segunda-feira, 18 de julho de 2011

Charlaine Harris - Morto até o Anoitecer Cap.05

Durante o seguinte par de dias me sobraram coisas nas que pensar. Para ser alguém que

sempre ansiava o novo para não aborrecer-se, já tinha tido suficientes novidades em minha

vida para umas quantas semanas. Solo com a gente do Fangtasía tinha material de análise

de sobra, e isso por não falar dos vampiros. De sonhar conhecendo um vampiro tinha

passado a alternar com mais dos que desejaria.

Muitos homens do Bon Temps e das cercanias tinham tido que ir à delegacia de polícia

de polícia para responder algumas pergunta sobre o Dawn Green e seus hábitos. Além

disso, o detetive Bellefleur estava acostumado a passar-se pelo bar em seu tempo livre, sem

beber mais álcool que o de uma cerveja, mas observando com atenção tudo o que tinha

lugar a seu redor. Resultou embaraçoso, mas como Merlotte's não era não um centro de

atividade ilegal, a ninguém preocupou muito uma vez todos se acostumaram à presença do

Andy.

Ele sempre parecia escolher uma mesa de minha zona, e começou a cercar um jogo

silencioso comigo. Quando ia a sua mesa, pensava algo provocador para tratar de que eu

dissesse algo; não parecia compreender quão indecente resultava aquilo. A chave era a

provocação, não o insulto: queria que voltasse a lhe ler a mente, embora não me ocorria por

que.

Então, pode que a quinta ou a sexta vez que lhe tive que levar algo (parece-me que era

uma Coca Cola Light) representou-me em sua cabeça pulando com meu irmão. Já estava

tão nervosa ao ir a sua mesa (sabendo que me esperaria com algo, mas sem saber com

exatidão o que) que tinha deixado atrás a possibilidade de me zangar e me encontrava já no

terreno das lágrimas. Recordava aos torturas menos sofisticados que tive que suportar na

escola primária.

Andy me observava com rosto espectador, e quando viu minhas lágrimas um

assombroso leque de sentimentos cruzou sua cara em rápida sucessão: triunfo, desgosto e

depois uma grande vergonha.

Derrubei-lhe a maldita Coca Cola em cima da camisa. Deixei atrás a barra e atravessei a

porta posterior.

-O que é o que ocorre? -perguntou-me Sam de repente. Estava justo detrás de mim.

Sacudi a cabeça, sem querer explicá-lo, e tirei um estragado lenço do bolso de minhas

calças curtas, para me secar os olhos com ele.

-Esteve-te dizendo coisas feias? -perguntou Sam, com tom mais frio e furioso.

-Esteve-as pensando -pinjente sem poder me conter-, para chincharme. Sabe.

-Filho de puta-disse Sam. Assombrou-me tanto que quase obteve que me recuperasse:

Sam nunca solta tacos. Mas uma vez comecei a chorar, resultou-me impossível me conter.

Estava soltando lágrimas não só por aquilo, mas também por um amplo número de

pequenas infelicidades.

-Volta dentro-pinjente, envergonhada por minha choradeira-. Em um minuto estarei

bem.

Ouvi que se abria e se fechava a porta traseira do bar. Supus que Sam me tinha feito

conta. Mas em vez disso, Andy Bellefleur disse:

-Sinto muito, Sookie.

-Senhorita Stackhouse para ti, Andy Bellefleur -respondi-. Me parece que faria melhor

em descobrir quem matou ao Maudette e ao Dawn em vez de praticar sujos jogos mentais

comigo.

Girei-me e olhei à polícia. Estava terrivelmente envergonhado. Sua confusão parecia

sincera.

Sam balançava as mãos, repletas da energia que dá a fúria.

-Bellefleur, se volta sente-se na zona de outra garçonete -disse, mas sua voz envolvia

um montão de violência contida.

Andy o olhou. Era o dobro de largura e cinco centímetros mais alto que Sam, mas nesse

momento tivesse apostado meu dinheiro por meu chefe, e parecia que Andy tampouco

queria confrontar o risco, embora solo fora por sentido comum. limitou-se a assentir e

cruzou o estacionamento até chegar a seu carro. O sol arrancou brilhos das cãs loiras que

colonizavam seu cabelo castanho.

-Sookie, sinto-o -se desculpou Sam.

-Não é tua culpa.

-Quer tomar um pouco de tempo livre? Hoje não estamos muito atados.

-Não faz falta, terminarei meu turno. -Charlsie Tooten estava acostumando-se ao ritmo

de trabalho, mas não me sentiria cômoda se a deixava sozinha. Era o dia livre do Arlene.

Voltamos a entrar no bar e, embora algumas pessoas nos olharam com curiosidade,

ninguém perguntou pelo acontecido. Em minha zona só havia sentada um casal; os dois

estavam ocupados comendo e seus copos ainda cheios, assim por agora não me

necessitavam. Comecei a ordenar os copos de vinho. Sam se recostava contra a barra,

detrás de mim.

-É certo que Bill Compton vai dar um bate-papo esta noite aos Descendentes dos Mortos

Gloriosos?

-Isso diz minha avó.

-Vai?

-Não o tenho decidido. -Não queria ver o Bill até que ele me chamasse e me pedisse

uma entrevista.

Sam não disse nada nesse momento. Mas à tarde, enquanto eu recolhia minha bolsa de

seu escritório, aproximou-se e rebuscou alguns papéis. Tirei minha escova e tratei de me

desenredar o acréscimo. Pelo modo em que Sam vacilava a meu redor parecia evidente que

queria falar comigo, e senti uma quebra de onda de exasperação ante os rodeios que

pareciam tomar sempre os homens.

Como Andy Bellefleur. Podia me haver perguntado por meu discapacidad em vez de

provar seus jueguecitos comigo.

Como Bill. Podia ter deixado claras suas intenções, em vez de dedicar-se a essas

estranhas adivinhações.

-O que? -pinjente, com mais brutalidade da que pretendia. Sam se ruborizou ante meu

olhar.

-Perguntava-me se você gostaria de ir comigo à reunião dos Descendentes e tomar uma taça de café depois.

Fiquei atônita. Detive a escova a metade de movimento. Uma larga enxurrada de idéias

me passou pela cabeça: o tato de sua mão quando a sustentei em frente do encostado do

Dawn Green, o muro que tinha visto em sua mente, o pouco inteligente que resulta sair com

seu chefe...

-Claro -pinjente depois de uma larga pausa. Sam pareceu respirar aliviado.

-Bem. Então te recolherei em sua casa às sete e vinte ou assim. A reunião começa às

sete e meia.

-De acordo, verei-te então.

Deu-me medo acabar fazendo algo estranho se ficava mais tempo, assim agarrei a bolsa

e dirigi a grandes pernadas até meu carro. Não sabia se soltar risitas de júbilo ou resmungar

por minha própria estupidez.

Quando cheguei a casa eram as cinco e quarenta e cinco. A avó já tinha posto o jantar na

mesa, já que tinha que partir logo para levar os refrigérios à reunião dos Descendentes, que

teria lugar no Centro Social.

-Pergunto-me se Bill também tivesse podido assistir à conferência de realizar-se na sala

de reuniões dos Baptistas da Boa Fé -disse a avó sem vir a conto. Mas não me custou

seguir seu trem de raciocínio.

-OH, suponho que sim -respondi-. Me parece que isso de que os vampiros se assustam

ante os símbolos religiosos não é certo. Mas não o perguntei.

-Pois ali têm uma cruz enorme pendurada -insistiu a avó.

-Ao final sim vou à reunião -disse-. Estarei com o Sam Merlotte.

-Seu chefe Sam? -a avó estava muito surpreendida.

-Sim, senhora.

-Umm. Bem, bem. -Começou a sorrir enquanto punha os pratos sobre a mesa. Eu tratei

de pensar o que me pôr ao tempo que tomava os sanduíches e a salada de frutas de frutas. A

avó estava emocionada pela reunião e por escutar ao Bill e apresentar-lhe a seus amigas, e

agora já estava no espaço exterior (com toda probabilidade perto de Vênus) porque em

cima eu tinha uma entrevista. E com um humano.

-Sairemos juntos quando acabar -lhe expliquei-, assim que imagino que chegarei a casa

como uma hora depois de que termine a conferência. -Não havia muitos sítios onde tomar

um café no Bon Temps, e esses poucos restaurantes não eram lugares onde a um gostasse

de atrasar-se muito.

-De acordo, carinho. Tome seu tempo. -A avó já estava arrumada, e depois do jantar a

ajudei a carregar as bandejas de massas e a enorme cafeteira que tinha comprado para

ocasiões como aquela. Tinha estacionado seu carro na parte traseira, o que nos economizou

bastante caminho. Estava tão feliz como era possível, e fofocou e tagarelou todo o

momento que estivemos carregando coisas. Era sua noite.

Despojei-me de minhas roupas de garçonete e me coloquei rauda e veloz na ducha.

Enquanto me ensaboava tratei de decidir o que me pôr. Nada branco e negro, isso

certamente; já estava bastante farta das cores das garçonetes do Merlotte'S. Me voltei a

barbear as pernas. Não tinha tempo de me lavar o cabelo e secá-lo, mas o tinha feito a noite

anterior. Abri de par em par meu armário e fiquei pensativa. Sam tinha visto o vestido

branco de flores, e a saia vaqueira não estava à altura dos amigos da avó. A1 final

desprendi umas calças cáquis e uma blusa de seda de cor bronze de manga curta. Tinha

umas sandálias de couro marrom e um cinturão do mesmo material que combinariam bem.

Pu-me uma correntinha no pescoço, uns grandes pendentes dourados, e já estava preparada.

Como se me tivesse cronometrado, Sam chamou o timbre.

Houve um momento curioso quando abri a porta:

-Bem-vindo, pode passar, mas acredito que temos o tempo justo...

-eu adoraria me sentar e tomar algo, mas acredito que temos o tempo justo...

Os dois nos rimos. Joguei o ferrolho e fechei a porta, e Sam se apressou a abrir a

portinhola da caminhonete. Alegrei-me de me haver posta calças, porque imaginei tratando

de subir à elevada cabine com uma de minhas saias curtas.

-Necessita um empurrão?-perguntou esperançado.

-Acredito que já estou-pinjente, tratando de não sorrir.

Permanecemos em silencio durante o trajeto até o Centro Social, que se encontrava na

parte mais antiga do Bon Temps: a zona anterior à guerra. A estrutura em si não era dessa

época, mas sim que houve ali um edifício que ficou destruído no conflito, embora ninguém

parecia conservar nenhum registro de sua função original. Os Descendentes dos Mortos

Gloriosos constituíam um grupo variopinto: havia alguns membros muito anciões e frágeis,

e outros não tão velhos e muito ativos, e inclusive havia certo número de homens e

mulheres de média idade. Mas não havia jovens, coisa que a avó lamentava

freqüentemente, me lançando significativos olhares.

O Sr. Sterling Norris, velho amigo de minha avó e prefeito do Bon Temps, era aquela

noite o encarregado de receber aos assistentes, e permanecia na porta estreitando a mão de

todos os que entravam e cruzando umas palavras com eles.

-Senhorita Sookie, cada dia está mais bonita -disse o Sr. Norris-. E você, Sam, faz uma

eternidade que não lhe vemos. Sookie, é verdade que este vampiro é teu amigo?

-Sim, senhor.

-Pode assegurar que estaremos todos a salvo?

-Sim, estou convencida de que sim. É uma... pessoa muito agradável. -Como dizê-lo se

não? Um ser? Uma entidade? "Se você gostar dos mortos viventes te cairá bem"?

-Se você o diz-disse o Sr. Norris com certas dúvidas-. Em meus tempos uma coisa

assim não era mais que um conto de fadas.

-OH, Sr. Norris, ainda são seus tempos-disse com o alegre sorriso que se esperava de

mim, e ele riu e nos convidou a passar, como se esperava dele. Sam me agarrou da mão e

virtualmente me conduziu até a penúltima fila de cadeiras metálicas. Saudei minha avó

enquanto nos sentávamos. A reunião estava a ponto de começar e pode que na sala

houvesse umas quarenta pessoas, uma congregação bastante considerável para o Bon

Temps. Mas Bill não se encontrava ali.

Justo então a presidenta dos Descendentes, uma mulher grande e pesada chamada

Maxine Fortenberry, subiu ao estrado.

-boa noite! boa noite! -bramou-. Nosso convidado de honra acaba de chamar para dizer

que teve um problema com o carro e que chegará uns minutos tarde. Assim prossigamos e

celebremos nossa reunião habitual enquanto o esperamos.

A gente se sentou e tivemos que suportar toda a parte aborrecida. Sam estava a meu lado

com os braços cruzados e a perna direita descansando sobre a esquerda à altura do

tornozelo. Pus um cuidado especial em proteger minha mente e sorrir, e me senti um pouco

desalentada quando Sam se inclinou com discrição para mim e sussurrou:

-Pode te relaxar.

-Pensei que já o estava-respondi com outro sussurro.

-Não acredito que saiba como fazê-lo.

Olhei-o arqueando as sobrancelhas. Teria que lhe dizer umas quantas coisas ao Sr.

Merlotte depois da reunião.

Justo então chegou Bill, e durante uns instantes se estendeu o silêncio, enquanto os que

não o tinham visto com antecedência se acostumavam a sua presença. Se nunca estiveste

em companhia de um vampiro, é de verdade algo ao que tem que te adaptar. Baixo aquelas

luzes fluorescentes, Bill parecia muito mais desumano que a tênue luz do Merlotte's ou a

também débil iluminação de sua própria casa. Não havia modo de que o confundisse com

uma pessoa normal. Sua palidez resultava muito marcada, é obvio, e os profundos poços de

seus olhos tinham um aspecto escuro e frio. Vestia um traje ligeiro azul, e estive segura de

que aquilo obedecia a um conselho da avó. Tinha um grande aspecto. Marcada-a linha de

suas sobrancelhas, a curva de seu largo nariz, seus lábios cinzelados, aquelas mãos brancas

de comprimentos dedos e unhas arrumadas com esmero... Manteve umas palavras com a

presidenta, e esta ficou enfeitiçada até a bandagem pela meia sorriso do Bill.

Não soube se Bill estava lançando glamour sobre toda a sala, ou se era tão solo que

aquela gente estava predisposta a sentir-se interessada, mas todos os pressente guardaram

um espectador silencio. Nesse momento Bill me viu. Juraria que piscou. Fez-me uma leve

inclinação e eu lhe devolvi o assentimento, sem poder lhe oferecer nenhum sorriso.

Inclusive entre toda aquela multidão fiquei isolada pelo profundo poço de seu silêncio.

A Sra. Fortenberry apresentou ao Bill, mas não recordo com exatidão o que disse nem

como soslayó o fato de que Bill era uma criatura diferente.

Então, Bill começou a falar. Observei com certa surpresa que se trouxe algumas nota. A

meu lado, Sam se inclinou para diante, com os olhos fixos no rosto do Bill.

-...não ficavam mantas e tínhamos muito pouca comida -disse sosegadamente-. Houve

muitos desertores.

Não era um dado muito do agrado dos Descendentes, mas uns poucos assentiram

mostrando seu acordo. Esse relato devia encaixar com o que tinham aprendido de seus

estudos. Um homem muito major da primeira fila levantou a mão.

-Senhor, por acaso conheceu meu bisavô, Tolliver Humphries?

-Sim-confirmou Bill depois de uns instantes. Sua expressão resultava impenetrável-.

Tolliver era meu amigo.

E justo por um momento, houve algo tão trágico em sua voz que tive que fechar os

olhos.

-Como era?-perguntou o ancião com voz tremente.

-Bom, era um temerário, o que o levou a morte-disse Bill com irônico sorriso-. Era

valente. Nunca ganhou um céntimo em sua vida que não esbanjasse.

-Como morreu? Estava você ali?

-Sim, eu estava ali-disse Bill com desalento-. Vi como o alcançava um disparo de um

franco-atirador do Norte nos bosques, a uns trinta quilômetros daqui. Andava com lentidão

porque morria de fome. Todos morríamos de fome. Mais ou menos no meio da amanhã,

uma fria manhã, Tolliver viu um menino de nossa tropa receber um disparo enquanto jazia

mal coberto em meio de um campo. O menino não morreu, mas estava muito ferido. Pôde

nos chamar, e o esteve fazendo durante toda a manhã, chamava-nos para que o

ajudássemos. Sabia que morreria se ninguém ia a por ele.

A sala tinha ficado tão silenciosa que se podia ouvir o ruído de um alfinete ao cair.

-Gritou e gemeu. Quase lhe disparei eu mesmo para fazê-lo calar, porque sabia que

aventurar-se em seu resgate seria suicida, mas não pude me obrigar a matá-lo. Disse-me

que isso seria um assassinato, não um combate. Mas depois desejei havê-lo feito, posto que

Tolliver estava menos disposto que eu a suportar as súplicas do guri. depois de duas horas de uivos, disse-me que planejava resgatá-lo. Discuti com ele, mas me contou que Deus

queria que o tentasse. Tinha estado rezando enquanto permanecíamos no bosque. Embora

disse ao Tolliver que Deus não queria que arriscasse estupidamente sua vida, que tinha

esposa e filhos em casa que rezavam por sua volta, Tolliver me pediu que distraíra ao

inimigo enquanto ele tentava o resgate. Correu por volta do campo como se fosse um dia da

primavera e ele estivesse afresco como uma rosa. Chegou a alcançar ao menino ferido, mas

então soou um disparo e Tolliver caiu morto. Um momento depois o menino voltou a gritar

pedindo ajuda.

-O que lhe ocorreu?-perguntou a Sra. Fortenberry, com a voz o mais serena que pôde

compor.

-Sobreviveu -disse Bill, com um tom que me fez sentir calafrios na coluna-. Conseguiu

resistir até que caiu o sol e pudemos recolhê-lo durante a noite.

De algum modo aquelas pessoas de antigamente tinham voltado para a vida enquanto

Bill falava, e o ancião da primeira fila tinha agora umas lembranças que embalar, umas

lembranças que diziam muito do caráter de seu ancestro. Não acredito que nenhum dos que

foram aquela noite à reunião estivesse preparado para o impacto de ouvir testemunhos da

guerra civil de mão de um supervivente. Estavam encantados, afligidos.

Quando Bill terminou de responder à última pergunta, o aplauso foi ensurdecedor, ou ao

menos tudo quão ensurdecedor pode ser um aplauso de quarenta pessoas. Inclusive Sam,

que não era o maior fã do Bill, por dizê-lo de algum modo, teve que dar palmadas.

Logo todos quiseram ter um bate-papo pessoal com o Bill exceto Sam e eu. Enquanto o

relutante conferencista convidado era rodeado pelos Descendentes, nós dois nos

escapulimos até a caminhonete do Sam. Fomos ao Crawdad Diner, um autêntico casa de

jogo clandestino que por acaso servia comida muito boa. Eu não tinha muita fome, mas

Sam tomou bolo de limão dos recifes com seu café.

-foi interessante-disse Sam com cautela.

-O bate-papo do Bill? Sim, foi-o -acrescentei, igual de precavida.

-Sente algo por ele?

depois de tantos rodeios, Sam tinha decidido lançar-se ao assalto pela entrada principal.

-Sim-disse.

-Sookie-me respondeu-, não tem futuro a seu lado.

-Pois ele já leva bastante neste mundo. Confio em que esteja por aqui uns quantos

centenas de anos mais.

-Nunca se sabe o que vai acontecer a um vampiro.

Isso não o podia discutir. Mas, como lhe assinalei, tampouco se sabia o que me podia

acontecer , uma humana. Atiramos da corda em um e outro sentido durante muito

momento. Ao final, exasperada, disse-lhe:

-E que mais te dá, Sam?

Sua pele corada se sobressaltou. Olhou-me com seus brilhantes olhos azuis.

-Eu gosto, Sookie. Como amigo, ou pode que algo mais em algum momento...

Como?

-...odiaria verte tomar uma decisão equivocada.

Estudei-o. Notei que minha tradicional expressão de cepticismo tomava posições: me

juntavam as sobrancelhas e as comissuras dos lábios me atiravam para cima.

-Claro --lhe disse, com um tom equiparável a minha expressão.

-Sempre me gostaste.

-Tanto que tiveste que esperar até que alguém mais mostrasse interesse por mim para

me poder mencionar isso -Vayámonos -sugerí. Me imaginé que sería complicado volver a

conducir la conversación a terreno neutral. Mejor me iba a casa.

-Mereço-me isso. -Parecia estar lhe dando voltas a algo em sua cabeça, algo que queria

dizer, mas não tinha a resolução necessária. Na aparência, fosse o que fosse não conseguia

soltá-lo.

-Vamos -sugeri. Imaginei que seria complicado voltar a conduzir a conversação a

terreno neutro. Melhor ia a casa.

Foi um trajeto de volta muito gracioso. Sam parecia estar todo o momento a ponto de

falar, e então sacudia a cabeça e guardava silêncio. Tirava-me tanto de gonzo que tinha

vontades de chutá-lo.

Chegamos a casa mais tarde que o esperado. A luz da avó estava acesa, mas o resto do

edifício estava às escuras. Não vi seu carro, assim supus que tinha estacionado na parte de

detrás para descarregar as sobras diretamente à cozinha. A luz do alpendre também estava

acesa, para mim.

Sam rodeou o carro para me abrir a porta e baixei. Mas na escuridão meu pé falhou o

estribo e quase me caí. Sam me agarrou. Primeiro me agarrou pelos braços para me

estabilizar, e logo me envolveu com os seus. E me beijou.

Supus que não se trataria mais que de um pequeno pico de boa noite, mas sua boca se

recreou. Foi muito agradável, mas de repente meu censor interno disse: "É o chefe".

Soltei-me com delicadeza. Ele se deu conta imediatamente de que me retirava e, gentil,

deixou escorregar sua Palmas por meus braços até que solo nos agarramos das mãos.

Dirigimo-nos à porta sem mediar palavra.

-Passei-me isso bem -lhe disse em voz baixa. Não queria despertar à avó, nem soar

muito exuberante.

-Eu também. Voltaremos a sair?

-Já veremos-lhe disse. Em realidade ainda não sabia o que sentia pelo Sam.

Esperei até ouvir que sua caminhonete se afastava antes de apagar a luz do alpendre e

entrar em casa. Enquanto andava ia desabotoando a blusa, esgotada e com vontades de me

colocar na cama.

Algo ia mau.

Detive-me no meio do salão. Olhei a meu redor.

Tudo parecia como sempre, não?

Sim. Tudo estava em seu sítio.

Era o aroma.

Era uma espécie de aroma metálico.

Um aroma de cobre, penetrante e salgado.

O aroma do sangue.

E me rodeava, ali abaixo, não acima, onde os dormitórios de convidados se elevavam

solitários.

-Avó?-chamei, odiando o tremor de minha voz.

Obriguei-me a avançar, obriguei-me a ir até a porta de seu dormitório. Estava imaculado.

Comecei a acender as luzes enquanto percorria toda a casa.

Meu quarto estava como o tinha deixado.

O banho estava vazio.

O tanque estava vazio.

Acendi a última luz. A cozinha estava...

Gritei, uma e outra vez. Minhas mãos se agitavam inutilmente no ar, tremendo mais com

cada grito. Ouvi um rangido detrás de mim, mas não me preocupou. Então umas mãos

grandes me agarraram e me arrastaram, e um corpo se interpôs entre o meu e o que tinha

visto no chão da cozinha. Não reconheci ao Bill, mas ele me elevou e me levou até o salão,

onde já não pudesse ver aquilo.

-Sookie -me disse com dureza -, cala já! Não serve de nada! -Se me tivesse tratado com

amabilidade, tivesse seguido gritando.

-Sinto-o-pinjente, ainda fora de mim-. Estou atuando como aquele menino.

Olhou-me sem compreender.

-o de sua história -disse atordoada.

-Temos que avisar à polícia.

-Claro.

-Temos que marcar seu número.

-Espera. Como chegaste aqui?

-Sua avó se ofereceu a me levar a casa, mas insisti em que viesse primeiro aqui para

ajudá-la a descarregar o carro.

-E por que segue aqui?

-Estava-te esperando.

-Então viu quem a matou?

-Não. fui a minha casa, cruzando o cemitério, para me trocar.

Levava texanos azuis e uma camiseta dos Grateful Dead, e comecei a soltar risitas.

-É para morrer de risada-disse, me dobrando das gargalhadas. E de repente me pus a

chorar, de maneira igual de repentina. Agarrei o telefone e marquei o 911.

Andy Bellefleur esteve ali em cinco minutos.

Jason veio assim que o localizei. Tratei de chamá-lo quatro ou cinco sítios, e ao final o

encontrei no Merlotte'S. Terry Bellefleur atendia o bar aquela noite em lugar do Sam, e

quando voltaram a me passar isso detrás lhe dizer ao Jason que viesse a casa da avó, pedilhe

que chamasse o Sam e lhe contasse que tinha problemas e não poderia ir trabalhar

durante uns dias.

Terry deveu chamá-lo imediatamente, porque Sam esteve em minha casa em menos de

trinta minutos, ainda com as roupas que tinha levado na conferência dessa noite. Ao me vêlo

olhei, porque recordei que me tinha desabotoado a blusa enquanto caminhava pelo salão,

um fato do que me tinha esquecido por completo, mas comprovei que tinha um aspecto

decente. Bill devia me haver voltado a pôr apresentável. Pode que depois aquilo me

resultasse embaraçoso, mas nesse momento me senti agradecida.

Assim Jason chegou, e quando lhe disse que a avó estava morta, assassinada, ficou

olhando. Parecia que não havia nada detrás de seus olhos, como se tivesse perdido a

capacidade para assimilar novos dados. Então o que havia dito lhe impregnou, e meu irmão

caiu de joelhos ali mesmo, e eu me ajoelhei diante dele. Rodeou-me com seus braços e me

pôs a cabeça no ombro, e assim estivemos durante um momento. Da família só ficávamos

nós.

Bill e Sam estavam no pátio dianteiro, sentados em umas cadeiras de jardim, para não

interferir no trabalho da polícia. Logo pediram ao Jason e a mim que saíssemos ao menos

ao alpendre, e também optamos por nos sentar fora. Era uma noite temperada, e me sentei

de cara à casa, com todas suas luzes acesas como um bolo de aniversário, e a gente que

entrava e saía eram como formigas que tivessem sido convidadas à festa. Toda aquela

atividade rodeava os restos do que tinha sido minha avó.

-O que ocorreu? -perguntou Jason por último.

-Retornei da reunião-disse muito pouco diminuo-. depois de que Sam partisse em seu

caminhão, soube que algo ia mau. Olhei em todas as habitações-era a história de Como

Encontrei à Avó Morta, versão oficial-. E quando entrei na cozinha a vi.

Jason girou a cabeça com grande lentidão até que seus olhos se encontraram com meus.

-Conta-me o -¿Cómo puedes decir eso? -dijo él, sonando deprimido y anquilosado.

Sacudi a cabeça em silêncio. Mas estava em seu direito ou seja o.

-Tinham-na golpeado, mas tratou de defender-se, ou isso acredito. que o tem feito lhe

deixou alguns cortes. E depois a estrangulou-não pude nem olhasse meu irmão asa cara-.

foi minha culpa.

-Como pode dizer isso? -disse ele, soando deprimido e anquilosado.

-Imagino que alguém deveu vir a me matar como tinham matado ao Maudette e ao

Dawn, mas a avó estava aqui em meu lugar. -Pude observar que a idéia se filtrava na mente

do Jason-. Se supunha que eu ia ficar me aqui esta noite enquanto ela ia à reunião, mas

Sam me pediu sair no último momento. Meu carro seguia aqui, porque fomos na

caminhonete do Sam, e a avó tinha estacionado o seu por detrás enquanto descarregava,

assim não parecia que ela estivesse na casa, a não ser eu. A avó trouxe para o Bill a casa,

mas ele a ajudou a descarregar e depois foi trocar se. depois de que se fora, que estivesse

esperando... atacou-a.

-Como sabemos que não foi Bill? -perguntou Jason, como se Bill não estivesse sentado

justo a seu lado.

-Como sabemos que não foi qualquer?-pinjente, exasperada pelas lentas entendederas

de meu irmão-. Poderia ser qualquer, qualquer que conheçamos. Não acredito que tenha

sido Bill. Não acredito que Bill matasse ao Maudette e ao Dawn. E acredito que quem

matou ao Maudette e ao Dawn matou à avó.

-Sabia -disse Jason, com voz muito alta- que a avó te deixou toda a casa a ti?

Era como se me atirassem um cubo de água fria à cara. Vi que Sam também piscava. Os

olhos do Bill se obscureceram e se fizeram mais frios.

-Não, sempre supus que você e eu a compartilharíamos como fizemos com a outra -me

referia à casa de nossos pais, em que Jason vivia agora.

-Também te deixa todas as terras.

-por que diz isto? -Estava a ponto de voltar a chorar, justo quando me tinha convencido

de que já não ficavam mais lágrimas.

-Não foi justa! -gritou-. Não foi justa e agora não pode corrigi-lo!

Comecei a tremer. Bill me fez levantar da cadeira e começou a caminhar a meu lado de

um extremo a outro do jardim. Sam se sentou frente a Jason e começou a lhe falar com

firmeza. Sua voz era profunda e intensa.

Bill me rodeava os ombros com seu braço, mas eu não podia deixar de tremer.

-De verdade queria dizer isso? -perguntei, sem esperar nenhuma resposta do Bill.

-Não -disse. Elevei o olhar, surpreendida-. Não pôde ajudar a sua avó, e não pode

suportar a idéia de que alguém te estivesse esperando e a matasse a ela em seu lugar. Assim

tem que enfurecer-se por algo, e em vez de zangar-se contigo por não ter morrido, zanga-se

pelas coisas materiais. Eu não deixaria que me preocupasse.

-Acredito que é assombroso que você me diga algo assim -lhe respondi com franqueza.

-OH, assisti a alguns cursos noturnos de psicologia-disse Bill Compton, vampiro.

Não pude evitar pensar que os depredadores sempre estudam a sua presa.

-por que me ia deixar a avó todo a mim, e não ao Jason?

-Pode que o descubra mais adiante -disse, e isso me pareceu muito adequado.

Nesse momento Andy Bellefleur saiu da casa e permaneceu sobre os degraus, olhando

ao céu como se houvesse pistas escritas nele.

-Compton-disse com brutalidade.

-Não -disse, e minha voz surgiu como um grunhido.

Senti que Bill me olhava com um gesto de leve surpresa. Toda uma reação, vindo dele.

-Tinha que acontecer-pinjente furiosa.

-estiveste me protegendo -me disse-. Pensou que a polícia suspeitaria que eu tinha

matado a essas duas mulheres. Por isso queria te assegurar de que outros vampiros tinham

alternado com elas. Agora crie que este Bellefleur tratará de carregar sobre mim a morte de

sua avó.

-Sim.

Respirou fundo. Estávamos na escuridão, junto às árvores que delimitavam eljardín.

Andy voltou a gritar o nome do Bill.

-Sookie-disse Bill com amabilidade-, estou tão seguro como você de que foi a vítima

prevista -era muito chocante ouvir o dizer a outra pessoa-. E eu não as matei. Assim se o

assassino tiver sido o mesmo, então eu não fui, e ele o compreenderá. Inclusive para ser um

Bellefleur.

Começamos a andar para a luz. Não queria que acontecesse nada daquilo, queria que a

gente e as luzes desaparecessem. Todos eles, e Bill também. Queria estar sozinha na casa

com minha avó, e queria que parecesse feliz, como a última vez que a vi.

Era fútil e infantil, mas mesmo assim podia desejá-lo. Estava perdida nesse sonho, tão

perdida que não vi o perigo até que foi muito tarde. Jason, meu irmão, ficou diante de mim

e me deu uma bofetada na cara.

Foi tão inesperado e tão doloroso que perdi o equilíbrio e me cambaleei de lado,

aterrissando sobre um joelho.

Pareceu que Jason voltava outra vez a por mim, mas imediatamente Bill esteve diante,

em cuclillas, com as presas desdobradas. Dava muito medo. Sam se encarou ao Jason e o

derrubou, e possivelmente lhe desse um golpe forte contra o chão no caso de.

Andy Bellefleur ficou assombrado ante aquela mostra repentina de violência. Mas

depois de um instante se colocou entre os dois grupitos, sobre a grama. Olhou ao Bill e

tragou saliva, mas disse com voz firme:

-Compton, deixa-o. Não a voltará a golpear.

Bill respirava com agitação, tratando de controlar sua ânsia pelo sangue do Jason. Não

podia ler seus pensamentos, mas sim sua linguagem corporal.

Não pude compreender do todo os pensamentos do Sam, mas ficou claro que estava

muito furioso.

Jason estava soluçando. Seus pensamentos eram uma massa triste, confuso e misturado.

E ao Andy Bellefleur não gostava de nenhum e desejaria poder nos encerrar a todos os

monstruitos por um ou outro motivo.

Pu-me em pé de modo inseguro e me toquei a zona onde me doía a bochecha,

aproveitando essa dor para que me distraíra do de meu coração, da terrível pena que me

invadia. Parecia como se a noite não acabasse nunca.

Foi o maior funeral realizado nunca na Paróquia do Renard. Isso disse o pastor. Sob um

brilhante céu do verão precoce, minha avó foi enterrada junto a minha mãe e meu pai na

fossa familiar do antigo cemitério situado entre sua casa e a dos Compton.

Jason estava no certo. Agora era minha casa. E também os oitocentas hectares que a

rodeavam, assim como os direitos de exploração mineral. O dinheiro da avó, isso sim,

dividiu-se em partes iguais entre nós dois, e a avó tinha estipulado que desse ao Jason

minha metade da casa em que tinham vivido nossos pais, se queria ficar com todos os

direitos da sua. Isso foi fácil de fazer, e não quis receber do Jason nenhum dinheiro por

minha metade, embora meu advogado pôs má cara quando o expliquei. Jasoñ se sairia de

suas casinhas se lhe mencionava que tinha que me pagar algo por minha metade; o fato de

que eu também fosse proprietária em parte nunca tinha sido para ele mais que uma fantasia,

mas que a avó me deixasse toda sua casa lhe tinha suposto toda uma comoção. Ela o tinha

compreendido melhor que eu.

Era uma sorte para mim ter outros ganhos além dos do bar, pensei para tratar de me

concentrar em algo que não fora sua perda. Pagar os impostos das terras e a casa, além dos

gastos de manutenção da mesma, aos que a avó sempre tinha contribuído ao menos em

parte, ia reduzir de maneira considerável meus recursos.

-Suponho que quererá lhe mudar -me disse Maxine Fortenberry enquanto limpava a

cozinha. Maxine havia me trazido ovos cheios e salada de presunto, e tratava de ser ainda

mais serviçal esfregando um pouco.

-Não -respondi, surpreendida.

-Mas céu, com o que aconteceu justo aqui... -o rosto do Maxine se enrugou pela

preocupação.

-Tenho mais lembranças boas que maus desta cozinha - lhe expliquei.

-OH, que bom modo de vê-lo-disse, assombrada-. Sookie, é sem dúvida muito mais

lista do que a gente se crie.

-Céus, obrigado, Sra. Fortenberry -respondi, e se notou meu tom seco não deu amostras

disso. Possivelmente foi o mais sábio.

-vai vir seu amigo ao funeral?-Na cozinha fazia boa temperatura. A corpulenta e

pesadota Maxine se secava com um pano de cozinha. O ponto onde tinha cansado a avó

tinha sido esfregado por seus amigas, Deus as benza.

-Meu amigo? Ah, Bill? Não, não pode. -Olhou-me sem compreender-. O faremos de

dia, é obvio.-Seguiu sem entendê-lo-. Não pode sair.

-Ah, claro! -deu-se um tapinha na têmpora para indicar que tinha que meter-se sentido

comum na cabeça-. Boba de mim. De verdade se torraria?

-Bom, ele diz que sim.

-Sabe? Estou tão contente de que desse aquela conversa no clube... Isso tem feito muito

por convertê-lo em parte da comunidade.

Assenti distraída.

-Há muita preocupação pelos assassinatos, Sookie. fala-se muito de vampiros, de como

são os responsáveis por estas mortes. -Olhei-a com os olhos entrecerrados-. Não me ponha

má cara, Sookie Stackhouse! Como Bill foi tão amável contando aquelas histórias

fascinantes na reunião dos Descendentes, quase todo mundo acredita que ele não seria

capaz de coisas tão terríveis como as que fizeram a essas mulheres. -Perguntei-me que

classe de histórias circulavam no povo, e me encolhi de ombros-. Mas teve alguns

visitantes cujo aspecto não gostou de muito às pessoas.

Pensei se se referia ao Malcolm, Liam e Diane. Tampouco me tinha gostado de muito

seu aspecto, e contive o impulso automático de defendê-los.

-Os vampiros são tão distintos entre si como os seres humanos-disse.

-Isso é o que eu contei ao Andy Bellefleur -acrescentou, assentindo com veemência-.

Lhe disse: "Deveria ir detrás de algum desses outros, dos vampiros que não querem

aprender a viver conosco, não como Bill Compton, que está fazendo um esforço por

integrar-se". Disse-me na funerária que ao fim tinha conseguido que lhe terminassem a

cozinha.

Não pude a não ser ficar olhando-a fixamente. Tratei de imaginar o que poderia fazer

Bill na cozinha. Para que necessitava uma?

Mas não funcionou nenhuma das distrações, e ao final me dava conta de que durante um

tempo ia chorar a três por quatro. E chorei.

No funeral, Jason se sentou a meu lado, superado na aparência seu ataque de raiva contra

mim, de volta a seu são julgamento. Não me tocou nem me falou, mas tampouco me pegou.

Senti-me muito sozinha. Mas então me dava conta, ao olhar para fora, à ladeira da colina,

que todo o povo se causar pena comigo. Havia carros todo o longe que pude ver pelas

estreitas ruas do cemitério, havia centenas de pessoas vestidas de negro rodeando a carpa da

funerária. Sam estava ali, com um traje (tinha um aspecto pouco habitual), e Arlene, junto

ao Rene, levava um floreado vestido de domingo. Lafayette estava ao fundo da multidão,

junto ao Terry Bellefleur e ao Charlsie Tooten; deviam ter fechado o bar! E todos os

amigos da avó, todos, ao menos todos os que ainda podiam caminhar. O Sr. Norris chorava

sem reservas, com um lenço branco como a neve sobre os olhos. O volumoso rosto do

Maxine estava marcado por profundas linhas de pesar. Enquanto o pastor dizia o que devia,

enquanto Jason e eu nos sentávamos sozinhos na zona destinada à família, em

desemparelhadas cadeiras dobradiças, senti que algo em mim se soltava e voava alto, para o

brilhante azul do céu, e soube que, fosse o que fosse o que lhe tinha acontecido a minha

avó, agora estava em casa.

O resto do dia se passou voando, graças a Deus. Não queria recordá-lo, não queria nem

me inteirar do que ocorria. Mas houve um momento particular. Jason e eu estávamos junta

asa mesa do comilão da casa da avó, em uma espécie de trégua temporária entre ambos.

Saudamos os que vinham a nos dar o pêsames, a maioria dos quais fizeram um esforço por

não me olhar muito o moratón da bochecha.

Passamos por isso, e Jason pensava que depois se iria a casa, beberia algo e não teria que

lombriga durante um tempo, e que então tudo voltaria a estar bem, e eu pensava quase

exatamente o mesmo. Salvo o da bebida.

Uma mulher bem-intencionada se aproximou de nós. Era o tipo de mulher que pensou

até a última ramificação de uma situação que, para começar, não é absolutamente assunto

dele.

-Sinto-o tanto por vós, meninos-disse. E então a olhei. Por mais que o tentasse não

podia recordar seu nome. Era metodista, e tinha três filhos já maiores. Mas seu nome se

escondia no outro extremo de minha cabeça-. foi tão triste lhes ver ali hoje, aos dois

sozinhos, recordavam-me tanto a seus pais -prosseguiu. Seu rosto formou uma máscara de

simpatia que soube que era automática. Olhei um instante para o Jason, voltei a olhá-la a

ela e assenti.

-Sim-respondi. Mas escutei seu pensamento antes de que começasse a falar, e fiquei

branca.

-Mas onde estava hoje o irmão do Adele, seu tíoabuelo? É de supor que ainda vive.

-Não estamos em contato-disse, e meu tom tivesse bastado para desalentar a qualquer

mais perceptivo que aquela senhora.

-Mas era seu único irmão! Imagino que vós... -e sua voz se apagou quando nosso olhar

fixo combinado conseguiu fazer efeito ao fim.

Várias outras pessoas tinham comentado por cima a ausência do tio Bartlett, mas lhes

tínhamos dado o sinal de "isto é um assunto familiar" para lhes parar os pés. Esta mulher

(como se chamava?) não a tinha interpretado com tanta rapidez. havia nos trazido uma

salada de tacos, e me disse que a atiraria ao lixo assim que se fora.

-Temos que dizer o comentou Jason discretamente depois de que a senhora se afastasse.

Pus em guarda minhas defesas, não tinha nenhuma vontades de saber o que estava

pensando ele.

-Você o chama-respondi.

-De acordo.

E isso foi tudo o que nos dissemos o um ao outro durante o resto do dia.

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