Uma estada no Claustro custava uma fortuna. Era por essa razão que
tantos artistas iam para lá. O plano de saúde de algumas pessoas cobria os
custos, mas, como eu vivera fora da Irlanda durante oito anos, não tinha
nenhum. Pensando bem, também não tinha nenhum em Nova York. Sempre
pretendera fazer um, algum dia, quando me tornasse uma adulta madura e
responsável.
Como não tinha nem plano de saúde nem um tostão furado, papai
disse que arcaria com as despesas, pois valeria a pena, para me pôr nos eixos.
Mas a conseqüência disso foi que, assim que cheguei em casa e
cambaleei porta adentro, confusa com a diferença de fuso horário e deprimida
por obra e graça de uma ressaca de Valium e vodca, Helen me recebeu aos
gritos, do alto da escada:
— Sua imbecil, esse dinheiro que você vai usar para se desintoxicar é
da minha herança, sabia?
— Oi, Helen — disse eu, cansada.
Então ela disse, em tom surpreso:
— Meu Deus, você emagreceu. Está com um ar de mulher emancipada,
sua filha-da-puta esquelética!
Quase agradeci, mas lembrei em tempo: o roteiro habitual exigia que
eu dissesse: "É mesmo? Emagreci?", e ela respondesse: "Não! Na-na-ni-na-não!
Você sempre cai feito um patinho, não é? Que besta quadrada."
— Cadê Poliana? — perguntou Helen.
— Lá fora, no portão, conversando com a Sra. Hennessy — respondi.
Margaret era a única de nós que conversava com os vizinhos, feliz da
vida por discutir artroplastias de quadris, a Primeira Comunhão dos netos, o
aumento incomum da umidade relativa do ar e as lojas onde se vendem as
batatinhas fritas Tayto em Chicago. Paul entrou no vestíbulo e depositou as
malas no chão.
— Ah, meu Deus, não — disse Helen, ainda no alto da escada. —
Ninguém disse que você viria. Quanto tempo vai ficar?
— Não muito.
— É melhor, mesmo, ou eu vou ter que sair para arranjar um emprego.
Apesar de dormir com todos os seus professores (ao menos assim dizia
ela), Helen levara pau nas provas finais no primeiro ano da faculdade. Repetira o
ano, mas, como tornara a levar pau, desistira da carreira de uma vez, como faria
com um empreguinho merreca.
Isso fora no verão passado, e ela não conseguira arranjar emprego de
lá para cá. Em vez disso, passava os dias flanando pela casa, chateando mamãe,
insistindo para que jogasse cartas com ela.
— Helen! Deixa o seu cunhado em paz — veio a voz de mamãe, que logo
em seguida apareceu na escada ao lado de Helen.
Eu estava morta de medo de rever minha mãe. Tive a sensação de que
um elevador descontrolado no meu peito despencara na boca do estômago.
Pude ouvir vagamente Helen reclamando que "... mas eu odeio ele. E
você vive me dizendo que a honestidade é a melhor política..."
Mamãe não fora ao aeroporto com papai. Era a primeira vez, desde que
eu saíra de casa, que ela não fora me receber no aeroporto. Por isso, calculei que
a coisa devia estar preta para o meu lado.
— Oi, mãe — consegui dizer, sem fitá-la nos olhos.
Ela me deu um sorriso curto e triste de mártir, e senti uma violenta
pontada de culpa que quase me fez sair atarantada pela casa, catando meu vidro
de Valium.
— Como foi de viagem? — perguntou.
Não pude agüentar a falsa amabilidade, os rodeios em torno do
assunto importante.
— Mamãe — disparei —, desculpe pelo susto que lhe dei, mas não há
nada de errado comigo. Não tenho nenhum problema com drogas e não tentei
me matar.
— Rachel, QUER PARAR DE MENTIR?
A essa altura, meu elevador interno já entrara em total parafuso. A
sensação de sobe-e-desce era tão freqüente, que eu tinha vontade de vomitar. O
sentimento de culpa e a vergonha se mesclavam à raiva e ao ressentimento.
— Não estou mentindo — protestei.
— Rachel — disse ela, com um tom de voz histérico —, você foi levada
às pressas de ambulância para o hospital e submetida a uma lavagem
estomacal!
— Mas não havia necessidade — expliquei. — Foi um engano.
— Não foi! — exclamou ela. — Checaram seus sinais vitais e
concluíram que precisava ser feito.
É mesmo?, pensei, surpresa. Seria verdade? Antes que pudesse
perguntar, ela já recomeçara:
— E você tem um problema com drogas — disse. — Brigit falou que
você se droga horrores, e Margaret e Paul disseram o mesmo...
— Sim, mas... — tentei me explicar, ao mesmo tempo em que sentia
meu ódio por Brigit entrar em erupção. Mas a lava teria que ser arquivada para
outra ocasião. Não suportava que minha mãe ficasse zangada comigo. Estava
habituada a que meu pai gritasse comigo, coisa que não me afetava nem um
pouco. Salvo, talvez, pelo fato de me fazer rir. Mas mamãe me dando um sermão
do tipo "Estou decepcionada com você" era uma coisa muito desagradável.
— Tá, eu uso drogas uma vez ou outra — admiti.
— De que tipo? — perguntou ela.
— Ah, você sabe.
— Não sei, não.
— Er, bom, talvez uma ou duas carreiras de cocaína...
— Cocaína! — ela repetiu, arquejante. Parecia tão abalada que me senti
como se tivesse lhe dado um tapa. Ela não compreendia. Era de uma geração
que entrava em pânico à simples menção da palavra "drogas".
— É legal? — perguntou Helen, mas não lhe dei atenção.
— Não é tão ruim quanto parece — argumentei.
— Mas não parece nem um pouco ruim. — Como eu gostaria que Helen
fosse embora!
— É inócua, não causa dependência e todo mundo usa — disse eu a
mamãe, em tom suplicante.
— Eu não — reclamou Helen. — Quem me dera.
— Não conheço ninguém que use — disse mamãe. — Nenhuma das
filhas de minhas amigas já fez uma coisa dessas.
Lutei contra a raiva que me invadia. Do jeito que mamãe falava,
qualquer um juraria que eu era a única pessoa no mundo inteiro, em todos os
tempos, que já saíra da linha ou dera uma mancada.
Bom, você é minha mãe, pensei, agressiva. Foi você quem me fez como
sou.
Mas, felizmente — o deus Jeremy devia estar tirando uma soneca —,
consegui, sabe-se lá como, calar a boca.
Passei dois dias em casa antes de ir para o Claustro.
Não foi nada agradável.
Eu não andava nada popular.
Com exceção de Margaret, que não se classificara nas eliminatórias, a
posição de Filha Menos Favorita passava de uma para a outra num sistema de
rodízio, como a presidência dos Estados Unidos. O fato de eu ter visto a morte de
perto fez com que destronasse Claire e agora usasse a coroa.
Quando eu estava prestes a descer do avião, papai me disse que eu
teria que fazer um exame de sangue antes de ser aceita no Claustro.
— Presta atenção — disse ele, nervoso —, não estou dizendo que você
vá, mas, se estiver pensando em tomar alguma coisa, e tenho certeza de que não
está, vai aparecer no resultado do exame e não vão aceitar você.
— Papai, eu já lhe disse um monte de vezes que não sou toxicômana e
que não há nada com que se preocupar.
Quase acrescentei que ainda estava à espera de que o preservativo
cheio de cocaína saísse do meu trato gastrintestinal, mas, como ele não parecia
estar com muito senso de humor, achei melhor ficar na minha.
Os medos de papai eram infundados, porque eu não tinha a menor
intenção de tomar nenhuma droga.
E isso porque não tinha nenhuma droga para tomar. Bem, nenhuma
droga ilegal, pelo menos. Dispunha de minha embalagem econômica de Valium,
tamanho-família, mas isso não contava, pois eu a comprara com receita (mesmo
tendo tido que comprar a receita de um médico meio sobre o salafrário no East
Village que tinha uma ex-mulher muito cara e era viciado em heroína, o que lhe
saía mais caro ainda). Claro que eu não fora idiota de me arriscar a
contrabandear para a Irlanda cocaína e outras drogas ilícitas da mesma laia. O
que foi muito maduro e sensato da minha parte.
E tampouco foi o grande sacrifício que estou fazendo crer que foi. Sabia
que jamais me faltaria um narcótico, enquanto Anna estivesse por perto.
O único problema era que Anna não estava por perto. Depreendi, pelas
frases curtas e tensas de mamãe, que Anna estava praticamente morando com
Shane, seu namorado. Esse sim, era um rapaz que sabia se divertir! Shane,
como dizem por aí, "vivia a vida intensamente". Tão intensamente que, se fosse
um elástico, já teria arrebentado.
Por estranho que pareça, não era da cocaína que eu sentia falta. Era
do Valium. Não que isso fosse de surpreender, pois eu estava abalada com as
mudanças recentes e rápidas que minha vida sofrerá, e a tensão entre mim e
mamãe não era nada agradável. Bem que gostaria de tomar alguma coisa que
amenizasse tudo isso. Mas consegui resistir a meus comprimidinhos brancos
porque estava realmente ansiosa para ir para o Claustro. Se tivesse mais tempo
(e mais dinheiro), teria até comprado roupas novas em homenagem à ocasião.
Quanta força de vontade! E estavam me chamando de toxicômana? Vê
se pode!
Dormi muito durante aqueles dois dias. Era a melhor coisa a fazer,
porque me sentia desorientada com a mudança de fuso horário e todo mundo
estava com ódio de mim.
Tentei ligar duas vezes para Luke. Mesmo sabendo que não devia. Ele
estava tão zangado comigo, que a melhor coisa a fazer era lhe dar um tempo
para se acalmar, mas não pude me conter. o que aconteceu, porém, foi que caiu
na secretária-eletrônica e tive autocontrole bastante para não deixar nenhum
recado.
Vontade de ligar mais vezes, eu tinha. Tinha ímpetos de ligar a maior
parte do dia. Mas, não fazia muito tempo, papai recebera uma conta telefônica
enorme (algo a ver com Helen) e passara a montar guarda ao telefone vinte e
quatro horas por dia. Assim, toda vez que eu teclava um número, papai se
retesava em qualquer lugar onde se encontrasse, mesmo que a mais de seis
quilômetros de distância, jogando golfe, e ficava de orelha em pé no ato. Se eu
teclasse mais de sete dígitos, mal teria partido para o oitavo e ele irromperia
vestíbulo adentro, aos gritos de "Sai dessa joça de telefone!". O que anulava
todas as minhas chances de falar com Luke, mas valia o quanto pesava em
termos de nostalgia. Eu revivia na hora meus anos de adolescência. Só faltava
ele dizer: "Nem um minuto além das onze, Rachel. Presta atenção, desta vez
estou falando sério. Se me deixar esperando no carro como da última vez, nunca
mais vai sair de novo, para me fazer bancar o garoto de quatorze anos. Por que
eu haveria de querer ter quatorze anos? Experimenta ter quatorze anos, com um
metro e setenta de altura e pé quarenta!"
Minha relação com mamãe estava ainda mais tensa. No meu primeiro
dia em casa, quando eu estava me despindo para tirar uma soneca pós-vôo,
flagrei-a a me encarar como se visse uma assombração.
— Que Deus nos proteja. — Sua voz estava trêmula. — Onde foi que
você arranjou esses hematomas horríveis?
Abaixei os olhos e tive a impressão de estar olhando para o corpo de
outra pessoa. Minha barriga, meu tronco e meus braços eram um caos de
inchaços roxo-escuros.
— Ah — disse eu, num fio de voz. — Acho que deve ter sido da lavagem
estomacal.
— Deus do Céu. — Ela tentou me abraçar. — Ninguém disse que... Eu
achava que... Não sabia que era uma coisa tão violenta.
Desvencilhei-me dela.
— Bom, agora já sabe.
— Estou chocada — disse ela.
E eu, então?
Depois disso, toda vez que eu me vestia ou despia, evitava me olhar no
espelho. Felizmente, estávamos em fevereiro e fazia um frio de rachar, de modo
que até para dormir eu podia usar roupas de gola alta e manga comprida.
Durante aqueles dois dias, tive um pesadelo atrás do outro.
Inclusive meu velho favorito, o "Tem-alguém-horrível-no-meu-quartoe-
eu-não-consigo-acordar". O sonho consistia — surpresa! — na presença de
alguém ameaçador que queria me fazer mal. E, quando eu tentava acordar para
me proteger, descobria que não podia. A força se aproximava mais e mais, até se
inclinar sobre mim e, embora eu sentisse um terror pavoroso, nem assim
conseguia acordar. Estava paralisada. Tentava várias vezes abrir caminho até a
superfície, mas sufocava sob o manto do sono.
Também tinha o "Estou morrendo". Esse era horrível, porque eu podia
de fato sentir minha energia vital esvaindo-se de mim em espiral, como um
tornado invertido, e não podia fazer nada para impedir que acontecesse. Sabia
que estaria salva se acordasse, mas não conseguia.
Sonhava que despencava de precipícios, que sofria um acidente de
automóvel, que uma árvore caía em cima de mim. Sentia o impacto todas as
vezes e acordava com um sobressalto, suando, trêmula, sem saber onde estava,
nem se era dia ou noite.
Helen só me deixou em paz até minha segunda noite em casa. Eu
estava na cama, com medo de me levantar, quando ela entrou no quarto,
comendo um Cornetto. Tinha um ar de falta do que fazer que prometia, no pior
sentido do termo.
— Oi — disse ela.
— Pensei que você fosse sair para beber alguma coisa com Margaret e
Paul — comentei, cautelosa.
— E ia. Mas não vou mais.
— Por que não?
— Porque aquele filho-da-mãe pão-duro do Paul diz que não vai mais
pagar nenhuma bebida para mim — disse ela, feroz. — E onde é que eu vou
arranjar dinheiro para uma bebida? Estou desempregada, como você sabe. Paul
não daria a ninguém nem o vapor do seu mijo — arrematou, sentando-se na
minha cama.
— Mas eles não te levaram ontem e te deixaram beber até cair?
perguntei, surpresa. — Margaret disse que você passou a noite inteira tomando
Southern Comforts duplos e que não pagou nenhum.
—Estou desempregada! — rugiu ela. — Fiquei pobre! Que é que você
quer que eu faça?
— Tá bem, tá bem — disse eu, branda. Não estava a fim de discutir. De
mais a mais, concordava com ela. A mão de Paul era fechada como a xoxota de
uma freira. Até mamãe comentara uma vez que Paul jantaria numa gaveta e
descascaria uma laranja no bolso. E que não mijaria na rua porque os
passarinhos poderiam depois aquecer os pezinhos na poça. Embora estivesse
bêbada quando disse isso — tomara um dedo de Harp com limão —, falara sério.
— Meu Deus, imagina só! — Helen sorriu para mim, acomodando-se na
cama com jeito de quem ia passar algum tempo ali. — Minha própria irmã, uma
desequilibrada mental, num hospício.
— Não é um hospício — protestei fracamente. — E um centro de
reabilitação.
— Centro de reabilitação! — ela debochou. — Não passa de um
hospício com outro nome. Você não engana ninguém.
— Você não entendeu nada — tentei.
— As pessoas vão atravessar a rua quando virem você se aproximando
— disse ela, divertida. — Vão dizer: "Aquela é a garota da família Walsh, a que
ficou maluca e teve que ser trancafiada." Ah, que vão, vão!
— Cala a boca.
— E as pessoas vão ficar confusas por causa de Anna e dirão: "Qual
das garotas da família Walsh? Acho que são duas que ficaram de miolo mole e..."
— Os artistas vão para lá — cortei-a, jogando minha cartada decisiva.
Isso a deixou sem resposta.
— Quem? — perguntou, por fim.
Citei dois nomes e ela ficou visivelmente impressionada.
— É mesmo?
— É.
— Como é que você sabe?
— Li no jornal.
— Como é que eu nunca ouvi falar nisso?
— Porque você não lê os jornais, Helen.
— Não leio? É, acho que não. Para que eu haveria de querer ler os
jornais?
— Para ficar sabendo que os artistas vão para o Claustro — disse eu,
com ar de superioridade. Fui recompensada com um olhar azedo de Helen.
— Cala a boca, espertalhona — disse ela. — Você não vai se achar tão
bacana assim quando estiver pulando de um lado para o outro na sua cela
acolchoada, usando uma daquelas lindas camisas de manga comprida.
— Não vou ficar numa cela acolchoada — tornei, altiva. — E vou passar
o dia inteiro esbarrando com celebridades.
— Os artistas vão mesmo para lá? — Ela começava a deixar
transparecer sua empolgação, por mais que tentasse ocultá-la.
— Vão — garanti.
— É mesmo? — insistiu ela.
— É mesmo.
— Mesmo, mesmo?
— Mesmo, mesmo.
— Caraca. — Ela parecia impressionada. — Toma, pode matar.
— Estendeu o resto do Cornetto para mim.
— Não, obrigada — recusei. Só a idéia de comer já me nauseava.
— Não estou pedindo a você para aceitar, estou mandando — explicou
Helen. — Estou cheia de comer Cornetto, e por mais que diga a papai para pegar
Magnum na seção dos sorvetes, ele sempre traz a porra do Cornetto. Com
exceção de uma única vez — e dessa, o que ele trouxe? Magnum de menta. Fala
sério, de menta...
— Não quero. — Empurrei o aviltante Cornetto para o lado.
— Bom, você é que sabe. — Helen deu de ombros e pôs o sorvete na
minha mesa-de-cabeceira, onde começou a derreter em cima do tampo. Procurei
pensar em coisas mais alegres.
— Então, Helen, quando eu me tornar a melhor amiga de gente como
Madonna — recomecei, como quem não quer nada —, você vai ficar...
— Cai na real, Rachel — cortou ela. — Embora eu ache que uma das
principais razões pelas quais você vai para um hospício é justamente o fato de
não conseguir cair na real.
— Como assim? — Foi minha vez de cortá-la.
—Bom — disse ela, com um sorriso de piedade —, é improvável que
eles ponham as pessoas famosas no mesmo lugar que gente como você, não
acha? Essas pessoas precisam proteger sua privacidade. Do contrário, gente
como você iria para os jornais assim que saísse de lá para vender sua história —
"Sexo no meu inferno de cocaína" e o escambau.
Ela tinha razão. Fiquei decepcionada, mas não muito. Afinal, eu
provavelmente os veria às refeições e nos eventos sociais. Talvez dessem festas.
— E é claro que os quartos e a comida deles devem ser muito
melhores — disse Helen, fazendo com que eu me sentisse pior. —
Coisa que você não vai ter, porque papai é pão-duro demais. Você vai
ficar na ala econômica, enquanto as celebridades vão ter todas as mordomias na
ala de luxo.
Tive um acesso de ódio contra meu avaro pai. Como se atrevia a não
pagar a taxa extra para que eu ficasse no mesmo lugar que as celebridades?
— E não adianta pedir a ele para soltar a grana. — Helen leu meus
pensamentos. — Ele diz que agora estamos pobres por sua causa, e que não
podemos mais comprar nenhuma batata frita cara, só aquela do saquinho
amarelo.
Fiquei muito deprimida. Não disse uma palavra. E, o que era
extremamente inusitado, Helen também não.
— De qualquer maneira — disse ela, por fim —, você deve acabar
esbarrando com eles qualquer hora dessas. Sabe como é, nos corredores, na
frente do prédio, esses lugares. Pode ser até que fique amiga de algum deles.
De repente, me senti alegre e esperançosa. Se Helen estava convicta,
então só podia ser verdade.
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