EPÍLOGO
Eu estava me aprontando para dormir quando ouvi um vozerio no
vestíbulo.
Fazia duas semanas que eu tinha visto Luke, e ainda esperava, em
vão, que a dor-de-cotovelo passasse. Era muito difícil ser uma adulta madura.
Mas eu extraía um certo consolo do meu desespero. Talvez me tornasse uma
pessoa mais forte.
Às vezes, eu acreditava nisso.
Mais ou menos dois segundos por dia.
O resto do tempo eu passava chorando escandalosamente, convicta de
que nunca o esqueceria. Limpava os vasos sanitários, punha as mesas e passava
aspirador de pó nas escadas de Il Pensione com as lágrimas escorrendo pelo
rosto. Ninguém se importava, eram italianos, encaravam as emoções à flor da
pele com a maior naturalidade.
Quando ouvi as vozes alteradas no vestíbulo do albergue, estava
justamente dando por encerrado um bom berreiro, e me eximindo da obrigação
de tirar oficialmente a maquiagem.
Aquele lugar era tão pobre em matéria de acontecimentos dramáticos,
que saí correndo para dar uma olhada. O barulho parecia vir do primeiro andar.
Debrucei-me sobre a balaustrada, olhando para o vestíbulo, onde acontecia um
violento corpo-a-corpo. Brad estava lutando vigorosamente com alguém.
Alguém que, após uma inspeção mais atenta, reconheci. Era Luke.
Meu coração quase parou de bater.
— Homem não entra aqui — berrava Brad. — Homem não entra.
— Só quero falar com Rachel Walsh — protestava Luke. — Não quero
criar nenhum problema.
Eu sabia, tinha a absoluta certeza de que não se tratava de uma visita
casual. Nosso último encontro fora marcado por um clima de despedida
excessivamente enfático.
Nesse momento, ele levantou o rosto e me viu.
— Rachel — chamou, de olhos fixos nos meus, apesar do ângulo
absurdo em que se encontrava, devido à gravata de Brad —, EU TE AMO. —
Brad soltou-o abruptamente, revoltada com o que ele dissera. Luke saiu catando
cavaco pelo chão.
Eu não podia acreditar no que tinha ouvido, mas, por outro lado,
podia. Afinal, eu o amava.
— Diz de novo — pedi, com a voz trêmula, ao que ele se punha de pé,
cambaleante.
— Eu te amo — berrou, eufórico, abrindo os braços num gesto
suplicante. — Você é linda, fantástica e eu não consigo te tirar da cabeça.
— Também te amo — disse eu, de um jorro.
— A gente pode se acertar — disse ele, olhando lá de baixo para mim.
— Vou voltar para a Irlanda e arranjar um emprego. A gente já foi feliz uma vez,
e pode ser mais feliz ainda agora.
Todas as outras garotas tinham saído dos seus quartos, algumas de
camisola.
— É isso aí, Rachel — disse uma delas.
— Se ela não te quiser, eu quero — gritou a texana Wanda para Luke.
— Eu te amo — ele tornou a me dizer, avançando pelas escadas. Houve
uma explosão de palmas e vivas, com um ou dois gritinhos de quebra.
— E eu te amo — murmurei, parada diante da minha porta, vendo-o se
aproximar.
Ele despontou no mezanino. As garotas correram de volta para seus
quartos quando ele passou, tornando a sair logo em seguida para admirar sua
bunda.
— Rachel — disse ele, quando finalmente me alcançou. Para minha
incredulidade, vi Luke se pôr de joelhos. A galera foi ao delírio! Ele tomou minha
mão. — Será — perguntou, olhando no fundo dos meus olhos — que uma
trepada está fora de cogitação?
NOTA DA AUTORA
O Claustro não existe. Há vários centros de reabilitação em todo o
mundo que oferecem tratamento para dependentes. As condições de vida, os
métodos terapêuticos e o tipo de psicoterapia empregado variam de um
estabelecimento para o outro. Alguns são mais severos do que o Claustro, outros
mais brandos. Na realidade, alguns têm mesmo banheiras de hidromassagem!
Durante minha pesquisa, o único denominador comum que encontrei
foi a recomendação de que todos os dependentes em recuperação freqüentassem
a reunião do grupo de "Anônimos" pertinente ao seu caso. Sendo assim, achei
necessário mencionar que Rachel freqüenta as reuniões dos Narcóticos
Anônimos, ao mesmo tempo tendo o cuidado de preservar o caráter confidencial
das reuniões.
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