aqui. Ao menos quero

ver se for possível.

Levo décadas vagabundeando.

-No que estado está a casa?

-Bastante mau-admitiu ele-. estive tratando de limpá-la, o pouco que posso fazer de noite.

Mas necessito

operários para fazer algumas reparações. Não sou mau com a carpintaria, mas não tenho

nem idéia de

eletricidade. -É obvio que não, pensei-. Me dá a impressão de que a casa precisa ser

recableada -prosseguiu

Bill, com um tom de preocupação idêntico ao que usaria qualquer proprietário.

-Tem telefone?

-Pois claro-disse ele, surpreso.

-E então qual é o problema com os operários?

-É difícil contatar com eles de noite, e mais ainda ficar para uma reunião em que possa

lhes explicar o que

terá que fazer. assustam-se, ou se acreditam que é a chamada de um brincalhão-a frustração

resultava

evidente no rosto do Bill, embora não lhe via a cara.

Ri-me.

-Se quiser, posso lhes chamar eu -sugeri-. Me conhecem, e embora todos pensam que

estou louca sabem

que sou honrada.

-Isso seria um grande favor -disse Bill, depois de duvidá-lo uns instantes-. Poderiam

trabalhar durante o

dia, depois de que me reúna com eles para discutir a tarefa e o presuposto.

-Que moléstia não poder sair de dia-disse com sinceridade. Nunca antes me tinha exposto

isso.

-E tanto que o é -respondeu Bill com voz áspera.

-E ter que ocultar seu lugar de descanso -acrescentei sem pensá-lo. Quando notei o

silêncio do Bill,

desculpei-me-: O sinto. -Se não tivéssemos estado tão às escuras, me teria visto avermelhar.

-O lugar de descanso diurno de um vampiro é seu segredo melhor guardado-comentou

Bill secamente.

-Minhas desculpas.

-Aceito-as -disse, depois de um feio instante. Chegamos à estrada e olhamos a um e outro

lado, como se

esperássemos um táxi. Agora que tínhamos saído de debaixo das árvores podia vê-lo com

claridade à luz da

lua. Ele também a mim. Olhou-me de cima abaixo.

-Seu vestido é da cor de seus olhos.

-Obrigado -pinjente. Eu certamente não podia vê-lo com tanta claridade.

-Embora não há muito vestido.

-Perdão?

-Custa-me me acostumar às senhoritas que levam tão pouca roupa em cima-disse Bill.

-Pois já tiveste umas quantas décadas para te fazer à idéia -respondi agriamente-. Vamos,

Bill, os

vestidos levam quarenta anos sendo curtos!

-Eu gostava das saias largas-disse com nostalgia-. E eu gostava da roupa interior que

levavam as

mulheres. As anáguas.

Emiti um som vulgar.

-Leva a menos encharca? -perguntou-me.

-Levo uma preciosa calcinha de nylon bege com encaixe! - repliquei indignada-. E se

fosse um menino

humano, diria que está tratando de que te fale de minha roupa interior!

riu, com essa risada tão funda e pouco gasta que me afetava profundamente.

-De verdade leva postas umas calcinhas assim, Sookie?

Tirei-lhe a língua porque sabia que podia lombriga. Subi-me um pouco o bordo da saia,

revelando o

encaixe das calcinhas e uns centímetros mais de minha pele moréia.

-Contente? -espetei-lhe.

-Tem umas pernas bonitas, mas me seguem gostando mais dos vestidos largos.

-É teimoso-lhe disse.

-Sim, isso é o que minha mulher sempre me dizia.

-Assim esteve casado.

-Claro, converti-me em vampiro aos trinta, quando já tinha esposa e cinco meninos vivos.

Minha irmã,

Sarah, também vivia conosco. Nunca se casou, seu prometido morreu na guerra.

-A guerra civil.

-Sim. Eu pude retornar vivo do frente, fui dos afortunados. Ao menos assim o pensei

então.

-Lutou pelos Confederados-disse meditabunda-. Se ainda guardasse sua uniforme e o

tivesse posto ao

clube, as damas se deprimiriam de prazer.

-Para quando terminou a luta apenas ficava uniforme-disse com amargura-. Nos

cobríamos com farrapos

e morríamos de fome. -Pareceu fazer um esforço por retornar à presente-. depois de me

converter em

vampiro, já não tinha significado para mim-explicou, de novo com uma voz fria e distante.

-mencionei um tema que te entristece -intervim-, sinto muito. Do que deveríamos falar?-

demos a volta e

começamos a dar o passeio de volta para a casa.

-De sua vida -me disse-. me Diga o que faz quando desperta pelas manhãs.

-Levanto-me da cama, e então a acerto rapidamente. Tomo o café da manhã: torradas, às

vezes cereais e às

vezes ovos. E café. E depois me lavo os dentes, dou-me uma ducha e me visto. Alguns dias

me toca me

depilar as pernas, já sabe. Se for dia de trabalho, ali vou; e a não ser entro até a noite, pode

que vá às compras,

ou leve a avó à loja, ou alugue uma peli ou tome o sol. E leão muito. Tenho sorte de que a

avó ainda seja uma

pessoa ativa. Ela faz a penetrada, prancha a roupa e cozinha quase tudo.

-E os homens?

-OH, já te falei disso. Resulta-me impossível.

-Então, o que fará, Sookie?-perguntou-me com amabilidade.

-Envelhecer e morrer-respondi com voz seca. Tocava muito freqüentemente meu ponto

fraco.

Para minha surpresa, Bill se adiantou e me agarrou a mão. Agora que os dois tínhamos

incomodado um

pouco ao outro, que havíamos meio doido tema delicados, o ambiente parecia de algum

modo mais claro. A

noite estava serena, e uma brisa fez que o cabelo me dançasse por diante da cara.

-Pode te tirar o passador? -pediu Bill.

Não havia motivo para negar-se. Elevei a mão até alcançar o passador e abri-lo, e sacudi a

cabeça para que

o cabelo se soltasse. Guardei-o em um bolso do Bill, já que meu vestido não tinha. Como se

fora a coisa mais

normal do mundo, Bill começou a passar os dedos por meu cabelo, esparramando-o sobre

meus ombros.

Como parecia que o contato físico resultava plausível, toquei suas costeletas.

-São largas -observei.

-Essa era a moda então -disse-. Tenho sorte de não ter levado barba como tantos homens,

onda teria para

toda a eternidade.

-Alguma vez tem que te barbear?

-Não, por fortuna me acabava de barbear. -Parecia fascinado com meu cabelo-: À luz da

lua, parece

prateado-disse em voz muito baixa

-Ah. O que você gosta de fazer?

Pude ver a sombra de um sorriso na escuridão.

-Também eu gosto de ler -disse, pensando nisso-. Eu gosto do cinema... Obviamente, vivi

toda sua

evolução. Eu gosto da companhia de gente que tem normais vidas. Às vezes tenho saudades

a companhia de

outros vampiros, embora a maioria tem vistas muito distintas à minha.

Caminhamos em silencio durante uns momentos.

-Você gosta da televisão?

-Às vezes -confessou-. Durante uma época gravava teleseries e as via de noite, quando

me dava a

impressão de estar esquecendo o que supunha ser humano. Com o tempo o deixei, porque

com os exemplos

que via nesses programas esquecer minha humanidade parecia algo positivo. -Ri-me.

Chegamos ao círculo de luz que rodeava a casa. Até certo ponto esperava que a avó

estivesse no balanço

do alpendre nos esperando, mas não foi assim. E só luzia uma débil lâmpada na sala de

estar. De verdade,

avó, pensei exasperada. Era como se meu novo menino me levasse a casa depois da

primeira entrevista. De

fato, cheguei a me expor se Bill trataria de me beijar ou não. Com suas idéias sobre os

vestidos largos,

provavelmente acreditasse que resultava inapropriado.

Mas por estúpido que possa parecer beijar a um vampiro, dava-me conta de que era o que

de verdade

queria fazer, mais que nenhuma outra coisa. Senti um peso no peito, uma amargura ante

outra coisa que me

proibia. E pensei: por que não?

Detive-o, atirando com suavidade de sua mão. Pu-me nas pontas dos pés e posei meus

lábios sobre sua

reluzente bochecha. Inalei seu aroma, normal mas um pouco salgado. Levava um pingo de

colônia.

Senti que Bill tremia. Girou a cabeça de modo que seus lábios tocassem meus. Depois de

um instante,

rodeei seu pescoço com meus braços. Seu beijo se fez mais intenso e eu abri os lábios.

Nunca me tinham

beijado assim. Seguiu e seguiu até que todo o universo ficou envolto nesse beijo da boca do

vampiro sobre

lambia. Notei que me acelerava a respiração, e comecei a desejar outras coisas.

De repente Bill se apartou. Parecia agitado, o que me satisfez em grande maneira.

-boa noite, Sookie -disse, acariciando meu cabelo uma última vez.

-boa noite, Bill-respondi. Eu também soava tremente-. Manhã tratarei de chamar a alguns

eletricistas.

Farei-te saber sua resposta.

-lhe vejam casa amanhã de noite... Porque não tem trabalho, verdade?

-Não -confirmei. Ainda estava tratando de me recompor.

-Nesse caso te verei então. Obrigado, Sookie. -E se girou para atravessar a pé os bosques

para seu lar.

Uma vez alcançou a zona de escuridão, desapareceu.

Fiquei olhando como uma boba, até que sacudi a cabeça e fui a minha própria casa, a me

deitar.

Passei uma quantidade indecente de tempo acordada na cama, me perguntando se os

mortos viventes

poderiam de verdade fazer... isso. Além disso, expor-me se seria possível manter uma

discussão franco com o

Bill respeito a esse tema. Às vezes parecia muito chapado à antiga, e outras tão normal

como qualquer outro

homem. Bom, nem tanto, mas bastante normal.

Parecia-me tão maravilhoso como patético que a única criatura que conhecia em muitos

anos com a que

queria fazer o amor, no fundo não fora humana. Minha telepatia limitava seriamente as

opções disponíveis.

Sim, sem dúvida poderia ter sexo só por prazer, mas tinha esperado para poder desfrutar de

verdade de uma

relação sexual.

E se o fazíamos, e depois de todos aqueles anos eu descobria que não tinha talento para

isso? Ou pode que

não sentisse prazer. Pode que todos esses livros e filmes exagerassem, e também Arlene,

quem nunca parecia

entender que sua vida sexual não era algo do que queria me inteirar.

Ao final fiquei dormida, e tive compridos e turvos sonhos. À manhã seguinte, enquanto

sorteava as

perguntas da avó sobre meu passeio com o Bill e nossos planos para o futuro, fiz algumas

chamadas.

Localizei a dois eletricistas, um encanador e outra gente de serviços que me deram números

de telefone para

poder localizá-los de noite, e me assegurei de que compreendessem que, se recebiam uma

chamada do Bill

Compton, não era uma brincadeira.

Terminada essa tarefa, estava tendida ao sol me torrando pouco a pouco quando a avó me

trouxe o

telefone.

-É seu chefe-disse. À avó gostava de Sam, e ele devia lhe haver dito algo agradável

porque estava

sonriendo de orelha a orelha.

-Olá, Sam-saudei, embora possivelmente não com um tom muito alegre, porque sabia que

teria ocorrido

algo no trabalho.

-Dawn não veio, carinho -resumiu.

-OH... demônios -respondi, sabendo que teria que ir eu-. Tenho planos, Isso Sam era

prioritário-. Quando

me necessita?

-Poderia vir embora fora de cinco a nove? Isso nos seria de muita ajuda.

-E conseguirei outro dia livre?

-Que tal se Dawn se reparte contigo um turno outra noite? -Fiz um som vulgar e a avó me

pôs má cara.

Seguro que depois me jogava um sermão.

-OH, está bem! -disse a contra gosto-. Verei as cinco.

-Obrigado, Sookie -respondeu-. Sabia que podia contar contigo.

Tratei de me alegrar por isso, embora parecia uma virtude bastante aborrecida. Sempre

pode contar com o

Sookie para dar uma mão e ajudar, porque não tem vida própria! Ao menos poderia ir a

casa do Bill depois

das nove. De todos os modos, ele ia estar levantado toda a noite.

O trabalho nunca me tinha parecido tão lento. Custava-me me concentrar o suficiente

para manter elevadas

as barreiras, porque estava pensando todo o momento no Bill. Foi uma sorte que não

houvesse muitos

clientes, ou tivesse ouvido uma enchente de pensamentos indeseados. Precisamente assim

me inteirei de que

Arlene tinha um atraso na regra e temia estar grávida, e antes de poder me conter lhe dava

um abraço. ficou

me olhando de maneira inquisitiva e então se ruborizou.

-Tem-me lido a mente, Sookie? -perguntou-me, com a ameaça escrita na voz. Arlene era

uma das poucas

pessoas que se limitavam a aceitar minha aptidão sem tratar de explicá-la ou de me

classificar como monstro

por possui-la, embora me tinha fixado em que tampouco falava freqüentemente disso, e

quando o fazia não

usava sua voz natural.

-Sinto muito, não queria-me desculpei-. É que hoje não posso me concentrar.

-Está bem, não passa nada. Mas a partir de agora manténte afastada de mim-disse Arlene

agitando um

dedo diante de minha cara, com seus chamejantes cachos caindo pelas bochechas.

Senti vontades de chorar.

-Sinto-o-repeti, e afastei a pernadas para o armazém para me recuperar. Tive que me

tampar a cara e

conter as lágrimas.

Ouvi que a porta se abria detrás de mim.

-Vale, Arlene, já te hei dito que o sinto! -espetei, porque queria que me deixassem a sós.

Às vezes Arlene

confundia a telepatia com um talento psíquico, e me dava medo que me perguntasse se de

verdade estava

grávida. Faria melhor em comprar uma prova de embaraço caseira.

-Sookie -era Sam. Pô-me uma mão no ombro para que me girasse para ele-. Ocorre algo

mau?

Sua voz era amável e me situou muito mais perto do pranto do que já estava.

-Deveria parecer zangado e assim não choraria! -disse-lhe. Ele riu, não com uma

gargalhada a não ser

com uma pequena risada. Rodeou-me com um braço.

-O que é o que te passa? -Não ia dar-se por vencido e partir.

-OH, eu... -e fiquei paralisada. Nunca, nunca tinha discutido de maneira explícita meu

problema (assim é

como eu o considerava) com o Sam ou outra pessoa. Todos no Bon Temps tinham ouvido

os rumores de por

que era tão estranha, mas ninguém parecia dar-se conta de que tinha que ouvir

continuamente seu martilleo

mental, tanto se queria como a não ser. Cada dia esse falatório constante e constante...

-escutaste algo que te preocupou? -seu tom de voz era sereno e prático. Tocou-me na

metade da frente,

para indicar que sabia com exatidão como podia "escutar" eu essas coisas.

-Sim.

-Não pode evitá-lo, verdade?

-Para nada.

-Odeia-o, não é assim, carinho?

-E tanto.

-Pois então não é sua culpa, não crie?

-Trato de não escutar, mas não sempre posso manter alta o guarda. -Notei que uma

lágrima que não tinha

sido capaz de conter começava a escorregar por minhas bochechas.

-É assim como o faz? Mantém alta o guarda, Sookie? Parecia de verdade interessado, não

como se

pensasse que minha cabeça era uma espécie de cesto de papéis. Olhei um pouco, embora

tampouco muito, nos

azuis olhos, saltados e brilhantes, do Sam.

-Eu sozinho... é difícil descrevê-lo se a outra pessoa não pode fazê-lo... Levanto uma

cerca... não, não uma

cerca, é como fechar umas placas de aço, entre meu cérebro e outros.

-E tem que manter as placas apertadas?

-Sim, e precisa muita concentração. É como ter que dividir minha mente todo o momento,

e por isso a

gente se acredita que estou louca. A metade de meu cérebro está tratando de sustentar as

placas de aço e a

outra metade pode estar apontando pedidos, assim às vezes não fica grande coisa com a que

manter uma

conversação coerente. -Que alívio senti, solo por poder falar disso.

-Ouve palavras ou só recebe impressões?

-Depende da quem esteja escutando. E de seu estado. Se estiverem bêbados, ou muito

transtornados, solo

são imagens, impressões, intenções. Se estiverem sóbrios e cordatos, são palavras e

algumas imagens.

-O vampiro diz que a ele não pode ouvi-lo.

A idéia de que Bill e Sam tivessem tido uma conversação sobre mim fez que me sentisse

muito estranha.

-É certo-reconheci.

-E isso te resulta relaxante?

-OH, sim -e o dizia com todo o coração.

-Pode me ouvir mim, Sookie?

-Não quero tentá-lo! -disse com presteza. Fui até a porta do armazém e permaneci com a

mão no pomo.

Tirei um lenço do bolso dos pantaloncitos e me sequei o rastro da lágrima da bochecha-.

Teria que ir se te

lesse a mente, Sam! Eu gosto, e eu gosto de estar aqui.

-Você sozinho tenta-o de vez em quando, Sookie-disse de modo natural, girando-se para

abrir uma caixa

de uísque com o cortador tão afiado que levava no bolso-. Não se preocupe por mim, terá

um trabalho

enquanto queira um.

Limpei uma mesa em que Jason tinha atirado um pouco de sal. Tinha estado ali um

momento antes,

comendo um hambúrguer e umas batatas fritas e tomando um par de cervejas. Em minha

cabeça estava lhe

dando voltas à oferta do Sam.

Não trataria de escutá-lo esse dia; estava preparado para isso. Esperaria até que estivesse

ocupado fazendo

outra coisa. Limitaria-me a penetrar um pouco e escutar um momento. Tinha-me convidado

a isso, o que

resultava algo por completo excepcional.

Era agradável que lhe convidassem.

Arrumei-me a maquiagem e me recolhi o cabelo. Tinha-o levado solto até então, já que ao

Bill parecia lhe

gostar de assim, mas tinha suposto uma autêntica moléstia durante toda a noite. Já quase era

hora de sair,

assim agarrei minha bolsa da bilheteria, no despacho do Sam.

A casa Compton, como a da avó, ficava separada da estrada, embora resultava um pouco

mais visível

desde esta que a nossa. E a diferença da da avó, desde ela se via o cemitério. Isso se devia,

ao menos em

parte, a que a casa Compton estava situada em um ponto mais elevado: estava ereta em

cima de um montículo

e todo o edifício tinha dois novelo. a da avó tinha um par de dormitórios vazios acima e um

apartamento de

cobertura, mas a podia considerar mas bem de piso e médio.

Em certo momento da história familiar, os Compton possuíram uma casa muito bonita.

Inclusive sob a

escuridão da noite transmitia certa delicadeza. Mas eu sabia que à luz do sol um podia ver

que as colunas se

estavam descascando, que os painéis de madeira estavam torcidos e que o jardim não era

mais que uma selva.

Com o clima úmido e quente da Luisiana, os jardins podiam crescer fora de controle com

bastante rapidez, e o

velho Sr. Compton não era dos que pagavam a outra pessoa para que lhe arrumasse o

jardim. Quando ficou

muito fraco, já ninguém se ocupou disso.

O caminho circular de entrada não tinha recebido cascalho novo em muitos anos, e meu

carro foi dando

tombos até chegar à porta principal. Vi que toda a casa estava iluminada, e comecei a me

dar conta de que

essa noite não transcorreria como a anterior. Havia outro carro estacionado diante da casa,

um Lincoln

Continental, branco com a capota de cor azul escura. Um adesivo com texto azul sobre

fundo branco dizia Os

VAMPIROS ME CHUPAM isso, e em outra vermelha e amarela punha Touca A BUZINA

se FOR

DOADOR DE SANGUE! A matrícula personalizada era simplesmente PRESAS 1.

Se Bill já tinha companhia, possivelmente o melhor fosse ir a casa. Mas me havia

convidado e me

esperava. Ainda duvidando, levantei o punho e bati na porta.

Abriu-me uma vampira.

Estava radiante, em um sentido quase literal. Era negra e media ao menos um e oitenta, e

vestia de licra.

Um prendedor de esporte de cor rosa flamenco e umas malhas até as pantorrilhas do mesmo

tom, junto a uma

camisa branca de traje de cavalheiro posta depressa e sem abotoar, constituíam toda sua

roupa.

Pensei que parecia vulgar como uma furcia, e com toda probabilidade muito apetitosa de

um ponto de

vista masculino.

-Olá, pequena humana -ronronou a vampira.

E de repente me dava conta de que estava em perigo. Bill já me tinha advertido repetidas

vezes de que não

todos os vampiros eram como ele, e de que inclusive ele tinha momentos nos que não era

tão amável. Não me

era possível ler a mente daquela criatura, mas sim pude ouvir a crueldade de sua voz. Pode

que tivesse

atacado ao Bill, ou talvez fosse seu amante.

Tudo isto me passou pela cabeça em um instante, mas não permiti que meu rosto o

revelasse. Tinha a

minhas costas anos de experiência em controlar minha expressão. Notei que meu sorriso

protetor voltava para

seu sítio, endireitei a coluna e pinjente com despreocupação:

-Olá! Tinha que me passar por aqui esta noite e lhe dar ao Bill uma informação. Está

disponível?

A vampira riu de mim, o qual não era algo ao que eu estivesse acostumada. Meu sorriso

se fez um grau

mais ampla. Aquele inseto irradiava perigo do mesmo modo que uma lâmpada irradia calor.

-Esta pequena humana que temos aqui diz que tem uma informação para ti, Bill! -gritou

por cima de seu

(esbelto, moreno e precioso) ombro. Tratei de não mostrar em modo algum meu alívio-.

Quer ver esta cosita,

ou simplesmente devo lhe dar uma dentada amorosa?

por cima de meu cadáver, pensei furiosa, e então me dava conta de que assim poderia ser.

Não ouvi a voz do Bill, mas a vampira se fez a um lado e eu entrei na velha casa. Correr

não me serviria

de nada, essa vampira sem dúvida me derrubaria antes de poder dar cinco passos. E ainda

não tinha visto o

Bill, e não poderia estar segura de que se encontrasse bem até que o visse. Joguei valor ao

assunto e esperei o

melhor. Isso me dá bastante bem.

A grande sala dianteira estava cheia de pessoas e móveis antigos de cor escura. Não, não

de pessoas,

observei detrás me fixar um pouco mais: duas pessoas e outros dois estranhos vampiros.

Os dois eram homens de raça branca. A gente ia rapado e tinha tatuagens em cada

centímetro visível de

sua pele. O outro era inclusive mais alto que a vampira: media talvez um e noventa e cinco.

Levava uma larga

juba de cabelo escuro ondulado e era muito fornido.

Os humanos resultavam menos espetaculares. A mulher era loira e rechoncha, de trinta e

cinco anos ou

mais, e se tinha passado como um quilograma com a maquiagem. Parecia tão gasta como

umas botas velhas.

O homem era bem distinto. Era adorável, o menino mais bonito que jamais vi; não podia ter

mais de vinte e

um. Era moreno, possivelmente hispano, baixo e de estrutura delicada. Levava postos uns

texanos e nada

mais. Salvo a maquiagem, claro. Surpreendeu-me, mas não o encontrei atrativo.

Nesse momento Bill se moveu e pude vê-lo. Estava entre as sombras do escuro corredor

que conduzia do

salão à parte posterior da casa. Olhei-o, tratando de manter o porte nessa situação tão

inesperada. Para minha

consternação, seu aspecto não resultava nada tranqüilizador. Tinha a cara muito séria, por

completo

impenetrável. Embora não pude nem acreditar que eu pudesse pensar algo assim, nesse

momento tivesse sido

estupendo poder jogar uma olhada a sua mente.

-Bom, agora poderemos ter uma estupenda velada - disse o vampiro de cabelo comprido.

Parecia

encantado-. Se trata de tua amiguita, Bill? É tão refrescante...

Pensei em usar uma das palavras deliciosas que tinha aprendido do Jason.

-Se nos desculparem para mim e ao Bill durante um minuto... -disse com muita educação,

como se se

tratasse de uma noite perfeitamente normal-. estive falando com os operários para a casatratei

de que soasse

como se falasse de negócios, de modo impessoal, embora levar pantaloncitos, camiseta e

umas Nike não

inspira muito respeito profissional. Mas mesmo assim confiei em transmitir a idéia de que a

gente com a que

me encontro durante minhas tarefas não pode supor nenhuma ameaça nem perigo.

-E isso que tínhamos ouvido que Bill se mantém com uma dieta exclusiva de sangue

sintético -

acrescentou o vampiro tatuado-. Devemos ouvir mau, Diane.

A vampira inclinou a cabeça e me dirigiu um prolongada olhar.

-Não estou tão segura. me parece virgem.

Não me pareceu que Diane falasse de hímenes.

Dava uns quantos passos para o Bill, de modo natural, mas com a louca esperança de que

ele me

defendesse se as coisas foram a pior. Não me sentia muito segura disso. Eu ainda sorria,

confiando em que ele

falasse, que fizesse algo. E o fez.

-Sookie é minha -disse, e sua voz foi tão serena e suave que, de ter sido uma pedra, não

teria provocado

ondas ao cair na água.

Olhei-o com brutalidade, mas tive a inteligência necessária para manter a boca fechada.

-Que tal estiveste cuidando de nosso Bill? -perguntou Diane.

-Isso não é de sua puta incumbência-respondi, usando uma das palavras do Jason de uma

vez que sorria.

Já hei dito que tenho mau caráter.

Houve uma breve pausa. Todos, humanos e vampiros, pareceram me examinar com tanto

parada para

poder me contar os cabelos dos braços. Então o vampiro alto começou a gargalhar-se e

outros seguiram seu

exemplo. Enquanto se distraíam com as risadas, aproximei-me um pouco mais ao Bill.

Tinha seus escuros

olhos fixos em mim (ele não ria) e obtive a clara impressão de que ele, igual a eu, desejava

que pudesse lhe

ler a mente.

Estava em perigo, isso ficava claro. E se ele o estava, eu também.

-Tem um sorriso gracioso -disse pensativo o vampiro alto. Eu gostava mais quando ria.

-OH, Malcolm-disse Diane-, todas as mulheres humanas lhe parecem graciosas.

Malcolm atraiu para si ao menino humano e lhe deu um comprido beijo. Comecei a me

sentir um pouco

mal. Esse tipo de coisas são íntimas.

-É certo -reconheceu Malcolm, apartando um instante depois para óbvio desgosto do

jovem-. Mas há

algo estranho nesta. Pode que tenha o sangue saboroso.

-Ora -disse a mulher loira, com uma voz que podia arrancar a pintura da parede-, é

sozinho essa louca do

Sookie Stackhouse.

Olhei-a com mais atenção e, depois de eliminar mentalmente de sua cara uns quantos

anos de vida na

estrada e a metade da maquiagem, consegui reconhecê-la. Era Janella Lennox, que tinha

trabalhado no

Merlotte's durante duas semanas até que Sam a despediu. Arlene me contou que se mudou

ao Monroe.

O vampiro das tatuagens rodeou com seu braço a Janella e lhe sovou as tetas. Pude sentir

que minha cara

empalidecia; estava muito enojada. E a coisa foi a pior: Janella, com a decência tão perdida

como o vampiro,

pô-lhe a mão no pacote e começou a esfregá-lo.

Ao menos ficou claro que os vampiros sim que podem ter relações sexuais. Mas naquele

momento não me

senti muito excitada por descobri-lo.

Malcolm me olhava, e lhe mostrei meu asco.

-É inocente -disse ao Bill, com um sorriso cheia de expectativas.

-É minha -repetiu Bill. Nesta ocasião, sua voz foi mais intensa. De ter sido uma serpente

de cascavel, sua

advertência não poderia estar mais clara.

-Bom, Bill, não me diga que essa cosita te esteve dando tudo o que precisa-interveio

Diane-. Tem aspecto

pálido e murcho. Não te esteve cuidando muito bem.

Aproximei-me um centímetro mais ao Bill.

-Venha -lhe ofereceu Diane, a que eu estava começando a odiar-, toma um sorvo da

garota do Liam ou

do precioso muchachito do Malcolm, Jerry.

Janella não reagiu enquanto a ofereciam por aí (talvez porque estava muito ocupada

baixando a

cremalheira dos jeans do Malcolm), mas o formoso noivo do Malcolm, Jerry, deslizou-se

bem disposto para o

Bill. Sorri como se se me fora a partir a mandíbula ao tempo que ele rodeava ao Bill com

seus braços,

acariciava-lhe o pescoço com o nariz e esfregava o peito contra sua camisa.

A tensão do rosto de meu vampiro resultava terrível de contemplar. Surgiram suas presas,

que por primeira

vez vi completamente desdobrados. Era certo, o sangue sintético não satisfazia todas as

necessidades do Bill.

Jerry começou a lamber uma zona da base do pescoço do Bill. Manter elevadas os

amparos mentais me

estava resultando muito duro. Três dos pressente eram vampiros, cujos pensamentos não

poderia ouvir de

todos os modos, e Janella estava muito ocupada, assim que isso solo deixava ao Jerry.

Escutei e senti arcadas.

Bill, suando pela tentação, estava já inclinando suas presas para o pescoço do Jerry,

quando eu gritei:

-Não, tem o a não ser-vírus!

Como se se liberasse de um enfeitiço, Bill me olhou por cima do ombro do Jerry.

Respirava com pesadez,

mas suas presas se retiraram. Aproveitei a ocasião para dar uns passos mais para ele. Já

estava a menos de um

metro de distância.

-A não ser-sida-pinjente.

As vítimas ébrias ou muito drogadas podiam influir de maneira temporária no vampiro

que chupasse delas,

e se dizia que algum inclusive desfrutava de da viagem. Mas não lhes afetava o sangue de

um humano com o

sida, por muito desenvolvido que estivesse, nem as enfermidades de transmissão sexual ou

qualquer outra

praga que assolasse à humanidade.

Exceto o a não ser-sida. No fundo, o a não ser-sida não matava a um vampiro com a

mesma segurança

que matava o sida aos humanos, mas os deixava muito fracos durante quase um mês,

durante o qual resultava

relativamente fácil apanhá-los e lhes aplicar a estaca. E em alguma ocasião, se o vampiro se

alimentava mais

de uma vez de um humano infectado, acabava por morrer de verdade (ou era ré-morrer?)

sem necessidade da

estaca. Embora ainda era pouco habitual nos Estados Unidos, o a não ser-sida estava

fazendo-se forte em

cidades portuárias como Nova Orleáns, pelas que estavam de passagem marinhos e outros

viajantes de muitos

países com vontades de divertir-se.

Todos os vampiros ficaram gelados, olhando ao Jerry como se fora a morte disfarçada. E

para eles, em

certo sentido, podia sê-lo.

O formoso jovem me pilhou totalmente por surpresa. girou-se e me saltou em cima. Não

era um vampiro

mas era forte, e estava claro que solo se encontrava nas primeiras fases da enfermidade.

Empurrou-me contra

a parede. Rodeou minha garganta com uma mão e elevou a outra para me pegar na cara. Eu

ainda estava

levantando as mãos para me defender quando alguém reteve o punho do Jerry e parou seu

movimento.

-lhe solte a garganta-disse Bill, com uma voz tão aterradora que me assustou até a mim. A

essas alturas,

os distintos medos me acumulavam tão seguidos que não acreditava que pudesse voltar a

me sentir segura.

Mas os dedos do Jerry não afrouxaram sua presa, e emiti sem querer um pequeno ruído lhe

choraminguem.

Olhei de lado, e ao ver a cara cinza do Jerry compreendi que Bill sustentava suas mãos,

Malcolm o agarrava

pelas pernas, e ele estava tão assustado que não podia compreender o que lhe pediam.

A sala começou a me parecer muito confusa. A mente do Jerry golpeava contra a minha,

era incapaz de

lhe manter a raia. Seu cérebro estava bloqueado com visões do amante que lhe tinha

passado o vírus, um

amante que o tinha deixado por um vampiro e ao que o próprio Jerry tinha assassinado em

um ataque de

ciúmes homicidas. Jerry via que a morte lhe aproximava na forma dos mesmos vampiros

aos que tinha

querido matar, e sua vingança não se sentia o bastante satisfeita com os vampiros aos que já

tinha infectado.

Pude ver o rosto do Diane por cima do ombro do Jerry, e estava sonriendo.

Bill rompeu a boneca ao Jerry. Este gritou e caiu ao chão. O sangue voltou a me chegar à

cabeça e quase

me deprimi. Malcolm recolheu ao Jerry e o carregou até o sofá com total naturalidade,

como se fora um tapete

enrolado. Mas sua expressão não tinha nada de natural; soube que Jerry teria sorte se morria

com rapidez. Bill

se colocou diante de mim, ocupando o lugar do Jerry. Seus dedos, os mesmos dedos que

acabavam de romper

a boneca do Jerry, massagearam meu pescoço com tanta suavidade como teria feito minha

avó. Passou-me

uma gema pelos lábios para que compreendesse que devia permanecer em silêncio.

Então, me rodeando com o braço, girou-se para enfrentar-se a outros vampiros.

-Isto foi muito entretido-disse Liam. Sua voz era tão tranqüila como se Janella não lhe

estivesse dando

uma massagem muito íntima sobre o sofá. Não se tinha incomodado em mover nem um

dedo durante todo o

incidente, e agora lhe viam tatuagens que não tivesse podido imaginar nunca na vida.

Faziam que me

revolvesse o estômago-, mas acredito que deveríamos agarrar o carro e voltar para o

Monroe. Teremos que

ter um pequeno bate-papo com o Jerry quando despertar, não te parece, Malcolm?

Malcolm carregou o corpo do Jerry, inconsciente, sobre o ombro, e assentiu em resposta

ao Liam. Diane

parecia defraudada.

-Mas meninos -protestou-, não temos descoberto ainda como sabia esta muchachita.

Os dois vampiros masculinos dirigiram simultaneamente seu olhar para mim. Liam

aproveitou justo esse

instante para chegar ao orgasmo. Sim, os vampiros podiam fazê-lo, estava claro. Depois de

um breve suspiro

de consumação, disse:

-Obrigado, Janella. Essa é uma boa pergunta, Malcolm. como sempre, nossa Diane foi

direta ao jugular. -

E os três vampiros visitantes riram como se aquela fora uma grande piada, embora eu

pensei que dava medo.

-Não pode falar ainda, verdade, doçura? -Bill me apertou o ombro enquanto o dizia, como

se eu não

tivesse captado já a indireta.

Sacudi a cabeça.

-É provável que eu possa fazê-la falar -se ofereceu Diane.

-Diane, esquece-o- disse Bill com amabilidade.

-Ah, sim. É tua -disse a vampira, embora não soava amedrontada nem convencida.

-Teremos que prosseguir a visita em algum outro momento -disse Bill, e seu tom deixava

claro que outros

teriam que ir-se ou lutar contra ele.

Liam se levantou, grampeou-se as calças e lhe fez um gesto a sua fêmea humana.

-Vamos, Janella, estão-nos desalojando- as tatuagens de seus potentes braços ondularam

ao estirar-se.

Janella passou as mãos por suas costelas como se não tivesse bastante dele, que a apartou

com tanta facilidade

como se fora uma mosca. Ela pareceu irritada, mas não tão molesta como tivesse estado eu.

Estava claro que

esse tipo de tratamento não era algo novo.

Malcolm recolheu ao Jerry e o tirou através da porta principal sem murmurar palavra. Se

beber do Jerry

lhe tinha irradiado o vírus, certamente ainda não estava indefeso. Diane foi a última,

tornando uma bolsa ao

ombro e lançando um olhar de olhos brilhantes para trás.

-Então lhes deixarei sozinhos, tortolitos. foi divertido, carinho-disse com suavidade, e

fechou a porta

detrás de si com uma portada.

Em quando ouvi que o carro arrancava fora, deprimi-me.

Não me tinha acontecido na vida, e confiei em que não voltasse a me ocorrer, mas me

parecia que estava

justificado. Dava a impressão de que me passava um montão de tempo inconsciente perto

do Bill. Era uma

idéia crucial, e sabia que se merecia uma reflexão séria, mas não nesse momento. Quando

recuperei a

consciencia, tudo o que tinha visto e ouvido me voltou para a mente e senti verdadeiras

arcadas.

Imediatamente Bill me colocou sobre o bordo do sofá, mas consegui manter a comida em

meu estômago,

talvez porque havia muito pouco que manter.

-Os vampiros atuam assim? -sussurrei. Tinha a garganta dolorida e machucada na zona

onde tinha

apertado jerry-. São horríveis.

-Tratei de te localizar no bar quando descobri que não estava em casa -disse Bill, com voz

oca-, mas já

tinha saído.

Embora era evidente que não serviria de nada, comecei a chorar. Estava segura de que

para então Jerry já

estava morto, e sabia que deveria ter feito algo a respeito, mas não podia me calar quando

estava a ponto de

infectar ao Bill. Havia tantas coisas naquela curta cena que me tinham entristecido

intensamente, que não

sabia por onde começar a me deprimir. Em possivelmente menos de quinze minutos tinha

temido por minha

vida, pela vida (bom, pela existência) do Bill, tinha tido que contemplar atos sexuais que

deveriam ser

estritamente privados, tinha visto meu possível amorcito cair nas garras do desejo de

sangue (pôr a ênfase em

"desejo"), e quase tinha sido asfixiada por um chapero sidoso.

Depois de pensá-lo duas vezes, concedi-me permissão total para chorar. Sentei-me,

solucei e me enxagüei

a cara com um lenço que me entregou Bill. Senti curiosidade por me inteirar de que

necessitava um lenço um

vampiro, o que provavelmente constituísse um pequeno brilho de serenidade, alagado pela

maré de lágrimas e

nervos.

Bill teve o sentido comum necessário para não me abraçar. sentou-se no chão e mostrou a

delicadeza de

manter apartada o olhar enquanto eu me secava a cara.

-Quando os vampiros vivem em ninhos-começou a explicar de maneira repentinarevistam

voltar-se mais

cruéis porque se impulsionam os uns aos outros: Sempre estão tratando com outros

vampiros como eles, e

assim se convencem do longe que se encontram da humanidade. Ditam suas próprias leis.

Os vampiros como

eu, que vivem sozinhos, recordam um pouco melhor sua antiga humanidade.

Escutei sua doce voz, que discorria junto a suas reflexões enquanto tentava me explicar o

inexplicável.

-Sookie-prosseguiu-, nossa vida consiste em seduzir e tomar, e para alguns foi assim

durante séculos. O

sangue sintético e a reacia aceitação dos humanos não vai trocar isso da noite para o dia, ou

de uma década a

seguinte. Diane, Liam e Malcolm levam juntos cinqüenta anos.

-Que doce -pinjente, com um tom impregnado de algo que nunca tinha ouvido antes em

mim mesma:

rancor-, são seus bodas de ouro.

-Poderá esquecer o acontecido?-pediu-me Bill. Seus grandes olhos escuros se

aproximavam mais e mais.

Sua boca só estava a cinco centímetros da minha.

-Não sei -as palavras me saíram de maneira espontânea-. Sabia que não tinha claro se

poderia fazê-lo?

Suas sobrancelhas se arquearam de maneira inquisitiva.

-Fazê-lo...?

-Ter... -e me detive, tratando de pensar em um modo agradável de expô-lo. Tinha

presenciado mais

crueldade essa noite que em toda minha vida, e não queria acrescentar ainda mais-. Uma

ereção-concluí,

evitando seu olhar.

-Pois agora já sabe-sua voz sugeria que tratava de não rir-. Podemos ter relações sexuais,

mas não ter

filhos ou deixar grávida a uma mulher. Não te faz sentir isso melhor, que Diane não possa

ter um filho?

Tirou-me de minhas casinhas. Abri os olhos e o olhei muito fixamente.

-Não te ria de mim.

-OH, Sookie -disse, e levantou a mão para me acariciar a bochecha.

Separei-me de seu contato e consegui me pôr em pé. Ele não me ajudou a consegui-lo, o

que foi positivo,

embora ficou no estou acostumado a me observando com um rosto imóvel que não soube

interpretar. Suas

presas se retiraram, mas eu sabia que ainda sentia fome. Dane-se ele.

Minha bolsa estava no chão, junto à porta dianteira. As pernas não me respondiam muito

bem, mas ao

menos avançava. Tirei a lista de eletricistas de um bolso e a pus sobre a mesa.

-Tenho que ir.

De repente estava diante de mim. Havia tornado a fazer uma dessas coisas de vampiros.

-Posso te dar um beijo de despedida? -pediu-me, com as mãos nos flancos, deixando

muito claro que não

me tocaria até que eu lhe desse luz verde.

-Não -disse com veemência-, não poderia suportá-lo depois de vê-los.

-irei verte.

-Sim. Talvez.

Me adiantou para me abrir a porta, mas eu acreditei que ia a por mim e me estremeci.

Girei-me com

brutalidade e corri para o carro, com as lágrimas quase cegando de novo minha vista.

Alegrei-me de que o

caminho a casa fora tão curto.

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