segunda-feira, 4 de julho de 2011

MELANCIA - MARIAN KEYES Cap.21


Os preparativos para domingo.
Ingredientes:
Uma mulher de 29 anos que recentemente dera à luz, negligenciada,
abandonada e rejeitada.
Uma generosa dose de culpa.
Uma pitada de antegozo.
Um pacote de insegurança sobre a aparência do seu corpo.
Um raminho de excitação (selvagem, se possível).
Uma colher cheia de desespero profundo, condensado.
Um pequeno pânico de estrias.
Duas meias 7/8, pretas, com renda na barra.
Uma calcinha preta interessante.
Um sutiã preto, da espécie miraculosa, em vez de apenas maravilhosa.
Uma garrafa de vinho tinto.
Um vestido.
Um par de sapatos.
Decoração:
Batom vermelho-prostituta.
Várias camadas de rímel escuro.
Modo de preparar:
Deixar de lado as meias, calcinhas e sutiã, para usar mais tarde.
Pegar a mulher.
Verificar seus olhos e sua pele para se certificar de que ela não passou de seu
prazo de validade.
Acrescentar culpa, antegozo, insegurança, excitação, desespero e pânico.
Misturar tudo.
Deixar cozinhar alguns dias.
Num banheiro de tamanho médio, preparar a mulher, raspando suas pernas,
colorindo seu cabelo e pintando as unhas dos seus pés.
Cerca de uma hora antes de começar, despejar generosamente uma cara
loção corporal, mexendo freqüentemente.
Acrescentar as meias, o par de calcinhas pretas interessantes e o sutiã preto
miraculoso. Praticar um pouco os atos de sedução, deixando seu cabelo cair sobre o
rosto e lançando olhares através dos cílios.
Verificar se ela ainda pode arquejar, arquear as costas e dizer frases como:
"Ah, querido, isso foi maravilhoso" ou "Pelo amor de Deus, não pare", mantendo ao
mesmo tempo um rosto normal.
Recrutar compulsoriamente uma irmã, de preferência Anna, para cuidar da já
mencionada criança.
Acrescentar uma dose generosa de batom vermelho-prostituta, várias camadas
de rímel preto, um vestido curto, todo abotoado, roxo (é, afinal, a cor da paixão),
sapatos pretos com correias de camurça no tornozelo e uma garrafa de vinho tinto.
Evitar começar a beber uns tragos da garrafa de tinto antes de chegar ao seu
destino.
Como extra opcional, camisinhas na bolsa são sempre um toque simpático.
Se não for possível consegui-las - por exemplo, podem estar fora de temporada
-, ajeitar-se com grandes quantidades de continência. Nem sempre ideal, mas
funciona.
Servir numa cama, com um homem bonito.
Segui as instruções ao pé da letra. Tive sorte suficiente de encontrar
camisinhas - cortesia de Laura. Que mulher!
Sentia-me muito bem.
Nem sequer me perturbei quando descobri que, graças à minha tintura de
cabelo (é um intensificador da cor do cabelo, queridas, não precisamos pintar
nossos cabelos, apenas intensificamos sua luz e cor naturais), pois é, graças ao
meu intensificador da cor do cabelo, minhas orelhas e meu cabelo estavam agora
com a cor combinando.
Mas suponho que, se tivesse de ter orelhas coloridas, poderia ficar bem pior do
que com uma cor viva, brilhante, reluzente, num tom castanho.
Nada do seu "Ébano" ou "Bombom" para minhas orelhas. Nada disso!
Cerca de sete e meia da noite de domingo, preparei-me para a partida.
Pronta para pecar e nem estava ligando.
Dei um beijo de boa-noite em Kate.
Enquanto me encaminhava furtivamente para a porta da frente, com meu
casaco abotoado praticamente até as sobrancelhas, para o caso de mamãe me
flagrar com um aspecto tão imoral, o telefone tocou.
- Claire, é para você - gritou Helen. Ah, meu Deus!
Mas era apenas Laura.
Telefonando para me desejar boa sorte e querendo saber se eu praticara
colocar uma camisinha com os dentes, segundo suas instruções.
- Não, não pratiquei! - disse-lhe eu.
Estava louca para desligar o telefone e sair de casa, porque sentia pavor de ser
apanhada.
Por que não? - perguntou ela. - Você não pode simplesmente ir chegando e
esperar que ele fique feliz com o tedioso sexo de sempre. Tem de ser um pouco
criativa.
Mas você só me deu duas! - disse eu, alarmada. - Não que ria desperdiçá-las.
E, de qualquer jeito, onde acha que eu poderia praticar?
Bem, vamos apenas esperar que você tenha um desempenho adequado com a
primeira. Se não, não terá uma chance de usar a segunda - disse ela,
misteriosamente.
Ah, pare com isso, Laura, já estou nervosa demais!
Ótimo - ela disse. - É muito melhor quando a gente está nervosa.
Prometi telefonar para ela no dia seguinte e contar todos os detalhes picantes.
- Ou, se chegar cedo o bastante esta noite, telefonarei para você e lhe contarei
tudo - prometi, ansiosa.
- Se chegar cedo o bastante esta noite para me contar tudo, não haverá nada
para contar - disse-me ela.
- Ah - eu disse. Ela tinha razão.
- Ouça, já vou - disse eu, aborrecida, e desliguei o telefone na cara dela,
enquanto Laura estava no meio de uma explicação sobre uma espécie de atividade
sexual complicada que ela disse ter visto num show em Bangcoc. Fosse lá o que
fosse, só poderia ser feita por uma mulher que tivesse uma flexibilidade muito maior
do que a minha.
Eu sabia fazer sexo, ora essa. Dera à luz uma criança. Como é que ela achava
que isso acontecera?
Quanto ao assunto de excentricidades sexuais, tenho uma confissão a fazer.
Espere só e ouvirá.
Lá vai.
Gosto de mamãe e papai.
Pronto! Já disse.
As pessoas me fazem sentir tão envergonhada de mim mesma por isto. Como
se eu fosse terrivelmente tediosa e reprimida.
Mas não sou. Honestamente.
Não estou dizendo que seja a única posição de que gosto.
Mas, realmente, não faço qualquer objeção a ela.
Naturalmente, claro, esta não é a hora para discutir posições sexuais favoritas.
Só vou dizer a você, muito rapidamente, que acho cunnilingus a coisa mais
chata que Deus já criou. Preferiria passar um dia trabalhando com arquivos do que
suportar uns meros cinco minutos disso.
E, quando eles encerram seus poucos minutos chupando, agem como se você
devesse ser muito grata por isso. Ficam à sua frente, radiantes, como se
merecessem uma medalha. E, depois, agem como se fizessem jus a um ano de
felação sem choro ou reclamações.
Claro, algumas mulheres juram que sim, mas... desculpem, desculpem.
Saí, afinal, e segui dirigindo o carro para a casa dele.

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