segunda-feira, 18 de julho de 2011

Charlaine Harris - Morto até o Anoitecer Cap.12

Sam veio com notícias ao redor das onze em ponto.

-vão prender ao Jason logo que recupere a consciencia, Sookie, e parece que isso será

logo. -O que Sam não me disse é como tinha chegado a inteirar-se, e eu não lhe perguntei.

Cravei o olhar nele, com as lágrimas me escorregando pela cara. Qualquer outro dia

tivesse pensado em quão tola pareço quando choro, mas naquele momento não estava para

me preocupar de meu aspecto. Me acumulava tudo, o medo pelo Jason, a pena pela Amy

Burley, a fúria porque a polícia cometesse um engano tão estúpido, e impregnando-o tudo,

o muito que sentia falta da o Bill.

-Pensam que dá a impressão de que Amy Burley resistiu. Acreditam que Jason se

embebedou depois de matá-la.

-Obrigado, Sam, por me avisar. -Minha voz vinha de muito longe-. Será melhor que

agora vás trabalhar.

depois de que Sam comprovasse que precisava estar sozinha, chamei informação e

consegui o telefone do Blood no casco velho de Nova Orleáns. Marquei os dígitos, sentindo

que de algum jeito estava fazendo algo mau, embora não me ocorria como ou por que.

-Bloooooood... no casco velho -anunciou de maneira dramática uma voz profunda-, seu

ataúde longe de casa!

Vá Por Deus.

-bom dia. Sou Sookie Stackhouse chamando desde o Bon Temps-disse com educação-.

Preciso deixar uma mensagem para o Bill Compton. aloja-se ali.

-Presa ou humana?

-Né... presa.

-Um momento, por favor. -Aquela voz profunda retornou à linha uns instantes depois-.

Qual é a mensagem, madame?

Isso me fez pensar.

-Por favor, lhe diga ao Sr. Compton que... que meu irmão foi detido, e que eu gostaria

que pudesse retornar a casa logo que solucione seus assuntos.

-Já o apontei-penetrou o som de rabiscar-. Me pode repetir seu nome?

-Stackhouse. Sookie Stackhouse.

-Muito bem, senhorita. Assegurarei-me de que recebe sua mensagem.

-Obrigado.

E essa foi a única ação que me ocorreu adotar, até que me dava conta de que seria muito

mais prático chamar o Sid Matt Lancaster. Fez o possível por parecer horrorizado ao

inteirar-se de que Jason ia ser detido, e disse que sairia disparado por volta do hospital

assim que acabasse nos tribunais pela tarde, e que me informaria do que se inteirasse.

Fui de novo ao hospital para ver se me deixavam me sentar com o Jason até que

recuperasse a consciencia. Não me deixavam. Não sabia se já estava consciente, e eles não

me queriam dizer isso Vi o Andy Bellefleur ao outro extremo do corredor e se girou para

afastar-se. Maldito covarde.

Fui a casa porque não me ocorria nada mais que fazer. Recordei que, de todos os modos,

não me tocava trabalhar esse dia, e isso resultou positivo embora naqueles momentos não

me preocupava muito. Pensei que não me estava enfrentando à situação tão bem como

deveria, que tinha sido muito mais forte quando morreu a avó.

Mas aquilo tinha sido uma situação definida. Enterraríamos à avó, prenderiam a seu

assassino e a vida seguiria adiante. Mas se a polícia de verdade acreditava que Jason tinha

matado à avó, além da as outras mulheres, então o mundo era um lugar tão mau e arriscado

que não queria tomar parte nele.

Enquanto me sentava e olhava a minha redor durante aquela larga, larga tarde, dava-me

conta de que tinha sido justo essa mesma ingenuidade a que tinha conduzido ao arresto do

Jason. Se me tivesse limitado a colocá-lo na caravana do Sam e limpá-lo um pouco, a

esconder a cinta até saber o que continha, e sobre tudo não ter chamado à ambulância... Isso

foi o que estava pensando Sam quando me olhou com tantas dúvidas. Entretanto, a chegada

do Arlene tinha limitado bastante minhas opções.

Pensei que o telefone começaria a soar assim que a gente se inteirasse. Mas ninguém

chamou, não saberiam o que me dizer.

Sid Matt Lancaster chegou ao redor das quatro e meia. Sem nenhum preâmbulo, disseme:

-Detiveram-no, por assassinato em primeiro grau.

Fechei os olhos e, quando os abri, Sid me contemplava com expressão perspicaz em seu

afável rosto. Seus óculos clássicos de arreios negra magnificavam seus confusos olhos

castanhos, e tanto sua mandíbula como seu afiada nariz lhe faziam parecer-se com um

sabujo.

-O que diz ele? -perguntei.

-Diz que ontem à noite esteve com a Amy. -Suspirei-. Diz que se deitaram juntos e que

já tinha estado com ela antes. Afirma que não se viram em comprido tempo, que a última

vez que estiveram juntos Amy ficou muito ciumenta pelas outras mulheres com as que ele

saía, realmente furiosa. Assim que se surpreendeu quando lhe aproximou ontem à noite no

Good Teme. Jason diz que Amy atuou de modo estranho toda a noite, como se tivesse um

plano que ele não conhecia. Recorda ter mantido relações sexuais com ela e que beberam

depois, mas não se lembra de nada mais até que despertou no hospital.

-Tenderam-lhe uma armadilha-disse com firmeza, pensando que soava igualito que um

telefilme mau.

-É obvio. -Os olhos do Sid Matt eram tão firmes e seguros como se tivesse estado em

casa da Amy Burley a noite anterior.

Que diabos, pode que assim fora.

-Escute, Sid Matt. -Inclinei-me e o obriguei a me olhar aos olhos-. Incluso se de algum

modo pudesse me acreditar que Jason tivesse matado a Amy, Dawn e Maudette, nunca

poderia aceitar que elevasse um só dedo para fazer machuco a nossa avó.

-Muito bem, então. -Sid Matt se preparou para enfrentar-se a minhas impressões de

modo direto, todo seu corpo assim o afirmava-. Senhorita Sookie, suponhamos sozinho por

um minuto que Jason teve algum tipo de implicação nessas mortes. A polícia podia pensar

que talvez seu amigo Bill Compton matou a sua avó, já que se interpunha entre vocês dois.

Tratei de dar a impressão de considerar com seriedade essa estupidez.

-Bom, Sid Matt, a minha avó gostava de Bill, e estava contente de que saísse com ele.

Até que voltou a colocá-la cara de pôquer, vi a incredulidade brilhar em seus olhos de

advogado. Ele não estaria contente absolutamente de que sua filha saísse com um vampiro;

não podia imaginar-se a nenhum pai responsável que não estivesse horrorizado. E o que

ainda podia imaginar-se menos é como poderia tratar de convencer a um jurado de que

minha avó tinha estado contente de que eu saísse com um menino que não estava nem

sequer vivo, e que além disso era mais de cem anos maior que eu.

Esses eram os pensamentos do Sid Matt.

-Conhece o Bill? -perguntei. Isso o jogou para atrás.

-Não-admitiu-. Já sabe, senhorita Sookie, não vai isto dos vampiros. Acredito que é

abrir uma greta em um muro que deveríamos manter firme, um muro entre nós e os que se

dizem infectados pelo vírus. Penso que Deus queria que esse muro estivesse aí, e ao menos

eu manterei minha seção.

-O problema com isso, Sid Matt, é que eu mesma fui criada pela metade entre um lado e

outro desse muro-atrás de toda uma vida de me manter calada sobre meu "dom", descobri

que se era para ajudar ao Jason, o passaria pela cara a todo mundo.

-Bem -disse Sid Matt com valentia, ajustando-as óculos sobre a ponte de seu afiada

nariz-, estou seguro de que o Bom Deus lhe deu este problema de que ouvi falar por algum

motivo. Tem que aprender a usá-lo para Sua glória.

Ninguém o tinha exposto antes desse modo. Era uma idéia sobre a que teria que meditar

quando tivesse tempo.

-Temo-me que nos afastamos que tema em questão, e sei que seu tempo é muito valioso.

-Recompus minhas idéias-. Quero que Jason saia sob fiança. Quão único o relaciona com o

assassinato da Amy são provas circunstanciais, estou no certo?

-admitiu que esteve com a vítima justo antes do assassinato, e a cinta de vídeo,

conforme me sugeriu com muita claridade um dos policiais, mostra a seu irmão mantendo

relações sexuais com a vítima. A hora e a data da cinta indicam que se rodou nas horas,

possivelmente minutos, imediatamente anteriores à morte.

Malditos fossem os peculiares gostos do Jason no dormitório.

-Jason nunca bebe muito. Cheirava a licor no caminhão, mas acredito que se limitaram a

tornar-lhe por cima. Dá-me a impressão de que uma prova médica o demonstrará. Pode que

Amy lhe colocasse algum narcótico na bebida que lhe preparou.

-E por que ia fazer isso?

-Porque, como tantas mulheres, estava louca pelo Jason, desejava-o com paixão. Meu

irmão é capaz de sair com quase qualquer que goste. Não, isso é um eufemismo. -Sid Matt

pareceu surpreso de que conhecesse essa palavra-. É capaz de ir-se à cama com quase

qualquer que goste. A maioria dos meninos pensaria que é uma vida de sonho. -O cansaço

caiu sobre mim como uma espessa névoa-. Agora se sinta em uma cela.

-Acredita que outro homem lhe preparou isto, que o quis incriminar pelo assassinato?

-Sim, acredito. -Inclinei-me para diante, tratando de persuadir a aquele cético advogado

pela força de minha própria convicção-. Alguém que lhe tem inveja, alguém que conhece

seu horário, que mata a estas mulheres quando Jason está fora do trabalho. Alguém que

sabe que Jason tinha mantido relações com estas garotas, e que conhece que gosta de graválo

em cinta.

-Poderia ser quase qualquer -disse seu advogado com pragmatismo.

-Sim -reconheci com tristeza-. Incluso se Jason fosse o bastante delicado como para

não comentar com quem passava as noites, tudo o que teria que fazer um é ver com quem

saía de um bar à hora do fechamento. sendo observador, talvez lhe perguntar pelas cintas

em uma visita a sua casa... -Meu irmão podia ser algo imoral, mas não acreditava que

tivesse ensinado aqueles vídeos a ninguém mais. Mesmo assim, podia haver contado a

outros homens que gostava de gravar cintas-. Assim que este homem, quem quer que seja,

faz uma espécie de pactuo com a Amy, sabendo que ela estava louca pelo Jason. Pode que

lhe dissesse que ia gastar lhe ao Jason uma brincadeira pesada, ou algo assim.

-Seu irmão não foi detido em nenhuma ocasião anterior-observou Sid Matt.

-Não. -Embora em um par de vezes tinha estado a ponto, conforme afirmava ele

mesmo.

-Não tem antecedentes, é um membro respeitado da comunidade, tem um trabalho

estável. Pode haver alguma possibilidade de que o tire sob fiança. Mas se fugir, você o

perderá tudo.

Nem sequer me tinha ocorrido que Jason pudesse saltá-la fiança. Não sabia nada de

fianças nem de como se preparavam, mas queria que Jason saísse dessa cela. De algum

jeito, ter que estar no cárcere até que se cumprissem os processos legais anteriores ao

julgamento... de algum modo, isso lhe faria parecer mais culpado.

-Você se inteirará de todo o necessário e me fará saber o que tenho que fazer -afirmei-.

Enquanto isso, posso ir ver o?

-Ele prefere que não o faça -disse Sid Matt.

Isso me fez muito dano.

-por que?-perguntei, tratando com todas minhas forças de não voltar a me jogar a

chorar.

-Está envergonhado-explicou o advogado.

A idéia de que Jason pudesse sentir vergonha resultava fascinante.

-Então -disse, tratando de seguir adiante, cansada de repente desta reunião tão pouco

satisfatória-, chamará-me quando de verdade puder fazer algo?

Sid Matt assentiu, e a mandíbula lhe tremeu um ápice pelo movimento. Incomodava-o.

Sem dúvida se alegrava de poder afastar-se de mim.

O advogado se perdeu na distância em sua caminhonete, incrustando um chapéu de

vaqueiro na cabeça quando ainda podia vê-lo.

Quando obscureceu de tudo saí a ver que tal se encontrava Bubba. Estava sentado

debaixo de um carvalho dos pântanos, com as garrafas de sangue alinhados a ambos os

lados de seu corpo, as vazias a um e as cheias ao outro.

Eu levava uma lanterna, e embora sabia que o vampiro estava ali, seguiu sendo bastante

te impactem vê-lo a luz do feixe. Sacudi a cabeça. Era certo que algo tinha ido muito mal

quando Bubba "ressuscitou", não cabia dúvida a respeito. Alegrei-me muito de não poder

lhe ler os pensamentos; tinha os olhos enlouquecidos por completo.

-Ey, macacada -disse, com um acento sulino tão denso como o calda de açúcar-. Que

tal vai? Vem a me fazer companhia?

-Só queria me assegurar de que estivesse cômodo-pinjente.

-Bom, me ocorrem outros lugares nos que estaria mais cômodo, mas como é a garota do

Bill, não lhe vou comentar isso A veces no tienes más remedio que dejarte llevar.

-Estupendo -pinjente com firmeza.

-Há algum gato por aqui? Estou me aborrecendo de maneira soberana desta coisa

engarrafada.

-Não há gatos. Seguro que Bill volta logo e então poderá ir a casa.-Comecei a retornar

para casa, sem me sentir o bastante cômoda em presença da Bubba para prolongar a

conversação, se é que a podia chamar assim. Pergunto-me que pensamentos assaltariam a

Bubba durante suas largas noites de vigilância. Recordaria seu passado?

-E o que passou com o cão? -disse-me de longe.

-foi a casa-respondi, me girando por cima do ombro.

-Que pena -disse Bubba para si, tão baixo que quase não o ouvi. Preparei-me para me

colocar na cama. Vi a televisão, tomei um pouco de sorvete, e inclusive piquei um pastelito

de sobremesa. Aquela noite não parecia funcionar nenhuma das coisas que habitualmente

me tranqüilizam. Meu irmão estava no cárcere, meu noivo em Nova Orleáns, minha avó

morta e alguém tinha assassinado a meu gato. Senti-me sozinha e me autocompadecí sem

parar.

Às vezes não tem mais remedeio que te deixar levar.

Bill não me devolveu a chamada, e isso acrescentou lenha à fogueira de minha tristeza.

Seguro que tinha encontrado alguma furcia complacente em Nova Orleáns, ou alguma

colmillera como as que rodeavam o Blood cada noite com a esperança de conseguir uma

"entrevista" com um vampiro.

Se fosse das que bebem, me teria embebedado. Se fosse uma mulher fácil, teria chamado

ao adorável JB du Rone e me tivesse deitado com ele. Mas não sou tão dramática nem tão

drástica, assim que me limitei a comer gelado e ver filmes antigos que jogavam pela

televisão. Por uma dessas curiosas coincidências, punham Amor no Hawai.

Ao final fui à cama ao redor de meia-noite.

Um chiado ao outro lado da janela de minha habitação despertou. Sentei-me muito rígida

no colchão. Ouvi

golpetazos e ruídos surdos, e ao final uma voz que sem dúvida era a da Bubba, que gritava:

-Volta aqui, mamonazo!

Quando não se ouviu nada durante um par de minutos, pu-me um penhoar e abri a porta

principal. O pátio,

iluminado pela luz, estava vazio. Então espionei movimento à esquerda, e quando tirei a

cabeça pela porta vi a

Bubba que se arrastava lento de volta a seu esconderijo.

-O que aconteceu? -perguntei-lhe em voz baixa.

Bubba trocou de direção e se aproximou cabisbaixo para o alpendre.

-Porque algum hijoputa, se me permitir, estava rondando a casa-me explicou. Seus olhos

castanhos

brilhavam e se parecia mais a seu antigo eu-. O ouvi vários minutos antes de que chegasse,

e pensei que o

tinha, mas atalhou através das árvores até a estrada, onde tinha um caminhão estacionado.

-pudeste vê-lo?

-Não o suficiente para poder descrevê-lo-disse Bubba com pesar-. Conduzia uma

caminhonete, mas nem

sequer posso lhe dizer de que cor era. Estava escuro.

-Mesmo assim, salvaste-me -respondi, confiando em que a sincera gratidão que sentia se

revelasse em

minha voz. Experimentei uma quebra de onda de carinho pelo Bill, que se tinha

encarregado de meu amparo.

Inclusive Bubba parecia mais aceitável que antes-. Obrigado, Bubba.

-OH, não tem importância -disse com garbo, e por um momento se ergueu, jogou um

pouco atrás a

cabeça, e com esse sorriso dormitado em seu rosto... era ele. Abri a boca para pronunciar

seu nome, mas

recordei a advertência do Bill e a fechei.

Jason saiu sob fiança ao dia seguinte.

Custou uma fortuna. Assinei tudo o que me indicou Sid Matt, embora a maior parte da

garantia caía sobre

a casa do Jason, seu caminhão e seu bote de pesca. Se o tivessem detido antes uma só vez,

embora fora por

imprudência ao cruzar a rua, não acredito que lhe tivessem permitido uma fiança.

Eu estava nos degraus do tribunal, com meu horrível e sóbrio traje de cor azul escura, sob

o calor da

manhã. O suor me caía pela cara e me penetrava entre os lábios dessa maneira tão

desagradável que faz que

queira te lançar de cabeça à ducha. Jason se deteve frente a mim. Não estava segura de que

dissesse algo;

parecia ter envelhecido anos. Ao fim lhe haviam meio doido problemas sérios, problemas

muito graves que

não desapareceriam ou afrouxariam sua presa como a tristeza.

-Não posso te falar disto -disse, em voz tão baixa que logo que pude ouvir -.sabe que não

fui eu. Nunca

fui violento, além de uma briga ou dois em algum estacionamento por uma mulher.

Toquei-lhe o ombro, mas deixei cair a mão ao ver que não reagia.

-Nunca pensei que fosse você, e nunca o farei. Lamento ter sido o bastante parva para

chamar ontem aos

911. Se me tivesse dado conta de que não era seu sangue, tivesse-te levado a caravana do

Sam para te limpar e

queimar a cinta. Mas me dava tanto medo que fora seu sangue...

Senti que me enchiam os olhos de lágrimas, mas não era momento de chorar, e o retive.

Notei que me

endurecia o rosto. A mente do Jason era um caos, como uma porqueriza mental. Ali se

cozia uma mescla

pouco saudável de remorsos, vergonha porque seus costumes sexuais saíssem à luz, culpa

por não sentir-se

pior pela morte da Amy, horror ante a idéia de que qualquer do povo pudesse acreditar que

tinha matado a sua

própria avó enquanto esperava a sua irmã...

-Superaremo-lo-pinjente, impotente.

-Superaremo-lo -repetiu ele, tratando que sua voz soasse firme e tranqüila. Mas eu pensei

que passaria

muito, muito tempo antes de que a segurança do Jason, essa certeza dourada que o tinha

feito irresistível,

retornasse a seu rosto, a seu gesto e a seu tom de voz. Talvez nunca o fizesse.

Separamo-nos ali, nos tribunais. Não tínhamos nada mais que nos dizer.

Sentei-me todo o dia no bar, olhando aos homens que entravam, lhes lendo a mente.

Nenhum deles

pensava em como tinha matado a quatro mulheres e tinha saído impune. Na hora de comer,

Hoyt e Rene

cruzaram a porta mas partiram à lombriga. Era muito embaraçoso para eles, suponho.

Ao final, Sam me obrigou a partir. Disse que resultava tão sinistra que espantava a

qualquer cliente que

pudesse me proporcionar informação útil.

Arrastei-me para a porta e fiquei sob o deslumbrante sol. Estava a ponto de ficar. Pensei

na Bubba, no

Bill, em todas essas criaturas que estavam surgindo de seu profundo sonho para caminhar

sobre a superfície

da Terra.

Parei-me no Grabbit Kwik para comprar um pouco de leite para os cereais do café da

manhã. O novo

dependente era um menino com acne e uma enorme noz que me olhou ansioso, como se eu

fora a constituir

sua idéia mental do que a seus olhos era a irmã de um assassino. Soube que logo que podia

esperar o

momento em que eu saísse da loja para poder chamar por telefone a sua noiva. Desejava

poder ver as marcas

de presas de meu pescoço, e se perguntava se havia algum modo de saber como o

montavam os vampiros.

Essa era a classe de lixo que tinha que escutar dia detrás dia. Não importava o que me

esforçasse em

pensar em outra coisa, no alta que mantivera meu guarda nem quão extensa fosse meu

sorriso, sempre

penetrava.

Cheguei a casa justo quando anoitecia.

Depois de tirar o leite da bolsa e me tirar o vestido, pu-me umas calças curtas e uma

camiseta negra do

Garth Brooks, e tratei de pensar em algo que fazer durante a noite. Não podia me

tranqüilizar o bastante para

ler, e de todos os modos tinha que ir primeiro à biblioteca para trocar os livros, o que

naquelas circunstâncias

seria um autêntico trauma. Não havia nada bom na televisão, ao menos aquela noite. Me

ocorreu que poderia

voltar a ver Braveheart; Mel Gibson com faldita escocesa sempre levanta a moral, mas era

um filme muito

sangrenta para meu estado de ânimo. Não poderia suportar que lhe cortassem outra vez a

garganta a aquela

garota, inclusive embora já sabia quando tocava tampá-los olhos.

Fui ao banho para me tirar a maquiagem, que estava empapado de suor, quando por cima

do ruído da água

que corria me pareceu ouvir um alarido no exterior.

Fechei o grifo e me levantei, escutando com tanta intensidade que quase pude sentir como

me desdobrava

a antena. O que...? A água que me molhava o rosto caía até minha camiseta.

Nenhum ruído, nenhum ruído absolutamente. Arrastei-me até a porta dianteira, porque

era a mais próxima

ao ponto de vigilância da Bubba entre as árvores.

Abri a porta um poquito. Gritei:

-Bubba?

Não houve resposta. Tentei-o outra vez.

Dava a impressão de que até os grilos e os sapos retinham o fôlego. A noite era tão

silenciosa que podia

conter algo. Algo rondava aí fora, na escuridão.

Tratei de pensar, mas meu coração palpitava tão forte que interferia com o processo.

Primeiro, chama à polícia.

Descobri que essa não era uma opção. O telefone não dava linha. Assim podia esperar em

casa a que

chegassem os problemas, ou podia me lançar aos bosques. Era uma decisão complicada.

Mordi-me o lábio

enquanto ia por todas as habitações apagando os abajures, tratando de riscar um curso de

ação. A casa

proporcionava certo amparo: ferrolhos, muros, rincões e gretas. Mas sabia que qualquer

pessoa decidida

poderia entrar, e nesse caso estaria perdida.

Vale, como podia sair ao exterior sem que me vissem? Para começar, apaguei as luzes de

fora. A porta

traseira estava mais perto das árvores, assim era a melhor eleição. Conhecia bastante bem

os bosques, deveria

ser capaz de me esconder até que amanhecesse. E talvez pudesse chegar até a casa do Bill;

era quase seguro

que seu telefone sim funcionasse, e tinha cópia de sua chave.

Ou poderia tratar de chegar a meu carro e arrancar. Mas isso me retinha em um ponto em

particular

durante vários segundos. Não, os bosques pareciam a melhor opção.

Guardei-me em um dos bolsos a chave do Bill e uma navalha de meu avô, que a avó

guardava em uma

gaveta da mesa do salão para abrir os pacotes. Embuti uma lanterna pequena no outro bolso.

Além disso, a

avó guardava um velho rifle no armário dos casacos, junto à porta principal. Tinha

pertencido a meu pai

quando era pequeno, e ela o tinha usado quase exclusivamente para disparar às serpentes.

Bom, eu também

tinha uma serpente a que disparar. Odiava o maldito rifle, odiava a idéia de ter que usá-lo,

mas parecia ser o

momento adequado.

Não estava ali.

Não pude acreditar o que viam meus olhos. Rebusquei por todo o armário.

O assassino tinha estado em minha casa!

Mas não tinha forçado nenhuma porta. Tinha que ser alguém a quem eu houvesse

convidado. Quem tinha

estado ali? Tratei de enumerá-los a todos enquanto aproximava da porta traseira, com as

sapatilhas bem atadas

para que não pudesse me pisar os cordões em nenhum momento. Recolhi-me o cabelo em

um acréscimo de

modo descuidado, quase com uma só mão, para que não me viesse à cara, e o sujeitei com

uma cinta de

borracha. Mas todo o momento estive pensando no rifle roubado.

Quem tinha estado em minha casa? Bill, Jason, Arlene, Rene, os meninos, Andy

Bellefleur, Sam, Sid

Matt. Sem dúvida a todos os tinha deixado sozinhos um minuto ou dois, possivelmente o

suficiente para atirar

o rifle fora e recolhê-lo mais tarde.

Então me lembrei do dia do funeral. Quase todas as pessoas às que conhecíamos tinham

estado entrando e

saindo da casa quando morreu a avó, e não podia recordar se tinha visto o rifle após. Mas

tivesse sido

complicado sair de uma casa tão lotada de gente com um rifle nas mãos, e sem chamar a

atenção. E acredito

que se tivesse desaparecido então, a estas alturas já tivesse notado sua ausência; de fato

estava quase segura

disso. Tive que deixar isso a um lado no momento, e me concentrar em ser mais lista que

quem me estivesse

aguardando ali fora na escuridão.

Abri a porta traseira. Saí agachada, o mais baixa que pude, e entreabri com suavidade a

porta detrás de

mim. Em vez de usar os degraus, alarguei uma perna e a pus sobre o chão enquanto me

agachava sobre o

alpendre. Apoiei meu peso sobre ela e retirei a outra perna. Voltei a me esconder. pareciase

muito a quando

jogava esconderijo com o Jason entre as árvores, quando fomos pirralhos.

Rezei para que agora não fora também Jason meu oponente.

Primeiro usei como cobertura a banheira cheia de novelo que tinha posto a avó, e depois

me arrastei até

seu carro, meu segundo objetivo. Olhei para o céu; a lua resultava enorme, e como a noite

estava limpa as

estrelas adornavam o firmamento. O ar resultava pesado com tanta umidade, e seguia

fazendo calor. Em

poucos minutos minhas mãos ficaram empapadas de suor.

Seguinte passo, do carro à acácia.

Esta vez não foi tão silencioso.

Tropecei-me com um toco e me dava de bruces contra o chão. Mordi-me os lábios para

não gritar. A dor

se estendeu por minha perna e pelo quadril, e soube que os borde do irregular toco tinham

raspado minha

coxa de maneira considerável. por que não o teria arrancado antes? A avó pediu ao Jason

que o fizesse, mas

este nunca encontrou o momento.

Escutei um movimento, ou mas bem o intuí. Deixando a precaução para outra ocasião,

incorporei-me e

corri para as árvores. Alguém irrompeu na confine do bosque a minha direita e se dirigiu

para mim. Mas eu

sabia aonde ia, e com um salto que me surpreendeu, agarrei ao ramo inferior de nossa

árvore favorita da

infância para subir, e me impulsionei para cima. Se sobrevivia até o amanhecer ficariam os

músculos feitos

mingau, mas merecia a pena. Equilibrei-me sobre o ramo, tratando de manter uma

respiração suave, quando o

que me pedia o corpo era gemer e me queixar como um cão que sonha.

Oxalá aquilo fora um sonho. Mas resultava inegável: Sookie Stackhouse, garçonete e

leitora de mentes,

sentava-se sobre um ramo dos bosques em meio da noite, sem mais arma que uma navalha

de bolso.

Movimentos debaixo da árvore; um homem avançava entre os bosques. De uma de suas

bonecas

pendurava uma corda. OH, Deus. Embora a lua estava quase enche, sua cabeça se

empenhou em permanecer à

sombra da árvore e não pude ver quem era. Passou por debaixo de mim sem lombriga.

Quando desapareceu da vista, voltava respirar. Com tanta lentidão como foi possível,

baixei ao chão.

Comecei a avançar entre as árvores, para a estrada. Demoraria um momento, mas se

conseguia chegar a ela,

talvez pudesse fazer sinais a alguém para que parasse. Então pensei nos poucos carros que

viajavam por ali.

Possivelmente fora melhor cruzar o cemitério até a casa do Bill. Pensei no cemitério de

noite, com o assassino

me buscando, e me tremeu todo o corpo.

Assustar-se mais não tinha sentido. Tinha que me concentrar no momento atual. Vigiei

onde punha cada

pé, avançando com muita lentidão. Entre os arbustos, qualquer queda resultaria muito

ruidosa e o teria em

cima em um instante.

Encontrei o gato morto uns dez metros ao sudeste da árvore ao que me tinha subido. Sua

garganta não era

mais que uma ferida lhe gotejem. Sob o efeito branqueador da luz da lua não pude deduzir

sequer de que cor

era sua pelagem, mas as manchas escuras ao redor de seu pequeno cadáver tinham que ser

de sangue. Depois

de metro e médio mais de movimento furtivo me topei com a Bubba. Estava inconsciente

ou morto; com um

vampiro resultava difícil diferenciar ambos os estados. Mas como não lhe atravessava o

coração nenhuma

estaca e a cabeça seguia em seu sítio, confiei em que solo estivesse inconsciente. Imaginei

que alguém havia

lhe trazido um gato envenenado. Alguém que sabia que Bubba me protegia e que tinha

ouvido de sua afeição

a sangrar gatos.

Ouvi um rangido detrás de mim. O estalo de uma ramita. Deslizei-me até a sombra de

uma árvore grande.

Estava desenquadrada, desenquadrada e muito assustada, e me perguntei se morreria aquela

noite.

Pode que não dispusera do rifle, mas tinha uma arma incorporada a meu corpo. Fechei os

olhos e procurei

com minha mente. Um matagal escuro, vermelha, negra. Ódio.

Estremeci-me. Mas era necessário, era meu único amparo. Baixei até o último rastro de

defesa.

Em minha cabeça se verteram imagens que me adoeceram, que me aterraram. Dawn,

pedindo a alguém

que a pegasse, e depois descobrindo que esse alguém tinha suas meias nas mãos e as

estirava preparando-se

para rodear seu pescoço com elas. Uma imagem repentina do Maudette, nua e pedindo

piedade. Uma mulher

a que nunca tinha visto, me dando as costas, coberta de moratones e vergões. Depois minha

avó, minha avó,

em nossa cozinha, furiosa e lutando por sua vida.

Senti-me paralisada pela comoção, o horror de todo aquilo. De quem eram esses

pensamentos? Obtive

uma imagem dos filhos do Arlene, jogando no chão de minha sala de estar. Vi-me mesma,

mas não me

parecia com a pessoa que sempre me recebia no espelho. Havia enormes buracos em meu

pescoço, e resultava

lasciva. Um sorriso impudico adornava meu rosto, e me acariciava lhe sugira a parte

interior da coxa.

Estava na mente do Rene Lenier. Assim era como me via ele.

Rene estava louco. Agora sabia por que nunca tinha podido ler com claridade seus

pensamentos:

mantinha-os em um buraco secreto, um lugar de seu cérebro oculto e separado de seu eu

consciente.

Nesse momento via uma silhueta detrás de uma árvore e se perguntava se se parecia com

a de uma mulher.

Estava-me vendo.

Saltei e corri para o oeste, para o cemitério. Já não conseguia escutar seus pensamentos,

porque minha

cabeça estava muito concentrada em correr e esquivar os obstáculos de árvores, arbustos,

ramos quedas e até

um pequeno ravina onde se acumulou a água de chuva. Minhas fortes pernas me

impulsionaram, meus braços

seguiram o ritmo, e meu fôlego se parecia com os assobios de uma gaita de fole.

Saí do bosque e me encontrei no cemitério. A parte mais antiga se encontrava mais ao

norte, para a casa

do Bill, e possuía os melhores lugares para ocultar-se. Rodeei lápides modernas, situadas

quase ao mesmo

nível chão, nada boas para esconder-se. Saltei por cima da tumba da avó, com a terra ainda

sem cobrir, nem

laje. Seu assassino me seguiu. Girei-me para ver o perto que se achava, como uma parva, e

à luz da lua vi a

perfeição seu arbusto de cabelo enquanto me aproximava.

Entrei na suave depressão que formava o cemitério e comecei a subir pelo outro lado.

Quando considerei

que já havia as suficientes lápides e estátuas de grande tamanho entre o Rene e eu, agacheime

detrás de uma

alta coluna de granito coroada por uma cruz. Permaneci muito quieta, me apertando contra

a dura e fria pedra.

Pu-me uma mão sobre a boca para amortecer meus esforçados ofegos por colocar ar nos

pulmões. Obrigueime

a me acalmar o necessário para tratar de escutar ao Rene, mas seus pensamentos não

eram o bastante

coerentes para poder decifrá-los, salvo pela raiva que sentia. Então apareceu um conceito

claro.

-Sua irmã -gritei-. Ainda está viva Cindy, Rene?

-Zorra! -uivou. E soube nesse instante que a primeira mulher em morrer tinha sido sua

irmã, essa a que

gostava dos vampiros, a que supostamente ainda visitava de vez em quando, segundo

Arlene. Rene tinha

matado a Cindy, a garçonete, enquanto ainda vestia sua uniforme rosa e branco da cafeteria

do hospital.

Estrangulou-a com as cordas de seu próprio avental. E depois de que morrera, manteve

relações sexuais com

ela. Rene pensou (até onde era capaz de raciocinar) que, já que ela tinha cansado tão baixo,

não lhe importaria

fazê-lo com seu próprio irmão. Qualquer que permitisse a um vampiro lhe fazer isso

merecia morrer. Depois,

envergonhado, tinha oculto o corpo. As outras não eram de sua carne, não tinha nada de

mau as deixar à vista.

Vi-me absorvida ao interior doente do Rene como um ramo arrastado por um redemoinho,

e aquilo fez que

me enjoasse. Quando retornei a minha própria cabeça, tinha-o em cima. Golpeou-me na

cara com toda sua

força, e esperou lombriga cair. O golpe me rompeu o nariz e me fez tanto dano que quase

me deprimi, mas

consegui resistir. Devolvi-lhe o golpe, mas minha falta de experiência o fez ineficaz. Solo

lhe impactei nas

costelas, fazendo que grunhisse, mas imediatamente contra-atacou.

Seu punho me rompeu a clavícula. Mas não caí.

Não sabia quão forte era eu. Sob a luz da lua, vi que se surpreendeu quando lhe devolvi

os golpes, e dava

as graças a tudo o sangue vampírica que tinha ingerido. Pensei em minha valente avó e me

lancei contra ele,

agarrando-o pelas orelhas e tratando de estampar sua cabeça contra a coluna de granito.

Elevou as mãos para

me sujeitar pelos antebraços, e tratou de me apartar para que o soltasse. Ao final o

conseguiu, mas por seu

olhar soube que estava assustado e mais atento. Tratei de lhe dar um joelhada, mas me

adiantou, girando-o

suficiente para me esquivar. Enquanto estava sem equilíbrio me empurrou, e golpeei o chão

com um impacto

que fez que me tremessem os dentes.

ficou escarranchado sobre mim. Mas tinha perdido a corda na luta, e enquanto sustentava

meu pescoço

com uma mão, media o chão com a outra em busca de sua ferramenta preferida. Meu braço

direito estava

imobilizado, mas o esquerdo não, e lutei e o arranhei. Ele não podia me fazer nada,

precisava procurar a corda

para me estrangular porque era parte de seu ritual. Enquanto lhe atacava, minha mão se

topou com um vulto

familiar.

Rene, que ainda levava postas as roupas de trabalho, tinha sua faca no cinturão. Abri o

fechamento e tirei a

faca de sua capa, e enquanto ele ainda pensava "deveria me haver tirado isso", cravei-o na

carne de sua

cintura, apontando para cima, e o extraí.

Então gritou.

ficou em pé, girando de lado a parte superior de seu torso e tratando de conter com ambas

as mãos o

sangue que emanava da ferida.

Arrastei-me para trás e me levantei, tratando de pôr distância entre meu corpo e o daquele

homem, que era

tão monstruoso como Bill.

Rene gritou:

-Ah, Deus, mulher! O que me tem feito? OH, Deus, dói muito!

Isso foi estupendo. Agora me tinha medo. Aterrava-lhe que o descobrissem, que se

acabassem seus jogos,

sua vingança.

-As garotas como você merecem morrer! -uivou-. Posso te sentir dentro de minha cabeça,

inseto

estranho!

-Quem é aquíelbicho estranho? -vaiei-. Morre, bastardo!

Não sabia que me ia sair isso. Estive junto à lápide, escondida, sujeitando ainda a faca

empapada de

sangre em minha mão, esperando a que voltasse a lançar-se contra mim.

cambaleou-se em círculos, e eu o vigiei com rosto pétreo. Fechei minha mente a ele, a

seus pensamentos

de que a morte o chamava. Preparei-me para usar a faca uma segunda vez, mas ele caiu ao

chão. Quando me

assegurei de que não podia mover-se, fui para a casa do Bill, mas sem correr. Disse-me que

era sozinho

porque não podia de quão esgotada estava, mas não estou muito segura. Não deixava de ver

minha avó,

apanhada para sempre nas lembranças do Rene, lutando para salvar a vida em sua própria

casa.

Tirei a chave do Bill do bolso, quase surpreendida de que ainda seguisse aí. De algum

jeito consegui me

cambalear até o salão, em busca do telefone. Toquei os botões com os dedos, tratando de

imaginar qual era o

nove e qual o um. Apertei os números o suficiente para obter que fizessem bip, e então, sem

prévio aviso, caí

inconsciente.

Estava no hospital. Rodeava-me o aroma de limpo dos lençóis hospitalares.

Quão seguinte soube é que me doía tudo.

E havia alguém na sala comigo. Consegui abrir os olhos, não sem grande esforço. Andy

Bellefleur. Seu

rosto quadrado estava ainda mais esgotado que a última vez que o vi.

-Pode me ouvir?-disse.

Assenti com um movimento mínimo, mas que enviou uma quebra de onda de dor através

de minha

cabeça.

-Temo-lo-disse, e procedeu a me contar algo mais, mas voltava ficar dormida.

Já era de dia quando despertei, e nesta ocasião parecia estar muito mais alerta. Também

havia alguém na

sala.

-Quem está aí?-pinjente, e minha voz surgiu como um pigarro dolorido.

Kevin se levantou da cadeira da esquina, apartando uma revista de palavras cruzadas e

guardando-lhe no

bolso do uniforme.

-Onde está Kenya? -sussurrei. Sorriu-me inesperadamente.

-esteve aqui durante um par de horas -me explicou-. Voltará logo. Enviei-a a comer. -Seu

corpo e seu

rosto esbelto formavam um claro gesto de aprovação-. É uma mulher dura.

-Não me sinto muito dura-consegui responder.

-Feriram-lhe -me disse, como se eu não soubesse já.

-Rene.

-Encontramo-lo no cemitério-me contou Kevin-. O golpeou bastante bem, mas seguia

consciente e nos

contou que tinha tratado de te matar.

-Bem.

-Dava-lhe muita pena não ter terminado a tarefa. Não posso me acreditar que cantasse

daquele modo, mas

para quando o encontramos estava ferido e apavorado, contou-nos que tudo tinha sido tua

culpa porque não te

limitava a te deixar matar como as outras. Disse que devia estar em seus gens, porque sua

avó... - ali Kevin se

interrompeu, consciente de que estava em terreno incômodo.

-Também resistiu-sussurrei.

Nesse momento entrou Kenya, enorme, impassível, sustentando um copo de espuma de

poliestireno cheio

de fumegante café.

-Está acordada -comentou Kevin, dirigindo-se a sua companheira.

-Estupendo. -Kenya não parecia tão contente de ouvi-lo explicou o que ocorreu? Talvez

devamos chamar

o Andy.

-Sim, é o que nos disse que fizéssemos, mas solo leva quatro horas dormindo.

-O homem disse que o avisássemos.

Kevin se encolheu de ombros e se dirigiu ao telefone que havia ao lado da cama.

Dormitei enquanto lhe

ouvia falar, mas pude escutá-lo murmurar com a Kenya enquanto esperavam. Estava-lhe

falando de seus cães

de caça. Kenya, imagino, atendia.

Chegou Andy, pude sentir seus pensamentos, o esquema de seu cérebro. Seu corpo se

deteve junto a

minha cama. Abri os olhos e vi que se inclinava para me estudar. Intercambiamos um largo

olhar.

No corredor, ouviram-se dois pares de pés com tamancos de enfermeira.

-Rene ainda está vivo-disse Andy de repente-. E não pára de largar.

Fiz um muito leve movimento de cabeça, com a intenção de que parecesse que assentia.

-Diz que isto se remonta a sua irmã, que saía com um vampiro. Obviamente a garota

ficou tão baixa a de

sangue que Rene pensou que se converteria em uma vampira se não a detinha. Uma noite,

no apartamento

dela, lançou-lhe um ultimato. Lhe replicou, dizendo que não abandonaria a seu amante.

Enquanto discutiam

ela ficava o avental para sair a trabalhar, assim Rene o arrancou, estrangulou-a E... fez

outras coisas.

Andy parecia um pouco enojado.

-Sei-sussurrei.

-Dá-me a impressão-prosseguiu Andy- de que, de algum modo, decidiu que podia

justificar aquele

horrível ato se se convencia de que todos os que estivessem na situação de sua irmã

mereciam morrer. De

fato, estes crímenes são muito similares a dois acontecidos no Shreveport e que não se

resolveram até hoje.

Esperamos que Rene nos conte algo ao respeito enquanto solta seu perorata. Se sobreviver.

Notei que meus lábios se apertavam em horrorizada simpatia por essas outras pobres

garotas.

-Pode nos contar o que te passou?-perguntou Andy em voz baixa-. Vê com lentidão, tome

seu tempo e

mantén a voz no nível dos sussurros. Tem a garganta bastante danificada.

Já tinha deduzido isso eu sozinha, muito obrigado. A base de murmúrios, relatei os

sucessos da noite, e

não me esqueci de nada. Andy tinha posto em marcha um pequeno gravador depois de me

perguntar se não

tinha objeções. Colocou-o no travesseiro perto de minha boca, para não perder-se nada da

história, quando

indiquei que por mim não havia problema.

-O senhor Compton segue fora do povo? -perguntou-me quando tive terminado.

-Nova Orleáns -sussurrei, apenas capaz de falar.

-Procuraremos o rifle na casa do Rene, agora que sabemos que é teu. Será uma prova

ratificatoria muito

importante.

Nesse instante entrou na habitação uma moça reluzente, vestida de branco, que me olhou

e disse ao Andy

que teria que voltar em outro momento. Ele assentiu em direção a mim, deu-me um tapinha

envergonhado na

mão, e partiu. Enquanto se ia, lançou à doutora um olhar de admiração. Era muito bonita,

mas também levava

um anel de casada, assim Andy voltava a chegar muito tarde. Ela pensava que ele parecia

muito sério e

sombrio.

Não queria escutar aquelas coisas, mas não tinha as forças suficientes para manter às

pessoas fora de

minha cabeça.

-Senhorita Stackhouse, como se sente? -perguntou-me a garota com voz muito alta. Era

moréia e magra,

com grandes olhos castanhos e boca ampla.

-Fatal-sussurrei.

-Já me imagino-disse, assentindo repetidas vezes enquanto me examinava. Por algum

motivo, não

acreditei que pudesse imaginar-lhe Seguro que alguma vez a tinha golpeado um assassino

múltiplo em um

cemitério-. Também perdeu a sua avó, não é assim? -acrescentou com afeto. Assenti,

apenas um milímetro-.

Meu marido morreu faz uns seis meses -explicou-. Sei o que é a dor. É duro enfrentar-se a

isso, verdade?

Vá, vá, vá. Esbocei uma pergunta com meu rosto.

-Tinha câncer -me explicou. Tratei de mostrar minhas condolências sem mover nada, o

que é quase

impossível-. Bem acrescentou enquanto se erguia, retomando suas maneiras bruscas

Senhorita Stackhouse,

sua vida não corre perigo. Tem uma clavícula rota, e também duas costelas e o nariz.

A mãe do cordeiro! Não era de sentir saudades que me sentisse tão mal.

-Sua cara e seu pescoço foram golpeados com força. É obvio, já sabe que sofreu danos na

garganta.

Tratei de imaginar o aspecto que teria. Menos mal que não havia um espelho à mão.

-E tem grande quantidade de contusões e cortes relativamente leves em braços e pernas. -

Sorriu-. Seu

estômago está bem, e também seus pés.

Jajaja, que graciosa.

-Tenho-lhe prescrito medicação contra a dor, assim quando começar a sentir-se mau, solo

tem que chamar

à enfermeira. Uma visita apareceu a cabeça pela porta. A doutora se girou, me tampando a

visão, e disse:

-Sim?

-É a habitação do Sookie?

-Sim, estava terminando de examiná-la. Pode passar. -A doutora, cujo sobrenome,

segundo a placa, era

Sonntag, olhou-me inquisitiva para obter minha permissão, e eu consegui pronunciar um

leve: "Claro".

JB du Rone se aproximou até minha cama, com um aspecto tão adorável como o modelo

da coberta de

uma novela rosa. Seu cabelo leonado brilhava sob as luzes fluorescentes. Seus olhos eram

da mesma cor, e

sua camiseta sem mangas mostrava uma definição muscular que parecia cinzelada com

um... bom, com um

cinzel. Enquanto ele me olhava, a doutora Sonntag o comia com os olhos.

-Olá, Sookie, encontra-te bem? -perguntou. Passou-me com suavidade um dedo pela

bochecha e beijou

um ponto de minha frente que tinha escapado aos machucados.

-Obrigado -sussurrei-, porei-me bem. Apresento a minha doutora.

JB dirigiu seu olhar para a Dra. Sonntag, que virtualmente morria por apresentar-se ela

mesma.

-Os doutores não eram tão bonitos quando vinha a me pôr injeções-disse JB com

sinceridade e

simplicidade.

-Não estiveste no médico desde que foi um menino? - perguntou a doutora, surpreendida.

-Nunca me ponho doente-lhe sorriu-. Sou forte como um boi.

E também tinha seu cérebro. Mas era provável que a Dra. Sonntag tivesse os miolos

necessários para os

dois. Já não podia imaginar-se nenhum motivo para seguir rondando por ali, mas enquanto

saía lançou um

olhar triste por cima do ombro. JB se inclinou para mim e disse com amabilidade:

-Posso te trazer algo, Sookie? Umas Nabs ou outra coisa? A idéia de tratar de comer

bolachas rangentes

fez que me viessem lágrimas aos olhos.

-Não, obrigado -murmurei-. A doutora é viúva.

Com o JB podia trocar de tema sem que lhe ocorresse perguntar-se por que o fazia.

-Latido -disse, impressionado-. É inteligente e solteira. - Arqueei as sobrancelhas de

maneira

significativa-. Crie que deveria lhe pedir sair? -JB parecia tudo quão pensativo era possível

nele-. Isso seria

uma boa idéia. Sempre que você não queira sair comigo, Sookie -me disse sorridente-.

Você sempre será

primeira para mim. Solo tem que agitar o mindinho e virei correndo.

Que menino tão doce. Não me acreditei nem por um instante sua devoção, mas sim que

sabia como fazer

que uma mulher se sentisse bem, inclusive se, como eu, estava segura de que tinha um

aspecto penoso. E me

doía o bastante. Onde estavam essas malditas pastilhas para a dor? Tratei de sorrir ao JB.

-Dói-te-me disse-. Chamarei à enfermeira.

Isso era estupendo. A distância até o pequeno botão parecia fazer-se cada vez major

enquanto tratava de

mover o braço.

Beijou-me uma vez mais antes de ir-se e disse:

-Procurarei a essa tua doutora, Sookie. Será melhor que lhe faça umas quantas perguntas

mais sobre sua

recuperação.

depois de que a enfermeira injetasse alguma coisa em minha destilação intravenosa,

limitei-me a esperar

que desaparecesse a dor. A porta se abriu de novo.

Era meu irmão. Permaneceu junto a minha cama durante comprido tempo, estudando

minha cara. Ao final

disse, com voz pesada:

-falei durante um minuto com a doutora antes de que se fora à cafeteria com o JB.

Contou-me tudo o que

tem. -afastou-se, deu um passeio pela habitação e voltou. Contemplou-me um momento

mais-. Tem um

aspecto horrível.

-Obrigado -sussurrei.

-Ah, sim, sua garganta. Tinha-o esquecido.-Começou a me dar uns tapinhas, mas o

pensou melhor.

-Escuta, hermanita, devo te dar as obrigado, mas me incomoda que ocupasse meu lugar

quando chegou a

hora de brigar. De ter podido, lhe teria dado uma patada.

Que tinha ocupado seu lugar, demônios!

-Devo-te muitíssimo, hermanita. fui tão tolo, pensando que Rene era um bom amigo.

Traído. sentia-se traído.

E então entrou Arlene para acabar de pôr as coisas interessantes.

Parecia um desastre. Levava o cabelo enredado em um matagal avermelhado, ia sem

maquiagem e tinha

escolhido a roupa ao azar. Nunca tinha visto o Arlene sem o cabelo encaracolado nem toda

sua brilhante

maquiagem em cima.

Olhou-me de acima (OH, seria feliz quando pudesse voltar a me incorporar) e, durante

um segundo, seu

rosto foi duro como o granito. Mas quando de verdade me olhou à cara, começou a

derrubar-se.

-Estava tão furiosa contigo, não podia acreditá-lo. Mas agora que te vejo e comprovo o

que te tem feito...

OH, Sookie, poderá me perdoar algum dia?

Maldição, não queria que estivesse ali. Tratei de telegrafar-lhe ao Jason, e por uma vez o

obtive, porque

pôs um braço ao redor dos ombros do Arlene e a levou. antes de chegar à porta ela já estava

chorando.

-Não sabia -disse, apenas coerente-. Não sabia!

-Diabos, eu tampouco-acrescentou Jason com firmeza.

Joguei-me uma siestecita depois de tratar de ingerir uma deliciosa gelatina verde.

Minha grande ilusão pela tarde foi caminhar até o banho, mais ou menos sozinha.

Também me sentei na

cadeira durante dez minutos, depois dos quais estava mais que disposta a voltar para a cama.

Olhei-me em um

espelho que havia na mesita com rodas, e lamentei que estivesse aí.

Tinha um pouco de febre, o suficiente para parecer destemperada e com a pele dolorida.

Minha cara era

azul e cinza, e meu nariz estava inflado até o dobro de seu tamanho. Tinha o olho direito

inchado, quase

fechado de tudo. Encolhi-me de ombros, e inclusive isso me doeu. Minhas pernas... OH,

demônios, nem

sequer quis comprová-lo. Tombei-me com muito cuidado e esperei a que aquele dia

terminasse.

Possivelmente em quatro dias me sentisse estupendamente. E o trabalho! Quando poderia

voltar a trabalhar?

Distraiu-me um leve toque na porta. Outra maldita visita. Bom, ao menos a esta não a

conhecia. Era uma

senhora maior com o cabelo azul e óculos de arreios vermelha que passeava um carrinho.

Levava a bata

amarela que as voluntárias hospitalares chamadas Damas da Luz do Sol vestiam quando

trabalhavam. O

carrinho estava cheio de flores para os pacientes dessa asa.

-Trago-te um carregamento de bons desejos! -disse a senhora, alegre.

Sorri, mas o efeito deveu ser deprimente, porque sua alegria se cambaleou um pouco.

-Estas são para ti -disse, tirando uma planta de interior decorada com um laço vermelho-.

Aqui está o

cartão, carinho. Vejamos, estas também são para ti-agora se tratava de um acerto floral que

continha casulos

de rosas, cravos rosas e gisófila branca. Também tirou seu cartão. Inspecionando o carrinho,

acrescentou-:

Vá, é uma garota com sorte! Aqui há algo mais.

O centro do terceiro presente floral era uma estranha flor vermelha que nunca antes tinha

visto, rodeada

por uma hoste de flores mais comuns. Observei-o dúbia. A Dama da Luz do Sol me

apresentou isso obediente

junto ao cartão que pendurava do plástico.

depois de que partisse da habitação com um sorriso, abri os pequenos envelopes.

Observei com certa

ironia que me movia com mais facilidade quando estava de melhor humor.

A planta de interior era do Sam e de "todos seus colegas de trabalho no Merlotte's",

conforme dizia a

carta, embora a letra era sozinho a do Sam. Acariciei as brilhantes folhas e me perguntei

onde a poria quando

me levasse isso a casa. O acerto era do Sid Matt Lancaster e Elva Deene Lancaster. Pois vá.

o da peculiar flor

vermelha no centro (em minha opinião, aquela flor parecia quase obscena, como as partes

íntimas de uma

mulher) era sem dúvida o mais interessante dos três. Abri o cartão com certa curiosidade.

Solo levava uma

assinatura: "Eric".

Isso era o único que me faltava. Como demônios se inteirou de que estava no hospital? E

por que não

tinha nenhuma notícia do Bill?

Depois de tomar uma deliciosa gelatina vermelha de jantar, concentrei-me na televisão

durante um par de

horas, já que não tinha nada que ler e, de todos os modos, meus olhos não estavam para isso.

Meus

hematomas se faziam mais coloridos a cada hora que passava e me sentia cansada até os

ossos, apesar de que

solo tinha caminhado uma vez até o banho e duas ao redor da habitação. Apaguei a

televisão e me tombei de

lado. Fiquei dormida, e a dor que sentia por todo o corpo se filtrou em meus sonhos e me

fez ter pesadelos.

Nelas corria, corria através do cemitério, temendo por minha vida, caindo sobre as lajes e a

tumbas abertas,

onde encontrava a toda a gente que sabia que estava ali: meu pai e minha mãe, minha avó,

Maudette Pickens,

Dawn Green, inclusive um amigo da infância que se matou em um acidente de caça. Eu

tinha que procurar

uma lápide em particular; se a encontrava, salvaria-me. Todos voltariam para suas tumbas e

me deixariam

sozinha. Corri de uma a outra, pondo a mão em cima delas, com a esperança de que cada

uma fora a

adequada. Choraminguei.

-Carinho, está a salvo-me chegou uma voz familiar.

-Bill-murmurei. Girei-me para uma laje que ainda não havia meio doido. Quando pus

meus dedos sobre

ela se desenharam as letras de "William Erasmus Compton". Como se me tivessem jogado

um jarro de água

fria, abri os olhos e respirei fundo para gritar, mas a garganta me doeu intensamente. Tossi

pelo excesso de ar,

e a dor que senti ao fazê-lo conseguiu que despertasse de tudo. Uma mão percorreu minha

bochecha, e seus

frios dedos resultavam muito agradáveis contra minha pele quente. Tratei de não

choramingar, mas um

pequeno ruidito conseguiu abrir-se passo entre meus dentes.

-te volte para a luz, querida-disse Bill com voz amena e cotidiana.

Tinha-me ficado dormida dando as costas à luz que tinha deixado acesa a enfermeira, a

do banho.

Obediente, deixei-me cair sobre as costas e contemplei a meu vampiro.

Bill vaiou.

-Matarei-o -disse, com uma férrea certeza que me assustou até a medula.

Havia tensão suficiente no quarto para enviar uma frota de histéricos em busca de seus

tranqüilizadores.

-Olá, Bill -grasnei-. Eu também me alegro de verte. Onde estiveste tanto tempo?

Obrigado por me

devolver todas as chamadas.

Isso o parou em seco. Piscou. Pude ver que fazia um esforço por acalmar-se.

-Sookie-disse-, não te chamei porque queria te contar em pessoa o que aconteceu. -Não

pude interpretar

a expressão de seu rosto, mas se tivesse que me arriscar houvesse dito que parecia

orgulhoso de si mesmo.

deteve-se e inspecionou todas as zonas visíveis de meu corpo.

-Isto não me dói-grasnei serviçal, lhe alargando a mão. Beijou-a, abatendo-se sobre ela de

um modo que

enviou um débil formigamento por todo meu corpo. E um débil formigamento era mais do

que me sentia

capaz de suportar.

-me diga o que lhe têm feito -me ordenou.

-Então te agache para que possa sussurrar. Falar me dói.

Arrastou uma cadeira até pô-la junto ao leito, baixou o corrimão da cama e apoiou o

queixo sobre seus

braços. Sua cara ficava a uns dez centímetros da minha.

-Tem o nariz rota-observou.

Girei os olhos.

-Menos mal que o tem descoberto -sussurrei-. O direi à doutora assim que a veja.

Entrecerró os olhos.

-Deixa de tratar de desviar minha atenção.

-Vale. O nariz rota, duas costelas e uma clavícula.

Mas Bill queria me examinar por completo e baixou o lençol. Minha vergonha foi

absoluta. É obvio,

levava posta uma terrível bata de hospital (que já era deprimente de por si), não me tinham

banhado como era

devido, meu rosto mostrava várias cores distintas e estava despenteada.

-Quero te levar a casa -anunciou, depois de percorrê-lo tudo com suas mãos e examinar

com

minuciosidad cada arranhão e cada corte. O Vampiro Médico. Indiquei-lhe com a mão que

se aproximasse.

-Não -disse com um hálito. Assinalei à bolsa de destilação. Contemplou-a com certa

suspicacia, embora

sem dúvida tinha que saber do que se tratava.

-Posso tirá-la-afirmou.

Sacudi a cabeça com veemência.

-Não quer que me encarregue de ti?

Soprei exasperada, o que doeu muitíssimo. Fiz um gesto de escrever com a mão, e Bill

rebuscou nas

gavetas até que encontrou um bloco de papel. Curiosamente, ele levava uma caneta em

cima. Escrevi-lhe:

"Amanhã me deixarão ir do hospital se não me subir a febre".

-Quem te vai levar a casa? -perguntou-me. Estava de novo junto à cama, me olhando de

acima com

franco desaprovação, como um professor cujo melhor aluno resultava ser um lerdo crônico.

"Terei que chamar o Jason ou ao Charlsie Tooten", escrevi. De ter sido diferentes as

coisas, tivesse

pontudo imediatamente o nome do Arlene.

-Estarei ali de noite -disse.

Olhei para cima, para sua pálida cara. A córnea de seus olhos quase brilhava na penumbra

da habitação.

-Curarei-te -ofereceu- Deixa que te dê um pouco de sangue.

Recordei como me tinha esclarecido o cabelo, e que era quase o dobro de forte que antes.

Sacudi a cabeça.

-por que não? -disse, como se oferecesse um copo de água a um sedento e este o

rechaçasse. Pensei que

possivelmente tivesse ferido seus sentimentos.

Tomei sua mão e a levei até meus lábios, beijando com suavidade a palma. Apertei a mão

contra minha

bochecha mais sã. "A gente nota que estou trocando", escrevi um instante depois, "E eu

também o noto".

Inclinou a cabeça uns momentos, e depois me olhou triste.

"Sabe o que ocorreu?", escrevi.

-Bubba me contou parte-disse, e seu rosto adquiriu uma expressão temível ao mencionar

ao vampiro

médio obtuso-. Sam me explicou o resto, e fui ao departamento de polícia para ler seus

informe.

"Andy te deixou fazer isso?", rabisquei.

-Ninguém se inteirou que estava ali-explicou despreocupado.

Tratei de imaginar o e me deram calafrios. Lancei-lhe um olhar desaprobadora.

"Me conte o que passou em Nova Orleáns", escrevi. Começava a sentir modorra de novo.

-Terá que aprender algumas costure sobre nós - disse, dúbio.

-Vá, vá, secretitos dos vampiros! -grasnei.

Foi seu turno de me olhar com desaprovação.

-Estamos um pouco organizados-me explicou-. Tratei de pensar algum modo de nos

manter a salvo do

Eric. -Ao dizer isso Bill, olhei de forma involuntária para a flor vermelha-. Sabia que se me

fazia agente,

como Eric, seria-lhe muito mais difícil interferir em minha vida privada:

Pus expressão interessada, ou ao menos o tentei.

-Assim assisti à reunião regional -prosseguiu-, e apesar de que nunca me impliquei em

política me

apresentei para um cargo. E graças a um pouco de faço lobby, ganhei!

Isso sim que era surpreendente. Bill era um representante sindical? Também me surgiram

perguntas sobre

isso do faço lobby. Queria dizer que Bill tinha matado à oposição? Ou que tinha comprado

aos votantes uma

garrafa da positivo por cabeça?

"No que consiste seu trabalho?", escrevi com lentidão, enquanto imaginava ao Bill

sentado em uma

reunião. Trate de parecer orgulhosa, que claramente era o que ele esperava.

-Sou o investigador da Área Cinco -explicou-. Já te contarei no que consiste quando

estiver em casa. Não

quero te cansar agora.

Assenti, sonriéndole contente. Confiei em que não lhe passasse pela cabeça me perguntar

quem me tinha

enviado as flores. Expu-me se devia lhe escrever ao Eric uma nota de agradecimento. por

que foram as idéias

a detalhes sem importância? Devia ser pelos analgésicos.

Fiz- um gesto ao Bill para que se aproximasse mais. Assim o fez, e sua cara descansou

sobre o travesseiro,

ao lado da minha.

-Não mate ao Rene -sussurrei.

Olhou-me com frieza. Com gelo nos olhos.

-Pode que eu já tenha feito o trabalho-lhe expliquei-. Está em cuidados intensivos. Mas

embora

sobreviva, já houve suficientes assassinatos. Deixa que a lei se encarregue, não quero mais

caças de bruxas

contra ti, quero que vivamos em paz.

Se me fazia cada vez mais difícil falar. Tomei sua mão entre as minhas, apoiei-a contra

minha melhor

bochecha. De repente, tudo o que lhe tinha sentido falta de se concentrou como um nó em

meu peito, e relaxei

os braços. sentou-se com cuidado ao bordo da cama, e inclinando-se sobre mim, com

muitíssimas precauções,

passou seus braços por debaixo e me incorporou para si, milímetro a milímetro, para que

me desse tempo a

me queixar se me doía.

-Não o matarei-disse por último a meu ouvido.

-Carinho -murmurei, sabendo que seu agudo ouvido o captaria-, te senti falta de. -Escutei

seu rápido

suspiro, e seus braços me apertaram levemente, suas mãos começaram a me acariciar com

suavidade as

costas.

-Pergunto-me-disse-com que velocidade poderá te curar sem minha ajuda.

-OH, tratarei de me dar pressa -sussurrei-. Arrumado a que surpreenderei à doutora.

Um collie trotou pelo corredor, apareceu pela porta aberta, soltou um "grouff", e se

afastou. Assombrado,

Bill se girou para jogar uma olhada ao corredor. Ah, claro, essa noite havia lua enche, podia

vê-la através da

janela. Também vi algo mais: um rosto branco apareceu da escuridão e flutuou entre a lua e

eu. Era uma cara

formosa, rodeada de cabelo dourado. Eric o Vampiro me sorriu e de maneira gradual

desapareceu da vista.

Estava voando.

-Logo voltaremos para a normalidade-disse Bill, me tombando de novo com delicadeza

para poder apagar

a luz do quarto de banho. Seu corpo brilhava na escuridão.

-Claro -sussurrei-, certamente. De volta à normalidade.

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